A estrada que ligava a Vila de Getsugakure até o outro lado do País da Lua era, de certa forma, suspeitosamente tranquila. Provável consequência do baixo nível populacional do país, fato era que não havia muito a ser observado naquela região. Um caminho de terra que seguia tortuosamente até a Vila, dividindo em duas partes a densa floresta que o circundava.

Ali estava Yusei. Um jovem alto, robusto, que talvez nem soubesse o motivo da sua presença naquele lugar.  Se ele seguia para Getsugakure, era melhor apertar o passo para alcançar a Vila antes do anoitecer. Mas se seu objetivo era deixar o País da Lua, ele deveria ter boas habilidades como nadador, afinal o último barco que saía do país para levar os viajantes até outras localidades já estava distante no mar.

Ainda que não soubesse de fato o que fazia naquele lugar, o destino reservava para Yusei uma forma certamente intrigante de distanciá-lo da monotonia. Um pouco mais a frente, na estrada, o renegado seria surpreendido por uma cena um tanto quanto curiosa. Uma carroça quebrada, com suas partes de madeira espalhadas ao seu redor, acompanhada por um velho senhor, esguio, que estava estirado no chão ao lado do que aparentava ser o seu meio de locomoção.

— Ah, finalmente, um homem de verdade capaz de ajudar um pobre coitado. — Assim que avistasse Yusei, o velho iniciaria o seu discurso melodramático. — Ei, garoto, o que acha de ajudar esse senhor e ir atrás dos patifes que me deixaram nesse estado? — O semblante do idoso deitado no chão se assemelhava ao de um animal que acabava de ser abandonado pelos seus cuidadores. — Eu posso te oferecer uma boa recompensa se conseguir recuperar o item que eles me roubaram. — Citar uma possível gratificação para Yusei fazia um sorriso surgir no rosto do idoso, provavelmente como uma estratégia de convencimento.

Fato é que dependia somente de o renegado aceitar o serviço informal ou não. Mesmo não afetando em nada na sua jornada ajudar ou somente ignorar o velho, aquela parecia ser uma boa situação para conseguir um dinheiro fácil. Qualquer um poderia roubar aquele senhor e levar o que quer que ele carregasse naquela carroça, Yusei certamente não passaria por dificuldades em pegar os bandidos que fizeram aquilo com ele.

Considerações:

A maneira de se expressar do ninja renegado poderia não ser a mais gentil, mas no fim das contas ele estava disposto a acatar o pedido feito pelo senhor. Levemente atordoado pelo tom do Kaguya, o velho se levantou — com certa dificuldade — e começou a explicar um pouco sobre do que se tratava toda aquela situação.

— Pode confiar em mim, você será muito bem recompensado pelos seus serviços. — Já de pé e dando leves palmadas contra a própria roupa em uma tentativa de limpá-la, o homem prosseguia com a explicação do que Tengoku teria de fazer em breve. — Uns idiotas me atacaram enquanto eu seguia para Getsugakure, quebraram minha carroça e roubaram uma espada que eu estava levando para um ninja importante da Vila. — Ele parou a explicação por um instante, se virou para a densa floresta que enfeitava os arredores da estrada e, esticando o braço para frente, apontou seu indicador para uma direção específica. — Depois disso eles correram pra lá, e se esconderam dentro dessa floresta.

O homem começou a recolher algumas partes da carroça que estavam espalhadas pela estrada, como se tentasse minimizar os danos que havia sofrido. — Se você recuperar o item pra mim, prometo te dar uma boa quantia em dinheiro quando chegarmos em Getsugakure, você também estava indo pra lá, né? Eu sou famoso por fabricar algumas armas, se quiser também posso criar algo especial pra você.  

Restava agora ao renegado adentrar na floresta e partir em busca da tal espada feita pelo homem. Não havia muitos indícios de qual direção ele deveria seguir, sendo sua única dica a orientação dada pelo velho.  

Considerações:

Dentro da floresta, a falta de luminosidade e a mata espessa dificultavam ter alguma visibilidade pelo local, mas o renegado se movia furtivamente e estava atento em qualquer sinal de aproximação que pudesse sentir ou ouvir. Era até um pouco cômico, um indivíduo com corpo tão massivo se movendo com tamanha leveza, mas esse tipo de cautela era importante ao adentrar um lugar sem saber o que iria encontrar.

Um pouco mais a frente, no meio da floresta, uma fagulha cintilava entre algumas árvores e se destacava na escuridão. Havia uma fogueira, centralizada em uma área um pouco mais aberta, que poderia ser facilmente notada pelo renegado. Se ele mantivesse a sua postura cautelosa, seria capaz de se aproximar sem ser notado pelos indivíduos que estavam ali.

Ao redor da fogueira, dois homens conversavam entre si. Entender o que eles diziam era certamente complicado, mas o Kaguya teria êxito em ouvir a conversa se não fosse notado pelos homens.

— Você pegou tudo que ela tinha? — Um deles questionava, enquanto mordiscava o que parecia ser um pedaço de carne que ele segurava com a mão.

— Sim, ela só tava carregando umas frutas na cesta, mas eu já coloquei junto das nossas coisas. — O outro respondia, sem demonstrar muita empolgação com a sua reposta.

— O que caralhos a gente vai fazer com frutas? Não tinha nenhum dinheiro nem nada de valor? — O primeiro aumentava o tom de voz, e o segundo apenas negava com um balançar de cabeça.

Ao lado de onde os dois homens conversavam, escorada em uma árvore, havia uma mulher que sequer dava sinais de vida. Seu cabelo longo cobria seu rosto, o que dificultava ver se ela estava viva ou não, mas o renegado certamente podia notar que ela estava com seus braços e pernas amarrados por cordas. Aqueles dois homens aparentavam ser os ladrões descritos pelo velho, mas o que não podia ser visto por todo o local era a espada que Tengoku deveria recuperar.

Considerações:

O renegado era certamente um homem perspicaz. Ele seguia com a sua furtividade, ainda que de maneira sutil devida toda a sua estrutura corporal, e seguia camuflado na escuridão esperando tomar a iniciativa adequada naquela situação.

Porém, algo como um instinto inevitável remoía as vontades do Kaguya que, eu seu interior, deixava parte da psicopatia que carregava tomar conta das suas ações. O princípio da sua presença naquele lugar era puramente recuperar uma espada qualquer, mas era a sede de sangue que o motivava a agir.

Fato é que as ações do renegado da Névoa só foram percebidas tarde demais. Um dos homens da fogueira, que estava de costas para Tengoku, foi surpreendido por um ataque que jamais seria capaz de evitar. Em um movimento rápido, o bandido teve a própria garganta perfurada por uma lâmina óssea criada pelo Kaguya, e em seguida caiu no chão, já sem vida.

O segundo também fora surpreendido pela investida de Tengoku, mas ficou ainda mais assustado quando viu o estado deplorável de seu aliado no chão. Retirando o que se assemelhava à uma lâmina curta de uma bainha, ele partia em direção ao renegado, visando perfurar o seu peito com a lâmina.

— Se-seu desgraçado, eu vou pegar você! — Ele parecia um pouco intimidado, afinal não era fácil encontrar coragem para enfrentar uma pessoa com a aparência de Tengoku. De qualquer maneira, a ofensiva daquele pobre coitado sequer parecia ameaçadora de fato. A única característica que destacava aquele homem era o tapa-olho que utilizava.

Considerações:

O bandido remanescente podia estar um pouco atordoado com toda aquela situação, mas não deixava de ser um homem habilidoso com a espada que empunhava. Com um ligeiro balançar de lâmina, ele foi capaz de ricochetear o projétil ósseo criado pelo Kaguya, fazendo aquela espécie de chifre ser disparado para o lado, terminando sua trajetória ao perfurar uma das diversas árvores daquela floresta.

Por um instante o semblante de desespero sumiu no rosto daquele homem, que foi substituído por uma feição de confusão, ao receber os questionamentos feitos por Tengoku. Este que por sua vez, acendia um cigarro em um momento certamente inoportuno. Mas, no fim das contas, certos vícios não podem ser controlados, por mais forte que você seja.

— Que espada, seu maluco? Do que você tá falando?! — O bandido claramente não sabia à qual espada o renegado estava se referindo, mas depois de refletir por alguns instantes ele teve uma pequena ideia do que estava acontecendo ali. — Espera um pouco, foi aquele velho idiota que mandou você pra cá?  

As perguntas foram seguidas de um segundo avanço feito pelo bandido, que esticava sua espada à frente enquanto gritava para o Kaguya parado na sua frente.

— Não importa, eu vou acabar com você aqui e agora! — Ele agora corria em uma velocidade superior àquela mostrada anteriormente, e quando estivesse próximo o suficiente de seu alvo iria alvejá-lo na altura de seu peito, com um corte horizontal.

