Considerando a viagem, não foi tão desconfortável, acabou que precisei ir ao banheiro apenas uma vez, e quando o fiz, foi despejado no oceano qual navegávamos. Para fazer coisas que não deveriam ser vistas, virava de costas para Yuyuko, como por exemplo, quando peguei minha katana e pensando em qual corte faria para cortar sua garganta, arranhei o barco com o fio de minha lâmina. Evitando que o capitão do barco conseguisse ver eu danificando seu patrimônio, ou com certeza, deveria acabar pagando quanto ele achasse que deveria cobrar por uma madeira velha e molhada.

Ainda no mar, chegando perto da encosta do avistado e pronunciado pelo capitão: País do Ferro, comecei a sentir um frio incomum, que fazia gelar a espinha, e meus pelos arrepiarem, e provavelmente, se não fizesse nada e ficasse muito tempo naquele frio, poderia morrer. Aumentei a circulação sanguínea do meu próprio corpo, o necessário para que pudesse manter uma temperatura corporal normal, e não sofresse tanto com o frio. Claro, ele ainda estava lá, mas não fazia tanto efeito sobre mim. Olhei bem para Yuyuko, que deveria estar sentindo os efeitos todos e lhe puxei para mim, grudando-a no meu corpo mais quente que o normal, devido a aceleração da circulação sanguínea.

Nox: — Yuyuko, recomendo que não saia de perto de mim, até que possamos achar um animal para matar e fazer um casaco pra você. Não me entenda mal, mas irei lhe cuidar, até que possa o fazer sozinha.

Qualquer que fosse a resposta, conseguia sentir o aroma do álcool em seu corpo, direcionei-nos para fora do barco e comecei a andar. Iria começar a tentar caçar, qualquer animal que tivesse o mínimo de couro para que pudesse aquecer Yuyuko, e quando o encontrasse, usando minha velocidade máxima, iria partir-lhe a cabeça - ou tentar - tentando o matar com um único golpe, em baixo do seu pescoço, de baixo para cima, rotacionando o quadril, para que pudesse apresentar uma melhor performance.

Em sequência, iria arrancar sua pele e deixar sua carcaça para os lobos, vestindo a garota para que pudéssemos continuar caminhando, naquela manhã fria no país do Ferro. O fim da manhã se apresentou bem quando chegamos a uma vila no pé de uma grande montanha. Pedimos por um samurai que pudesse cortar o fio que nos unia, mas inutilmente, ninguém conseguia coisa alguma, se não a informação de que havia um samurai capaz de cortar um selo demonieco.

Agradeci, curvando-me e então falei no canto do ouvido de Yuyuko: — Parece que ele é o cara certo para o serviço. - Guiando-nos até o lugar que se parecia com uma cabeça de águia. Dentro de um templo, a única pessoa que estava - parecia que meditava naquele momento - o indaguei. — O senhor é o mestre Hoko? Precisamos de ajuda!

Yuyuko, parecia roçar em mim, não que eu me importasse, mas a cara de desgosto para com aquilo e vergonha mal podia ser descrita. Durante todo o caminho foi assim, evitei inclusive, toca-la ou coisa do tipo, para que ela não imaginasse estar sendo retribuída de quaisquer formas.

Fomos muito bem recebidos, e apesar do frio, a lareira, esquentou minha pele e me permitiu - mesmo que momentaneamente - parar a agitação de chakra e manter-me quente, mesmo sem uma alta circulação. Tirei minhas sandálias ao pisar no tempo, demonstrando respeito para os costumes antigos, que haviam sido passados em casa, mesmo naquele lar destruído. Escutei atentamente as palavras que o jovem senhor havia dito, e se percebesse sua cegueira, iria agradecer, por não saber que éramos ninjas procurados.

[Nox]: Meu nome é Nox, e essa é Yuyuko, vou deixar que se apresente logo logo. Nos amaldiçoaram com um Fuuinjutsu que liga nossas almas por uma espécie de cordil vermelho. Hoko, se sua Katana não pode mais ser usada, permita me usar meu corpo, sangue e tudo que há de mim para poder resolver esse assunto. Mesmo com mãos tão surradas, e sujas por sangue inimigo, talvez não seja tão digno quanto gostaria, e pouco honroso quanto poderia. De qualquer forma, hoje, se há essa necessidade de aprender, guie-me como teu pupilo e me ensine a arte que o senhor é mestre.

Guiei-nos até o mestre e deixei com que tateasse aonde o Fuuinjutsu nos ligava, sendo bem lido pelo senhor em seguida, que continuava falando. No entanto, Hoko precisava de um favor, e provavelmente, era uma troca justa. Independente do que precisasse ser feito, daria meu sangue naquilo e aprenderia aquela arte, partiria em dois nossa ligação de alma, e toda a amarração, iria cair por terra. Dei o primeiro passo em direção a nossa independência, seguindo o jovem e novamente, mantendo uma circulação acelerada para que não congelasse ao frio da montanha.

[Nox]: Me guie como teu pupilo, mestre. Permita-me sanar todas os seus problemas e lhe dar paz. Mesmo que eu já não a conheça tem um tempo.

O clima frio em uma das montanhas do país do Ferro se tornava realmente uma pedra no sapato, e novamente a natureza se mostrava implacável, uma rainha solidária - como um arco-íris depois de um temporal - e maléfica, como a que estávamos sofrendo agora, merecia respeito, e por isso, por toda a sua força, era venerada. Respirava fundo, e mesmo com a circulação acelerada de sangue dentro do corpo - que impedia com que eu sofresse perda de temperatura corporal - sentia meu corpo estranho, e observava Yuyuko sofrendo com aquilo.

[Nox]: Yuyuko trate de não morrer, se isso ocorrer, eu vou de tabela. - Peguei a blusa do meu Kimono e a entreguei, vestindo sobre as roupas que a garota estivesse - Vou me arrepender disto.

Havia lhe entregado uma das coisas que me dava o mínimo de conforto naquele lugar, e provavelmente sofreria os efeitos daquilo, mesmo como um mestre em circulação sanguínea. Esperei por uma brincadeira de Yuyuko, que tentava constranger-me a todo custo, e mesmo que por vezes, houvesse me deixado com cada vez mais vontade de lhe matar, não o demonstraria.

Minhas mãos, acostumaram-se pouco a pouco a brandir a lâmina em um lugar tão inóspito quanto aquele. Mestre Hoko, ensinava-me enquanto andávamos, e meus braços doíam pelos movimentos repetitivos. No entanto, não esperei que fosse fácil, a busca pela verdadeira força, que poderia cortar montanhas e partir o próprio tempo, e a alma de alguém, esse poder deveria ser cultivado e com certeza, não viria de maneira corriqueira.

Certificando-me de aplicar tudo o que Hoko havia dito, comecei a entender na prática o que o mestre tentou passar, a minha katana, merecia tanto respeito quanto eu lhe tratava, e se algo há de me dar poder, era a manifestação dos meus sentimentos em uma extensão da minha vontade, o corte mais preciso e poderoso, não era através da melhor lâmina, e sim do respeito e honra de quem há de a brandir.

A arma não era pesada, era sutil, e já havia sido usada diversas vezes para cortar carne, e mesmo que houvesse precisado requisitar um pouco dela por diversas vezes, era como se fosse uma estranha para mim. Suas dimensões, no entanto, mesmo que não houvesse tido um cuidado para notar, conhecia bem. Seu alcance, seu fio, e a sensação que era quando degolava alguém. Tão simples, e tão recompensador, era como se a lâmina respondesse à minha própria personalidade. Hoko me corrigia, todos os posicionamentos errados, postura, joelhos, a forma de tocar no cabo da lâmina, odas essas coisas pequenas que faziam uma baita diferença naquela arte de espadas.

O movimento então veio involuntariamente, puxei Yuyuko para perto de mim, segurando-a pela cintura. E quando estivesse suficientemente perto para que não interrompesse o movimento, seguraria o cabo da arma com as duas mãos, posicionando-a defronte a mim, levemente inclinada passando pouco da altura dos meus ombros. Então, com um giro de quadril e um movimento que começava desde os pés, passando a energia por todo o meu corpo, liberaria o máximo possível de energia na cintura e deixaria as mãos firmes - ainda que mirradas - para um corte precisamente gentil.

Depois de algumas boas horas de treino e caminhada, chegamos até o lugar. Cheguei perto e comecei a limpar a porta do mausoléu, retirando a neve que a cobria. Li as escrituras e posicionei de cima para baixo: o sol, a águia e a cobra.

[Nox]: O Sol, divino como é, não poderia estar em outro lugar, senão, vendo inerte a vida se desenrolar, e a ordem natural das coisas, acontecer.

Hoko orientou para que eu pegasse a lâmina que provavelmente havia sido o motivo dos dois, sentados em duas cadeiras diferentes, estarem mortos agora. Talvez fosse um tipo de lâmina amaldiçoada, no entanto, o fiz sem pestanejar e pude sentir como se o meu chakra se fundisse ao aço. Era como se respondesse a sua natureza agressiva, e quando lhe peguei, pude sentir que o seu fio ficou azulado, tomando uma coloração roxeada enquanto mais chakra a envolvia. De qualquer forma, com os ensinamentos do mestre Hoko, estava apto a usar uma lâmina de tão alto nível.

Mas, aquela arma era de Hoko, e deveria ser devolvida. Infelizmente, coloquei-a com a lâmina sobre minhas mãos, como forma de lhe dar a arma em mãos, mas, enquanto guiei-me até o mestre, uma serpente se lançou contra Yuyuko, e foi tudo tão rápido que quase não tive tempo para reação. Respirei fundo, peguei o cabo da arma, e observei bem a serpente partindo em minha direção, sendo assim, pisei firme, flexionando os joelhos.

Meus olhos brilharam rubros, quando meu doujutsu se ativou e esteticamente, deixou a cena muito mais estética, apesar de não mudar nada em questões de percepção e coisas do tipo. Tentei um corte por de cima do braço de Yuyuko, tentando a manter parada com o link de alma que nos prendia, diagonalmente, tentaria partir a cobra e continuar o movimento por de cima do fio vermelho, me sentia pronto, aquilo de certo era algo que depois de tanto treinamento, iria conseguir fazer.

Coloquei chakra na lâmina, e depois que saísse do raio de ação que atingiria Yuyuko, faria com que saísse um arco de chakra, responsável por partir, tudo naquela linha, até o chão, e provavelmente, o maldito fuuinjutsu que nos prendia. Esteticamente, desenharia o braço de Yuyuko, sem sequer o tocar - talvez no processo cortasse um pelo ou outro - tentando romper a fina risca do destino. Caso a serpente houvesse sido derrotada com um único golpe, depois do movimento, limparia a lâmina, brandindo-a para baixo, soltando o sangue no solo de madeira do local. Caso a serpente conseguisse passar pela minha guarda armada, abaixar-me-ia, deixando a lâmina no lugar qual esperava com que fosse atacado, balançando-a no sentido contrário, para parti-la em duas.

A serpente simplesmente desaparecia, e com ela, o selo que nos prendia. A ligação de alma havia se perdido, e ficamos ali, os dois, após Hoko encontrar o seu destino, com todos os grandes espadachins do mundo. Olhei bem para Yuyuko, e simplesmente havia perdido completamente a vontade de partir-lhe a cabeça, no entanto, estava com uma bela katana em punho, e Yuyuko estava bem a minha frente. Meus olhos se tingiram em rubro, vagorosamente aproximei-me da garota, armando um golpe, no entanto, pouco mais de três metros pararia, fincando minha antiga katana no chão.

[Nox]: — Mestre Hoko, descanse em paz, que essa Katana seja a representação do grande símbolo que o senhor foi para o meu treinamento. Levarei sua vontade de ferro junto a sua própria Katana, e todos irão ouvir falar seu nome, nos quatro cantos do mundo. E, Yuyuko, nossa caminhada termina por aqui, não quero que me procure mais, nunca mais.

Depois de dizer isso, cortaria meu dedo, deixando a seguinte mensagem ao chão: Não me procure no país das fontes termais, no distrito marginalizado, nas vielas da rua principal. Não vou estar lá. E dito isso, aumentaria minha velocidade até o seu limite, havia transformado me através daquele treinamento em um monstro, e mesmo que pouco, devido ao tempo, o código de honra dos samurais, nunca mais, minha lâmina brandiria-se por motivos torpes, e nunca mais, deixaria sem destino uma alma ceifada por mim. Acelerei, cada vez mais, sobre a neve que caia, e logo sumiria de vista, voltando para minha cidade natal, tinha alguns assuntos a resolver.