Os olhos da loba se voltaram para os céus noturnos, as estrelas pontilham sobre o firmamento, equilibradas por seus cordéis gravitacionais, reluzindo altivas, alheias às maquinações humanas e seus planos ignóbeis de dominação e conquista.
Contemplou para si toda a magnitude dos céus, naquele navio onde as maré ricocheteia com violência sobre seu casco de madeira. Seu cigarro fumegava sobre os tons de laranja e amarelo, enquanto esta tragava para si mais um pouco de fumaça para seus pulmões jovens.
Seus pensamentos se dividiam ansiosos e repletos de malícia. Seus olhos, ainda afoitos, buscavam para si alguma lógica para os sentimentos que estavam enraizados em seu ser, odiava sentir qualquer coisa que não fosse o libido quase sexual de assassinar e matar pessoas, amor, era um sentimento que a loba se quer conseguia contextualizar ou entender, apesar de sentir que haviam algumas pessoas que em seu âmago ela sentia isso, a primeira delas era Ifan e Jaina, os dois competindo para ver quem possuía mais espaço naquele amargo coração canino, se chegasse um dia em que ela tivesse que divagar entre quem amava mais ou salvar apenas um, ela provavelmente enlouqueceria antes de chegar a uma resposta coesa.

O segundo que carregava esse mantra ou maldição era Taichou ou treze, diferentemente dos sentimentos por Megumi que tracejam o sexual ou de Jaina e seu pai que acima de tudo era fraternal. O Taichou era diferente, era como se olhar em um espelho distorcido, um reflexo de si mesma, só que de uma Ookami que conseguiu superar o seu próprio abismo pessoal. Ele era lampada, e a lupina uma mariposa, que temendo a escuridão, buscava  estar perto dele, mas que por não estar acostumada com tamanha claridade, entrava em um desnorteio e girava sobre um eixo invisível até se espatifar sobre o vidro e perceber que não importava o quanto chegasse perto, ela nunca seria a luz.

As cinzas dançavam em suas pálidas mãos. A lupina só percebeu que este havia acabado quando sentiu o calor das brasas alaranjadas sobre seus finos dedos. Arremessou a pequena bituca ao mar e logo acendeu outro cigarro. O tabaco mesclado à menta lhe preencheu os pulmões trazendo para si uma estranha calmaria.

A primeira vez que conseguiu um cigarro foi na casa do lorde das terras do leste, coberta por seu próprio mijo e fezes, cercada por ratazanas e baratas, foi quando Megumi lançou para ela um único cigarro de sabor menta, a única luz do luar que a salvou de perder o pouco de sua sanidade. Chicotes, queimaduras, ofensas e humilhações e abusos tudo isso distorceu a loba, flagelou a pouca infância que ela tinha, dando espaço a bitucas de cigarros que Megumi jogava por entre as grades de ferros nas noites de lua cheia.


“Matar o tsuchikage, seu mestre, fazia parecer fácil, mas como matar o homem mais poderoso do mundo ninja?”

As palavras se digladiavam em sua mente, a concepção do que deveria fazer e o que queria fazer se convergiam, e se mesclavam em um vórtice de lembranças acumuladas.

“Não é sobre matar o tsuchikage, mas sim sobre salvar a única pessoa que realmente merecia ser salva.”

Apertou o cigarro ainda aceso entre o punho fechado. Salvar Megumi sempre foi sua prioridade e se era necessário matar um homem para conseguir isso, ela o faria, mesmo que para isso, tivesse que pagar com sua própria alma.

Curvou-se sobre as estrelas, ela não era de rezar, para deuses ou auto declarados divindades, mas rezava para si mesma, para que seus medos fossem expulsos de seu peito, e lhe restasse apenas a coragem para fazer o que tinha que ser feito, aceitando as consequências.

Megumi, a menina de cabelos azuis escuros e olhos sérios, que apesar de sua cara de carrancuda, gostava de ajudar as pessoas, de dar um pouco de brilho e humanidade até para monstros como a lupina. Lembrou-se dos dias que correu pelas ruas da cidade de ferro, ela e os marotos, assim como Megumi, aqueles tempos eram outros, haviam os homens maus e os homens bons, tudo preto no branco, hoje a linha se tornou tênue e sombria, com tons de cinza por todas as parte, ofuscando o que antes era algo claro como as estrelas distantes.

— Eu vou te encontrar Megumi, isso eu te prometo, e quando acha-la eu me casarei com você… bom na real nem sei se tenho idade para isso, mas não importa, bem eu também não posso te prometer fidelidade, sabe, acho que todo mundo e de todo mundo.— Murmurou para si mesma—

Desde que seu mestre lhe ensinou aquele poder, ela já não se sentia mais humana e sim outra coisa, outra entidade, algo que não era superior ou inferior, mas que em seu âmago se divergia do resto dos humanos comuns, receber tal poder era mais do que o necessário para que ela pudesse salvar Megumi, mesmo que isso custasse sua vida.

A luz da lua brilhava com intensidade. refletindo sua luz tênue e fantasmagórica sobre os leitosos azuis escuros do mar, aquela vista era bonita, mas sem megumi ali, de nada adiantava tudo aquilo, pois na visão da loba, tudo se tornava desbotado e cinza, tais como os dias em que era torturada pelo homem rico, tudo preto e branco pelos seus olhos perolados.

Apertou o cigarro nas mãos e então com uma simples manipulação criou uma estatueta de megumi e ficou contemplando sua criação, aturdida de como conseguia manipular tão bem o cristal, obra de Takane e de seu antigo mestre.

 — Eu vou te salvar Megumi… mesmo que para isso eu tenha que destruir o mundo.—

A capa vermelha esvoaçou-se sobre o vento marítimo, seus medos e anseios, todos ficaram submersos assim como o seu cigarro, ela só tinha que assassinar um homem, e isso lhe daria a chance de recobrar o amor de sua vida, reencontrar o sorriso que havia perdido. Não permitiria que ninguém ficasse no caminho de sua felicidade, nem mesmo o homem mais poderoso do mundo.

Status:

Jutsus usados:

Bolsa de armas:

Informações adicionais: