"Você deve controlar a névoa", pensou.

Haru lembrava das palavras de seu pai, ditas com a entonação ríspida de sempre.

Sobre o rio calmo e solitário que adentrava a Névoa, seus pés mantinham-se firmes na superfície azul. A serpente albina estava tão pacífica quanto a água, mantinha-se confortável nos ombros da garota.

O brilho amarelo dos miúdos olhos de Shiro refletiam na lâmina d'água. Os olhos violetas fitavam o reflexo embaçado do rosto frio que os sustentava. Os dedos pequenos formavam o sinal do confronto. Então o chakra começava a fluir.

"A névoa deve ser espessa", pensava enquanto sua energia contagiava a água. "Um vazio branco, denso e sufocante."

Pouco a pouco, o que era apenas uma neblina tornava-se um verdadeiro nevoeiro. No rio já não era mais possível ver o reflexo de Haru e sua serpente. Até que céu e água tornaram-se um em uma imensidão nívea.

Considerações:

Se houvesse alguém por perto, certamente ficaria irritado com o barulho da água.

Passos de sandália levavam Haru pelo rio. Ela confrontava o silêncio que havia debaixo da névoa ao correr pelo infinito espelho, e desafiava a capacidade da sua capa de segurar o frio. Seu suspiro cortava a névoa, e seu corpo começava a apresentar os primeiros sinais de um resfriado. A ponta do pequeno nariz, um pingo vermelho sobre uma tela branca, já estava dormente.

"Eu preciso ser mais forte", pensou. "Eu preciso..."

Quando finalmente parou, pendeu o corpo para apoiar-se nos joelhos, arfando em busca de fôlego. Mas era tanta umidade no ar que respirar ficava difícil. De todo modo, ela se recompôs. Passou as mãos frias no rosto pálido e sentiu o calor de suas lágrimas.

Haru balançou a cabeça, ato que apenas negava seus sentimentos, e focou o chakra em seu estômago. A energia se condensava no interior do corpo esguio da menina. Então, em um brado de raiva, ela expeliu o que tomava forma em sua boca.

Agulhas saltaram dentre os lábios da garota, rasgando a névoa até desaparecerem nos limites de sua visão.

"Finalmente", ela pensou logo após um suspiro. Sua postura cedeu, caindo de joelhos na água. Depois de tantas tentativas, ela conseguiu executar a técnica.

Considerações:

Se houvesse alguém por perto, certamente ficaria irritado com o barulho da água.

Passos de sandália levavam Haru pelo rio. Ela confrontava o silêncio que havia debaixo da névoa ao correr pelo infinito espelho, e desafiava a capacidade da sua capa de segurar o frio. Seu suspiro cortava a névoa, e seu corpo começava a apresentar os primeiros sinais de um resfriado. A ponta do pequeno nariz, um pingo vermelho sobre uma tela branca, já estava dormente.

"Eu preciso ser mais forte", pensou. "Eu preciso..."

Quando finalmente parou, pendeu o corpo para apoiar-se nos joelhos, arfando em busca de fôlego. Mas era tanta umidade no ar que respirar ficava difícil. De todo modo, ela se recompôs. Passou as mãos frias no rosto pálido e sentiu o calor de suas lágrimas.

Haru balançou a cabeça, ato que apenas negava seus sentimentos, e focou o chakra em seu estômago. A energia se condensava no interior do corpo esguio da menina. Não era como se aquela fosse a primeira vez que fazia isso, pelo contrário, só naquela semana ela já havia perdido a conta de quantas vezes usou da energia.

O primeiro passo seria transformar o chakra em água. O segundo, moldar a água em agulhas. Por algum motivo, o segundo passo sempre saía de maneira inconsistente. Ela sabia que, tratando-se do elemento de forma livre, seria difícil de domá-lo. Mas se não for capaz de criar simples senbons, como poderia servir a seus pais?

Haru fechou os olhos e buscou a calma, essa que ela roubava da névoa. Algo em seu cerne a orientou que assim seria melhor. Seu esforço não era mais para atravessar o ar úmido com sua respiração pesada, pois agora ela se concentrava em seu interior.

Novamente a água se formava dentro da barriga da garota. Então a substância atravessou sua garganta e, quando chegou à boca, recebeu uma dose extra de chakra. Energizada, a água se recusava a assumir uma forma.

A menina tentou não perder a paciência de novo. Segurava a boca cheia de água, travando uma luta para moldar o elemento. Mas a calma não durou muito tempo. Então, em um brado de raiva, ela expeliu o que tomava forma em sua boca.

Agulhas saltaram dentre os lábios da garota, rasgando a névoa até desaparecerem nos limites de sua visão. Eram afiadas como a raiva escondida na sua mente cheia de crises.

"Finalmente", ela pensou logo após um suspiro. Sua postura cedeu, caindo de joelhos na água. Depois de tantas tentativas, ela conseguiu executar a técnica.

Considerações:

Haru concentrava-se no próprio chakra. Debaixo da névoa, esgueirada sobre um galho da copa de uma árvore, ela buscava precisão em seu próximo movimento. Os olhos violeta estavam fixados no alvo: um urso. Não que ela fosse adepta à caçadas, no entanto, ela precisava de uma cobaia móvel para o seu treino.

Sendo assim, Haru uniu suas mãos, formando o selo Tigre. A garota, abusando das suas habilidades com controle de chakra, projetou uma rajada invisível de energia espiritual até o grande animal. Ela o observou quando ele titubeou, balançando para o lado e quase caindo. No entanto, mesmo que devagar, o uso ainda conseguia dar alguns passos, tentando se libertar do súbito controle que arraigou seu corpo.

Foi então que Haru aumentou a dose de energia, imaginando fios de aço enroscando-se nos membros do animal, até deixá-lo completamente imóvel. Alguns segundos se passaram até que o poderoso animal tornou-se incapaz de continuar andando.

Considerações:

A chuva despencava do céu embaçado pelo nevoeiro, encharcando a grama da planície verde. Sob um wagasa vermelho, os olhos violeta observavam-na, cobiçando o próximo movimento. A serpente albina estava adormecida sobre os ombros pequenos de Haru, embarcando no melodioso som da água.

Um suspiro dos lábios rosados, então os dedos pálidos começaram a tecer os selos: Carneiro, Cobra e Tigre. Logo, Haru expandiu seu chakra, buscando extrapolar seu corpo franzino e irrigar o que assolava o terreno — a chuva. Contudo, nunca foi fácil controlar o elemento livre de forma, tão pouco seria contaminar as gotas que riscavam o ar velozmente.

Outro suspiro, levemente aborrecido. Haru trincou os dentes e permaneceu com o Tigre selado em seus dedos. Ela de novo concentrou-se na energia espiritual, e a lançou aos ventos que sopravam dentre a chuva. Até que, por intermédio de um controle notavelmente exímio, o chakra sustentou-se no ar, como uma nuvem acima do wagasa.

As pálpebras esconderam os olhos vibrantes, deixando que a mente tivesse apenas uma tarefa: aumentar o fluxo de chakra, inflando aquela nuvem, tornando-a maior até cobrir uma área considerável à volta. Logo mais, a energia materializou-se, tornando-se de fato uma nuvem. Ela era distinta da neblina por ser escura como os cabelos de Haru.

Uma vez mais, suspirou. O fluxo de energia cedeu, então a nuvem jorrou. Chuva preta começou a cair, molhar a grama, e misturar-se com a pura que caía do céu.

Haru desfez o selo, abriu os olhos e retirou um Kibaku Fuuda da bolsa, lançando-o contra a grama tingida. Uma explosão e fogo começou a subir no meio da chuva. Mas o evento natural era mais forte, então as chamas logo foram subjugadas pela abundância de água. Todavia, a menina não se importou, pois seu objetivo era um: aprender a técnica da chuva negra.

Considerações:

Diante daquela mesma pradaria fria, adornada pela brancura do nevoeiro, estava Haru de olhos fechados. Compenetrada no próprio cerne, aquecendo seu chakra, preparada para aprender mais uma técnica. Mas não tratava-se de qualquer técnica, seria uma especialmente peçonhenta.

Unindo a aptidão com Ninjutsu, conhecimentos científicos, habilidades médicas e um exímio controle de chakra, Haru foi capaz de desenvolver uma das habilidades mais avançadas do Iryō Ninjutsu: a neblina venenosa.

Primeiro, a menina concentrou a energia espiritual em sua boca. Ela necessitou de bastante precisão com a energia para ser capaz de transformá-la em uma substância bem peculiar. Os estudos sobre química e biologia serviram para trilhar o caminho que o chakra teve que percorrer, até transmutar-se completamente.

O componente químico foi gerado, contido dentro da boca de Haru, em estado líquido. A garota manteve a substância ali, até sentir que ela estava pronta para ser liberada. Porém, ao abrir a boca, o efeito desejado não aconteceu de primeira. Abriu os olhos e não havia nada além do denso nevoeiro branco. Infelizmente, o líquido não vaporizou.

Haru fechou a boca e os olhos de novo. Uma vez mais, voltou a se concentrar na substância química. Ela pensava e sentia os elementos usados, em busca de entender o que faltava para atingir o resultado que desejava.

A garota permaneceu pensativa, concentrada, e começou a agitar o chakra novamente. Energizou a boca, principalmente a substância, recriando os elementos químicos dali. "Vamos lá, acho que agora vai dar certo...", pensou ela, expirando com certo alívio.

Os olhos violeta se abriram, encarando a paisagem bucólica. A boca ainda prendia a química, assegurando que só sairia dali quando estivesse pronta. E então, quando teve certeza sobre, os lábios foram abertos.

Não demorou para que a névoa que cobre Haru se tornar púrpura como os seus olhos. Ali estava a técnica, Dokugiri.

Considerações:

Os olhos violeta perscrutavam o cadáver à frente. Debaixo dos pequenos dedos, estava o torso sem vida, pálido e gelado. Na sala de perícia do laboratório, Haru praticava mais uma técnica de Iryō Ninjutsu. Ela irrigava as mãos com a energia espiritual, e focava nas pontas dos dedos.

Bisturi de Chakra, o jutsu que possibilita criar uma fina lâmina com o chakra do usuário, perfeita para incisões altamente precisas. Uma habilidade fundamental para um médico e, portanto, uma habilidade que Haru não poderia deixar de aprender. Lisa Lisa já havia dado as instruções de como executar, cedido o local e a cobaia.

Haru respirou fundo, ainda concentrando seu chakra. Aos poucos, a energia tornou-se visível, chamuscando com labaredas azuis os pequenos dedos. Ela permaneceu no controle da energia, buscando moldá-la para assumir a forma da lâmina. "Mais fina, mais afiada..." ela pensava, projetando sua imaginação à energia que ficava cada vez mais pungente.

Aparentemente, o bisturi estava pronto para cortar. Haru então tocou na pele do cadáver, deslizando os dedos energizados na região do peitoral, de maneira a criar uma linha reta bem no meio. No entanto, ela teve dificuldades para manter a precisão. O corte que deveria ser reto começou a ondular conforme a mão bambeava.

"Assim não vai dar certo. O corte precisa ser fácil", pensou. "Não posso serrar os tecidos do paciente."

Uma gota de suor aparecia na testa da garota. Ela tentava arranjar uma solução para o problema. Seria usar menos chakra? Ou mais chakra? Deixar a lâmina ainda mais fina? Como Haru não sabia e, felizmente, não era um paciente vivo, ela se deu ao luxo de errar.

Conforme ia deslizando os dedos, ela foi testando a intensidade de chakra que se adaptaria melhor para cortar a pele. Assim como em outras técnicas de Iryō Ninjutsu, não existe uma medida exata para a intensidade. O fluxo de energia empenhado no jutsu é o segredo para o melhor funcionamento da técnica, e ele só vem com estudo e prática, ou seja, experiência. É preciso saber e, o mais importante, sentir.

Haru permaneceu ali, até conseguir aprender a ter precisão com o bisturi de chakra.

Considerações:

Haru teceu o selo do confronto com os seus dedos pálidos. No meio da densa neblina, uma imensidão branca, encontrava-se a kunoichi concentrada sobre as águas calmas de um rio. Ela focalizava seu chakra, sentindo-o fluir do corpo franzino para o ambiente de aspecto embaçado.

Já faziam algumas horas desde que ela chegou ali, no mesmo lugar, na mesma pose, com a mesma atitude. O silêncio era suficiente para que ela escutasse a própria respiração, cada vez mais profunda, refletindo o esforço que fazia para que o chakra ganhasse asas.

Suspirou, de olhos fechados, visualizando uma imagem bem nítida em seus pensamentos: uma borboleta. E ela permaneceu emanando a energia de seu corpo, expandindo-a em todas as direções, como se fosse contaminar a névoa que cobria a paisagem. Haru, enfim, sentiu algo mais palpável a sua frente.

Quando os olhos violeta se abriram, lentamente para espiar o que estava acontecendo, a garota se deparou com uma luz cor-de-rosa. Face a face com a luminescência, ela enxergou o que era um pequeno borrão róseo tomar a forma do que ela imaginava. Asas bem desenhadas começaram a aflorar da luz.

Um sorriso genuíno curvou os lábios de Haru, mas a graça se desfez quando ela perdeu a concentração e deixou a luz se apagar.

Outro suspiro, um pouco mais descontente, porém o finalizou com um semblante de determinação. Manteve os dedos bem firmes no selo, e voltou a agitar seu chakra. Dessa vez, ela já conhecia parte do caminho. Sendo Haru mestra no controle da energia azulada, retomar a luminescência alado não fora difícil. E a garota o fez, com esmero.

E, finalmente, ela pôde enxergar a borboleta de seu pensamento materializada a sua frente.

Mas Haru não se contentou com apenas uma. Ela continuou o processo para dar origem e mais uma, duas, três... até perder a conta de quantas borboletas havia criado com o próprio chakra.

Considerações: