Com a interrupção durante o Torneio Shinobi, Shin mostrou ao mundo seus verdadeiros poderes. O revelado Primeiro Hokage liberou sobre a Nuvem uma gigantesca besta de dez caudas que destruiu grande parte da Vila, se mostrando uma antagonista capaz de se opôr mesmo à quatro das cinco Sombras unidas. Com a união de todos os ninjas das cinco nações e alguns renegados, a besta foi finalmente derrotada.
Mas, para a surpresa de todos, o verdadeiro caos veio quando Shin liberou seu verdadeiro poder — Shinra Tensei —, assolando Kumogakure praticamente inteira. E, com o fim da batalha na Nuvem, um olhar sanguinário brilhou no céu, com a revelação da Lua Sangrenta.Um ano após os acontecimentos no País do Relâmpago, uma grande fissura surgiu na superfície da Lua Sangrenta, causando especulações de todos os tipos. As Nações, mais uma vez banhadas na incerteza e insegurança política, se vêem em uma tensão que pode eclodir em uma guerra à qualquer instante, entre qualquer uma delas. O ciclo, outra vez, se inicia.
Últimos assuntos
Convidado
[Gaiden] Episódio de Praia - Postado Sáb maio 21, 2022 5:55 pm
Episódio de Praia
O Sol se escondia timidamente por entre as cumulus nimbus que, embora fossem muitas, no auge da humildade revelavam parcialmente o azul do céu, sendo levadas pelo vento para além mar. A água do mar carregava consigo delicada espuma e ia em direção a superfície, sem alcançar a areia alva da praia. O calor exigia dos banhistas certas precauções, como estar protegidos embaixo de guarda-sóis ou fazendo uso de um caule, de uma espécie de planta medicinal que, segundo o senso comum, protegia das mazelas que a exposição àquela luz poderia causar. Obviamente a prática de se banhar das águas do mar não era uma coisa muito comum naquele mundo perturbardo, mas quem poderia julgar aqueles que, dispondo de uma peça da paisagem, que compunha o que se pode chamar de beleza natural, arriscam a entrar naquelas águas mornas e ali fazer seu dia? Os barcos pesqueiros também se distribuíam pela região, onde uma espécie de peixe de águas mornas e de sabor delicado vivia o que era a causa do local ser tão seguro, pois de certa forma tinha o apreço de muitos nobres ao redor de todo o País do Fogo. Não obstante a sua beleza e segurança, para Tomie interessava outra coisa, a família que ali vivia e que eram parentes distantes de sua mãe, chegara a hora de conhecê-los e, pelo que inferiu das trocas de cartas, eles não conheciam nada sobre ela e a família.
Tomie estava sentada na areia, vestida de um biquíni florido, cabelos soltos. Ao seu lado um homem mais velho, cabelos cinzas que dali, observava duas crianças correndo em direção a água, uma menina e um menino, ambos de cabelos negros.
— Então minha irmã nunca falou da gente? É muito triste saber disso, mais triste ainda é saber que ela morreu — disse o Homem, seu rosto se encheu de lágrimas rapidamente, o que Tomie achou engraçado. — E pelo jeito seu pai teve um fim parecido, assim como a sua irmã, que tragédia! — comentou —, mas é inevitável eu falar deles.
Tomie tentou manter sua expressão neutra, levantou-se por alguns segundos, esticando a perna, a temperatura do lugar era extremamente confortável e muito diferente dos ambientes que costumava frequentar.
— Tudo bem, Tio, acho que é inevitável a gente conversar sobre isso também — o tom dela era moroso, como se estivesse sofrendo, não sabia ao certo como atuar, estava numa seara difícil, diante de um adversário que não conhecia muito bem, mas esse jogo era interessante e, bem, quem não arrisca não petisca.
O homem ficou estático por um momento, como se estivesse viajando no tempo ou consultando alguma espécie de entidade extraterrena, suspirou e tirou um cigarro que trazia no bolso da bermuda, então disse:
— Bem, que tal apenas nos divertimos hoje? Mais tarde a gente conversa.
Não era a resposta que a ninja esperava, mas tinha que se contentar com isso. A tarde passou lenta, um tanto entediante para a menina que vez ou outra tinha que forçar um sorriso, sendo surpreendida por olhares atravessados do tio, principalmente em relação às suas crianças. A menina se chamava Aysa, tinha nove anos de idade e, embora tivesse os cabelos negros como o do irmão, sua feição era muito diferença da dele e da do pai, o menino, Hiroki, gordinho, vestia apenas uma bermuda, tinha o cabelo cortado em tigela e gostava de construir castelinhos de areia, sendo constantemente incomodado pela irmã, que gostava de sair correndo por aí feito uma louca.
— Bem, pessoal, hora de comer, venham todos, Tomie, por favor, seja a primeira a se servir — disse o homem, distribuindo pequenas tigelas de madeira para cada um, por onde serviu peixe assado que acabara de cozer. Tomie nunca havia se preocupado muito com a qualidade daquilo que comia, vez ou outra até arriscava ingerir alimentos crus ou visivelmente estragados, embora costumeiramente se alimentasse de sopa de peixes, macarrão com molho agridoce e, mais frequentemente, arroz com alguma espécie de salada e carne de porco cozida, o sabor daquele peixe fresco, assado ali, era muito diferente e, poderia dizer, até mesmo delicioso. Ela mordeu, sentiu o calor do peixe preencher seus lábios, mas não vacilou, continuou comendo como se nada tivesse acontecido, desviando-se da espinha do animal com alguma habilidade. Além dos peixes assados, tinham consigo uma fogueira que começava a fazer diferença, à medida que a noite avançava sobre um dia cada vez mais cansado, e uma garrafa de chá mate com hortelã. Por fim, de sobremesa, abriram uma melancia, não antes de fazerem um jogo entre as duas crianças para ver quem acertava a fruta com um pedaço de madeira.
Durante todo o dia as crianças não pareceram se importar com a mulher, chamando-a ocasionalmente de “prima”, e Tomie não fez muita questão de interagir com elas, pelo menos não naquele primeiro momento, antes precisava entender o que estava por detrás daquele súbito convite e quem era de fato seu tio, só então, depois de conhecer um inimigo, torturá-lo se torna interessante, era isso que pensava enquanto bebericava do chá.
— E então, vamos para casa? — perguntou ao homem, sendo respondido pelo choramingar das crianças que queriam ficar mais. — Você nos acompanha, Tomie?
Ela sorriu, tentando simular uma reação de constrangimento e surpresa, quando na realidade só sentia vontade de destruir aqueles sorrisos tão bobos e inocentes das crianças, tudo na frente daquele pai fraco e completamente alheio ao perigo em que estava de frente. Tomie era uma serpente diante de um ninho, sua fome insaciável por corpos, dor e sofrimento, jamais lhe faria declinar de uma oferta tão generosa! Se não incomodar nenhum de vocês, era o que diria, mantendo no rosto aquele sorriso cínico de quem esconde um crime ou de quem planeja a destruição de alguém enquanto ao mesmo tempo beija sua testa.
Os quatros partiram de lá em direção a um vilarejo que se distribuía por toda uma montanha, se adensando em direção à montante, de onde um rio caudaloso corria desesperadamente em direção ao mar. As casas eram de uma madeira grossa, com um acabamento bonito no estilo oriental, o que refletia a boa condição do povoado diante das iguarias que produziam e vendiam para nobres de todo país.
— Chegamos mamãe — disse a menina, tirando o calçado antes de entrar na casa.
— Oi mamãe — cumprimentou o menino.
— Estamos todos bem querida, a Tomie também está conosco — avisou o tio.
Não sabendo de toda aquela etiqueta para entrar numa casa, nunca tendo construído esse tipo de vínculo afetivo com ninguém, ela tirou o calçado com que estava o dia inteiro, recebendo um outro para a parte interna do lugar, que foi cedido por sua prima, a pequenina.
— É da mamãe — explicou a menina.
Tomie sorriu para a garota, agachou-se para ficar do tamanho da criança, tocando casualmente na cabeça da menina.
— Ela não se importa que eu use? — questionou a ninja, fingindo alguma consideração, a menina deu de ombros e saiu correndo casa dentro.
A casa por dentro era aconchegante, poucos móveis mas muito bem posicionados, de maneira que ela parecia singela para sua real dimensão. Ela se dividia em quatro salas, separadas por paredes pouco grossas, uma sala onde uma pequena televisão de tubo repousava tranquilamente, constituía-se como o centro por onde a família reunia-se, imediatamente a esquerda a cozinha e subindo algumas escadarias dois quartos, um para as crianças e outra para os pais, haviam ainda dois banheiros, uma na parte superior e outra na parte inferior, um pequeno jardim rodeava a construção, por onde poderia ser observado pelas amplas janelas da casa, era, sem sombras de dúvidas, a casa de uma família padrão.
— Tomie, você pode ficar no meu quarto — disse o homem.
— De maneira nenhuma, como eu poderia tirar você e sua esposa do lugar em que estão…
— Nada disso, você é nossa convidada — interrompeu —, e não creio que a Terumi se importaria — explicou.
— Aliás, onde ela está agora, ainda não a vi — explicou a ninja.
— Na casa de uns parentes, infelizmente ela não pôde voltar hoje devido a chuva que castigou a região onde ela está, bem, não se preocupe, ela provavelmente estará aqui antes de sua partida.
Tomie foi então para o quarto na parte inferior, onde dormia a mulher e seu esposo, que se deitaria na sala de estar. O quarto era tão pequeno e aconchegante quanto os demais cômodos, o futon já estava posicionado no local, além disso, uma pequena estante com alguns pergaminhos antigos completavam a paisagem. A janela aberta deixava a brisa úmida e fria do mar entrar, ela fechou, ainda podendo enxergar alguns elementos do jardim daquela família, como uma árvores grande, de onde brotavam pequenas frutas de espécie desconhecida, e algumas plantas arbustivas e outras vegetações típicas de uma clima úmido e quente como aquele. Deitou-se imaginando o que faria no dia seguinte, seus olhos foram se tornando cada vez mais pesados, até que dormiu.
Os olhos da garota foram se abrindo lentamente, sendo incentivados por feixes de luzes que dançavam no seu rosto, abriu os olhos, não estava deitada em seu futon, sequer estava no quarto de outrora, muito pelo contrário, estava num lugar abafado umido e, ao invés de deitada, estava em pé, presa a alguma espécie de cruz, com seus braços e mãos algemados por uma algema presa a superfície de madeira daquele dispositivo de tortura. Sentia uma terrível dor de cabeça e uma fraqueza considerável, de maneira que sequer conseguia debater. O mal estar foi logo acompanhado de uma respiração ofegante, à medida que uma porta atrás dela se abriu e de onde uma figura ficou estática, a qual ela, por motivos óbvios, não conseguia ver. Tomie estava sentindo algo estranho, talvez medo ou ansiedade, ela nunca imaginou estar naquela situação humilhante, mas sua cabeça doía demais para pensar nisso ou mesmo em uma forma de escapar.
A figura começou a caminhar, como se estivesse arrastando os pés, até que chegou até a menina com seus terríveis olhos brancos, pele deformada por alguma espécie de queimadura, corpo nu, seus seios caindo, com seus dedos longos e de unhas sujas, a pele pálida da criatura, que só era distinguível de um homem devido aos já citados seios, revelava que ela raramente via a luz do Sol.
— Que droga, um pesadelo uma hora dessas — disse, demoradamente, a ninja.
A figura riu, um riso rouco, que variava entre a tosse e o riso, ela começou a correr os dedos por entre o corpo da ninja que só então apercebeu-se de sua própria nudez e de que também não estava sonhando, jamais havia presenciado algo tão vivido como aquilo.
— Me solte agora sua desgraçada! Anda, me solta, eu vou matar você! — gritou Tomie, com dificuldade, enquanto era novamente tomada pela vertigem.
A criatura riu de novo, tirou um estilete da mão e começou a cortar os braços da ninja, precisamente, em diversas direções de seu corpo. Tomie começou a gritar pela dor, um grito que ia se tornando cada vez mais alto, enquanto dos seus olhos escorriam terríveis lágrimas e de seu corpo uma baba da mais pura raiva, estavam fazendo com ela o que ela sempre fez com os outros, a dor era tanta que ela começou a implorar para que a criatura parasse, mas ela continuou. Tomie desmaiou tamanha a dor e o desespero.
O dia amanheceu, os raios do Sol atingiram o rosto da ninja, que dessa vez estava deitada em seu futon, acordando desesperada, olhando de um lado o outro com o corpo suando, trajando a camisola que vestira quando fora dormir.
— Foi tudo um sonho — disse, olhando para baixo e soltando um suspiro, foi quando viu, diversas faixas encobrindo o seu corpo, seu corpo começou a tremer e seus olhos arregalaram diante da surpresa. Abriu a porta correndo e nem se deu conta de como estava vestida, dando de cara com o homem sozinho sentado de frente para a televisão, ele sequer se virou para Tomie quando disse:
— Então você conheceu ela.
— Ela quem seu desgraçado! — gritou Tomie, completamente destemperada, caminhando até o homem com dificuldade. — O que vocês fizeram comigo!?
O homem começou a rir, depois virou-se para a moça.
— Como você é patética, Tomie, vir até a nós desse jeito, não pensou que sua mãe talvez quisesse proteger você?
— Proteger? Do que você tá falando, hein…
Deu mais alguns passos em direção ao anfitrião, mas quando chegou a um metro dele seu corpo não se moveu mais, como se cordas estivessem prendendo-na.
— Você ainda está com as faculdades mentais afetadas pela última noite, por favor não se mova, embora você não acredite, nem sua mãe, o que fizemos foi para o seu bem.
Ele continuou:
Se você entendesse o que está por trás de nossa suposta família, bem, você jamais entenderia, e agora menos, minha família e eu estamos saindo, talvez nunca mais você nos veja, e isso será uma coisa excelente, mas Terumi e eu queremos te presentear com algo antes de sair, bem, Terumi é um tanto sádica sabe, assim como você, percebi porque as duas tem esse sorriso, a diferença é que ela não é tão patética. Vamos, Tomie, porque seus olhos se encheram de lágrimas, esse desejo que você está de me matar, bom, dificilmente ele será saciado e, bem, Terumi já até sabe como pretende cuidar de você, mas preferiu te deixar vivendo por um tempo apenas porque queria brincar um pouquinho mais. Veja, leia esse pergaminho depois que eu sair, e assim verá o que quero dizer.
Aproximou-se da moça, dando-lhe um beijo na testa e se despedindo, abriu a porta e saiu, Tomie caiu mais uma vez no chão, inconsciente.
Ela abriu um sorriso e ficou de pé, dessa vez tomada por um sentimento de extraordinária confiança.
— Tia Terumi… Acho que você me fez apaixonar por você e, bem, minha expressão de amor é que eu vou esquartejar delicadamente cada pedaço do seu decadente corpo.
Aquele sentimento de vingança foi logo diluído, não iria mais atrás daquela família simplesmente, mas de toda e qualquer pessoa que estivesse em seu caminho, a dor que havia sentido e até, podemos dizer, o medo e o desespero, mudaram Tomie de uma vez por todas, o seu sentimento de apatia pela humanidade se tornou o mais puro ódio, ódio pela existência da dor, e com aquele corpo modificado, tomada por aquele sofrimento, ela saiu de lá, não sem matar pelo menos umas duas pessoas no caminho.
Talvez ela não tivesse mais consciência, mas depois dos eventos daquela noite ela já não era uma deusa e sim um decadente demônio.
Palavras (Google Docs): 2555
Emme
O Sol se escondia timidamente por entre as cumulus nimbus que, embora fossem muitas, no auge da humildade revelavam parcialmente o azul do céu, sendo levadas pelo vento para além mar. A água do mar carregava consigo delicada espuma e ia em direção a superfície, sem alcançar a areia alva da praia. O calor exigia dos banhistas certas precauções, como estar protegidos embaixo de guarda-sóis ou fazendo uso de um caule, de uma espécie de planta medicinal que, segundo o senso comum, protegia das mazelas que a exposição àquela luz poderia causar. Obviamente a prática de se banhar das águas do mar não era uma coisa muito comum naquele mundo perturbardo, mas quem poderia julgar aqueles que, dispondo de uma peça da paisagem, que compunha o que se pode chamar de beleza natural, arriscam a entrar naquelas águas mornas e ali fazer seu dia? Os barcos pesqueiros também se distribuíam pela região, onde uma espécie de peixe de águas mornas e de sabor delicado vivia o que era a causa do local ser tão seguro, pois de certa forma tinha o apreço de muitos nobres ao redor de todo o País do Fogo. Não obstante a sua beleza e segurança, para Tomie interessava outra coisa, a família que ali vivia e que eram parentes distantes de sua mãe, chegara a hora de conhecê-los e, pelo que inferiu das trocas de cartas, eles não conheciam nada sobre ela e a família.
Tomie estava sentada na areia, vestida de um biquíni florido, cabelos soltos. Ao seu lado um homem mais velho, cabelos cinzas que dali, observava duas crianças correndo em direção a água, uma menina e um menino, ambos de cabelos negros.
— Então minha irmã nunca falou da gente? É muito triste saber disso, mais triste ainda é saber que ela morreu — disse o Homem, seu rosto se encheu de lágrimas rapidamente, o que Tomie achou engraçado. — E pelo jeito seu pai teve um fim parecido, assim como a sua irmã, que tragédia! — comentou —, mas é inevitável eu falar deles.
Tomie tentou manter sua expressão neutra, levantou-se por alguns segundos, esticando a perna, a temperatura do lugar era extremamente confortável e muito diferente dos ambientes que costumava frequentar.
— Tudo bem, Tio, acho que é inevitável a gente conversar sobre isso também — o tom dela era moroso, como se estivesse sofrendo, não sabia ao certo como atuar, estava numa seara difícil, diante de um adversário que não conhecia muito bem, mas esse jogo era interessante e, bem, quem não arrisca não petisca.
O homem ficou estático por um momento, como se estivesse viajando no tempo ou consultando alguma espécie de entidade extraterrena, suspirou e tirou um cigarro que trazia no bolso da bermuda, então disse:
— Bem, que tal apenas nos divertimos hoje? Mais tarde a gente conversa.
Não era a resposta que a ninja esperava, mas tinha que se contentar com isso. A tarde passou lenta, um tanto entediante para a menina que vez ou outra tinha que forçar um sorriso, sendo surpreendida por olhares atravessados do tio, principalmente em relação às suas crianças. A menina se chamava Aysa, tinha nove anos de idade e, embora tivesse os cabelos negros como o do irmão, sua feição era muito diferença da dele e da do pai, o menino, Hiroki, gordinho, vestia apenas uma bermuda, tinha o cabelo cortado em tigela e gostava de construir castelinhos de areia, sendo constantemente incomodado pela irmã, que gostava de sair correndo por aí feito uma louca.
— Bem, pessoal, hora de comer, venham todos, Tomie, por favor, seja a primeira a se servir — disse o homem, distribuindo pequenas tigelas de madeira para cada um, por onde serviu peixe assado que acabara de cozer. Tomie nunca havia se preocupado muito com a qualidade daquilo que comia, vez ou outra até arriscava ingerir alimentos crus ou visivelmente estragados, embora costumeiramente se alimentasse de sopa de peixes, macarrão com molho agridoce e, mais frequentemente, arroz com alguma espécie de salada e carne de porco cozida, o sabor daquele peixe fresco, assado ali, era muito diferente e, poderia dizer, até mesmo delicioso. Ela mordeu, sentiu o calor do peixe preencher seus lábios, mas não vacilou, continuou comendo como se nada tivesse acontecido, desviando-se da espinha do animal com alguma habilidade. Além dos peixes assados, tinham consigo uma fogueira que começava a fazer diferença, à medida que a noite avançava sobre um dia cada vez mais cansado, e uma garrafa de chá mate com hortelã. Por fim, de sobremesa, abriram uma melancia, não antes de fazerem um jogo entre as duas crianças para ver quem acertava a fruta com um pedaço de madeira.
Durante todo o dia as crianças não pareceram se importar com a mulher, chamando-a ocasionalmente de “prima”, e Tomie não fez muita questão de interagir com elas, pelo menos não naquele primeiro momento, antes precisava entender o que estava por detrás daquele súbito convite e quem era de fato seu tio, só então, depois de conhecer um inimigo, torturá-lo se torna interessante, era isso que pensava enquanto bebericava do chá.
— E então, vamos para casa? — perguntou ao homem, sendo respondido pelo choramingar das crianças que queriam ficar mais. — Você nos acompanha, Tomie?
Ela sorriu, tentando simular uma reação de constrangimento e surpresa, quando na realidade só sentia vontade de destruir aqueles sorrisos tão bobos e inocentes das crianças, tudo na frente daquele pai fraco e completamente alheio ao perigo em que estava de frente. Tomie era uma serpente diante de um ninho, sua fome insaciável por corpos, dor e sofrimento, jamais lhe faria declinar de uma oferta tão generosa! Se não incomodar nenhum de vocês, era o que diria, mantendo no rosto aquele sorriso cínico de quem esconde um crime ou de quem planeja a destruição de alguém enquanto ao mesmo tempo beija sua testa.
Os quatros partiram de lá em direção a um vilarejo que se distribuía por toda uma montanha, se adensando em direção à montante, de onde um rio caudaloso corria desesperadamente em direção ao mar. As casas eram de uma madeira grossa, com um acabamento bonito no estilo oriental, o que refletia a boa condição do povoado diante das iguarias que produziam e vendiam para nobres de todo país.
— Chegamos mamãe — disse a menina, tirando o calçado antes de entrar na casa.
— Oi mamãe — cumprimentou o menino.
— Estamos todos bem querida, a Tomie também está conosco — avisou o tio.
Não sabendo de toda aquela etiqueta para entrar numa casa, nunca tendo construído esse tipo de vínculo afetivo com ninguém, ela tirou o calçado com que estava o dia inteiro, recebendo um outro para a parte interna do lugar, que foi cedido por sua prima, a pequenina.
— É da mamãe — explicou a menina.
Tomie sorriu para a garota, agachou-se para ficar do tamanho da criança, tocando casualmente na cabeça da menina.
— Ela não se importa que eu use? — questionou a ninja, fingindo alguma consideração, a menina deu de ombros e saiu correndo casa dentro.
***
A casa por dentro era aconchegante, poucos móveis mas muito bem posicionados, de maneira que ela parecia singela para sua real dimensão. Ela se dividia em quatro salas, separadas por paredes pouco grossas, uma sala onde uma pequena televisão de tubo repousava tranquilamente, constituía-se como o centro por onde a família reunia-se, imediatamente a esquerda a cozinha e subindo algumas escadarias dois quartos, um para as crianças e outra para os pais, haviam ainda dois banheiros, uma na parte superior e outra na parte inferior, um pequeno jardim rodeava a construção, por onde poderia ser observado pelas amplas janelas da casa, era, sem sombras de dúvidas, a casa de uma família padrão.
— Tomie, você pode ficar no meu quarto — disse o homem.
— De maneira nenhuma, como eu poderia tirar você e sua esposa do lugar em que estão…
— Nada disso, você é nossa convidada — interrompeu —, e não creio que a Terumi se importaria — explicou.
— Aliás, onde ela está agora, ainda não a vi — explicou a ninja.
— Na casa de uns parentes, infelizmente ela não pôde voltar hoje devido a chuva que castigou a região onde ela está, bem, não se preocupe, ela provavelmente estará aqui antes de sua partida.
Tomie foi então para o quarto na parte inferior, onde dormia a mulher e seu esposo, que se deitaria na sala de estar. O quarto era tão pequeno e aconchegante quanto os demais cômodos, o futon já estava posicionado no local, além disso, uma pequena estante com alguns pergaminhos antigos completavam a paisagem. A janela aberta deixava a brisa úmida e fria do mar entrar, ela fechou, ainda podendo enxergar alguns elementos do jardim daquela família, como uma árvores grande, de onde brotavam pequenas frutas de espécie desconhecida, e algumas plantas arbustivas e outras vegetações típicas de uma clima úmido e quente como aquele. Deitou-se imaginando o que faria no dia seguinte, seus olhos foram se tornando cada vez mais pesados, até que dormiu.
***
Os olhos da garota foram se abrindo lentamente, sendo incentivados por feixes de luzes que dançavam no seu rosto, abriu os olhos, não estava deitada em seu futon, sequer estava no quarto de outrora, muito pelo contrário, estava num lugar abafado umido e, ao invés de deitada, estava em pé, presa a alguma espécie de cruz, com seus braços e mãos algemados por uma algema presa a superfície de madeira daquele dispositivo de tortura. Sentia uma terrível dor de cabeça e uma fraqueza considerável, de maneira que sequer conseguia debater. O mal estar foi logo acompanhado de uma respiração ofegante, à medida que uma porta atrás dela se abriu e de onde uma figura ficou estática, a qual ela, por motivos óbvios, não conseguia ver. Tomie estava sentindo algo estranho, talvez medo ou ansiedade, ela nunca imaginou estar naquela situação humilhante, mas sua cabeça doía demais para pensar nisso ou mesmo em uma forma de escapar.
A figura começou a caminhar, como se estivesse arrastando os pés, até que chegou até a menina com seus terríveis olhos brancos, pele deformada por alguma espécie de queimadura, corpo nu, seus seios caindo, com seus dedos longos e de unhas sujas, a pele pálida da criatura, que só era distinguível de um homem devido aos já citados seios, revelava que ela raramente via a luz do Sol.
— Que droga, um pesadelo uma hora dessas — disse, demoradamente, a ninja.
A figura riu, um riso rouco, que variava entre a tosse e o riso, ela começou a correr os dedos por entre o corpo da ninja que só então apercebeu-se de sua própria nudez e de que também não estava sonhando, jamais havia presenciado algo tão vivido como aquilo.
— Me solte agora sua desgraçada! Anda, me solta, eu vou matar você! — gritou Tomie, com dificuldade, enquanto era novamente tomada pela vertigem.
A criatura riu de novo, tirou um estilete da mão e começou a cortar os braços da ninja, precisamente, em diversas direções de seu corpo. Tomie começou a gritar pela dor, um grito que ia se tornando cada vez mais alto, enquanto dos seus olhos escorriam terríveis lágrimas e de seu corpo uma baba da mais pura raiva, estavam fazendo com ela o que ela sempre fez com os outros, a dor era tanta que ela começou a implorar para que a criatura parasse, mas ela continuou. Tomie desmaiou tamanha a dor e o desespero.
***
O dia amanheceu, os raios do Sol atingiram o rosto da ninja, que dessa vez estava deitada em seu futon, acordando desesperada, olhando de um lado o outro com o corpo suando, trajando a camisola que vestira quando fora dormir.
— Foi tudo um sonho — disse, olhando para baixo e soltando um suspiro, foi quando viu, diversas faixas encobrindo o seu corpo, seu corpo começou a tremer e seus olhos arregalaram diante da surpresa. Abriu a porta correndo e nem se deu conta de como estava vestida, dando de cara com o homem sozinho sentado de frente para a televisão, ele sequer se virou para Tomie quando disse:
— Então você conheceu ela.
— Ela quem seu desgraçado! — gritou Tomie, completamente destemperada, caminhando até o homem com dificuldade. — O que vocês fizeram comigo!?
O homem começou a rir, depois virou-se para a moça.
— Como você é patética, Tomie, vir até a nós desse jeito, não pensou que sua mãe talvez quisesse proteger você?
— Proteger? Do que você tá falando, hein…
Deu mais alguns passos em direção ao anfitrião, mas quando chegou a um metro dele seu corpo não se moveu mais, como se cordas estivessem prendendo-na.
— Você ainda está com as faculdades mentais afetadas pela última noite, por favor não se mova, embora você não acredite, nem sua mãe, o que fizemos foi para o seu bem.
Ele continuou:
Se você entendesse o que está por trás de nossa suposta família, bem, você jamais entenderia, e agora menos, minha família e eu estamos saindo, talvez nunca mais você nos veja, e isso será uma coisa excelente, mas Terumi e eu queremos te presentear com algo antes de sair, bem, Terumi é um tanto sádica sabe, assim como você, percebi porque as duas tem esse sorriso, a diferença é que ela não é tão patética. Vamos, Tomie, porque seus olhos se encheram de lágrimas, esse desejo que você está de me matar, bom, dificilmente ele será saciado e, bem, Terumi já até sabe como pretende cuidar de você, mas preferiu te deixar vivendo por um tempo apenas porque queria brincar um pouquinho mais. Veja, leia esse pergaminho depois que eu sair, e assim verá o que quero dizer.
Aproximou-se da moça, dando-lhe um beijo na testa e se despedindo, abriu a porta e saiu, Tomie caiu mais uma vez no chão, inconsciente.
***
Acordou mais uma vez, sua cabeça num estado permanente de vertigem, que aos poucos foi substituído pelo enjôo e por um ódio terrível, ela iria destruir todo aquele vilarejo se pudesse, e iria até o inferno para que aquele desgraçado, aquela criatura horrenda e seus filhos pagarem em dobro o que haviam feito contra uma deusa, mas a frustração era tamanha, que ela pegou o pergaminho, os olhos possessos de raiva, leu-o com cuidado, estava escrito “Nan no Kaizo”, ela continuou a leitura atentamente e, assim que terminou a leitura, aplicando uma quantidade de chakra, seu braço começou a esticar, se assustou com aquilo, mas logo suas pernas e pescoço começaram a fazer o mesmo tipo de coisa, até que todo o procedimento por de trás daquilo estivesse completo.Ela abriu um sorriso e ficou de pé, dessa vez tomada por um sentimento de extraordinária confiança.
— Tia Terumi… Acho que você me fez apaixonar por você e, bem, minha expressão de amor é que eu vou esquartejar delicadamente cada pedaço do seu decadente corpo.
Aquele sentimento de vingança foi logo diluído, não iria mais atrás daquela família simplesmente, mas de toda e qualquer pessoa que estivesse em seu caminho, a dor que havia sentido e até, podemos dizer, o medo e o desespero, mudaram Tomie de uma vez por todas, o seu sentimento de apatia pela humanidade se tornou o mais puro ódio, ódio pela existência da dor, e com aquele corpo modificado, tomada por aquele sofrimento, ela saiu de lá, não sem matar pelo menos umas duas pessoas no caminho.
Talvez ela não tivesse mais consciência, mas depois dos eventos daquela noite ela já não era uma deusa e sim um decadente demônio.
- Jutsu Treinado:
In'yu Shōmetsu
Rank: A
Requerimentos: Mestre em Controle de Chakra
Descrição: Um Iryō Ninjutsu onde se antecipa o local onde o inimigo vai atacar e preventivamente aplica tratamento médico, reduzindo os prejuízos ao mínimo possível. O utilizador concentra chakra para aquela área e começa o processo de recriação da célula antes mesmo da área ser atingida. Usando a expressão facial e os movimentos do adversário, velocidade e potência da técnica, o usuário analisa tudo em um instante e com precisão deduz onde vai ser atingido. Ainda mais do que prever com precisão o ataque ou instantaneamente medir a situação, capacidade de resistência extremamente alta é necessária, por isso pode-se dizer que esta técnica é extremamente rara entre os ninjas medicos. A técnica continua a curar danos até o utilizador acabar com o chakra, deixando a possibilidade de que os danos não sejam completamente reparados quando a técnica é concluida.
Link da MF: https://narutoshinobiworld.forumeiros.com/t277p60-m-f-black
Palavras (Google Docs): 2555
Última edição por Black em Dom maio 22, 2022 9:40 am, editado 1 vez(es)
Mononoke
Cargo Especial : Sem Cargo Especial
Títulos : Sem título
Cargo Especial : Sem Cargo Especial
Títulos : Sem título
Cargo Especial : Sem Cargo Especial
Títulos : Sem título
Re: [Gaiden] Episódio de Praia - Postado Dom maio 22, 2022 11:48 am
〘Gaiden Aprovado!〙
Recompensas:
• 3 XP.
(Gaiden Jogador até Nível 19)
• O Jutsu Rank A – In'yu Shōmetsu foi treinado com sucesso.