O burburinho no centro hospitalar soava como um lamento melancólico onde o ruído baixo de choro de algumas pessoas intercalava com fungados discretos de outras.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀—— Não é como se eu estivesse me colocando em risco —— Yaremaha ouviu alguém dizer ao abrir caminho na multidão aglomerada na recepção. —— Eu só devo ter me contaminado por má sorte. —— O dono da voz expressava um certo desalento com a situação, no entanto, devido a forma como ele usava a máscara próxima ao queixo, aquilo não parecia verdade. Sendo desleixado assim é fácil entender como ele se contaminou, Yaremaha concluiu. O hospital estava cheio devido ao recente surto da gripe mais letal de todos os tempos; E mesmo que muitas pessoas tivessem perdido entes queridos, era possível permanecer ali todos os dias durante uma semana e sempre ouvir a mesma desculpa.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀Quem estava de plantão era a Médica mais renomada da Névoa, Lisa, que registrava em uma prancheta o prontuário de um paciente idoso. Ela viu Yaremaha e deu um sorriso; seus dentes eram como uma escultura de porcelana.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀—— Eu fui convocado para… —— Yaremaha tentou dizer ao se aproximar.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀—— Já fui informada —— ela o interrompeu. —— Apenas entre logo e ponha uma roupa adequada. Algumas pessoas precisam de ajuda na enfermaria.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀Yaremaha assentiu com um aceno de cabeça, sem questionar, e seguiu em direção ao corredor. Ela parecia mais simpática antes de começar a falar, ele resmungou baixinho antes de perceber que não sabia para onde deveria ir. Como se previsse aquilo, a médica aguardou o encontro dos seus olhos mais uma vez, balançou a cabeça para direita de forma discreta e então virou-se na direção do paciente recém-chegado.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀Proibida a entrada de pessoas não autorizadas, dizia o entalhe na porta. Deve ser aqui, ele sussurrou antes de entrar.


Yaremaha: HP [160|160]; CK [160|160]; [17m/s]; [00|04];

Adendos:

Enquanto Yaremaha vestia os seus trajes, um daqueles estranhos instantes de silêncio ocorreu, como se todas as conversas, ruídos e murmúrios penosos tivessem simultaneamente chegado ao fim.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀—— Mas que diabos está acontecendo? —— resmungou Yaremaha.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀Então a porta do quarto se abriu de forma súbita e a voz de um homem soou com certa histeria.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀—— Me... —— o homem engasgou com o próprio sangue antes de continuar. —— Me ajude. —— ele concluiu, antes de cair para trás com os olhos sem brilho, fechando a porta no processo.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀Sem pensar duas vezes, o garoto correu em direção a porta e a abriu com um movimento rápido e explosivo. Nesse instante, o som voltou a fluir normalmente. O mesmo burburinho de antes; os mesmos choros; os mesmos suspiros. Yaremaha viu um corredor repleto de pessoas doentes mas nenhuma ensanguentada.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀—— Ei —— um enfermeiro de passagem exclamou antes de trocar a prancheta que segurava de uma mão para a outra e acertá-lo na testa com uma batida. —— Não fique perdendo tempo, a enfermaria está cheia hoje.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀O golpe trouxe o garoto de volta à realidade. Ele assentiu com a cabeça de forma desajeitada antes de seguir na direção indicada pelas placas no corredor enquanto a destra coçava o local da pancada. Yaremaha ainda chegou a ouvir o mesmo enfermeiro praguejar algo em sua direção, mas a situação anterior lhe deixou atordoado e ele simplesmente não conseguiu se importar com nada além daquilo.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀Conforme o esperado, a enfermaria estava cheia. O garoto trabalhou duro e o plantão noturno seguiu sem nenhuma complicação adicional, o único problema era que ele não conseguia pensar em nada a não ser nos acontecimentos estranhos de antes. Quem era aquele homem e o que foi aquilo? foram as perguntas daquela noite, repetidas um número incontável de vezes e, mesmo no fim da jornada de trabalho, Yaremaha não havia encontrado nenhuma resposta.


Yaremaha: HP [160|160]; CK [160|160]; [17m/s]; [00|04];

Adendos: