Contos do Espadachim
Capítulo 1: O Fantasma na Floresta

Já era tarde da noite quando ouvi o som alto das batidas na porta de madeira, e pela intensidade, pude sentir que o indivíduo do outro lado parecia estar com pressa. Uma bela razão para ir caminhando até a porta lentamente, como fui, e somente depois de uma longa estirada no sofá e um bocejo atrasado. Quando estava de frente para a porta de madeira, ouvi parte da conversa que acontecia do outro lado e assim pude ter uma mínima ideia do que aquilo se tratava. Abri a porta somente para confirmar minhas suspeitas. Dois ninjas de elite aguardavam do outro lado, um deles segurava um pergaminho enrolado, mas os dois suavam como se tivessem corrido contra o tempo para chegar até onde estavam.

— Fiquem sabendo que eu estava me preparando para ir dormir. — Falei na intenção de expressar alguma insatisfação, mas tendo certeza de que ambos ignorariam aquilo por completo. Antecipei a fala deles, apenas estiquei uma das mãos na direção daquele que segurava o pergaminho. — E já vou logo avisando, eu só saio de casa amanhã.

O homem me entregou o pergaminho e tentou me dizer algo, mas não fiquei ali para ouvir. Entrei para dentro de casa e fechei a porta, ao mesmo tempo em que corri os olhos pelo pergaminho enquanto ia o desenrolando em minhas mãos. É sempre isso, mais e mais serviço. O conteúdo no papel parecia minimamente interessante, mas tudo que fiz foi largá-lo na mesa ao lado da cama antes de cair em sono profundo.  

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Capítulo 1: O Fantasma na Floresta

Acordei de repente, sentindo o corpo suado e completamente ofegante. Por um momento, tive a sensação de acordar ao ouvir um grito intenso do lado de fora, mas ao ficar em silêncio e perceber que não havia barulho algum, descartei aquela possibilidade. Passei a mão pela testa para tirar um pouco do suor que escorria por ela, e ainda ofegante, decidi me levantar da cama. Que merda, pensei, foi só um pesadelo. Parado ao lado da cama, olhei para o pergaminho que muito provavelmente foi a razão para aquele sonho estranho. Tá bom, eu já entendi.

Senti como se aquilo tivesse sido um sinal do meu subconsciente para agir, e eu o obedeci. Me vesti com um colete escuro e calças da mesma tonalidade. Organizei minhas armas — a bolsa, como sempre, presa na direita da minha cintura, e a katana amarrada do lado oposto. Por último, a faixa azul presa na testa, como já estava acostumado a amarrar desde a primeira vez que Haerin havia amarrado aquele apetrecho por sentir que combina com meu visual.

Por último, busquei o pergaminho da missão em cima da cabeceira e o coloquei junto das minhas armas na bolsa, após enrolá-lo rapidamente para que ocupasse menos espaço. Fui até a porta, saí, e segui até o portão. O céu ainda estava minimamente escuro quando saí de casa, a pouca luminosidade que ele propunha indicava que o dia ainda estava para amanhecer. Pelo menos o movimento nas ruas será pouco, imaginei.

Ao chegar no portão, parei de andar somente quando fui interrompido por um outro ninja, que fazia a vigia da entrada. Ele questionou minha saída, e sem dizer uma palavra, apenas apanhei o pergaminho da missão na minha bolsa e entreguei para o homem, que engoliu seco no momento em que leu o conteúdo no papel. Ele me devolveu o papel e acenou para a minha saída.

— Boa sorte, Hayao. — Foi tudo o que ele me disse após ler o papel, e pude sentir sua voz trêmula no momento em que proferiu meu nome. Passei pelo portão e segui andando calmamente pela estrada de terra até adentrar em uma área específica da floresta que cercava a vila, sumindo no meio das árvores e das sombras.

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Capítulo 1: O Fantasma na Floresta

Segui na direção que estava indicada no papel. A sudoeste do País do Fogo, alguns quilômetros de distância da Vila, é o local de ocorrência daqueles ataques. Ataques? Meu inconsciente zombava do texto no pergaminho quase que institivamente, quando foi que começamos a tratar ilusões como ataques? Parece que o nível desses ninjas de Konoha está caindo mais a cada dia que passa. A situação na Folha era preocupante, o que me deixava ainda mais motivado em evoluir e me destacar entre os demais.

A floresta, pouco a pouco, recebia mais luz solar e a visibilidade aumentava a cada passo dado. Eu já tinha o costume de andar pelo País do Fogo, mas naquele momento estava acessando uma área que não tinha visitado anteriormente. As árvores pareciam maiores naquela região, a vegetação era claramente mais vívida, e tudo que podia ouvir, além dos meus próprios passos contra os galhos secos e as gramíneas rasteiras, era o som do cantar dos pássaros durante a manhã.

Nada parecia fora do comum, até uma imagem diferente chamar a minha atenção. De longe, avistei uma silhueta semelhante à de uma mulher, agachada próxima de um riacho. Como se simulasse um copo com a palma da mão, ela parecia beber da água do rio completamente despreocupada com os arreadores. Me aproximei lentamente, na mesma passada com que havia me locomovido até ali. Ela tinha a pele clara, e os cabelos tão escuros quanto o céu noturno chegavam a tocar no chão quando ela estava sentada sobre a grama.

Sem se incomodar muito com a minha presença, ela apenas virou o rosto na minha direção quando dei um último passo em seu rumo. Pude ter uma melhor visibilidade do rosto da garota, apenas para notar que seus olhos eram tão escuros quanto seus fios. A expressão dela mudou quando me viu, senti como se estivesse feliz em me encarar no momento que ela esboçou um sorriso com os lábios e com os olhos.

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— Você está perdido, garoto? — A voz suave da mulher quebrava o silêncio da floresta, e tudo que fiz foi admirar sua beleza por um breve segundo. Ela se levantou tão lentamente, parecia despreocupada com a minha presença, o que certamente seria um erro da sua parte e eu iria provar isso para ela muito em breve.

— Acabei de encontrar o que estava procurando. — Retruquei, colocando os dedos sobre o cabo da minha katana e retirando-a da bainha. A lâmina brilhou quando finalmente viu a luz do sol, já fazia um tempo que ela estava fora de atividade. — Você é o tal Fantasma da Floresta que está atacando os ninjas da Folha, não é?

“Como você pode ter tanta certeza disso?” foi o que ela disse antes de me ver saltar em sua direção com toda a minha velocidade. Com a katana esticada para frente, fiz a lâmina atravessar o peito da mulher de cabelos escuros, além de me jogar com toda a força sobre seu corpo. Na ação, caímos os dois sobre o solo, eu estava de pé acima do corpo da garota que jorrava sangue pela boca. Parecia uma cena surpreendente, se não passasse de uma simulação criada pela habilidade da minha oponente. O que de longe me era uma surpresa.

— Vamos adiantar isso, certo? — Falei, retirando minha katana do corpo da mulher em seguida. A lâmina estava suja de sangue, como ficaria após realmente atravessar o corpo de alguém. Não me surpreendi, apenas olhei para o alto e encarei a própria mulher acima de um dos galhos, parada e me olhando de volta. — Eu consigo sentir a realidade através da sua ilusão.

— Certo, certo. Você me surpreendeu. — No momento em que ela disse, a ilusão abaixo de mim se dissipou por completo, o corpo perfurado desapareceu o sangue na minha katana simplesmente deixou de existir. Uma risada escapuliu dos lábios da garota, mas eu mantive o semblante fechado por todo momento.

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Capítulo 1: O Fantasma na Floresta

A mulher desceu da árvore com um único salto, parou poucos passos na minha frente e sequer emitiu algum som ao tocar o solo. Todos os movimentos de seu corpo indicavam que ela era uma ninja habilidosa, então aquela ilusão simples que ela havia feito anteriormente não era um critério para avaliar suas habilidades. Pensando nisso, me mantive atento a todo instante, ciente de que não poderia vacilar contra aquela garota ou iria acabar morto.

A princípio, acreditei que aquele seria um combate contra uma ilusionista, mas fui surpreendido no momento em que vi a mulher tirando duas adagas de dentro das roupas largas e partindo na minha direção. Ao menos eu tinha a certeza de que dessa vez, aquilo não se tratava de uma ilusão. Apenas estiquei a lâmina para frente e preparei para bloquear o ataque, mas no momento em que estávamos quase nos chocando, a mulher desapareceu na minha frente.

Alguns segundos depois, ouvi a aproximação vindo por cima. Aquilo realmente não tinha sido uma ilusão, ela simplesmente se movia tão rápido que era até difícil acompanhar seus movimentos. Se não fosse meus sentidos, sequer teria notado a investida do alto, mas fui capaz de usar minha katana para bloquear o ataque que ela tentava contra mim usando suas adagas, a tempo suficiente de evitar que ela arrancasse a minha cabeça.

— Você é rápido. — Ela disse, ainda pressionando as adagas contra minha katana. Senti como se ela estivesse tentando me provocar, mas mantive a serenidade no olhar e decidi me concentrar apenas no combate. Naqueles breves segundos em que ficamos frente a frente, encarei-a nos olhos. Ela estava tranquila, tão tranquila que até me incomodava, parecia que ela não dava tudo de si para me enfrentar e aquilo me dava nos nervos.

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