Yukio acabava de passar pela porta, o cheiro de formol queimava os pequenos pêlos de suas narinas. Avistava a parede mais distante que tinha como fundo aqueles armários de alumínio que serviam para guardar e conservar o corpo de um morto. Por curiosidade anatômica, o ninja seguia para esse móvel abrindo a porta de um qualquer que estivesse à altura de seu peito, puxaria a maca deixando um corpo coberto por um tecido branco amostra, com um movimento sutil de sua mão dominante, ele dava luz ao rosto do morto que estava com seus olhos abertos e vazios.

A médica do necrotério surgia passando pela porta carregando uma planilha cheia de papéis e burocracias chatas. Ela logo notava a presença do jovem que não a surpreendia muito — você por aqui novamente Yukio, já não aprendeu sobre anatomia o suficiente. Existe um limite desse campo de estudo, já te falei que se quiser aprender mais que estude medicina — a moça sentava em sua mesa onde assinava mais alguns papéis antes de voltar sua atenção ao garoto que mexia com a boca do corpo.

— Medicina é chata, para que eu quero saber como curar alguém? — questionaria a morena que tomava um gole de café. Yukio pegaria um bisturi e faria um corte no céu da boca do corpo, queria ter uma visão mais clara do palato mole, alguém poderia facilmente engasgar até a morte se essa parte do corpo fosse trabalhada devidamente — qual é o benefício de eu ajudar alguém com quem não me importo, no fim a medicina é uma luta inútil contra a natureza do tempo — finalizaria seguindo para a pia com o intuito de lavar suas mãos.

A médica levantaria chamando o garoto — preste atenção, isso é uma pequena coisa que desenvolvi como médica. Veja isso e me diga que essa área de estudo é chata — ela colocaria sua mão sobre o corpo do morto concentrando seu chakra na pele facial que se desgrudava do corpo com extrema facilidade. No final uma espécie de máscara feita de pele se formava, ela a colocava tomando o rosto e voz daquela pessoa. Com a voz mais rouca ela dizia — você já viu como fiz, agora copie e se maravilhe com a medicina que tanto menospreza.

O garoto ficava surpreso, não tinha argumentos para aquilo. Uma técnica macabra que era fruto da medicina se mostrava à sua frente. ”Eu analisei isso tão errado assim?”. O ninja puxava a gaveta ao lado tirando o pano do rosto de uma garota ruiva, ele estenderia a mão tocando o rosto dela e concentrando seu chakra para soltar a pele de seu rosto dos músculos da região. Com a voz doce de uma menina, Yukio dizia a médica:

— por que não me mostrou isso antes, teria me comprado muito mais fácil. Voltarei aqui para começar meus estudos, doutora — partia para sua casa com seu novo rosto e voz.

Considerações: