Nunca pensei que diria isso, porém: sair de Kirigakure era um alívio. Mesmo que fosse durante um tempo curto e determinado, eu deixaria aquela ilha imensamente feliz, desejando, deixar também, as memórias dos últimos acontecimentos. Meu encontro com Zaru no Cemitério Oinin ainda reverberava pela minha pele, como uma coceira desagradável, me lembrando de tudo. Do fim do meu avô, do meu acordo com Zaru. Quase todas as noites, eu acordava no meio do meu sono, desesperada, após sonhar que ele tinha vindo cobrar sua dívida. O mais assustador era: eu ansiava por isso. Ansiava por vê-lo novamente, apenas para cumprir a minha promessa de acabar com ele.

Um animal sedento. Era assim que eu me sentia. Mas não era algo que eu apreciava, no entanto. Não era… Eu. Por isso, deixar a vila, ir para outro país, me entreter com o torneio e qualquer outra merda que fosse, provavelmente me faria muito bem — claro, não estava esperando milagres. Iria carregar essa sombra comigo; era uma parte de mim. Entretanto, seria uma boa maneira de treinar meus novos pensamentos. Reaprender autocontrole.

Encarei pela última vez o pergaminho com o convite para acompanhar o Mizukage-sama ao País do Trovão. Era um bilhete padrão; provavelmente, vários daqueles foram enviados para diversos ninjas. O meu, entretanto, tinha um detalhe: com uma caligrafia charmosa e delicada, as palavras “encontro você lá” tomavam uma pequena área abaixo dos dizeres oficiais. Haru-san, obviamente. Ao menos, era o que o ligeiro odor floral da tinta me dizia. Uma tentativa de Haru de me animar, imagino. Ela tem percebido que eu não estou em meus melhores dias.

Em seguida, deslizei os olhos para a minha cama, onde meu uniforme e armamento se encontravam, espalhados. Comecei a escolher o que iria levar comigo; apesar de uma viagem diplomática e, aparentemente segura, ainda estávamos em clima de guerra, de modo que não poupei armas. Separei algumas mudas de roupas para passar os dias em que ficaríamos por lá e, por fim, vesti  meu uniforme. Tudo pronto. Esse era o momento em que eu sairia pela casa e me despediria de meus  avós, porém, meu avô estava morto e, minha avó, no hospital, emocionalmente debilitada demais para ficar em casa, principalmente sozinha. E eu já tinha me despedido dela, mais cedo.

— Volto em breve. — Sussurrei, para ninguém em específico, deixando a grande residência dos Yuki. Me dirigi até o portão principal numa caminhada moderada e, ao chegar, era possível ver vários daqueles que nos acompanhariam. Porém, não havia sinal de Haru-san, de modo que apenas aguardei sua chegada e nossa consequente partida.

Equipamentos: