O sol aparecia para espalhar sua luz sobre Kumo como em todos os dias. Eu saia do meu pequeno e humilde apartamento, trancando o lugar. Algumas partes daquele bairro ainda estavam em construção e as pessoas me cumprimentavam nas rua sempre que passavam por mim, sempre se referindo pelas minhas alcunhas e títulos de combate, nunca pelo meu nome. Sempre respondia com um aceno de cabeça e seguia meu caminho. Hoje, não era diferente, pois tinha compromisso. Um antigo amigo havia me convidado ontem por meio de uma carta e eu simplesmente não podia recusar, ainda mais se tratando de um assunto sério como o país.

Após caminhar por um tempo, sinto um cheiro familiar a distância e já sabia onde se encontrava o destino, mesmo a 1 quilometro dele. Quando finalmente o avisto, lembro automaticamente do passado, era impossível não lembrar, da época do orfanato, quando não tínhamos ninguém além de um do outro. Foram tempos difíceis para mim, mas graças a ele e Tamaki consegui resistir e me tornar um ninja. Infelizmente, o tempo, a responsabilidade e até mesmo a morte nos separaram, principalmente depois da fatídica morte de Tamaki cujo não consegui impedir. No fim, todos que eu conheci no passado estão mortos e eu não conheci criar novas ligações verdadeiras desde então, apenas me isolei ao trabalho e a minha própria solidão. Se eu não tivesse mais amigos ou amores, não passaria pelo mesmo sofrimento e poderia focar 100% na vila sem arriscar ninguém. A única exceção era Satori, o único que restou de pé após tanto tempo e mesmo tendo se afastado dele com um tempo, ainda levo as memórias no coração, memórias de uma verdadeira amizade.

Vou me aproximando lentamente de Satori, vindo de frente para ele com intenção de ser visto, portanto uma face de poucos amigos e expressão fria, até mesmo ameaçadora dependendo de quem olhasse. Meus olhos rodeavam os arredores procurando por sinais de perigo e se não havia sido seguido. Nenhum cheiro estranho no local, ninhos de observação ou movimentação, tudo parecia seguro e era isso porque eu estava preocupado. Da ultima vez que eu fui encontrar Kimi por uma carta que ela mandou a cerca de alguns anos atrás, fomos atacados e ela quase assassinada.

Noto algo diferente no Uchiha, seus olhos e sua expressão pareciam cansados e seu estilo mudou. Não sei dizer ainda, mas ele não parece o mesmo do passado. Parece que o tempo e as circunstâncias mudaram todos nós.

Enfim, me sento ao lado dele no banco, esfregando minhas mãos e assoprando para tirar um pouco do frio. Suspiro em silêncio, olhando para o nada por um tempo. Eu não sei por que, mas depois de passar por tantos eventos traumáticos e por um sofrimento desesperador a um tempo, me tornei mais contemplativo do que antes, dando tempo e percebendo os detalhes de cada mínima ação. Que idiotice sem lógica.

- Quanto tempo... Velho amigo... – Falo para Satori cumprimentando-o com uma voz calma e serena, ouvindo os passarinhos cantarem naquela calma manhã na pouco movimentada na praça - Fico feliz que esteja bem... Como vai a vida? - Pergunto, tentando ser causal, mas parecia tão estranho ao mesmo tempo. Era estranho conversar assim... Tão normalmente... Acho que perdi o jeito e minha frieza não ajudava.

- Aqui estou eu, do que quer tratar mais precisamente? - Não tinha jeito, eu acabava indo direto ao ponto no final das contas, querendo saber o que Satori queria conversar sobre o estado atual das coisas.

Considerações:

Satori, era única pessoa viva que viu minha trajetória desde um simples garoto traumatizado e assustado pela morte dos pais, tentando encontrar um rumo para sua vida. Ele conseguiu me ler. Minha frieza, nunca me abandonou, mas eu sempre tentava a descartar, me tornar alguém melhor. Todavia, era impossível, sempre que eu tentava sair disso, era espancado pela dura realidade e por mais e mais traumas. No final, tudo que restou para proteger o que restou de mim, foi essa casca fria e inexpressiva que mantém os outros afastados e me impede de sofrer ainda mais.

- A vida não foi gentil conosco de fato... - Comento no intervalo de tempos, enquanto Satori fazia uma pausa para respirar e entrar no assunto principal.

O Uchiha perguntava sobre o que aconteceu em Kumogakure quando tudo fora destruído, pois estava fora da vila no momento, pois tudo que havia ouvido falar eram rumores. Era uma história longa e eu realmente odeio histórias longas e falar muito, principalmente sobre a "Tragédia da Nuvem", como ficou mundialmente conhecida. Respiro fundo, ajeitando minhas costas no banco.

- A destruição foi causada por uma besta gigante de dez caudas... E pelo Shodai Hokage, Shin... Seus olhos vermelhos confirmam que ele é um Uchiha... - Primeiramente, dou nome aos algozes de Kumo, aqueles que vieram trazer a destruição e o terror ao nosso povo e nossa terra - O homem invadiu a reunião dos kages e uma competição amistosa entre as vilas que estava sendo sediada em Kumo, se auto intitulando o "deus do novo mundo"... Porém, todos recusaram a se juntar a ele... Então, ele invocou uma besta de dez caudas e chamou sua organização, "Owari", para atacar a vila... - Pauso uns instantes, olhando para cima e lembrando detalhe a detalhe daquele momento, como se estivesse revivendo as memórias que passavam diante dos meus olhos - O Shodai Raikage apareceu para lutar contra Shin... Ambas as lendas ninjas estavam vivas... Enquanto eu e outras três sombras lutamos contra a ameaça com tudo que podíamos e os outros ninjas defendiam a vila dos invasores... - Vou narrando a história calmamente, mas sem dar muitos detalhes - Destruimos o monstro... Todavia essa vitória apenas indicou o prelúdio do fim... Shin ergueu os braços e com um poder avassalador destruiu tudo... Apenas estamos vivos porque o Shodai Raikage salvos a nós e grande parte da população... - Finalizo a breve explicação, daquele fatídico dia onde sangue do nosso povo brutalmente pintou a terra de vermelho.

Agora Satori tinha a história completa ao seu dispor, não tão detalhada, mas era a verdade. Eu não gosto de falar muito, mas foi um sacrifício que tive de fazer para cumprir o desejo de um velho amigo.

- Eu falhei em proteger a vila... E quase todos que eu amava morreram... - Comento, sobre meus sentimentos quanto a isso, lembrando da sensação, da culpa, da agonia e do luto - Essa dor nunca será esquecida - Murmura baixo, quase pra mim mesmo, como se falasse a frase direcionada a mim.

Passando para o segundo ponto, Satori comenta sobre ele mesmo e sua trajetória, falando que trabalhou muito pela vila, mas nunca conseguiu chegar no seu ideal porque se considera fraco sozinho. Naqueles olhos vermelhos, especiais dos Uchihas, eu via raiva, um ódio profundo de algo ao mesmo tempo que frustração. E ali percebo de fato, que Satori mudou e tinha algo errado com seu coração. Porém, também enxergava determinação no que falava. Satori realmente queria ser útil e ter seu poder usado para coisas além, coisas que sozinho nunca conseguiria por limitações que fossem.

- Você é o amigo mais antigo que me restou e o que mais confio... - Antes de responder sua questão, comento esse fato importante, encarando diretamente seus olhos - Se você estiver disposto a arriscar tudo para proteger essa vila, o povo que nela vive e fazer Kumogakure prosperar... Então Satori... Eu não só buscarei e aceitarei sua ajuda... Mas também te tornarei minha arma... Os olhos do meu relâmpago... E acima de tudo... O meu leal camarada de batalha... - Digo assertivamente, aceitando a proposta do Uchiha.

Se ele realmente quisesse, eu posso realizar seu desejo de ser útil e usar seu poder até o limite. Eu o levaria para missões comigo e então, teria suas habilidades postas a prova em desafios que nunca viu antes, mas juntos, certamente seriamos capazes de derrotar o mais forte dos inimigos. Não seríamos mais amigos separados pelas inconveniências do tempo, mas irmãos de armas.

Considerações:

Observo a reação do Uchiha sobre minhas palavras. Sua gola que cobria parte do rosto me recorda da máscara de Hatake que usei por tanto tempo, mas abandonara depois de um tempo. Começou com a máscara, agora a espada. Sem perceber, eu estava me afastando cada vez mais do antigo eu.

- Eu tenho tantos conhecimentos confidenciais que você não faz ideia... Mas o clã Uchiha... É misterioso - Comento, lembrando das história de Kumogakure que havia lido - Não espalhe essa informação, mantenha os detalhes entre nós - Peço, não queria essa história circulando entre os moradores com tanta precisão, deixar os boatos rolando por enquanto é o melhor a se fazer.

O Uchiha se levanta do banco, provavelmente se preparando a ir algum lugar, já que suas dúvidas já estavam sanadas. Então, ele anda para uma direção e eu levanto e o sigo. Mesmo que não fosse necessário, acompanhei Satori lentamente até a porta de sua casa em completo silêncio, andando ao seu lado com minhas mãos no bolso. Novamente confirmava minha suspeita. Ele estava diferente, seu modo de falar e agir, mais sombrios, além de uma raiva silenciosa pouco perceptível em seu aspecto. Usando temos como vírus para se referir a seus inimigos e pessoas detestáveis.

- Sim... Eliminaremos qualquer ameaça que surgir... - Falo friamente, concordando com Satori, apesar de não me referir à eles como vírus, ainda era de interesse mútuo acabar com qualquer inimigo para proteger o que acho certo. Aquela tragedia não vai se repetir. NÃO VAI.

A caminhada me faz lembrar de como andávamos sempre juntos no orfanato, para qualquer motivo que fosse, até mesmo os mais idiotas. E era por considera-lo meu amigo que paro e olho para o ninja de cabelos negros e grande gola.

- É melhor se preparar Satori... Tempos mais difíceis e sombrios se aproximam... - Olho para o céu azul que pairava sobre a vila com meus olhos azuis antes brilhantes e agora opacos, tendo rápidas memórias da lua sangrenta e de Shin, assim como das confusões diplomáticas no gabinete - É apenas questão de tempo... - Termino, querendo alertar meu amigo para esse fato, pois não queria que morresse ou se prejudicasse, ficar forte era a única solução para sobreviver e proteger o que quer que deseje, foi o que eu sempre disse ao meu ex-pupilo. Não tenho bons pressentimentos com relação ao futuro e geralmente, meus instintos não costumam errar.

Assim, chegamos na casa do Uchiha após uma breve caminhada. Ele se despede, com um tom meio pesado, mas é normal, entre ninjas, você nunca sabe se vai ver o outro novamente.

- Até mais... Satori - Também me despeço dele em frente a sua porta, vendo o homem entrar e fechar a porta. Suspiro e dou meia volta, andando para longe dali. Era cedo ainda e não era meu dia de folga, simplesmente decidi me atrasar para atender o pedido de Satori. Havia trabalho a ser feito no gabinete e parte da agenda incluía visitar a formatura de novos genins na academia ninja.

Considerações: