Era uma vez, um tolo que acreditou que um dia poderia ser amado por todos, com um brilho estelar em seus olhos de cores inusitadas, inconfundíveis, distantes de uma pessoa oblíqua e dissimulada, aquilo que em um horizonte de eventos, poderia ser uma realidade para tal pessoa, mesmo com fé de que um dia estaria acompanhado de uma pessoa, um amor e duas bocas, que se encontravam assim com suas mãos, impossíveis de viverem um outro amor, paralelo a sua realidade monogâmica. Mas mesmo com tais ideias, ainda teria uma vida após a escuridão, que jogava todos os sonhos e pensamentos no chão, desperdiçando o brilho de um sonhador, embora ainda fosse uma criança, com o passar de sua vida, aos poucos tornava necessário o amadurecimento, ter uma noção do quão cruel era a verdadeira realidade, um mundo sujo, onde pessoas sem propósitos ficavam presas em vidas monótonas, sem prazeres, era preciso o sofrimento para alcançar a realeza, ou até poder tocar os céus, como era do desejo do louco que sonhava, agora crescido, um criminoso, renegado aos costumes, viciado em sangue e no passado, que prendia o seu ser, impedindo seu próprio progresso, pensando sempre na morte, que caminhava lado a lado de todos.

Isolado, no topo de um edifício da Lua, o renegado, olhando a felicidade presente entre diversas pessoas, famílias, amantes, todos alegres e acompanhados, com sorrisos estampados em seus rostos, cobertos por amor, paterno ou materno, de filho ou de amores, todos estavam ali, mergulhados em uma realidade distante para Tengoku, ainda mergulhado em seus demônios, pensando no seu passado, o quão arruinado estava, podia ser ele ali, verdadeiramente livre, vivendo um amor, onde poderia finalmente salvar alguém, proteger quem amava, mas no fim estava sozinho, precisando aprender a amar, a saber chorar sem ser por um outro amor, não correspondido, o de seu próprio pai, que deveria ser seu herói, não o algoz de sua história, um demônio em sua vida, que lhe prendeu no inferno, onde todo momento deveria aprender a lidar com a dor, impedindo que alcançasse a glória, toda a realeza que um dia foi prometida.

Era aquilo que movia cada músculo de seu corpo, o ódio por seu passado, uma vontade de se mostrar digno, vivendo em uma falsa realidade, com uma falsa personalidade, aquele não era ele de fato, um simples personagem, que buscava agir de modo duro, como um antagonista, igual seu progenitor um dia foi, era sua herança, passada de seu parentesco, muito além de seu sangue, era também uma questão emocional, psicológica, era tudo semelhante, uma criança ensinada pela dor a causar dor, seus punhos estavam vermelhos, manchados, cobertos de rancor, ódio e raiva, florescendo como uma flor de lótus, mas de coloração negra, aos poucos avermelhada, seja de inocentes ou não, mas qual seria o critério para tal designação? O que determinava quem seria inocente ou não? Apenas o olhar julgador do renegado? Um juiz sem lei, se baseando apenas no que importava, aquilo que sua mente quebrada dizia, era a única coisa que importava, mesmo sendo o mais errôneo modo de agir, era apenas isso.

Mergulhar em tudo aquilo acabava por ser o pior meio de se encontrar, dava uma impressão de estar parado, mesmo o quanto corresse, não sairia do mesmo ponto, o tormento sempre estaria ali, bloqueando o seu paraíso, como um imenso muro que distanciava Tengoku dos portões dourados do céu, mesmo batendo e batendo nas portas divinas, era mergulhado no inferno, crucificado e flagelado pelos chicotes de espinhos de seus traumas, um peso impossível de carregar, uma maldição que perseguia constantemente sua existência miserável, sem felicidade real, apenas buscando se saciar de prazeres rápidos, de uma falsa alegria, que no fim trazia a tristeza, a depressão, uma insuficiência, não importando o quão alto fosse, estaria sempre para baixo, no fundo do poço, na derrota. Não teria mais nada para perder, nem sua vida teria valor real, perdia o prazer de tudo, vivia como uma casca vazia, apenas crendo em um falso sonho, que forçava acreditar, mesmo sem esperanças.

Os erros que carregava foram mais que professores para o renegado, eram assim como a dor e amargura da vida, mestres, que lhe ensinaram a escapar de tudo, viver uma falsa experiência de prazer e sentimentalismo, de realeza, uma palavra que sempre buscaria repetir em seu cérebro, o seu maior desejo, ser alguém de fato, com influência, uma vontade ambígua, afinal o que seria aquilo? Apenas poder matar quem julgasse ser necessário? Ter uma sensação de superioridade e preencher um vazio em seu peito? Alcançar algo que sempre duvidaram que pudesse chegar? Ou ajudar quem precisasse? No fim, era tudo, menos a última opção, pois vendo a felicidade alheia, ali na sua frente, na parte baixa da cidade, já poderia ter matado todos ou metade daqueles, apenas por julgar que fosse necessário. Podia acreditar ser melhor apenas pela sua força em meio a todos, sem seguir normas e todo um discurso de falsa liberdade. Era possível mostrar a quem um dia duvidou, o quão forte era, o quão destruidor poderia ser.

No entanto, jamais poderia oferecer para ajudar alguém que realmente precisasse, afinal não teve os ensinamentos para tal, apenas sabia e sabe causar dor, tanto para terceiros, quanto para si próprio, perdia sua esperança a cada passo, a cada sangue derramado em vão, tudo cairia e desmoronava aos poucos, indo para o lixo, assim como o próprio causador de toda desgraça, Tengoku Brando, distante de tudo que sonhou, de tudo que acreditou, estava sozinho, melancólico e triste, por mais que evitasse admitir, mas a solidão tomava conta de todo seu ser, como uma nuvem carregada, que bloqueava o sol de brilhar novamente, era aquilo que se sentia, deslocado do mundo. Viver coberto por uma armadura de violência e ódio era de fato necessário para sua proteção? Era aquilo que desejava para sua vida? Viver isolado, distante, coberto por fantasmas do passado, insegurança e um constante sentimento de ser inútil, uma autoimagem distorcida de seu próprio ser, que era tentado a seguir um caminho de sombras, mas no fundo desejando a luz. Será que para alcançar o céu, toda essa bagagem emocional era necessária? Toda essa hipocrisia, mentira e falsidade tinha seu valor? Tengoku só gostaria de receber essa resposta, sua mente estava bagunçada, seus sonhos desalinhados e sua existência quebrada, buscando por um concerto assim como era feita com uma cerâmica, um instrumento frágil.

Considerações:

Status:

Jutsus:

Armamento: