O que havia acontecido no bar, naquele dia inusitado, ainda permeia os pensamentos de Hiei. Ter encontrado pessoas tão fortes quanto ele se julgava ser, jovens, e mostrando uma tendência positiva a brutalidade, de fato tirou as noites de sono do Sangue da Noite por longos dias. Era como se ele sentisse a adrenalina de quando estava massacrando aqueles homens velhos e bêbados. Ansiava por mais. Talvez, finalmente, estivesse descobrindo sua verdadeira essência; a crueldade.

Já não precisava mais roubar alimentos para manter-se vivo, diferente do que aconteceu na época em que vivia dentro de Kumugakure no Sato e quando, por acaso do destino, havia encontrado Arashi pela primeira vez. Aprendeu com os anos em como trabalhar, ou melhor, em como conseguir dinheiro sem ter que, de fato, roubar comerciantes e pessoas de bem. Isso não anulava o fato de como ele conseguia dinheiro; trabalhando de forma ilegal, conseguindo informações para militares dos vilarejos próximos de onde havia se estabelecido durante todo o ano, dentro do país da Terra, como também realizar algumas pequenas missões, não oficiais, para alguns senhores de terras que pudessem, de fato, lhe pagar.

Hiei sabia de suas limitações, problemas, virtudes e afins, mas sua maior dificuldade enquanto sozinho era não ter as instruções de monge. O homem serviu como a figura paterna do Nara, por mais que nem mesmo o nome do monge ele soubesse. Com certeza, umas das coisas que o velho diria, se pudesse, era para o jovem não estremecer ou hesitar e continuar se desenvolvendo para concluir a missão da qual foi incubido quando nasceu.

Focou em boa parte dos longos dias do ano em aprimorar suas habilidades, principalmente as sanguíneas, no que tange conseguir manipular a própria sombra. Já conseguia utilizar algumas técnicas do clã Nara, mas, ainda assim, faltavam outras para melhorar seu arsenal. Um dos poucos tesouros que o monge deixou para Hiei foi seu diário, com algumas informações pertencentes ao clã do jovem e um pouco da profecia, mesmo que de forma rasa, da qual ele fora escolhido quando ainda no ventre de sua mãe desconhecida.

Os dias, em geral, foram longos e de intensos treinos, como também de intensos trabalhos para ganhar dinheiro e conseguir pagar as diárias na estalagem, junto com o almoço e janta que, por mais simples que fosse, ainda assim, era bastante caro. Talvez por ser feito por outros Nukenin’s,

Os dias se passando criavam ainda mais, dentro do âmago de Hiei, uma vontade prematura de melhorar sua situação. Vira e mexe lembrava do bar, dos golpes, da adrenalina, de Arashi e em como aquele idiota dos lábios negros e pele pálida conseguiu, mesmo que por outras razões, unir vários jovens de diferentes personalidades e propósitos para participarem de uma batalha ferrenha contra bêbados moribundos.

Talvez ele seja o ponto de partida de tudo. Os pensamentos de Hiei com relação a Arashi eram confusos. A incógnita por trás daquele homem fazia o Nara se incomodar algumas vezes. Não gostava dessa situação. Ser calculista orbitava muito por conseguir analisar aqueles à sua volta. Mas, em especial, com Arashi, era impossível.

Matutar durante vários dias um jeito de conseguir dinheiro, somado a mais poder e liberdade tiravam o sono de Hiei. As olheiras podem ser vistas de longe, se algum ser perdesse tempo tentando analisá-lo. Sinal de, ou muito trabalho, ou que de algo estava tirando seu sossego. De fato, estava. Algo não, pessoas em especial estavam. Os fios enegrecidos bagunçados tradicionalmente estavam ainda mais. O desleixo para com sua aparência demonstrava a preocupação e o desejo de viver melhor. Viver como um ninja, um ninja renegado. Já tinha aceitado ser Nukenin faziam anos, estava bem assim. Mas faltava realmente ser, vivenciar o que é ser um renegado. Sozinho? Talvez não fosse a melhor escolha. Hiei sempre foi um jovem consciente, provavelmente algo advindo de sua personalidade fria e analítica, ou algo que tenha ligação com seu sangue.

As estações passaram de forma rápida, mais do que o habitual. Hiei continuou trabalhando, juntando migalhas e sobrevivendo, do jeito que dava, sem roubar de quem trabalha honestamente. Continuava com suas convicções e, inclusive, dúvidas sobre o que fazer com o futuro. Não via muita saída que não tentar juntar um grupo, assim como outros Nukenin’s, visando sobreviver em conjunto e não sozinho. Não apenas sobreviver, mas obter poder, dinheiro e relevância. Seu passado e os motivos de ser considerado a criança escolhida, o Sangue da Noite, continuavam escurecidos. Não sabia os motivos, nem o porquê. E, pra ser sincero, não pretendia correr atrás disso nesse momento. Tinha mais coisas a fazer, preparar, pensar, agir.

Durante o ano, Hiei fez aniversário, entretanto, pouco se importava com datas. Estar vivo e pensando no futuro era o suficiente para ele. Focado como sempre.

— Está na hora de mudar. Preciso achar os outros… talvez eles aceitem participar dessa loucura. — Em um dia qualquer, quando já estava fazendo quase um ano do ocorrido no bar, Hiei finalmente havia se decidido. Estava certo de fundar um grupo com Arashi, mas não somente ele. Em seus planos, o que manipulava uma marionete completamente estranha, o que dançava enquanto afundava crânios e o espadachim maluco também estavam inclusos. Não somente isso, seria peça fundamental no grupo, ou melhor, organização.

— E como eu vou achar eles? — E esse era o real problema após ter se decidido. Como achar pessoas que não queriam ser encontradas? Talvez visitar o mesmo bar? Seria tolice, afinal, aquele bar tinha fechado após o massacre. Mas nenhum visitante que passava por lá queria tomar uma, ou descansar, ao saberem o que havia acontecido.

— Começar por Arashi, talvez? — Saber que todos os homens massacrados no fatídico dia estavam atrás de Arashi e que ele trazia problemas consigo, sempre, podia ser um ótimo chamariz.

— Aaaaaaaaaah, não sei o que fazer, mas preciso achar eles. — A dúvida pairava sua mente uma vez mais, entretanto, estava certo de uma coisa; conseguir recrutar todos os degenerados seria o ponto de partida para conseguir mudar sua vida. Para melhor? Só o tempo iria dizer.

Considerações:

Armas: