破滅

Hametsu

A sinfonia harmoniosa e dramática dos homens era tocada pelos bardos da bodega. O bar comandado pelo velho Sirus finalmente recebia um nome, por mais que eu desgostasse de utilizar o apelido escolhido pela maioria das opiniões. – Bar dos Afogados? Bom, se formos analisar cada um aqui, ta todo mundo afogado na merda né, Sirus. O nome é horripilante, mas fez sentido. – Reclamei sentando na cadeira do balcão, puxando o cinzeiro de madeira escura e sinalizando com o indicador qual a garrafa de sake eu iria tomar naquela manhã. – Já vai beber Beni? Você sabe que daqui umas horas tem que sair em missão, não sabe? Se bem que eu duvido que vá se lembrar de alguma coisa de ontem, você subiu no palco para cantar, tentou até tocar um pouco de flauta. Você manda bem, onde aprendeu? – Sirus era inocente em sua curiosidade, mas meus olhos se fixaram em seu semblante, tal qual um espectro olhava para uma alma pura. – Apenas... me sirva uma dose, Sirus.. – Havia melancolia em minhas palavras, mas pobre coitado não era obrigado a saber tudo sobre as trevas do meu peito. Bem servido, a dose de sake durou pouco tempo em minhas mãos, acompanhada do cigarro aceso para terminar de pronunciar os aromas da bebida e do fumo, que em conjunto trabalhavam perfeitamente. Me levantei, recolhendo o maço e dando dois tapas no balcão, o sinal que indicava minha deixa. Acordado, rumei para os portões no horário combinado com a escória ninja.

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Direto aos portões do vilarejo, pude perceber que o horário combinado já estava todo bagunçado nas minhas memórias, que a bebedeira do dia anterior não estava fazendo bem as lembranças que deveriam estar frescas em minha cabeça. A turma de futuros vermes estava reunida e conversava alto a ponto de facilitar o encontro, já o professor conversava com alguns guardas, vez ou outra desviando o olhar para sua turma, garantindo que ninguém estava se matando na porrada. Dei a volta dos pequenos seres da academia, indo até o responsável da missão e da viagem. Tragando o fumo, deixei a fumaça viajar pelos ares, atravessando o aglomerado de crianças, algumas tossiam incomodadas. – Você poderia fumar longe das crianças? – A voz irritante do homem chamou a minha atenção. Olhei curioso, analisando o Jonin dos pés a cabeça, claramente desdenhando de seu pedido. []b] – Encare isso como um treinamento para os pequenos, vai que um dia eles acabem no meio das chamas, prestes a serem queimados vivos... vão precisar se acostumar com a fumaça. – [/b] Apesar do meu tom bem humorado, percebi os olhares de desprezo vindo de todos os lados. – De tantos ninjas... chamaram o mais idiota... vamos crianças, quanto mais cedo sairmos, mais cedo voltamos e com sorte antes do anoitecer! – Continuou o professor. Pensei em respondê-lo, mas seu olhar de menosprezo já valia um riso. Os segui para fora da vila, rumando em direção a clareira dentro da floresta.

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Metade do caminho já havia sido percorrido, minha presença naquele local parecia completamente inútil, uma vez que nenhum perigo se mostrou ser possível na região. Porém, minha mente ainda nadava pelos fragmentos de memória da última noite, as cantorias, a flauta, a lembrança dos meus pais que sempre me manteve na linha com meus objetivos, visando a queda dos ninjas durante todo o tempo, mesmo que fosse necessário utilizá-los como mera escada durante anos da minha vida. Nos relances, a voz de Sirus surgiu com os últimos fragmentos para completar o quebra cabeças. – Beni, tem um detalhe na missão que deixaram para você... pediram para eu não ler essa parte. – A imagem do pergaminho veio a tona. O Jonin era investigado secretamente, suspeito de estar infiltrado na academia ninja como um informante interno. – Hmm, seria ótimo tê-lo ao meu lado... Konohagakure poderia cair facilmente se eu obtivesse a ajuda interna. Mas ao mesmo tempo ele pode ser um problema, ter alguém tão perto pode ser um risco... se ele for um delator. Melhor agir sozinho e aguardar o Geb retornar com novas informações... – Chegávamos na clareira enquanto me perdia em pensamentos. O professor iniciava a apresentação de algumas técnicas mais complexas e pedia para cada aluno assistir e identificar os processos. Me sentei a uma boa distância, observando a aula, ao mesmo tempo que tentava reconhecer algo suspeito no mesmo. De fato, parecia ser somente uma demonstração inocente, o professor se afastou e se sentou em um tronco caído, com uma prancheta em suas mãos aguardando os alunos em fila, todos deviam demonstrar o avanço em suas habilidades, como também responder a um questionário oral sobre a ultima demonstração de sua habilidade com o fogo.

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A situação já estava ficando entediante, por mais que precisasse observá-lo atentamente para recolher qualquer movimentação suspeita, lidar com ordens não era algo que entraria para os meus planos nessa tarde. Me levantei, fazendo questão de acender um cigarro para deixá-lo incomodado. Enquanto caminhava em sua direção, o Jonin continuava avaliando cada aluno, anotando a performance, as respostas e julgando com uma nota no final. Dividi o tronco com o mais velho, sentando logo ao seu lado com a fumaça do fumo em sua direção. Com olhares cheios de raiva, o ninja interrompeu a didática por um instante. – Você veio aqui só para fumar do meu lado? Não podia ter ficado longe para fumar não? Pelo menos você não ia me atrapalhar, já não está servindo pra nada mesmo. – Desabafou, assoprando a fumaça para o céu. Rindo, eu não pude esconder como achava engraçada a indignação do mesmo, ignorando suas ofensas. – Cale a boca um pouco e me escute. O Vilarejo da Folha está suspeitando de um espião dentro da Academia Ninja, estão achando que pode ser um dos professores... e estão com fortes suspeitas do professor da outra turma. – Plantei a intriga no ambiente, notando que seu semblante incomodado pela fumaça do cigarro se transformou e o contato visual já era impossível pela parte alheia.

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– I-intervalo crianças, não saiam de perto e aproveitem para comer o lanche que entregamos na academia ou trouxeram de casa... é.... é verdade? Então encontraram um suspeito? Que estranho em... mas pensando bem ele estava agindo um pouco estranho nesses últimos dias sabe... eu vi ele conversando com umas pessoas estranhas no fim das aulas, eu tenho toda certeza que é ele. Mas como você sabe que estão investigando? Quer dizer... é... ele não iriam deixar algo assim vazar, não é? – A voz trêmula, a vontade de incriminar o outro de qualquer maneira, mesmo quando tudo era invenção, o nervosismo superava qualquer noção básica de mentira que o Jonin poderia ter para perceber a armação. O assunto o incomodava, sua tempora pingava suor, seu olhar focado na conversa, sua maneira de gesticular e as pernas balançando ansiosamente. Sim... não deixaram vazar. Eu estou no meio da investigação, e pensei que alguém tão dedicado na Academia, como você, poderia me ajudar nessa tarefa... dividir os créditos pela captura do espião e quem sabe não ganhar muita fama e dinheiro. Imagine nosso rosto estampado como heróis da Aldeia da Folha.... seria incrível não é mesmo? Sorri tragando o cigarro, observando todas as mudanças na expressão daquele homem, que ia de um nervosismo para o alívio em questão de segundos, conforme minhas palavras iam tirando as possibilidades dele se tornar um suspeito.

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Após alguns minutos de intervalo e o nervosismo daquele Jonin mostrando suas verdadeiras garras, ele anunciou que todos deveriam retornar para receber suas notas e por fim preparar a viagem de volta ao vilarejo. Em sussurros, ele ainda conversava comigo sobre o assunto. — Voce... pode sempre me atualizar dessa investigação? Eu...eu me preocupo com as crianças e quero deixar elas longe de um traidor como aquele cara, sabe? Eu não quero que elas tenham uma visão ruim da Academia. — A falsa preocupação vinha à tona, e claramente um texto meramente ensaiado. — Tenham uma visão ruim? Elas vão virar um bando de ninjas medíocres mesmo. Mas fique tranquilo, eu vu te manter atualizado. Obrigado pela sua ajuda. — Como já estávamos de saída, me levantei, estendendo a mão para cumprimentar o professor. Seu toque estava tremulo, rápido, parecia querer evitar o contato comigo. Novamente, as crianças se aglomeravam e passávamos pelos mesmos cantos da floresta que levavam a trilha de volta a Konohagakure no Sato. Um fumo foi levado até meus lábios e aceso com o puxar do ar quente até meus pulmões, as crianças reclamavam, mas dessa vez o Jonin sequer abria a boca para questionar meus hábitos perto de seus alunos. Não precisava de mais detalhes para indicar que as suspeitas sobre aquele homem eram verdadeiras e que uma investigação a fundo deveria se iniciar para descobrir maiores detalhes. Chegávamos pelos portões e me despedi apenas com um aceno de mão, reportando toda as informações ao Quartel General, mesmo com nojo ao olhar para a cara daqueles ninjas de ‘’elite’’. Retornaria a bodega de Sirus para beber e descansar.

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