HÁ TEMPOS NÃO CONTO UMA HISTÓRIA como essa, e isto me traz um certo ar de nostalgia. O cheiro amadeirado de um tabuleiro novo sobre a mesa de centro, o doce som de uma lareira estralando e sendo a única coisa a iluminar o aposento em que me aconchego para compartilhar com vocês este pequeno conto que nos faz questionar: o quanto sabemos sobre a complexidade de nossa existência? Só temos esta vida para viver? O reino espiritual é real? O sobrenatural é mesmo apenas uma fantasia de nossas mentes?

Pois sente-se, preste bastante atenção em tudo que tenho a dizer e tire suas próprias conclusões. Sinta-se a vontade para, junto comigo, alterar o curso desta história, sou um grande admirador do inesperado.

Desfaça em sua cabeça a imagem da pequena sala iluminada pela brasa e pincele uma grande fogueira ao centro de um campo aberto na Folha, que cediava um raro encontro festivo com a Nuvem e a Névoa, aldeias das Nações que nutriam um melhor relacionamento. Ao fundo, os gritos de um bardo de longos fios azeviche e olhos tão escuros quanto o próprio céu sem lua tentava atrair uma pequena platéia. Entre os tantos sons que se podiam ouvir, crianças e vendedores em suas barracas se emaranhavam aos brados do artista, sugerindo uma movimentação intensa na principal aldeia do País do Fogo.

As Sombras, naquele evento, despiam-se de suas obrigações e se permitiam um raro momento de paz. O Sexto da Água e o rapaz de cabelos prateados do Relâmpago escolheram ignorar o Primeiro do Fogo apenas por aquelas horas, distraindo-se cada um a sua maneira particular. Algumas abóboras escondiam em seu interior, suspensas como arandelas, velas para ajudar a iluminar o vilarejo de um jeito diferente. Esqueletos espalhavam-se como se fossem as mais belas decorações de jardim; teias de aranha eram abundantes nas barracas e até mesmo nos letreiros dos restaurantes. Crianças e adultos fantasiavam-se das mais horripilantes criaturas: vampiros, bruxas, lobisomens, demônios, fantasmas; o Halloween era celebrado e os maiores temores vestiam cada um dos moradores e turistas.

— Vamos, se aproximem sem timidez, tenho uma canção especial para vocês esta noite! — o bardo gritava, sem encostar um único dedo nas cordas de sua pequena arpa. — Uma bem especial para celebrar esta grande festa! — em seus lábios, uma curva singela e o semblante tornou-se macabro adornado pela luz ululante da grande fogueira que escolheu como seu ponto de referência.

Ele conseguia uma pequena multidão de curiosos, mas o bardo tinha seus preferidos. Esperaria pacientemente por cada um deles e sua canção só se iniciaria quando os escolhidos estivessem na sua plateia.

— Venham embarcar numa aventura única em suas vidas! — sua voz ecoou uma última vez.

Poderiam pensar ser apenas um exagero do artista, algo para engrandecer o próprio trabalho. No entanto, quem quer que prendesse seus olhos naquele sorriso que se desdobrava, sentiria a espinha arrepiar como se uma voz susussurrasse ao pé do ouvido: “tenha cuidado”.

Orientações:

Regras:

Considerações:

Contadores:

　　O chapéu de abas largas, de um tom profundo de púrpura, enfeitava a cabeça da Viperina com um toque misterioso. O vestido, todo ele tingido de roxo escuro, envolvia o corpo da kunoichi como um manto de sombras. Na bainha, inscrições prateadas entrelaçavam-se, exibindo runas místicas que brilhavam à luz bruxuleante das arandelas. Suas botas, de couro igualmente escuro, pareciam desaparecer sob os véus esvoaçantes do vestido que se arrastava pelo chão como uma trilha de mistério.

　　Não estava sob o frígido abraço das ilhas; este não era o território da Névoa. As cores aqui são mais vívidas, observou, notando o contraste com o sombrio da sua terra natal. Não há a névoa que suaviza cada contorno. Mas também notou a diferença nos pulmões, a ausência da umidade que eles estavam acostumados a filtrar.

　　Este era o País do Fogo, a Vila da Folha. Uma extensa floresta circundava a aldeia, e era entre essas árvores que a festa estava em pleno andamento.

　　Uma clareira, iluminada pela chama dourada de uma grande fogueira. As barracas de vendedores se espalhavam pelo campo, suas cores vivas realçadas pela luz dançante do fogo. Crianças e adultos, vestidos com trajes horripilantes, inundavam o local com suas risadas e gritos, celebrando aquela noite de uma maneira que mesclava diversão e mistério.

　　O sussurro da serpente sibilou mais alto naquele momento. Shiro estava envolta em seu pescoço como um colar, desfrutando do calor das brasas que alumbravam o cenário. Enquanto as chamas da fogueira crepitavam, os olhos de Shiro brilhavam na mesma medida como duas pedras de citrino fantasmagóricas no escuro.

　　Ela também sente.

　　Shiro compartilhava da mesma inquietação de Haru, sua língua bifurcada dançando no ar saboreava as descobertas de um novo ambiente.

　　Quando as primeiras notas da melodia do bardo ecoaram pelo campo, Haru sentiu uma inegável atração pela canção que se desenrolava. A voz do artista parecia sussurrar segredos antigos ao pé de seu ouvido, segredos que acendiam sua curiosidade.

　　Os olhos de Haru, debaixo da sombra do seu chapéu de bruxa, se iluminaram com a promessa de uma história misteriosa e intrigante. Um lampejo violáceo.

　　O ar estava carregado de mistério e ela não podia resistir ao chamado da narrativa que prometia cativá-la. Com um sorriso nos lábios, ela decidiu se aproximar, seus passos suaves e graciosos a levando em direção à lareira onde o fogo ardia e o bardo, envolto em um clima de expectativa, dedilhava as cordas de sua harpa. Era o início de uma noite repleta de enigmas e magia.

Considerações: