- É sério isso? - Perguntava colocando as duas mãos na cintura, completamente descrente da situação em que haviam me colocado.

- Sim Kanni! Você precisa fazer o que foi pedido. - Falava Shinda-sensei, meu professor na época da academia que vinha pessoalmente em minha humilde casa entregar a missão, cujo o objetivo era dar aulas particulares para um garoto lunático que acreditava ser uma reencarnação. Parecia mesmo uma grande piada.. - E aquele senhor? O caçador de tesouros já vendeu a pedra? Ele disse que ia me dar uma parte! -  Tentei mudar o assunto, não conseguiria rejeitar mesmo o pedido da missão, ao menos poderia aproveitar de Shinda-sensei e suas grandes conexões por todo país da terra para me informar isso.   - Olha, eu acho que não, mas está mesmo acreditando que ele vai te dar algo? -  Cruzei meus braços e pensei por dois segundos antes de responder. - Claro! Eu salvei a vida dele. Agora me diga, qual o endereço desse garoto aí que vou ser babá? -

- Não é babá Kanni, é tutor particular... E ele mora ao norte da vila, uma casa grande com pintura azulada, acredite, é super fácil identificar aquele lugar excêntrico.

- Eu aprendi tudo facinho e esse garoto não consegue, por que? Se eu consegui qualquer um consegue também, eu sei que sou incrivel e tive as melhores notas da minha turma, não em todas as matérias, mas aff... -

Geralmente não era de resmungar muito sozinho, mas nesse caso em particular me dava agonia, não me achava um bom professor, lembrava de uma vez na academia quando tomava uma advertência do sensei por ter empurrado o Mizuno pela lerdeza dele em aprender, talvez eu tenha zoado um pouco sim, mas o empurrão foi sem querer, de qualquer forma... Certamente eu não era a pessoa mais indicada para essa tarefa, onde estavam os outros genins recém formados?

Andava de cabeça em pé procurando pela tal casa assim que chegava na ala norte de Iwa, sabia que ali era a região dos figurões da vila, era óbvio que a família de um garoto mimado assim seria rica, a ponto de pagar para alguém ensiná-lo, já estava me cansando de tudo isso sem nem conhecer o garoto, quem sabe ele não fosse um sujeitinho gente boa? Não podia julgar precipitadamente... E logo conseguia encontrar a casa, realmente era um lugar muito fácil de se identificar.

- Pff... Que cafona. -

Avancei para dentro daquela grandiosa e exagerada entrada de residência para conseguir alcançar a porta, assim batendo e chamando o tal garoto, mas era logo recebido por um sujeito vestido com roupas coloridas demais para ser alguem são.

- Alto lá! Quem é você invasor!? - Devo admitir que demorei alguns segundos para perceber que a figura estava falando comigo, dada tamanha esquisitice da cena.

- Ah, me desculpe, estou procurando o... O garoto... Eu vim dar aulas particulares para ele. - Percebia que não tinha pego a informação sobre o nome do garoto.

- Ah, está falando do patrão Shenko? - Como assim patrão? Me espantei de imediato, mas logo a preocupação tomou conta de mim... Se o mordomo era estranho daquele jeito, eu tava com grandes apuros com esse tal de Shenko, devia ser ainda mais esquizo.

- Sim, ele mesmo, pode chamá-lo para mim? -

- Claro! Aguarde um instante! - Saltitante foi-se o sujeito estranho.

Esperei alguns bons minutos do lado de fora, observando a arquitetura diferenciada daquela casa, eles deviam estar anos luz de distância à frente de nossa sociedade para terem gostos tão exóticos.

Enfim, finalmente um garoto aparecia, e para minha surpresa ele não era nada como eu imaginava.

As roupas claramente eram de alta costura, mas eu estava esperando alguém mais... Excentrico, para combinar com todo o lugar, mas não, o garoto vestia um kimono liso, isento de cores, apenas em tons de cinza, completamente sem graça, mas nada chamativo como o tal mordomo, isso era muito estranho.

- Olá, eu sou Shi Osama. - Falava calmamente como alguém que tivesse experiência de quinhentas vidas, extremamente estranho.

- Aaann... O colega de antes te chamou de Shenko. - A curiosidade não me deixou ficar calado, tive que questionar.

- Sim, uma mistura de meu nome atual com o meu nome antigo Genko Osama. - Da parte estranha que ele acreditava ser a reencarnação do bisavô eu já sabia de antemão, mas essa forma de falar e agir chegava a me dar calafrios de tão anormal.

- E como eu devo te chamar? - Era estranho para mim, estava falando com um garoto quase da minha idade, mas de alguma forma ele passava uma postura de alguém mais velho, e eu acabava por aceitar com facilidade toda a questão da encarnação, devia ter algum motivo psicologico para isso que eu não saberia dizer.

- Você pode me chamar como preferir. - Respondeu ainda na mesma seriedade estranha.

- Certo então, Shi, me diga qual está sendo sua dificuldade na academia? - Não sabia exatamente o que eu estava fazendo.

- É difícil dizer, em minha vida passada fui um grande ninja, acho que isso está dificultando o processo, tenho muito poder para começar do básico. - O garoto falava convicto de tudo, o que me soava como um grandioso problema. Como poderia lidar com aquilo? Eu não fazia mesmo ideia.

Comecei a andar de um lado para o outro, eu sempre gostei de desafios, mas não assim.

- Huuum... Por quê não tenta se desvencilhar um pouco da vida passada? Nós ja sabemos que você foi o grandioso Genko, mas hoje você é Shi, não Shenko... Pode partir desse princípio e se tornar grande novamente, afinal, Genko, você também teve um início árduo na outra vida, todos precisamos aprender. - Nossa! De onde diabos veio isso tudo? Não fazia ideia do que estava falando, apenas soltava tudo que vinha em minha mente e bajulava um pouco o garoto, pelo visto, bajulação era algo que a família devia gostar, tinham um mordomo afinal.

- Eu... Eu acho que você está certo, eu estou muito agarrado ao meu passado, preciso entender como meu corpo atual funciona. - Meus olhos quase saltavam de meu rosto ao perceber que minhas palavras tinham dado fruto.

- Certo, vamos começar pelo arremesso de armas, me disseram que você esta com dificuldades nisso. - Tentei incorporar o professor inexistente que existiam em mim.

- Sim! Quando eu estava em meu auge, minha força era o suficiente para cortar uma montanha com uma shuriken! - Falava todo pomposo, e meu desanimo quase me acertava outra vez, o sujeito cismava em continuar com essa alucinação. - Certo, certo, mas agora você não tem toda essa força, precisa dominar a arte de acordo com a forma que você está agora, concorda? - Retirei uma shuriken de meu bolso e a lancei em uma árvore presente ali. O que já era raridade, uma casa com uma árvore na vila da pedra, e eu ainda atirava nela... Péssimo exemplo.

Precisei assistir Shi tentar e errar diversas vezes, nem mesmo eu era o melhor em atirar armas, visto que na maioria das situações preferia confiar nas habilidade de meu clã, mas naquele momento eu precisava tentar ser como ele, talvez isso tivesse ajudado até mesmo no progresso dele, os outros professores deviam ser exímios atiradores de shurikenjutsu, enquanto à mim não, era mais fácil para o rapaz se igualar à minhas habilidades do que de um jonin com anos de treinamento.

Com o tempo fui percebendo que o ego de Shi parecia mil vezes maior que o meu, talvez fosse essa a razão para inventar toda a história de ser a reencarnação de um grande ninja, a necessidade de ser admirado por todos, em algum momento da vida deve ter percebido que era muito mais fácil se vangloriar de uma vida passado do que crescer na atual, um comportamento que eu repudiava, claro, mas era a minha missão e precisava fazê-la bem feito. Portanto, comecei a errar alguns dos lançamentos propositalmente, afim de dar à Shi o prazer da vitória, visto que estava funcionando como um gatilho para seu processo.

Eu mesmo era bastante narcisista e confiava muito em minhas habilidades, a nossa grande diferença era que eu desejava apenas o meu próprio orgulho de ter chego lá, não queria esbanjar isso para as pessoas, não queria acumular fans, como Shi ou meu irmão, eu apenas queria me destacar por ser eu mesmo, enquanto o meu "aluno" desejava fama, então podia simplesmente dar um gostinho disso para ele.

Algumas horas eram gastas em repetição na mesma arte, enquanto Shi balbuciava sobre seus feitos na vida passada e eu tinha que aguentar.

- Acho que agora já podemos passar para os jutsus, o que acha? -

- É... Aí eu tenho um grande problema. Em minha outra vida, eu era um excelente utilizador de Ninjutsus, mas nessa, tenho muita dificuldade com controle de chakra. - Falava cabisbaixo, talvez passar tanto tempo praticando, depois de tanto o bajular, ele tivesse criado certa confiança para confessar comigo.

- Eu te entendo, nin também não é o meu forte. - O que mais eu poderia dizer? ... Tentava buscar algo que pudesse motivar o garoto a se esforçar pelo menos nos básicos para que eu pudesse terminar ali, voltei a andar de um lado para o outro buscando a reposta, enquanto aproveitava para pegar uma caixinha de leite e beber. Bom que tirávamos uma pausa para descanso. - Talvez seja essa a ideia... Por que não forcar em genjutsu nessa vida? Ou Tai, talvez seja esse o motivo para sua reencarnação. - Soltei a frase e voltei a tomar o meu leite.

Outra frase muito bem colocada de minha parte, ao menos para fazê-lo se aceitar melhor, podia estar com uma trava pelo mesmo motivo de antes, talvez tivesse habilidade para outras artes e a vontade de ser bom em ninjutsu o fazia travar. Shi pensou por um tempo até concordar com o que eu havia dito, para meu alivio.

Continuamos o treinamento sobre os jutsus básicos até o cair da noite, quando ele finalmente conseguia melhorar, não dominar, mas ficar bom o suficiente para conseguir realizar um clone no bunshin, se agarrar nas paredes e utilizar o kawarimi. Meu serviço ali estava finalmente terminado.