Num momento de descontração, Reo resolveu dar uma caminhada com Keiko. Assim, ele não estava trajando suas vestes de Ninja nem utilizado sua bandana, sendo considerado de um ponto de vista mundano, um civil comum. Ele utilizava uma bermuda azul escuro com bolsos, uma fivela negra com alguns detalhes em dourado para segurar a bermuda. Uma camisa preta sem estampas, colarinho com pérola azul, munhequeiras de pulsos e sandálias ninjas comuns. Ele bebericava um pouco de água em sua garrafinha enquanto caminhava ao lado da Uchiha. — Hoje tá quente pra cacete, bem que podia cair um pouco de chuva hoje hein. — Resmungou, enquanto uma gota de suor escorria pela sua bochecha.

Assim, fitou a morena de lado. — Keiko, me fala aí. Qual é a percepção que você tem sobre a Vila e o Hokage? Você é extremamente leal à Vila, ao governante? Ou você tem um pensamento próprio e mais individualista? — Questionou, virando o rosto para a olhar mais ativamente enquanto caminhava. Uma de suas mãos estava no bolso da bermuda, a outra segurava a garrafa entre seus dedos. Aquilo não era apenas um meio de como procurar uma outra visão para além de seu mentor, Bisuke Zanko, como também investigar melhor o pensamento da Uchiha. Se tinha alguém que era misterioso naquele lugar, esse alguém era Uchiha Keiko, e precisava tomar cuidado e cautela com o que se poderia dizer. Isso porque naquele dia na floresta, o que Reo viu, poderia se dizer que ela havia entrado no fluxo até demais contra aqueles três idiotas. Aquele brilho macabro e frio em seus olhos, brilhando em vermelho como se estivesse em sede de sangue, parecia muito que ela tinha um demônio interior, como Reo. O Senju quando entrava no fluxo, parecia seguir os ditames do demônio, mas se manifestava somente em momentos oportunos, que não era qualquer momento aleatório.

O estado do fluxo segundo Bisuke Zanko, era um estado de imersão total, conhecido como estar à vontade. É quando alguém emana vontade, foco intenso, alegria e engajamento total ao realizar a tarefa. Tanto Reo quanto Keiko haviam utilizado o estado de fluxo para focarem em seu treinamento um com o outro.

— Você gosta é? Eu prefiro dias chuvosos e frios. — Comentou com um sorriso de canto. Todos ali estavam executando suas tarefas comuns. Era possível ver vários trabalhadores e vendedores, bem como civis, comerciantes e afins. Ninjas da elite também estavam ali, era possível ver vários deles de guarda ou conversando entre si. Com isso, passou a fitar Keiko enquanto ela dava mais uma de suas piadas irônicas. Aquela em especial provocou o cuspe de água por parte do Senju que deu uma pequena risada enquanto fitava a Uchiha com um olhar provocante. — Muito sagaz de sua parte, fui mandando por eles pra te espionar, confia! — Brincou no mesmo tom, voltando ao seu estado atual de bebericar um gole de água.

Assim, Reo era um bom ouvinte, estaria então atento a sua resposta, de modo que mesmo concentrado em beber água, dividia seu foco com Keiko. Mas ela acabou dando uma resposta genérica, era como se ela estivesse sendo apenas mais um daqueles ninjas que tem uma fé cega pela vila e pelo Hokage. Pelo mesmo pelo Governante, ela havia apresentado uma reação lógica, visto que, quando se tem um necessário conhecimento sobre algo, se presume que não pode a si, afirmar atos verdadeiramente, podendo levar ao erro e a mentira. — Certamente, à Vila e ao Hokage. Essa Vila aqui é bela, e cheia de recursos, não vemos nada fora do padrão, nenhuma miséria ou ato que coloque outras pessoas em uma completa incapacidade de viver bem. Isso se deve ao nível de administração da vila, feita pelo Hokage e seu assistente, certo? Então presume-se que sou como qualquer outro ninja dessa vila. — Comentou.

"Mas na verdade, eu não sei a quem mais sou devido à minha lealdade. Se é pelo Hokage ou pela Vila. Mas entendo que Keiko tenha dito isso, afinal, é o que normalmente um ninja comum falaria. Nesse caso, a minha resposta pode estar próxima do que eu quero chegar, eu só preciso raciocinar um pouco para como saber contornar esse tipo de pensamento." Refletia, até mesmo colocando a costa da mão sobre seu lábio enquanto pensava. — Você morreria pela vila, ou pelo Hokage incontestavelmente ou faria qualquer coisa pela vila mesmo que isso implicasse em fazer atos sujos? — Questionou de uma maneira um pouco mais complexa para a garota, iria querer ver mais um pouco nesse buraco negro que é Keiko Uchiha.

— Excelente ponto de vista. — Falou, pensativo. Será que ele poderia escolher ou algo a seguir por sua própria mente se ele achasse detestável ou errado por conta de seus valores? Se não precisasse ser ligado pelo Hokage ou pela Vila, ele teria uma quantidade infinita de menções que podia fazer, seguindo assim pela frente, de modo a fazer o que bem entendesse. Mas também, tinha umas dessas opções infinitas, o caminho de seguir fazendo o bem de todo o modo, com a seguinte característica de firmemente ser algo individual pelas próprias crenças, mas sendo capaz de ajudar alguém que precise ou um todo, um grupo de pessoas.

— Hum. É, de fato. Mas isso é algo um tanto comum, acho que é algo que todo mundo consente com esse tipo de pensamento de modo mais lógico, seguindo a onda de todos, assim por dizer. — Comentava com Keiko, de modo que retirava o punho do bolso da bermuda, de modo que poderia gesticular normal. Mas, Keiko subitamente para e inclina o tronco sobre ele, de modo a fazê-lo inclinar a cabeça para trás, arregalando os olhos por um instante da mesma forma que erguia as sobrancelhas, surpreso por aquela tomada súbita que nem mesmo esperava em seus planos, pelo menos, naquele momento. Assim, entreabriu os lábios, ouvindo o que ela estava dizendo.

— De fato, é verdade, era algo que eu não queria considerar, mesmo tendo passado pela minha mente. — Exibiu um sorriso, e em seguida, fitou a garota nos olhos, o seu olhar determinado de sempre e convicto. — Eu acho que eu já tenho a resposta, ela só precisava ser lapidada, como um diamante bruto. Valeu, Keiko. — Comentou, com um sorriso, passando o braço ao redor dela e a puxando para si para que acompanhasse os seus passos. De fato a coisa era bem mais simples do que se imaginava.

Assim, as sombras dos dois foram deixadas sob o chão amarelado com alguns resquícios de grama e uns tijolos, ali, era possível ver que a mesma diminuía à medida que a dupla se afastava.

"Finalmente estou tão perto da minha resposta."