Com os joelhos sobre a grama e o corpo meio retraído, me aproximei de um riacho enquanto simulava uma espécie de recipiente com uma das mãos. Levei o palmo para dentro do rio corrente e o preenchi com água, usando-o como um copo para me refrescar naquele dia quente, fechando meus olhos enquanto o fazia. O lugar estava calmo e quase não ouvia nada além do canto dos pássaros e o chiar dos insetos, até que o barulho de alguns galhos se partindo atrás de mim indicava a aproximação de algo, ou de alguém.

— Algum problema? — Questionei ao vento, ainda com os olhos fechados e sem interromper meus movimentos com as mãos. Se era de fato uma pessoa que estava atrás de mim, queria que ela soubesse que eu tinha conhecimento da sua aproximação.

— F-foi você, a ninja que ajudou meu vilarejo com o javali e o batedor de carteiras? — A voz feminina não ecoava distante de onde eu estava, e facilmente senti a insegurança da garota cada vez mais que ela dizia outras palavras. — Me desculpe te incomodar, eu só queria saber se você pode me ajudar com um serviço.

— Eu não sou ninja. — Salientei para a garota antes de balançar o palmo algumas vezes para secá-lo da água que eu havia bebido. Estiquei as pernas, me virando para a direção da voz quando já estava de pé. Me aproximei lentamente da garota, não muito mais baixa do que eu, mas que ficava pequena pela postura retraída que apresentava. — O que você deseja?

— Me desculpe... eu preciso entregar esta carta para o meu tio, que mora do outro lado do País do Fogo, em uma fazenda. — A garota tirou um envelope de dentro da mochila que carregava nas costas, e junto do papel também mostrou uma bolsa larga, provavelmente com dinheiro dentro. — Mas tenho medo de ser atacada por algum bandido ou animal selvagem no meio da floresta, então posso te dar um pouco de dinheiro se me escoltar até a fazenda do meu tio.

A bolsa que a garota mostrava era generosa, parecia ter uma quantidade de dinheiro que superava e muito aquele que eu havia conseguido até então. Por mais que eu não estivesse interessada em fazer uma viagem longa, a oferta era boa demais para ser recusada. Apenas me virei novamente para o rio, ficando de costas para a garota que guardava seus itens dentro da mochila mais uma vez.

— Tudo bem, eu vou com você até a fazenda.

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A clima intenso do País do Fogo deixava bem mais cansativo caminhar por entre as árvores naquele horário da manhã. Era como se o Sol estivesse sobre a minha cabeça, e ainda que não suasse eu sentia o calor atiçar a minha pele. A garota caminhava ao meu lado, também parecia incomodada com o calor, mas sequer havia comentado algo desde que começamos a caminhar até aquele momento.

— A propósito, qual é o seu nome? — Ela me questionava, quebrando o silêncio que havia entre nós duas durante todo aquele trajeto. Não era como se eu tivesse interesse em deixar a viagem mais entediante do que ela já era por si só, mas eu gostava de ouvir os sons da floresta enquanto caminhava. Eles me distanciavam da fadiga e do calor exorbitante.  

— É Hana. — Respondi de forma direta quase que involuntariamente, e só depois de alguns segundos de silêncio eu percebi que a garota esperava eu dizer mais alguma coisa para que então ela continuasse. — E... o seu?

— Marin... eu me chamo Marin. — Pude notar um leve sorriso caindo sobre os lábios da menina, enquanto as suas bochechas tomavam um tom mais roseado e se destacavam na sua pele extremamente clara. Ela também percebeu a mudança, e se constrangeu com a situação. — Me desculpe, só pensei que você é uma mulher muito bonita.

Talvez a menina, que aparentava ser bem mais jovem do que eu, nunca tenha tido contato com uma outra garota da minha idade no vilarejo onde morava e por isso estava reagindo daquela forma. Entender as emoções das outras pessoas era tão complicado para mim como aquela situação poderia ser para ela, mas fato era que eu não tinha muito interesse em fazer amizades, apenas a acompanharia naquela viagem porque era o meu trabalho — e me renderia uma boa recompensa por isso.

O silêncio mais uma vez foi cortado, mas agora pelo barulho de alguns arbustos se mexendo um pouco à frente de onde eu estava. Marin não havia notado, provavelmente o som era baixo demais para que ela percebesse, mas eu estava atenta a todo instante e puder notar o balançar das folhas quase que no mesmo momento em que ele aconteceu. Parei de caminhar abruptamente, segurando no braço da menina ao meu lado para que ela não se distanciasse de mim em momento algum.

— Acho que temos companhia.

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Não tardou para que um grupo de quatro homens pulasse do arbusto que havia se mexido, todos eles parando poucos metros à minha frente. Marin se colocou atrás de mim, apertando meu braço esquerdo como se estivesse em busca de proteção. Pude sentir seu medo com o tremor das suas mãos, mas olhar para aqueles homens não me causava nada além de desconforto. O estado precário de suas roupas, a aparência de quem não comia há dias e a fisionomia esquelética era quase como uma regra para todos eles, estavam em condições de dar pena.  

— Eu tenho certeza que tem dinheiro na mochila daquela menor ali, tenho certeza! — O que estava mais a frente entre eles dizia, com um tom de voz rouco enquanto esbanjava um sorriso largo em seu rosto. Por um instante, senti como se ele olhasse para mim e para Marin como dois alvos fáceis, o que me deixava levemente incomodada.  

— é melhor você se esconder atrás de alguma dessas árvores. — Apontei para Marin a direção de uma árvore que estava atrás de nós duas, e a garota partiu no rumo que indiquei e se manteve atrás do tronco espesso. Ela ainda aparentava estar com medo da situação, como se acreditasse que aquele grupo de bandidos pudesse atentar contra ela de alguma maneira. Mas assim que coloquei meus olhos neles, percebi que eles sequer poderiam ser considerados alguma ameaça de fato. Minha instrução para Marin fora dada não pensando no que os homens poderiam fazer com ela, mas sim no que eu estava prestes a fazer em breve.

— Vamos logo, antes que elas fujam! — Um outro deu o alerta, acreditando realmente que em algum momento eu fosse fugir dali por me sentir ameaçada por eles. Não demorou até que todos eles começassem a correr na minha direção, todos ostentando aquele sorriso estranho em suas caras.

Foi então que, com uma simples combinação de selos de mão, meu cabelo se estendeu alguns centímetros e começou a voar pelos ares, como agulhas afiadas partindo por todas as direções. Semelhante a uma chuva de pregos, os fios endurecidos perfuravam tudo o que atingiam, cravando pelas árvores ao meu redor e principalmente pelos corpos dos bandidos que corriam na minha direção. Todos eles foram atingidos diversas vezes por centenas de agulhas, e os gritos de dor que soltaram foi a última coisa que pude ouvir até que notei o corpo de todos os quatro estendidos no chão, completamente sem vida.  

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Kebari Senbon
Rank: A
Classe: Ofensiva
Requerimento: Versado em Ninjutsu e Grande Controle de Chakra
Descrição: Esta técnica endurece o cabelo na cabeça do usuário e dispara uma infinidade de cabelos no inimigo. Os pontos afiados do cabelo podem transformar todo o corpo do alvo em uma almofada de alfinetes. Além do usuário conseguir endurecer os fios de seus cabelos, é possível diminuir a pressão deixando-o totalmente afiado, tornando seu lançamento mais veloz. Através da capacidade de lançamento dos espinhos, o usuário pode multiplicar a quantidade lançada, se certificando que a técnica venha ser efetuada.

— Você já pode sair daí. — Expressei para Marin, que ainda se escondia atrás da árvore com medo dos bandidos. A menina saiu de trás do tronco lentamente, se deparando com os corpos dos quatro ladrões espalhados pelo chão, cobertos de sangue, enquanto agulhas da cor do meu cabelo estavam espetadas por todo o lugar, incluindo a árvore que a garota havia usado como proteção.

Agachei ao lado dos corpos dos homens por alguns instantes, como se os examinasse em busca de algo de valor, mas obviamente não havia encontrado nada. Não tinha nada que chamasse a minha atenção próximo dos corpos daqueles bandidos, ao passo que qualquer coisa realmente útil que estivesse com algum deles teria sido destruída pela técnica que eu havia usado. Que desperdício de chakra.

— E-eu achei que você tivesse dito que não é ninja. — Marin dizia com um tom tímido, quase como se me questionasse pelas minhas falas frente a maneira como lidei com aqueles bandidos. Voltei-me em sua direção, seus olhos esbanjavam surpresa e incômodo diante daquele cenário caótico que eu havia causado. Provavelmente era a primeira vez que ela via corpos de pessoas mortas, mas se ela estava interessada em viajar comigo era melhor que estivesse disposta a viver aquele tipo de situação com uma certa frequência.

— E eu não sou. — Fiquei de pé novamente, sendo atingida pela fadiga em ter usado uma técnica tão poderosa em uma situação que claramente não exigia tanto esforço. Eu ainda não tinha muito domínio do meu chakra, e desperdiçá-lo daquela maneira certamente seria um problema se eu voltasse a repetir esse erro.

— Me desculpe... e obrigada por me proteger. — A garota dizia olhando para o chão, acanhada, enquanto retirava uma pequena quantidade de dinheiro da sua mochila e o estendia em minha direção. — Isso é o mínimo que posso oferecer por você se arriscar por mim.  

Antes que eu pudesse recusar a oferta afirmando que aquilo era algo que eu já havia prometido fazer, a garota simplesmente colocou a quantia na minha bolsa de armas e se distanciou de onde eu estava, ainda incomodada com a situação que havia passado.  

— Vamos procurar um lugar pra descansar. — Disse para a garota, olhando aos redores para encontrar algum lugar que servisse como um abrigo temporário para nós duas.

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