Um longo suspiro acompanhava a expressão frustrada de Gwyn. Seu dia de tarefas não estava sendo nada fácil após a falha de suas próteses metalizadas, com a necessidade imediata de uma troca por outras mais modernas, mas que poderia demorar mais de uma semana para chegar da capital. O dia, que parecia interminável, pareceu piorar no momento em que a mensagem lhe recrutando para uma missão veio através da águia mensageira. — Ajudar os alunos a aprender selos? Tá de sacanagem comigo… — Não que eu não fosse bom com os selos, afinal havia me graduado com altíssimas notas nessa matéria, mas… — Será que esses malucos sabem que ESTOU SEM UMA DAS MÃOS?! — Diria para mim mesmo, olhando o conteúdo estúpido daquele pedido.

Retornar ao local onde tudo começou para muitos seria nostálgico e cheio de lembranças, mas para mim... Era relembrar uma época nada boa, onde precisei parar por mais de um ano para… Bem, tratar de questões familiares. Entrava pacientemente, com uma muleta servindo como minha segunda perna, onde escutava a voz de um jounin dizendo coisas como “para incentivar vocês a jamais desistirem” e “qualquer um com boa determinação pode ser um bom ninja”, assim como um monte de outras coisas motivacionais. Yey!

Guardava os resmungos para mim e caminhava pelo centro da sala. Notava os olhos apavorados das crianças, com murmúrios mencionando palavras como “aleijado” e “baixinho”. — Quem está chamando de baixinho, seu carcereiro de gaiola?! Sou pelo menos um palmo e meio maior que você!! — Já praticamente saltava em cima de um estudante que possuía praticamente metade da minha idade. O jounin tentava acalmar meus ânimos, me puxando para perto de si e fazendo as devidas introduções.

Uma breve história sobre minha performance nas aulas era mencionada, bem como de que, apesar de não possuir uma das mãos, acabava sendo capaz de executar jutsus de maneira ágil com auxílio de próteses. Acabava entendendo o motivo de estar ali, pois, se um aleijado fosse capaz de fazer alguns selos de mão, porque não um jovem saudável, não é mesmo? — Se não são capazes nem mesmo de fazer um selo com suas mãos saudáveis, podem ir desistindo! O mundo shinobi não é um lugar para fracotes! — Talvez não fosse bem aquele tipo de instrução que o professor gostaria de passar, mas o impacto causava algumas reações.

Inflava o peito, notando que agora havia captado a atenção desejada. — Mas para aqueles que realmente possuem determinação, para os que realmente desejam se tornar um dos melhores entre os melhores, eu digo para nunca desistirem! A vila precisará de vocês quando a hora chegar. Então, estejam prontos! — O receio se transformava em animação, e aplausos enchiam a sala. Acabava por dar algumas dicas aqui e ali, passando o que eu poderia passar. Acabava que no fim de tudo, não havia sido tão ruim. Acho que levo jeito com pirralhos.

Fui deixando o lugar para que a aula seguisse sem mim, mas desta vez, embora tudo tenha sido improvisado e não necessariamente tivesse feito um discurso desejado pelo jounin, acabava saindo de lá melhor do que havia entrado.

Histórico:

Mais um dia se passava e confesso que começava a me frustrar com as dificuldades da falta de meu braço e minha perna. Ainda faltava tempo para chegar e, apesar das recomendações médicas, jamais ficaria parado em casa apenas vendo o tempo passar. Mesmo precisando usar meu único braço saudável para segurar uma muleta, caminhava apressadamente até o gabinete do Kazekage. Vai saber se algo por lá não havia surgido para mim.

As missões variavam muito de dificuldade, mas sabia que estava restrito a apenas afazeres internos, o que era uma merda. Gostaria de estar explorando o País do Vento, chutando a bunda de nukenins intrometidos e resgatando pessoas que precisassem… Mas ao invés disso, estava aqui pegando um pergaminho sobre uma necessidade de cuidar de uma floricultura na ausência dos gerentes.

Colocando o pergaminho junto aos meus pertences, partiria rumo ao destino predestinado. A floricultura era conhecida, visto que a capacidade de manter flora em um clima como a de Sunagakure não era para qualquer um. Mesmo para um Senju era difícil manter árvores íntegras durante muito tempo naquela exposição intensa de calor.

Na floricultura, acabava me apresentando cordialmente, apesar da insatisfação de estar por ali. Acabava por lançar uma pequena piada sobre o cabelo da kunoichi que me recebia, filha dos gerentes, que usava dois coques de cada lado da cabeça de forma assimétrica. Ela no primeiro momento se irritava, mas parecia relutante em brigar com alguém com a falta de membros. — Se me olhar com pena de novo, eu vou embora daqui! Consigo cuidar desse lugar melhor do que ninguém. — Comentava, já pegando alguns utensílios em uma prateleira.

As horas acabavam se passando depressa. Meu pai, na época em que ele ainda estava na ativa, sempre havia me ensinado paciência no cuidado com bonsais. Portanto, aparar as pequenas plantas, regá-las e organizar toda a bancada acabava sendo uma tarefa terapêutica para mim. Ao menos, era melhor do que ficar enfurnado dentro de casa, com meu pai bebendo pelos cantos e minha mãe dopada com remédios. Os pensamentos negativos acabavam se esvaindo e, já no fim da tarde, recebia os donos da loja com entusiasmo pelo cuidado que tive com tudo por ali.

Histórico:

Já era fim de tarde quando acabava recebendo a notícia através de um outro Genin que havia se acidentado em treinamento. — Huh…? Uma missão que você ia fazer? — Comentava com a boca ainda cheia de gyoza. De acordo com as instruções dele, a missão seria relativamente simples. Dois pequenos corgis precisavam de cuidados enquanto a dona finalizava alguns serviços. — Então tá me dizendo que o trabalho é ser babá de cachorro? Tá de sacanagem… — Resmungava enquanto coçava a cabeça.

Ao menos, conforme instruções, a dona era uma influente Jounin e que, apesar da tarefa supérflua, costumava agraciar os Genins e Chuunins que mais simpatizava com boas missões, visto que trabalhava no gabinete do Kazekage. — Tá, tá, eu cuido dos pulguentos. Me diga onde estão e vaza daqui. Deixe eu ao menos terminar de comer em paz. — Continuava o jantar, já pensando em que tipo de travessura as criaturas poderiam me fazer passar.

Caminharia até lá com a muleta apoiando meu caminhar, me fazendo relembrar da frustração por ainda precisar aguardar o recebimento das minhas próteses. A casa era grande, localizada numa área nobre do vilarejo. Sendo recebido por uma empregada que já estava de saída, notei a arquitetura fantástica do lugar, bem como dos inúmeros artigos shinobi pendurado nas paredes, como se estivesse em um museu de grandes histórias ninjas.

Minha atenção acabava sendo captada por um casal de pequenos cachorros. Os corgi eram alegres e bobos demais, além de soltarem mais pêlos do que eu gostaria. — Tá, quero vocês dois colados em mim, entendido?! — Tentava fazer pose de autoridade, mas no segundo seguinte cada um dos pestinhas ia para um lado. Mesmo com uma perna, acabava precisando saltar agilmente em direção a um deles, o que parecia ser um pouco maior. Ele já estava avançando com tudo em direção a um sapato, abocanhando com aqueles dentes pontiagudos e cheio de baba.

Precisei sacudir o bicho umas três vezes para ele soltar o sapato e ir atrás de uma bolinha. O outro já estava fazendo xixi em cima do tapete e, nem mesmo com duas pernas, seria capaz de interromper o inevitável. Portanto, acabava por concluir que a tarefa de limpeza também estaria incluso na minha missão. — Vai ser uma looooonga noite…

As horas se passavam e não ficavam fáceis, mas no fim os bichinhos acabavam conseguindo parar para dormir. Já era fim da noite quando a dona chegava em casa, satisfeita por todo o trabalho. Ela me dava uma grana extra, contente pelo meu desempenho e feliz por notar que os cachorros haviam dormido, coisa que eles raramente faziam naquela hora. Aquilo me colocava alguns pontos na frente em seu conceito, aparentando que iria lembrar de meu nome futuramente. Por isso, apesar do sufoco e tanto, acabava saindo dali em direção à minha casa com uma certa satisfação no olhar.

Histórico:

Faltavam poucos dias para minhas próteses enfim chegarem, o que me deixava inquieto dentro de casa. Após os afazeres domésticos, como limpar parte da casa e auxiliar minha mãe com os medicamentos, acabava descansando o corpo após a longa noite anterior de treinamento, interrompida antecipadamente por uma forte ventania não prevista. Determinado a não relaxar, pelo menos não até que inicie e termine o exame Chunin, decidia partir em busca de mais alguma missão simples, mas que ainda servisse de motivo para tirar a ferrugem dos ossos.

A academia estava particularmente cheia naquela manhã, me fazendo imaginar que a tempestade de areia na última noite pudesse ter sido responsável por aquilo. Uma grande fila de cidadãos estava preenchendo os corredores internos até a secretaria, me obrigando a passar entre eles espremido, mas por sorte eu não ocupava muito espaço. Aquela era uma excelente oportunidade de trabalho, pensava. Apressava-me ao quadro e pegava o primeiro pedido de missão rank D. Deslizando para fora dali antes que ficasse irritado com tanta gente, partia com calma para o local indicado no pergaminho, se tratando de um sobrado de dois andares, ou pelo menos era, antes que metade dele tivesse caído com a tempestade da noite anterior.

Arregaçava a manga que cobria o braço inteiro e começava o trabalho pesado. Talvez fosse mais simples com as próteses que estavam demorando para vir, mas nada que eu não pudesse lidar com um pouco de minha natural determinação. Além do mais, já havia feito treinamentos muito piores do que aquele, então tava no papo! Ao menos, era o suficiente para manter meu corpo funcionando e aquecido.

Com calma e cautela, apesar de tentar apressar um pouco eventualmente, focava em retirar o entulho das salas, onde haviam grandes blocos de concreto e telhas quebradas. O processo levou um pouco mais de uma hora. Após descartar o que carregava num lugar apropriado, iniciava os primeiros reparos auxiliando o chefe de obra, que chegava após todo o meu trabalho suado. — Assim fica fácil, deixando tudo pro cara aqui pegar no pesado! — Resmungava enquanto limpava minha mão num pano úmido. Com isto, acabava auxiliando o resto dos reparos, ao menos reestruturando toda a construção. Se ao menos fosse capaz de realizar selos e de já ter aprendido com meu velho as técnicas de Mokuton, talvez a casa estivesse de pé em um segundo, mas por hora, precisava me contentar com o bom e velho trabalho manual. Ao menos, no fim de tudo, sentia o corpo exausto emanar satisfação.

Histórico:

Ouvia com uma expressão de tédio as palavras proferidas pelo ninja médico, responsável por aquele pedido de missão tão cedo naquele dia. — Então quer dizer que tudo isso é só pra pegar uma flor? — Diria em tom irônico. A missão especificava sobre a necessidade de auxiliar na confecção de um medicamento para uma doença rara que estava se espalhando com certa velocidade pela região e fui convocado, juntamente com alguns outros genins, para essa altruísta missão. Apenas não achava que se tornaria uma missão de busca por uma flor azul em meio ao deserto.

O médico tentava me explicar com mais calma, tentando frisar a importância dela para seus estudos, bem como os pormenores da missão. Detalhando a região em que aquela flor poderia ser encontrada, bem como passando as características da planta para não ocorrer enganos, o ninja também sinalizava sobre os perigos da fauna da região, destacando que não era uma missão de caça de animais perigosos, mas sim do encontro das flores para o medicamento. Finalizadas as explicações e advertências, apenas me despedi dos demais de forma despreocupada, me retirando do gabinete.

Fui caminhando pela vila, ainda precisando da muleta para guiar meus passos até o lado externo, notando os outros genins já se adiantando e saltando com velocidade por cima das casas. — Hunf… Exibidos. — Resmungava, talvez por um pouco de inveja por não ser capaz de fazer tais façanhas. Ainda. Por isso, teria que caminhar bastante até chegar à montanha em que provavelmente a flor azul se encontrava. Tentei acelerar o movimento, tentando diminuir o tempo até chegar nas montanhas, mas o cansaço do treino no último dia havia acabado com minhas forças.

Após um tempo de caminhada, pude observar algumas modificações na paisagem, de acordo com as características ditas pelo ninja médico. Como cada Genin havia ficado encarregado de vasculhar uma certa região, sabia que estava sozinho por ali. — Bem, hora de começar! — Dizia, adentrando uma pequena fenda que me levava até o interior de uma gruta.

Meus olhos me enganaram algumas vezes. Pensava ter encontrado a planta nos primeiros metros dentro da gruta, mas notava que as características não eram as mesmas. — Flor azul e espinho vermelho… Essa é vermelha com espinho azul. — Suspirava, percebendo que teria mais trabalho. Precisei passar discretamente por um ninho de serpentes, mas acabava encontrando as características desejadas. Pegando algumas das malditas flores, as guardava dentro de uma caixa que trazia comigo, ainda com expressão insatisfeita por tanto trabalho por aquilo.

Comecei logo o caminho de volta, visto que não gostaria de passar a noite no deserto, precisando passar pelas mesmas dificuldades sofridas no caminho de vinda. Após minha chegada, notava que outros genins também estavam lá, mas todos levando bronca por terem trazido as plantas erradas. Confiante em minha tarefa, entregava a caixa e notava a satisfação imensa no olhar do médico, que detalhou aos demais como era realmente a flor que ele queria. Não sei os outros, mas acabava retornando para casa com mais uma missão cumprida com sucesso.

Histórico: