Eu me sentia especialmente bem naquela manhã. Havia sido aprovado no teste para iniciantes e me tornado o mais novo Genin de Konoha, o que me traria cada vez mais próximo do meu objetivo, trazer orgulho para o meu clã. Eu ainda não havia sido designado pra time algum, mas já recebi uma missão. Eu precisava auxiliar o passeio dos cachorros da senhora... Ayame! Isso, esse é o nome dela. Uma senhorinha corcunda beirando seus 90 anos que insistia em criar 6 cães de grande porte.

Enfim, assim que cheguei na frente da casa da Ayame-san, eu acabei encontrando um dos colegas que se formou comigo na Academia Ninja, seu nome era Ren. Ele me deu alguns toques na academia, me indicando caminhos e tal, mas não tinhamos formado uma amizade. Ele foi o primeiro a se manifestar, falastrão que era:

- Asami-san, certo?

- Isso. - respondi com serenidade.

- Você veio ajudar a levar os cachorros pra passear?

- Sim. Recebi essa missão.

- Ah, que legal! Nossa primeira missão!! E vamos juntos! - Ele me abraçou o pescoço num movimento displicente e um tanto cômico.

Eu não entendia a razão de tanta empolgação, mas tudo bem. Tocamos a campainha e os cachorros começaram a ladrar. Depois de alguns segundos começamos a escutar passos bem delicados vindo do fundo, com uma voz já cansada pelo tempo dizendo, num misto de bronca e diversão.

- Sai, sai! Deixa eu passar!!

Essa era Ayame-san pedindo passagem a seus cães. Assim que ela abriu a porta de casa e vi os cães fiquei... Estarrecido. Os cães eram todos do tamanho dela, enquanto quadrúpedes e, se ficassem em pé, dariam pelo menos duas vezes o tamanho dela. Como aquela senhorinha ainda estava viva? Digo, um mero descuido de um cão desses poderia derrubar ela e gerar um belo estrago. Mas assim que ela nos viu do outro lado do portão ela sorriu e falou com os cães:

- Senta.  - dessa vez com mais firmeza, mas com um tom sereno.

Todos os cães sentaram imediatamente e deixaram de alvoroço. Calmamente a senhorinha colocou uma coleira em cada um dos cães e entregou três pra mim e três pro Ren. Ela sorriu e disse:

- A caminhada não precisa ser muito longa, só uma volta no quarteirão está bem. Eles só saem de casa uma vez por semana, então isso deve bastar. Podem ir tranquilos que eles são comportados! - Acenou a senhorinha fechando o portão.

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Ren e eu nos entreolhamos e tínhamos certeza: não seria bem assim. Logo que ela fechou o portão, começamos a caminhar e a conversar sobre trivialidades. Mas ao primeiro sinal de um saco de lixo os cães mudaram completamente de comportamento. Eles nos puxaram com todas as forças e fomos arrastados por alguns metros. Quando alcançaram seu objetivo gastaram alguns minutos analisando até que perderam o interesse. Voltamos a caminhar e a conversar e, novamente, os cães viram algo que chamou a atenção. Dessa vez era um cara levando comida para casa. Sorte que ele se atentou e voltou na direção contrária.

O ciclo se reiniciou: caminhada, interesse, arrastados e calmaria. Nos momentos propícios Ren falava sobre seu ânimo em ser ninja. Ele fazia essa história de ser ninja parecer uma coisa maravilhosa. Eu observava aquilo com serenidade mas eu sabia o que o mundo ninja também podia fazer de ruim. Tais pensamentos logo desapareceram da minha mente, quando os cães viram um senhor em seus 50 anos caminhando com seus animaizinhos de estimação. Tudo que pude pensar foi "agora já era". Os cães começaram a puxar as coleiras e Ren e eu dessa vez fizemos toda a força que podíamos pra segurar os animais. O senhor ficou paralisado com a situação e não respondia a nenhum dos nosso comandos pra que fosse embora ou em outra direção. Quando percebeu que estávamos prestes a perder o controle dos cães Ren gritou:

- Asami! Usa o Ki Nobori no Shugyō pra ganhar mais aderência ao chão!

Eu segui a sugestão. Logo transferi um pouco de chakra para os meus pés, na medida certa, como aprendemos na academia e os cães, de repente, pareceram perder a força. Mas latiam com tudo que tinham, e cada vez mais, vendo que estávamos sendo bem sucedidos em segurá-los. Os cães do senhor que estava paralisado começaram a revidar os latidos mas de repente ouvimos um assovio. Os cães da Ayame-san pararam imediatamente de latir e repuxar. Se sentaram e ficaram estáticos. Novamente ouvi os passos lentos e delicados.

- Mas o que é isso?!  - era a voz de Ayame-san, séria, mas fraca pela idade - Vocês não conseguem se comportar com esses dois rapazes que eu contratei pra levá-los pra passear? Vocês são MUITO mal educados. Já pra casa, todo mundo!

Nesse momento os cães imediatamente repuxaram as coleiras, Ren e eu estávamos completamente estupefatos com a situação e nem percebemos que os cães só... foram. Mas todos pareciam em paz com isso. Os cães foram direto em direção à sua casa, sem olhar para os sacos de lixo, gatos ou cães da rua. Eles foram pra casa, entraram e ficaram lá dentro. Mesmo com o portão aberto, eles sequer latiam.

- Rapazes, me desculpe, está bem? -  disse Ayame-san - eles estavam muito animados de irem passear sem mim. Animados até demais. Mil perdões pela displicência deles, tá bem?

- Nós é que...  - Ren tentou responder

- Não, me desculpem. Vão, podem ir, estão liberados.   - decretou Ayame-san.

Eu e Ren entregamos as coleiras a Ayame-san, desconcertados. A senhorinha sorria e acenava pra nós enquanto partíamos conversando entre nós.

- Eu vou ver se consigo dar um extra pra vocês, tá bem?! - a idosa falou o mais forte que podia - Me desculpem!  

Enquanto caminhávamos eu e meu colega ríamos do quanto éramos principiantes nessa história de ser ninja. Não tínhamos gasto 2 horas naquela confusão toda. Era algo em torno de 11h30 da manhã, então fomos conversando por alguns minutos, enquanto caminhávamos pela vila e decidimos almoçar juntos. Ren, apesar de falar demais, parecia um bom amigo.

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