Era uma manhã de um dia qualquer, comum a princípio. O calor de Sunagakure havia sido particularmente benevolente, poupando boa parte dos esforços nas árduas tarefas do Estudante da Academia na farmácia local, onde sua mãe era gerente. — Entregar para os Kaminari, Gwyn. Tudo pronto por aí? — A bela Harumi estava bem agitada naquela manhã, onde muito serviço havia caído em seu colo de uma hora para a outra. Por sorte, seus funcionários e seu filho estavam bem proativos, diminuindo drasticamente os esforços necessários para a manutenção da ordem no comércio familiar.

O pequeno Gwyn - que ele não ouça comentários sobre sua altura - estava animado com aquele dia também. Seu sorriso era radiante como o sol que cobria o vilarejo, e sua força de vontade para ajudar poupava muitos esforços por parte dos mais velhos. — Posso pegar biscoitos com os Kaminari? Eles sempre oferecem, e são deliciosos! — Diria com um olhar de cão que havia caído da mudança. Nisso, Gwyn era mestre. — Certo, rapazinho. Mas apenas um! E caso ofereçam, apenas. Não peça. — Harumi dizia, com as mãos na cintura por não ser capaz de resistir à ternura de seu filho.

E o jovem voava como o vento, digno de uma criança nascida naquele país. Ruas e vielas eram seu parque de diversão, e nem mesmo o gato mais ligeiro seria capaz de percorrer aqueles quarteirões como Gwyndolin fazia. A casa dos Kaminari não era tão distante assim, e o fato de serem um casal de idosos que faziam os melhores biscoitos da região, animava muito o jovem shinobi em realizar as entregas. Só precisou pular por mais uma cerca para chegar lá e, por conta de sua falta de altura, acabava sendo uma tarefa um pouco mais árdua do que para as outras crianças.

Com um salto desengonçado, Gwyn acabava por cair de bunda no quintal da casa dos idosos. Enquanto tentava recuperar as forças para se levantar, observava uma jovem kunoichi, realizando alguns treinos de Doton no quintal de casa para um grande exame que estava por vir, aparentemente. — Ei, quem deixou você entrar? — Ela dizia, de um jeito mandona. Gwyn se levantava, batendo a poeira das roupas e, em seguida, abria um largo sorriso faltando um dos dentes incisivos. — Vocês tem biscoitos?! E vim entregar os remédios da Kaminari-baachan! — Ainda que seu desejo pelos biscoitos fosse algo palpável, sua admiração pelas esculturas de rocha presentes pelo quintal faziam seus olhos brilharem.

Minutos depois, ele estava sentado na bancada da família Kaminari, observando a jovem kunoichi prosseguindo com seu árduo treinamento. — Um dia te verei fazendo esculturas tão lindas quanto estas, Gwyn, tenho certeza! — A senhora Kaminari era uma idosa gentil, que já havia visto muito nessa vida, mas não havia se amargado nem um pouco. Agora, sua rotina era fazer deliciosos doces, enquanto cuidava de sua neta, aspirante a ninja.

Aquilo foi junto com Gwyn até o retorno para casa. Como ajudou muito nos afazeres da loja, pôde retornar para casa mais cedo e brincar. Seu pai estaria por lá, uma vez que precisaria sair durante a noite para uma missão fora do país, mas que retornaria antes que acordasse, de acordo com a promessa dada por ele. — Otousaaaaan! — Diria o pequeno loiro, correndo pelos corredores da grande casa em busca de seu pai. Senju Kenji, um shinobi de alto escalão, gostava de passar as tardes fazendo pinturas da grande cerejeira que possuíam no quintal de casa, nutrida pelo chakra do próprio Senju. Quando seu filho chegou, Kenji estava finalizando o esboço, ainda longe de iniciar o trabalho de coloração. — Ora, ora, se não é o maior devorador de biscoitos de toda a Sunagakure. Tenho certeza que sua mãe só deixou pegar um, certo? — Ele dizia, sentindo o cheiro dos biscoitos de longe.

A recepção do patriarca era calorosa, como sempre. Deixando de lado seu hobbie, o Senju mais velho priorizava manter estreita a relação com seu filho. Os mesmos brincavam, com o pai investindo secretamente no futuro de Gwyn como um grande shinobi em ascensão. — Hoje a neta dos Kaminaris estava fazendo um jutsu que criava esculturas de pedra! Umas eram estacas, outras eram bustos e até mesmo cachorros! — Kenji ria com o entusiasmo do pequeno. Como também era um entusiasta de jutsus, acabava por ensinar alguns princípios básicos do elemento Doton, como a questão de contato com a terra e sentir o elemento fluir sob os pés e esse tipo de coisa.

O anoitecer vinha de mansinho e não tardava para que Harumi chegasse em casa também. Após o puxado dia de trabalho, a mulher resmungava de algumas dores nas costas, sendo cuidada por seu marido, que preparava o jantar com animação. Sua especialidade, risoto de queijos, combinaria bem com a noite fria no deserto que se instalava junto com o surgimento da lua. Gwyn ainda brincava simulando selos de mão quando foi chamado para a mesa de jantar, animado demais para ficar quieto num canto só.

Ele comia tudo, como um bom garoto que era, deixando seus pais felizes em ver o jovem tão animado com a vida que estavam levando. Com as devidas despedidas para sua missão, Kenji deixava sua família segura em sua casa, protegida pelo vilarejo que ajudava a construir todos os dias. Não demorava até que sua mãe o deixasse na cama, sob orações para que tivesse bons sonhos. Mas o menino estava ativo, eufórico demais para se conter entre os lençóis, e essa falta de autocontrole seria algo que jamais se esqueceria.

Saindo por sua janela, Gwyndolin foi até o pé de cerejeira de seu pai, onde alegava que conseguia sentir melhor o chakra natural. Os selos que treinou durante toda a tarde eram repetidos muitas e muitas e muitas vezes, levando as mãos no chão para ser capaz de criar uma escultura de seus pais, para surpreendê-los no dia seguinte. A tentativa acabava sendo maior do que o esperado, entretanto… Após inserir chakra demais naquela manobra, mais do que um jovem aspirante à shinobi seria capaz de fazer, tudo o que Gwyn se recordaria seria da cena de sua casa rangendo quando a estaca de pedra surgiu por debaixo dos pilares de madeira de sua casa de dois andares.

No instante seguinte, Gwyn já estava no interior dos escombros, precisando decidir se alcançava sua mãe, presa abaixo de uma viga, ou se perdia sua própria perna, presa após ser empalada por uma estaca de madeira. Sangue, suor e lágrimas finalizaram aquele dia tão alegre, sendo este o pesadelo recorrente nas noites do Chunin nos dias de hoje, que utiliza as memórias de lembrete de suas falhas.