破滅

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A música dos bêbados era tocada pelos bardos da bodega. O bar do velho Sirus agora nomeado como Bar dos Afogados, era meu refúgio pessoal para reflexões, por mais que eu desgostasse de utilizar o apelido escolhido pela maioria das opiniões. – Quando você vai trocar o nome do bar, Sirus? Antes que eu me acostume com o que está agora. – Reclamei sentando na cadeira do balcão, puxando o cinzeiro de madeira escura e sinalizando com o indicador qual a garrafa de sake eu iria tomar naquela manhã. – Você ficou sabendo do que aconteceu, Benimaru? O velho Gorgon perdeu tudo na casa de apostas ali do lado, deixou até os documentos da sua casa e sua família vai ser despejada. – Sirus com sua maneira de falar já havia me feito repensar várias e várias vezes a ‘’amizade’’ que criávamos, por mais que parecesse mais uma relação de clientes. – E o que eu tenho com isso, Sirus? O velho é burro e agora vai pagar pelo erro dele, fazer o que. Que se foda ué, virei o que agora? – Havia um pouco de cansaço em minhas palavras. Bem servido, a dose de sake que quase transbordava do copo durou pouco tempo em minhas mãos, acompanhada do cigarro aceso para terminar de pronunciar os aromas da bebida e do fumo, que em conjunto trabalhavam perfeitamente. — Mas, Benimaru... ele disse que pode dividir um tesouro que encontrou se você ajudar. — Me levantei, recolhendo o maço e dando dois tapas no balcão, o sinal que indicava minha deixa — Tudo bem, mas se for mentira eu vou arrancar seu dedo esquerdo. — Acordado, rumei para a casa de Gorgon, enquanto ele ainda tinha uma.

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A casa do velho apostador não era longe do Bar dos Afogados de Sirus, bastando cruzar a esquina e seguir alguns metros sem virar em nenhum beco sem saída. O apartamento do velho era em um antigo prédio da região, que não estava nas melhores condições, mas era um pouco mais agradável que os outros por perto. Bati em sua porta, bati outra vez e outra vez, demorando para ser atendido. — Quem é? Eu não vou entregar a minha casa, saiam daqui! — Raivoso, vi um movimento estranho vindo das janelas superiores. — Gorgon, sou eu, Benimaru... abre logo essa merda antes que eu entre a força, porra. — Respondi a altura, batendo com as costas da mao direita. Rapidamente o velho descia as escadas e abria a porta para mim. — Acho bom mesmo, velho burro. Foi logo apostar a documentação da casa? Sorte sua que o Sirus me contou tudo sobre o tesouro e você vai me dar mais do que a metade! Lembre-se disso. — Trombei de ombros e subi a escadaria até a sala do homem, sentando de qualquer jeito em uma cadeira. — S-sim, eu posso te pagar, mas precisamos pegar a escritura novamente... assim posso ficar tranquilo para sair do vilarejo. — Vi o desespero nos olhos do homem e concordei pensando em receber o prêmio posteriormente.

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Deixei sua casa naquele mesmo instante, o tomando pela gola da camisa e puxando pelas escadas. — Você vem comigo, covarde. Eu não vou pedir nada, você quem vai. — Arrastei a força o velho Gorgon, que não tinha forças para retrucar o meu pedido. Mas não força física, mas lhe faltava força mental para resistir. A casa de apostas era a poucas quadras do prédio, próxima do bar de Sirus, então não demorávamos para chegar no local. A casa funcionava às escuras, escondida por um comercio de legumes na entrada, bastando cruzar toda a pequena venda até uma escadaria nos fundos, abrindo a porta e descendo para o andar de baixo. Ali, o som da música já era presente, típica daquele tipo de ambiente de jogos, beirando aos limites da prostituição com homens e mulheres. — Ei, menores de idade não podem... EI!! — Empurrei o primeiro a surgir na minha frente, chamando a atenção no local. — Cadê o dono dessa porra aqui? — No meu chamado, um homem gigante apareceu, cobrindo meu corpo com sua presença. — Chamou, baixinho? — A sua voz fazia jus ao tamanho do corpo. — Ainda bem que estão obedecendo bem. É o seguinte, esse retardado aqui apostou a escritura da casa e perdeu. Você vai me devolver ela, por que acho que não vai querer que eu reporte esse puteiro para os guardas ou exploda todo o prédio? — Lentamente puxei o tecido do quimono, deixando transparecer a bandana do vilarejo que estava escondida em minha cintura. — Merda... Gorgon... se você voltar aqui eu acabo com você e sua família. Toma essa merda e desapareça! — A escritura foi jogada nos peitos do velho, que todo tremulo a recolheu e correu escadaria acima. Deixei meus últimos olhares de desprezo para o maior e sai também, agora se iniciava outra jornada para recuperar o dinheiro.

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Os primeiros conflitos estavam resolvidos, Gorgon podia retornar para a sua casa com a escritura recuperada, aliviado por ter um teto para a sua família. O olhar em seu rosto era de agradecimento, mesmo que não tivesse coragem para dirigir uma palavra até mim. Em meu peito, aquele mero olhar de felicidade mexia em algo que por muito tempo estava morto. Um sorriso se formou no canto dos meus lábios, me obrigando a desviar o rosto. – O... o que é isso? Não... não... não sinta nada... Era uma batalha mental contra tudo o que reprimi durante os últimos tempos, o sentimento que jazia em meu interior, o calor que ardia nos ninjas, uma fagulha do fogo dentro da vontade sombria. – Ei, vamos logo embora daqui, não tenho o dia todo para ficar olhando essa sua cara de tonto, Gorgon. Você tem um mapa para chegar nesse lugar? Quebrei o silêncio, deslizando a canhota pela minha cintura, alcançando a bolsa de armas para retirar um cigarro do maço, deixá-lo entre meus lábios e com o ar quente o acender, evitando a perda de tempo com as mãos. – O mapa está aqui, Beni. Precisamos apenas seguir para um morro aqui perto... se sairmos agora vai dar tempo de voltar antes do anoitecer. Po-pode me seguir – Ainda nervoso por toda a situação, Gorgon seguiu a frente rumo aos portões.

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As estradas da Aldeia da Folha já não tinham surpresas em seus caminhos. Por tantas missões que haviam sido feitas naqueles caminhos, surpresas se tornaram algo difícil de acontecer na região. Mas algo incomum acontecia, fora do trajeto físico, mas em uma mente bagunçada pelo ódio, pela auto tortura de se tornar um mártir, de se auto nomear o responsável pela mudança no mundo. Era como se pudesse imaginar uma enorme tigela, em seu fundo havia um líquido puro, transparente, nenhuma impureza o tornava menos perfeito. Gotas mais escuras e barrentas atormentavam a calmaria, se misturavam e agora o líquido se tornava turvo, escuro, mas o tempo os separava, mesmo que a massa densa de escuridão tomasse conta do topo da tigela. – Benimaru, precisamos virar aqui e já começamos a notar o pé do morro, o tesouro foi enterrado por perto, venha. – Até mesmo o tom de voz do homem havia se transformado, estava animado, deixando a tensão de lado pela primeira vez. O segui pelo caminho todo até o início do morro. Como marcado pelo mapa, o local era marcado pela presença de duas árvores, cinco passos para frente e o X avermelhado. Gorgon cavava, o som de madeira ecoava, a pá acertava o alvo

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Ao pé do morro, entre as duas arvores, Gorgon cavou incansavelmente até sua pá atingir o casco de madeira. Eram como os contos de piratas, que navegavam pelos mares atrás do tesouro, encontravam o X no mapa e cavavam até suas pás acertarem os baús de ouro. Tudo era muito mitológico, até o momento em que aquela arca de madeira velha foi erguida da terra, posta no gramado para que nós a observássemos. — Então, foi fácil assim? Vamos leva-lo de volta e abrir no vilarejo... mas você carrega, ta precisando fazer um pouco de exerci.... espera, fique quieto. — Enquanto falava, alguns sons nas arvores chamava a minha atenção, pareciam sussurros, até que os passos caiam do topo, revelando dois homens. — Então é verdade, tem um tesouro aqui... — O primeiro e de aparência mais forte apareceu. — Viemos buscar o que ficou devendo, Gorgon... ou você acha que sua casa não valia um dinheirinho? — Rindo, o primeiro foi se aproximando, parando somente ao perceber que minhas mãos entravam na bolsa de armas. — Bom... então eu vou recolher o que estão devendo... um pouquinho de diversão. — Sorri, elevando novamente a minha postura.

— Garoto, você está se achando! — Ambos partiam com um acesso de fúria para cima de mim. Homens comuns que viam como cobradores de alguma coisa. — Kanashibari! — Entediado, elevei minhas mãos para realizar o selo e deixar meu chakra para-los com a pressão. — Se pelo menos durassem dois segundos. Vamos sair daqui. — Caminhei, retirando duas tarjas explosivas do bolso, grudando-as nas testas dos inimigos. A uma distância segura, ambas explodiam levando consigo a vida dos ‘’ladroes’’. De volt ao vilarejo, o velho abria seu baú e nele não havia nada além de um livro com escrituras estranhas. — Um livro? A que se foda essa merda, Sirus vai se ver comigo. Vai se foder, Gorgon, não me chame mais pra nada. — Sai furioso, iria retornar ao Bar dos Afogados após completar a missão.

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