Aquela era a segunda vez que Momo atravessava o portão de Yugakure com a intenção de não voltar mais ali. Dessa vez, esperava que nenhum maluco cruzasse seu caminho, afinal, ainda se recuperava da última vez — e o mero lembrar do samurai fez com que desviasse os olhos para sua mão, tratada e enfaixada. Ela não sentia nada, mas isso não significava que já estava curada; não sentir era apenas algo normal em sua vida.

Seguia a estrada principal ligada à vila há algum tempo, quando notou os contornos da carruagem. Ou o que tinha sobrado dela. Não se surpreendeu, afinal, era comum que bandidos atacassem veículos à paisana ultimamente. Tempos de guerra, né?. Ela não esperava, entretanto, que houvesse alguém ali, porém, ao passar pela carruagem, uma voz oscilante a chamou.

Com o canto dos olhos, Momo notou a figura de um velho. Havia sangue em suas roupas, mas ele não parecia correr risco de vida. Ela não viu nenhum motivo para ir até ele e ajudá-lo, porém, algumas de suas palavras fizeram com que ela estacasse onde estava, os olhos arregalados. — Minha neta, por favor! Eles a levaram… Minha neta. Eu a amo tanto, por favor, traga-a para mim! Eu a amo demais para perdê-la!

Eu te amo demais para perdê-la.

Momo se sentiu desconfortável. Não sabia dizer exatamente o motivo daquelas palavras mexerem tanto com ela, mas, a inquietação tomou conta de si. Ela não sentia a necessidade de salvar a neta do velho, contudo, sentia necessidade de se mexer. De fazer algo real, como correr atrás de um objetivo arremessar sua kunai e sentir o gosto de vitória. Precisava fazer algo que dispersasse a voz em sua cabeça.

— Onde? — Questionou ao homem. Ele, entendendo que se referia ao caminho traçado por quem quer que tivesse levado sua neta apontou a direção, qual Momo seguiu rapidamente, utilizando suas habilidades ninjas para ser o mais rápida possível. Não foi tão difícil encontrar o rastro deixado; provavelmente se tratava de bandidos de beira de estrada. Seria uma distração mais rápida do que desejava, porém, ainda assim uma distração.

Os encontrou há quase meio quilômetro de distância da carruagem. Uma criança estava amarrada e amordaçada, sendo praticamente arrastada por dois homens que não pareciam ter atingido a idade adulta. A criança, ao vê-la, se agitou, o que chamou a atenção da dupla. Se viraram para trás, na direção de Momo, atirando kunais antes mesmo de conseguirem enxergá-la; uma ação desesperada, presumiu. Uma das lâminas acertou sua coxa e, a outra, sua mão ferida, uma vez que a colocou na frente do rosto para se proteger.

Os homens, assim como todos que a veem pela primeira vez, pensaram que aqueles golpes seriam o suficiente para pará-la. Momo, porém, os surpreendeu, movimentando-se como se os ferimentos sequer estivessem ali. Ela correu até a direção daquele que puxava a criança, e utilizou a kunai que a ferira na coxa para ferir a mão que prendia a vítima; em seguida, puxou uma segunda kunai para feri-lo no pescoço. O segundo homem, assustado, começou a correr assim que percebeu o destino de seu companheiro, mas a Uzumaki foi rápida ao sacar duas shurikens e lançá-las em suas costas, fazendo com que ele caísse no chão.

Ele não morreu como o primeiro, mas, diferente de Momo, com certeza sentia a dor dos ferimentos.

A rosada não se importou em desamarrar a criança. Simplesmente a pegou, ainda próxima de seu algoz, e a jogou por cima de suas costas. Refez todo o caminho até a carruagem, a encontrando-a cercada por um casal de civis, que pareciam ajudar o senhor ferido. Ao ver a neta, começou a chorar e a agradecer, mas, Momo não sentiu nada além de um desconforto inexplicável.

Largou a criança ao lado do velho, que apenas parou de chorar de alegria quando Momo começou a revistar seu corpo atrás de dinheiro. — É bom que os ladrões não tenham levado tudo. — Resmungou para si mesma, mas alto o suficiente para que todos a ouvissem. O casal até tentou frear seus movimentos, contudo, os lançou um olhar frio e expandiu seu sakki para amedrontá-los. Ninguém ousou adverti-la quando encontrou um saco de dinheiro nas vestes alheias e enfiou em sua bolsa, ignorando suas feridas ao voltar a seguir a estrada principal.