“Novamente um dos nossos”, resmungou, se escondendo na cobertura proporcionada por uma fenda no paredão de rocha. À sua direita, seguia como uma cordilheira, por quilômetros a fio, somente parando e se transformando em solo barroso após a fronteira do país. A estrutura natural oferecia uma boa proteção contra o vento e olhares alheios que poderiam vir de seu ponto cego, mas ao mesmo tempo a deixava exposta demais para qualquer um que estivesse, assim como ela, do outro lado do paredão.

Dessa vez tratava-se de deixar uma última impressão, não somente considerando sua estadia, que embora não fosse terminar de imediato seria breve, mas também a subsistência dos criminosos na região. Por mais estranho que fosse dizer isso em voz alta ou mesmo pensar, Shizue amava o deserto. Não conhecia outra casa senão ele, nenhum outro lugar, nem mesmo a segurança de uma casa ou um bom esconderijo que pudesse passar a mesma sensação de tranquilidade que sentia quando estava sobre uma duna observando o horizonte se desfazer em tons arroxeados, anunciando o crepúsculo. Se tinha de sair dali, não por vontade, mas por fadiga, pelo menos tinha de deixar sua marca para aqueles que ficariam para trás, os que teriam, assim como ela tinha feito, de sobreviver por conta.

211 palavras. 1/4.

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Hp: 320; Ck: 320; Estamina: 0/4; Sanidade: 190.

Simplesmente cumprir a missão seria insuficiente. Era a terceira vez que tinha de intervir no assunto, sem contar os outros heróis desconhecidos, agindo furtivamente para impedir a inevitável destruição que viria pela ganância de quem preferia colher migalhas ou uma mixaria de dinheiro em troca dessa destruição. Shizue estava cansada de ter vezes e vezes que resolver ela mesma problemas que não eram seus, enquanto sua principal motivação não era o altruísmo e sim o medo que a atormentava, a sensação incômoda de estar sendo sempre perseguida ou observada mesmo nos melhores esconderijos do deserto, aqueles que somente ela conhecia ainda dos tempos no circo. Tinha sido uma jornada árdua e muito longa até ali, mas podia dizer que tinha sobrevivido por tempo o suficiente para acumular riquezas que a davam uma vida considerável, de modo que perder isso seria perder toda uma vida de esforço, sem julgar ela mesma com ética ou valores esses esforços. Ela estava viva e era tudo que importava. Valores de nobreza se tornavam obsoletos diante da necessidade por sobrevivência, não se pode cobrar construções mais complexas do caráter de quem vive um dia após o outro, sem ser capaz de antecipar o amanhã.

Por esses e outros motivos, dessa vez ela mandaria uma mensagem.

210 palavras. 2/4.

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Hp: 320; Ck: 320; Estamina: 0/4; Sanidade: 190.

Caminhou rente ao paredão até quase encontrar os limites imaginários da fronteira. Quanto mais avançava, mais as dunas desapareciam e o solo tinha um aspecto plano e uniforme como uma vasta, erma planície de cerrado. Não encontrou sequer uma alma viva em seu raio de visão, embora soubesse que seria questão de tempo até que avistasse o traidor da vez. Tinha seguido o homem durante toda a semana, observando sua rotina, acompanhando ele através da noite e fazendo todo o tipo de travessias perigosas pelo descampado do deserto, se escondendo na sombra de dunas e escutando por trás de paredes.

Refez a contagem da armas que carregava consigo, testando o gume das armas laminadas, respirando e tentando limpar a mente para que nada saísse errado — mesmo assim, existia um limite do quanto poderia se livrar do pessimismo e do medo. Preparou-se, armas em mãos e interrompeu sua caminhada ao fim do paredão, começando a contorná-lo em direção ao leste. Nessa direção o deserto voltava a apresentar seu aspecto natural de carcaças ressecadas, urubus sobrevoando em busca de cadáveres e o cheiro característico que subia das dunas como uma erupção de especiaria. Além das dunas, também divisou seu alvo, ele se movia sem pressa, com a calma de quem não esperava ser pego.

213 palavras. 3/4.

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Hp: 320; Ck: 320; Estamina: 0/4; Sanidade: 190.

Shizue revelou os instrumentos da morte ainda muito distante, sem se importar se reflexo metálico denunciaria sua investida contra o traidor. Mesmo muito longe, ela caminhou com calma, tentando ao máximo manter o semblante neutro e esconder o nervosismo. Seu sucesso traria estabilidade, mas o seu fracasso balançaria ainda mais as estruturas sobre a qual aquele estilo de vida se mantinha vivo.

Se sua presa avisou ela antes de estar próxima, não deu nenhum sinal. Shizue ergueu a arma contra ela, apostando num golpe de curta distância, pois os ventos no deserto sempre eram traiçoeiros quanto a projéteis. Encontrou carne, embora tenha sido um golpe débil. Percebeu que realmente não tinha sido descoberta, pois o traidor se virou com uma expressão de surpresa no rosto, tentando se desvencilhar dela, que apertava e chutava e batia e empurrava sua vítima contra o solo, numa batalha patética entre duas figuras frágeis, mas onde Shizue claramente levava vantagem por ter ferido gravemente seu algoz. Quando ele parou de se debater, ela aproveitou e acertou o golpe derradeiro, batendo em sua carótida com os punhos cerrados, até escutar o característico som de ossos quebrando.

Arrastou o corpo morto até o topo de uma duna, depois chutou e fez ele rolar caminho abaixo. Precisou repetir isso muitas vezes até que conseguisse alcançar um vilarejo. Lá, ela deu seu recado, pendurando a cabeça do morto logo na entrada da vila. Um aviso para pensasse em traição.

240 palavras. 4/4.

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Hp: 320; Ck: 320; Estamina: 0/4; Sanidade: 190.

Aprovado