Achoo! Eu dei um espirro enquanto esperava sentado num banquinho no quintal de casa. Tinha começado a esfriar um pouquinho desde que o verão tinha acabado, e agora não devia faltar tanto tempo assim pro inverno chegar. Era a época em que eu fazia aniversário, mas também a em que eu mais costumava ficar doente, por conta de quão frio acabava ficando. Mas voltando ao assunto: fazia pouco tempo que eu tinha conseguido me formar como Genin, e minha irmã tinha pedido pra eu esperar por ela no quintal essa manhã, dizendo que agora "eu estava pronto".

- Eeeei, Nagi! - ela apareceu vindo de dentro de casa, vestida nas roupas longas de sempre, apesar do moletom sempre variar. - Finalmente se formou, não é? Essa aí é a sua bandana? - ela apontou pra bandana que eu tinha escolhido colocar em volta do pescoço, e eu assenti. Ela deu um sorriso tenro, e pôs a mão na minha cabeça, afagando de leve. - Parabéns de novo, irmãozinho. Agora, sobre o que eu tinha te chamado aqui...o papai fez o mesmo comigo quando eu me formei da Academia, mas eu pedi pra que ele deixasse eu ensinar você dessa vez. - ela se afastou um pouco.

De dentro das mangas de seu moletom, começaram a sair algumas dezenas de inseto, depois centenas, e em pouco tempo, eles formaram quase como pequenas nuvens negras que flutuavam próximas aos braços dela. - Você precisa aprender a controlar bem seus Kikaichū se quiser mesmo se tornar um ninja. E a sua irmãzona aqui vai ter certeza de te ensinar bem direitinho! - ela deu uma piscadela, sorrindo. - Preparado?

- Vamos, vamos! Comece fazendo eles saírem. Não precisa controlá-los ainda, mas deixe-os andar do lado de fora um pouquinho. - Akane disse, fazendo as nuvens de insetos se moverem à sua volta como que numa dança. - Tá. - fazer os Kikaichū saírem era fácil. Os corpos dos Aburame são especiais, e abrindo pequenos poros em minha pele, os insetos não demoravam para virem pro lado de fora, caminhando sobre meus braços e indo até as pontas dos meus dedos. - E agora? - perguntei.

Akane chegou mais perto, olhando os pequenos insetos com curiosidade. - Sabe que eu acho que os seus são um pouquinho diferentes dos meus? Fufu...vamos começar tentando aumentar essa quantidade. Tente fazer mais deles saírem, o bastante pra cobrir seu antebraço inteiro. - esse era um pedido um pouco mais difícil. Não era algo tão simples quanto simplesmente abrir mais dos poros para que mais Kikaichū saíssem - sem um objetivo específico, eles simplesmente se espalhariam pelo meu corpo. Eu precisava guiá-los até o meu braço, pra que se reunissem lá.

Eu me concentrei, estendendo o meu braço à frente do corpo e fechando os olhos, e depois de respirar fundo, me foquei em fazê-los irem até lá. Depois de um instante, centenas e centenas dos pequenos insetos começaram a se mover em uma única direção, formando uma espécie de carapaça negra e viva que cobria boa parte do meu braço.  - Foi...mais fácil do que eu achei que seria. - eu franzi o cenho. Geralmente era difícil controlar números maiores de insetos assim. Minha irmã deu um sorriso, toda cheia de si, antes de começar a explicar: - Não foi? Pode não parecer, mas o treinamento na Academia e tudo que você aprende lá te ensina a controlar bem melhor seu Chakra. E como é com ele que você dá os comandos aos Kikaichū, é normal que fique bem mais fácil de aprender a controlá-los agora. - ela piscou.

- Lembre-se bem disso. Não é com comandos vocais ou mentais e nem mesmo com o movimento do corpo que você controla esses pequeninos. É com o seu chakra, o chakra que toda a colônia usa pra se alimentar diariamente. Nós servimos como uma colméia pra eles, e em troca, eles nos ajudam no que precisar. Mas pra isso você precisa aprender a controlá-los direito, e é controlando seu chakra que você faz isso.

Depois daquela explicação inicial, Akane continuou me dando algumas dicas para movimentar os Kikaichū controlando o meu chakra, como se estivesse utilizando algum outro jutsu. Ela me fez movê-los em grandes grupos, voando de um ponto para outro do meu corpo, e pouco a pouco foi ficando mais fácil de entender. De certa forma, eles eram quase como uma extensão do meu corpo...mas ainda era um pouco diferente disso. Eu não sabia explicar bem a sensação, mas era algo natural.

Coisa de uns vinte ou trinta minutos se passaram, com ela me guiando e esperando eu me acostumar melhor à manipulação dos insetos. Enfim, ela deu mais uns passos pra trás, fazendo as nuvens negras formadas por milhares deles saírem de suas mangas mais uma vez, dessa vez se juntando numa única e grande massa disforme de Kikaichūs. - Certo, você já tá conseguindo movê-los bem, então vamos tentar algo um pouco diferente. Fica de olho. - ela disse, conforme o enxame ia se movendo mais pra perto do chão, se moldando numa forma vagamente humanoide, até que...outra Akane apareceu logo na frente da original, com o sorriso cheio de si de sempre.

- Bunshin no Jutsu...não. Como fez isso? - era diferente do jutsu que nós tínhamos aprendido na Academia. Minha irmã moveu a mão direita pro alto, chamando minha atenção para ela, e depois a passou pela Akane falsa, a parte por onde ela tocava se desfazendo numa nuvem de insetos antes de se reformar na imagem do clone. - Esse é um jutsu bem útil que usa os Kikaichū pra fazer um clone, mas não preciso que você aprenda ele agora. Quero que foque no fato de que eles conseguiram tomar uma forma complexa como a de uma pessoa ao se coordenarem.

Com um estalar de dedos, ela fez a nuvem de insetos se dispersar, retornando pra dentro das roupas dela. - O próximo passo vai ser aprender a fazer os seus amiguinhos tomarem formas diferentes. Comece com umas simples, tipo uma bola ou um cubo, e depois quero ver você tentando algo mais criativo. - ela sorriu, sentando-se num banquinho pra me observar praticar. Animado por ter visto o seu jutsu de clone, eu tentei formar uma esfera, mas...era mais difícil do que parecia deixar a forma certinha. Pelo visto, eu ia ter que passar um tempinho tentando de novo...

Essa parte do treinamento acabou sendo um tantinho mais complicada do que a outra. Por mais que eu estivesse me acostumando a mover os insetos da maneira que eu queria, fazê-los se amontoarem num formato específico era bem mais difícil do que parecia. Se eu não tivesse uma imagem sólida em minha mente, o formato acabava distorcido ou errado, mas eu também precisava me preocupar em controlar meu chakra pra movê-los até onde eu queria do jeito certo.

- Não se preocupa, irmãozinho. É normal ter dificuldade no começo, você só tem que continuar praticando até que consiga fazer por reflexo. Aqui, tenta fazer desse jeito agora. - durante todo o tempo, Akane seguiu me ajudando e me dando dicas importantes, mostrando os seus próprios Kikaichū em ação para servir de exemplo. Demorou um pouco, mas depois de tentar bastante, eu percebi que tinha que me preocupar menos com fazer os insetos se moverem, e mais em ter uma imagem clara das formas em minha mente. Pouco a pouco, controlar o enxame ia se tornando um movimento natural, como se eles fossem mesmo parte do meu corpo.

- E esse aqui... - eu juntei as mãos à minha frente, abrindo-as como se fosse segurar alguma coisa. Os meus Kikaichū logo se juntaram acima dela, num amontoado que a princípio parecia uma bola, mas que logo se moldou em detalhes, como um par de orelhas e um pequeno rabo. - ...é um gato. Eu acho. - lembrava mais uma pelúcia do que qualquer outra coisa, mas pelo menos, mostrava que eu estava ficando melhor naquilo. Akane bateu palmas com um sorriso no rosto, e me olhou nos olhos.

- Ótimo. Agora, Nagi, vai lá dentro beber uma água e descansa uns minutinhos. Quando voltarmos, vai ser a hora da última parte do seu treino: usar seus Kikaichū em combate! - ela deu um sorriso convencido, pronta pra testar tudo que eu tinha aprendido até então. E se eu queria virar um ninja de verdade...

...ia ter que fazer aquilo direito.

- Pronto? Três, dois, um e...comece! - e com o sinal dado, nós dois saltamos um para longe do outro. Akane estava desarmada e nem mesmo estava usando seus Kikaichū, já que o objetivo ali era eu mostrar o que conseguia fazer tanto na ofensiva quanto na defensiva, e não realmente derrotar ela. Pra começar, eu comandei centenas e centenas dos insetos a saírem de meu corpo, formando um enxame que lembrava uma nuvem negra ao meu redor. - Lá vou eu. - e com um movimento da mão, eu fiz os insetos avançarem, partindo na direção da minha irmã.

Mesmo sem usar os seus próprios insetos, Akane já era uma ninja bem mais experiente que eu, e logo que se esquivou do primeiro avanço dos Kikaichū aproveitou pra pegar impulso e vir na minha direção, cortando num instante a distância entre nós. - ...! - eu tentei dar um salto pra trás pra me manter longe, mas ela era muito mais rápida. Com um sorriso, ela girou no ar e preparou um chute com a perna direita, mirando na lateral do meu corpo. Eu tentei fazer os insetos saírem pra amortecerem o impacto, mas fui devagar demais: ela me acertou e me arremessou alguns metros pra longe. O máximo que eu consegui foi bloquear com o braço.

- Muito lento, Nagi! Se deixar pra se proteger no último minuto não vai conseguir! - ela avançou mais uma vez, mas dessa vez, eu já tinha me preparado. Juntando os insetos num só lugar, eu consegui aparar o segundo chute, os milhares de Kikaichū formando um círculo que se colocou entre a perna de Akane e mim. Claro, dava pra ver que ela tava pegando leve, mas ainda era animador ver que eles conseguiam segurar um golpe daqueles. Eu continuei na defensiva por um tempo, minha irmã pegando um pouquinho mais pesado com cada ataque que fazia, até que...ela parou de repente, e deu um sorriso carinhoso. - Olha só...eu não vou dizer que eu não notei, mas foi uma boa ideia, irmãozinho. - ela olhou por cima do ombro, vendo vários e vários dos meus insetos se espalhando pela sua roupa.

Enquanto ela estava ocupada atacando, eu pensei em mandar os insetos daquela primeira nuvem tentarem pegá-la de surpresa...mas pelo visto ela ainda tinha notado. Ainda assim, parecia bastante satisfeita. - Acho que com isso, a gente já pode dizer que você aprendeu a controlar eles direitinho, não acha? Vamos treinar mais um pouquinho e depois a gente sai pra comer alguma coisa. O que me diz? - não era sempre que ela tinha tempo pra sairmos juntos assim, então eu sorri, assentindo, e ansioso pelo nosso passeio. No fim das contas, todo aquele treino tinha valido a pena.