Contrato feito: Cuidado dos porcos

Um açougueiro decidiu pagar para quem roubasse os porcos do vizinho e o entregasse para ele sem chamar a atenção, lembre-se a discrição e a furtividade são os melhores aliados de um ninja.

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Durante o dia, o sol queimava como ferro em brasa. De nada importava ser inverno, não ali, no coração do deserto. O chapéu com textura que imitava palha era a única coisa a protegendo do calor inclemente. Outro dia, outro contrato. Já não sabia se o homem tinha algo com ela, mas o dinheiro era bom, estava vivendo confortavelmente com os pagamentos recebidos de suas atividades criminosas, patrocinadas pelo estranho. A atribuição dessa vez tinha vindo por escrito, um pequeno bilhete colocado no bolso dela sem que percebesse, mas ela sabia de quem se tratava. Leu e rasgou. Imediatamente, depois de ler, ergueu os olhos para o outro lado da rua. Em contraste com toda a paisagem que exibia tons de pastel-amarelado, os porcos de pele rosada roncavam preguiçosamente, delimitados pelo cercado de madeira. Não seria tão fácil quanto roubar galinhas, os porcos eram grandes. Nem mesmo recorrer a noite a ajudaria, mas ela daria conta.

Planejar muito a fundo foi desnecessário, ela conhecia muito bem o lugar. Ficava oposto ao bar que costumava frequentar. Por sorte, era sexta-feira. Os ânimos começavam a se agitar e mesmo que o movimento fosse pequeno, era audível os bêbados cantando, se abraçando e chorando nos cantos do bar. Shizue divisou o dono do carcadinho dos porcos atravessar a rua e entrar para beber. Ele parecia sentir-se seguro sabendo que sua fonte de renda estava no campo de visão, ainda que a região não fosse conhecida por sua segurança e muito menos por ser pacata. Ela tinha visto pessoas ingênuas antes e sabia como se aproveitar disso. Checou o dinheiro que carregava consigo, contando as notas. “Um investimento que vai me pagar muito mais em confiança com o contratante misterioso”, pensou. Foi até o balcão e pagou doses para o bar inteiro, tinha o suficiente para embebedar todo mundo duas vezes. Então, bastou esperar. Quando o homem estava debruçado sobre uma mesa, babando, dormindo, ela atravessou a rua, abriu a porta do cercado e começou a conduzir calmamente o primeiro porco para fora, fechando o cercado atrás de si. Olhou para o bar de relance, rápido o suficiente para ver que ele ainda dormia, depois seguiu, conduzindo o porco até o limite da vila. E como ela imaginava, o homem esperava ela lá. Um ajudante dele conduziu o porco para além da vista e o homem depois ajudou Shizue a pegar o segundo porco.

Rápido, fácil, pagamento recebido. Ela imaginava que os porcos conheceriam seus fins diante do cutelo de açougueiro, não tinha outro rumo ali, no deserto. “Que pena”, pensou, indiferente.

Infelizmente, talvez teria de trocar de vilarejo pelos dias seguintes.

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