Vaidades que a terra um dia há de comer

Como se tornou costume, Shüra passou a sair de casa logo ao nascer do sol, a cada momento sentia ânsia pelo novo e pelas surpresas que encontraria ao decorrer do dia, surpresas estas que não surgiriam se permanecesse perdido em devaneios dentro de sua residência. Partiu em busca novamente de uma missão, porém dessa vez não houve a necessidade de ir muito longe – aparentemente o QG estava acostumado com seu novo hábito de visita-los diariamente –. Um chunin foi encarregado de levar um informativo sobre uma nova missão para o garoto de cabelos prateados. Mais uma classificada como Rank D... Até quando vão ficar me fazendo realizar essas tarefas estúpidas?

A descrição da missão era clara e direta, e poupando seu tempo e de todos os envolvidos, correu rumo ao local designado como ponto de encontro com o solicitante da missão, um velho senhor que a qualquer momento poderia dar seu último suspiro. Não demorou e Shüra já se encontrava em frente a casa do idoso, este que se encontrava em sua cadeira de balanço postado embaixo de uma pequena cobertura ao lado de sua humilde residência. Bom dia, senhor. Vejo que está aproveitando este agradável dia, irei ser breve nessa interrupção. Vim realizar o serviço que solicitou ao QG, me chamo Shüra e estou ao seu dispor. O jovem se curvou em reverência ao senhor como um sinal de respeito. Que prazer, meu jovem. Minha companheira faleceu a poucos dias e pela graça dos deuses, estou indo me juntar a ela. Interrompeu a fala ao ter uma repentina crise de tosse, acompanhada por algumas gotas de sangue que mancharam o branco de um lenço que o velho usou para tampar a boca. Sinto muito por isso. Continuando. Temos uma espada, forjada pelo pai dela e nos dada no dia de nosso casamento, este é o símbolo de nossa união, gostaria que você enterrasse a espada ao lado do túmulo dela para anunciar onde quer que esteja que muito em breve nos veremos novamente. Poderia conceder esse último desejo para esse enfermo senhor? Shüra consentiu, recebeu a espada das mãos do idoso e se pôs em direção a seu próximo destino.

Vaidades que a terra um dia há de comer

A esposa do velho fora enterrada embaixo de uma árvore de cerejeira, muito incomum para o bioma natural de Sunagakure, no entanto havia uma única unidade dessa espécie localizada aos arredores da muralha, mais especificamente ao leste. Não era necessário caminhar muito para chegar, bastava pouco menos de duas dezenas de minuto.

Durante o trajeto, o garoto se perguntava sobre a real existência dessa árvore, nunca tinha visto uma cerejeira no vilarejo e duvidava um pouco da saúde mental do senhor em seu estado atual. No entanto sua dúvida foi sanada ao chegar no local e avistar uma árvore com cerca de sete metros de altura. É-É... ela é linda. Shüra jamais tinha visto algo como isso, ela era diferente de todas as outras que se podia encontrar na vila e isso o deixou deslumbrado.

O garoto desenrolou a espada do tecido que a envolvia e se ajoelhou próximo ao túmulo da falecida mulher, juntou as mãos e beijou a terra como demonstração de respeito pela vida. Cavou um buraco de aproximadamente dois palmos usando as próprias mãos e delicadamente, como se a espada fosse um recém-nascido, a colocou dentro e tornou a fechar a pequena fenda que havia aberto anteriormente. O que significa isso? Isto é amor? As indagações sobre as relações permeavam a cabeça do jovem nos últimos dias, jamais havia experimentado qualquer tipo de afeto e compaixão em sua vida.

Finalizado o trabalho, voltou para dar noticias ao senhor, que se encontrava agora dormindo em sua cadeira que estava anteriormente. Senhor, desculpa incomodar, mas o trabalho foi finalizado. Um estranho e desconfortável silêncio tomou conta da aura do ambiente, havia ali algo muito anormal. Senhor? Ainda sem resposta por parte do velho. Se aproximou e viu uma carta sendo segurada pelo homem em seu colo, deduziu que seria o informativo sobre a finalização da missão de Shüra e a colocou em seu bolso lateral. Tocou levemente no braço do homem e novamente chamou por ele, e a resposta ainda era o silêncio absoluto. Você... Será? Levou os dedos ao pulso do velho e aí se deu conta, estava morto. A única coisa que segurava sua alma a esse corpo doente era à vontade e desejo de enterrar a espada ao lado de sua amada? Fascinante! O jovem tomou o velho e o carregou em seus braços, rumo ao QG localizado no centro da cidade.