Considerações:

Tengoku era de fato um ninja habilidoso. Não somente controlava suas ações para não exacerbar suas reservas de chakra, como bolava estratégias para dificultar a vida de seu oponente. Mas, de certa forma, exibir toda essa habilidade em uma situação tão simples não era uma postura um tanto quanto exagerada?

O bandido foi surpreendido pela explosão da Hikaridama, e por tal feito sequer conseguiu pensar em alguma maneira de reagir, sendo completamente cegado naquela situação. Ainda assim, essa mesma explosão dificultava a vida do renegado em acertar seu alvo de maneira precisa com seus disparos de ossos, uma vez que ele não era hábil o suficiente para evitar a cegueira da bomba e ter uma clara visão de seu oponente ao mesmo tempo. Os projéteis até chegaram a atingir o bandido, porém não foram capazes de causar algum dano severo o suficiente para impedir o homem de seguir lutando.

Já recuperado da cegueira e ignorando os pequenos ferimentos causados pelos disparos de Tengoku, o homem prosseguiu com sua ofensiva, mas dessa vez, sem responder os questionamentos do Kaguya e sem proferir uma palavra sequer. Talvez ele estivesse evitando vazar qualquer tipo de informação, talvez estivesse focado em vencer a batalha ou, simplesmente, talvez ele apenas não tivesse nenhuma informação útil para ser dada. Fato era que, a partir daquele momento, o bandido não aparentava estar aberto para qualquer diálogo.

O bandido, então, balançou sua espada em um movimento horizontal que se assemelhava a um arco. Com o movimento e da ponta da lâmina, uma rajada de vento surgia no ar que percorria na direção de Tengoku. Era claramente uma ação que poderia causar problemas para o Kaguya, se este não se defendesse adequadamente.

Considerações:

O Kaguya tinha uma clara vantagem para o combate quando comparado ao seu oponente, que sequer era capaz de acompanhar a velocidade dos movimentos do renegado com os olhos. Todavia, a limitação que Tengoku poderia encontrar a partir dali era quando as suas próprias energias. Deveria recobrir a cautela que havia mostrado anteriormente, afinal ele não sabia o que poderia acontecer dali em diante.

Mas, de qualquer maneira, a investida do renegado era mais do que suficiente para lidar com o seu último oponente, pelo menos o último até então. Como nem sequer conseguia interpretar os movimentos de seu rival com os olhos, o bandido foi completamente surpreendido pelo avanço do renegado da névoa, que perfurava a garganta do oponente e colocava, ali, um fim em sua vida.

Ele já não seria capaz de responder quaisquer questionamentos que Tengoku fizesse a partir dali, afinal seu corpo somente jazia na grama da floresta, completamente sem vida. O que poderia, ao menos por um breve instante, causar a impressão de que o paradeiro da espada e aquela mulher amarrada ao lado da árvore seriam perguntas sem respostas.  

Eis que subitamente, por entre as árvores escuras daquela floresta, uma terceira figura surge como uma maneira de esclarecer ao menos um pouco toda aquela situação.  

— O que aconteceu aqui? — O velho tinha uma clara expressão de surpresa em seu rosto, que foi substituído por uma feição de pavor assim que viu o estado em que se encontravam seus companheiros, completamente destroçados por Tengoku. — Foi você que fez isso com eles? Que tipo de monstro você é, afinal?!

O velho parecia estar, de alguma maneira, atrelado à toda aquela situação. Mas, diferente do último bandido abatido pelo Kaguya, ele parecia oferecer um pouco mais de ação e, também, um certo risco à vida do renegado.  

— Ah, não importa. Eu mesmo vou dar um jeito em você! — Sem que Tengoku tivesse tempo para recuperar suas energias, uma rajada de fogo seria disparada pelo velho que percorria na sua direção.

Considerações:

O senhor ficava surpreso em perceber a facilidade que Tengoku apresentava para desviar da sua ofensiva, o que explicava o fato de seus capangas terem sido superados com tanta facilidade, uma vez que o renegado sequer aparentava ter sido atingido por algum golpe que fosse. Ainda assim, o velho também não sentia dificuldades em desviar da shurikens e dos disparos seguintes feitos pelo Kaguya, relevando ser bem mais habilidoso do que aparentava.

— Seu idiota, o que você tá pensando? — O velho falava com um tom ríspido e expressivo, revelando um certo sadismo que sequer havia demonstrado até então. — Eu só te arrastei pra essa floresta pra gente pegar suas coisas e depois cair fora, que nem a gente fez com essa vadia aí. — Ele indicava seus olhos para a mulher caída ao lado da árvore, e claramente falava a seu respeito em um tom de desprezo.

— Você acha que eu ligo se ela vive ou morre? Eu vou é deixar você em um estado muito pior que o dela! — A voz rouca do velho ecoava pela floresta, e a barba comprida e as sobrancelhas grossas não impediam que Tengoku enxergasse uma clara expressão mais vívida no rosto do velho, este que parecia estar sentindo algum tipo de satisfação com toda aquela situação. Talvez o Kaguya não fosse o único aficionado por sangue naquele lugar, mas certamente deveria ser o mais habilidoso se quisesse sair dali sem graves problemas.

Mais uma vez, o velho partia para a ofensiva contra o renegado. Rapidamente ele expeliu uma rajada de fogo de sua boca que percorreu o ar indo na direção de Tengoku, mas dessa vez a sua labareda tinha o formato semelhante ao de um dragão genuíno. A técnica parecia não ser tão poderosa como a anterior, ao passo que o velho já dava claro sinais de cansaço enquanto sua respiração ficava cada vez mais arquejante.  

Considerações:

O velho poderia ter causado algum tipo de ferimento à Tengoku se estivesse no auge da sua força, o que não se tratava daquela situação. Poderia ter sido um bom combatente no passado, mas agora sequer oferecia qualquer tipo de ameaça verdadeira. Suas técnicas de fogo não eram suficientes para atingir o renegado, que desviava com facilidade e partia para sua investida final.

Com a mandíbula perfurada e sem quaisquer chances de revidar, o velho tinha sua vida ceifada por Tengoku, com a lâmina óssea atravessando completamente o seu crânio. O corpo do homem caiu no chão, sem vida, quando o osso do Kaguya descolou de sua estrutura. Não era uma cena muito bonita, mas não havia ninguém ali para presenciar o estrago feito pelo renegado, com exceção da mulher caída ao lado da árvore.

— M-me ajude... — A voz fraca e suave da mulher quase não poderia ser ouvida pelo renegado, se a floresta não fosse completamente silenciosa durante a noite. Ela usava das últimas forças que tinha para clamar ajuda ao Kaguya, que havia eliminado as pessoas que tinham deixado ela naquele estado.

Se Tengoku fosse cauteloso o suficiente, notaria alguns pequenos hematomas no corpo da mulher em algumas áreas da sua pele, o que revelava que ela não tinha sido somente sequestrada e roubada pelos bandidos naquela floresta.

Considerações:

A mulher estava vivendo o que era comumente conhecido como os seus minutos finais. Ela já não tinha mais forças para clamar ajuda uma segunda vez, o que quer que ela tenha passado com aqueles bandidos tinha deixado ela a um passo da morte. Se não recebesse ajuda médica o mais breve possível, teria sua vida finalizada ali mesmo naquela floresta.

O Kaguya não era um ninja que apresentava habilidades médicas, e mesmo se as possuísse não haveria nenhum indicativo de que iria utilizá-las para ajudar a mulher. Na realidade, talvez a ajuda que a mulher estivesse pedindo ao renegado era apenas que encerrasse o mais brevemente com todo o seu sofrimento. Tengoku não parecia ser do tipo que ajudaria qualquer pessoa independente da maneira que fosse, mas para alguém como ele, um pouco de sangue nunca seria demais.

Ainda havia, pelo local, os itens que os bandidos carregavam e os corpos daqueles que morreram na floresta. Revistar os corpos não rendia muito ao renegado, que só encontrava fiados em suas roupas e nada de muito valor. Mas após olhar a cesta de frutas da mulher que havia sido roubada pelos bandidos, o Kaguya encontrou mais ao fundo uma boa quantidade de dinheiro. Os bandidos certamente não eram os mais inteligentes por não terem olhado a cesta com um pouco mais de cautela, mas isso não explicava o motivo daquela mulher carregar tanto dinheiro em uma cesta de frutas. De qualquer maneira, era uma boa remuneração para Tengoku por ter chegado quase ao limite de suas reservas de chakra em busca de uma espada inexistente.

Considerações:

Depois de adquirir seus espólios e finalizar a última das quatro vidas que estavam ali, Tengoku retornava à estrada e seguia novamente para o seu objetivo inicial, Getsugakure. Talvez o destino reservasse algo diferente para o Kaguya quando esse chegasse até a Vila, mas pouco a pouco o renegado aumentava a sua fama como uma criatura a ser temida pela maioria.  

Considerações: