I'm the bad guy

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— Beni, duas porções de guioza de porco, por favor querido! — Marchava a mulher de cabelos rosados que recebia os pedidos no seu restaurante de varanda, enquanto alguns clientes estavam sentados no banco, outros até mesmo no chão com suas porções de guioza. Benimaru estava nos fundos do restaurante, ou melhor, estava na cozinha preparando os pratos que sua mãe havia recolhido os pedidos. A preparação do guioza já não era mais um desafio que o ruivo tinha em sua vida, aquilo havia se tornado algo cotidiano e bastante prazeroso, tentando sempre se superar na perfeição do preparo e na construção de sabores em seus temperos. A mãe de Benimaru reconhecia a maioria dos clientes, que tinham um costume de aparecer frequentemente para comprar os pratos, mas naquele dia um senhor diferente aparecia na porta e seu pedido era o mais atípico já havia recebido em todos os anos de portas abertas. O homem de aparência idosa se aproximava do balcão, repousando suas mãos franzinas sobre o mesmo e erguendo seu corpo para espiar o que tinha por cima. — Olá, meu senhor. No que posso ajudá-lo? — Perguntava a ruiva com toda a sua gentileza. O homem apenas sorria enquanto assistia por mais alguns segundos o Genin trabalhando aos fundos. — Meu nome é Raika, eu gostaria de conversar com aquele garoto ali... — O homem se apresentou como Raika, o antigo mestre de culinária e atual dono da loja mais bem reconhecida de ingredientes raros e caros. — R-Raika-sama?! Benimaru, venha aqui querido. — A mulher gaguejava ao saber quem era aquele senhor idoso. Benimaru surgia pela porta de metal, limpando suas maos levemente molhadas no avental branco com detalhes avermelhados. — Sim, mãe? —

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— Benimaru, onde estão seus modos? M-me desculpe Raika-sama. — A mulher discretamente agarrou seu filho pelo avental e puxou com toda força, quase o lançando contra o balcão. Benimaru se desestabilizava, acabando de receber uma bronca e por pouco não indo parar no hospital. Olhou para o idoso tentando reconhece-lo, mas aquele nome não trazia nada para suas memorias. O ruivo era péssimo em lembrar o nome das pessoas, mas com toda certeza já havia lido sobre o homem a sua frente. — Raika? Hahaha, é um prazer! Meu nome é Benimaru! — Com um sorriso carinhoso no rosto, estendia a mão para cumprimentar, mas era respondido apenas com um olhar preciso, frio, que observava sua mão. O homem então cedeu e o cumprimentou com um aperto leve de mão, deixando transpassar como seus músculos estavam fracos e que com um pouco de força poderia ter sua mão quebrada naquele aperto tão simples. — Ele é o dono da Cozinha de Ouro, filho.. — Sussurrava no ouvindo do garoto. — CO-COZINHA DE OURO?! M-ME PERDOE SENHOR! — Assustado, o ruivo retirava seu avental, deixando-o dobrado por cima de uma cadeira, pulando para fora do balcão e reverenciando o homem. Um gesto tão rápido que carregava o peso que todos os cozinheiros deveriam ter com Raika. — Ora, ora, deixe disso garoto. Pode se levantar, vamos. — Batia nos ombros do garoto enquanto o ajudava a retomar a postura ereta. — Você é o responsável por esse delicioso guioza, estou certo? Eu gostaria que viesse comigo até minha loja. Heh, a idade é mais forte que a pungência de uma pimenta, acredite em mim quando te digo isso. Um dos anciões quer que eu prepare um banquete com a carne do Atum dos Céus, mas... meu corte não é mais o mesmo a anos. — O peso da voz do mestre caia, era deprimente reconhecer suas limitações perante ao tempo. Mas ali estava uma luz que poderia salva-lo, que poderia manter e carregar consigo todos os ensinamentos que reuniu durante os anos, a luz avermelhada que carregaria sua vontade. — E-eu aceito, Raika-sama! Por favor, me ensine e eu não vou decepciona-lo no banquete! — Os punhos do garoto se fechavam e seus olhos se fixaram no homem a sua frente. Aquele era o olhar de alguém que não havia hesitado, o olhar avermelhado que queimava e ansiava por aquele momento.

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Aquele acontecimento marcava o início de um dia profundo para o ruivo, ele agora era o primeiro aluno que Raika iria ensinar, o primeiro a carregar os conhecimentos lendários daquele grande mestre. Ambos seguiam para a loja do Raika no Centro Comercial do vilarejo, onde muitas lojas estavam abertas. Mas a Cozinha de Ouro pertencia a uma região diferente das demais, onde o verdadeiro dinheiro corria e os artigos mais requintados e caros eram vendidos para aqueles que desejavam exibir suas riquezas e conquistar bens de grande valor. O portão daquela loja era dourado, com uma colher talhada em um lado do portão duplo, uma panela talhada do outro lado e no centro um chapéu de chefe. A Cozinha de Ouro era como um templo para os cozinheiros e entrar naquele local como um aluno era um privilegio único para Benimaru, que somente havia visitado o local como um curioso fascinado pelo mundo da gastronomia. Raika abria os portões de sua loja, que rangiam e brilhavam com a iluminação interna saindo para o exterior do prédio. A luz dentro do estabelecimento lembrava chamas acesas, iluminando de uma forma cintilante, criando sombras pelos instrumentos e utensílios culinários. — Essa panela... e-eu daria tudo por ela! — Sussurrava para si mesmo se aproximando de uma panela que estava em exposição, protegida por um denso vidro temperado. — Haha, tudo? Se os anciões aprovarem sua comida vou te dar ela como marca do nosso treinamento, Benimaru. — O mestre do ruivo acrescentava uma recompensa a mais para aquele desafio. Como se não bastasse o fato de ser treinado pelo mesmo, iria levar para casa uma das mais premiadas panelas que já havia ouvido falar. — Não tempos muito tempo, o jantar será servido ainda essa noite. Você tem pouco tempo para aprender os meus cortes! Venha. — Raika puxava seu aluno pelas mangas do quimono que ele usava, puxando para dentro da cozinha. Ali, o verdadeiro treinamento iria iniciar e Benimaru sequer imaginava que tipo de técnicas iria aprender com aquele mestre.

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A cozinha inteira da Cozinha de Ouro era o palco das maiores descobertas, das maiores criações da culinária local, um local sagrado para todos aqueles que gostariam de seguir a carreira da gastronomia. Raika puxava o garoto até o centro da cozinha, deixando-o reconhecer alguns equipamentos que só havia visto em livros, coisas que não possuía em sua cozinha por conta do alto valor atribuído a aquele tipo de utensilio. A maior ferramenta de um bom cozinheiro não é algo material. Muitos pensariam que a faca seria a maior aliada, ou até mesmo a panela, o fogo, mas a realidade era muito mais simples que do se imaginava fora dos pisos lisos da cozinha. — Benimaru, você deve saber muito bem que nossa maior dadiva é a precisão de nossas mãos. Sem isso não temos nada, não podemos fazer nada corretamente. Se não tomarmos todo o cuidado, estamos caminhando para longe da perfeição sem que possamos perceber. Com o tempo fui ficando mais fraco, minhas mãos tremem e mal posso cortar um fino filé do peixe. Por isso... vou deixar que utilize as minhas facas particulares, tenha cuidado. — Raika seguia para uma gaveta próximo da pia, retirando uma pequena maleta escura, com detalhes talhados a ouro que escreviam seu nome. Ao abri-la para o Genin, cinco facas diferentes, de tamanhos, cabos e funções especificas. Ainda que reconhecesse a fama local do jovem, algumas dúvidas pairavam na decisão do mestre e precisaria tirá-las o quanto antes para prosseguirem sem erros. Em sua geladeira, o mestre retirava uma peça de peixe previamente preparada para o treinamento, deixando em uma tabua branca de corte, entregando um avental para o genin utilizar. — Vamos, mostre-me um corte preciso. — O tom gentil que havia mostrado antes, se tornava algo mais rígido, ditador, o que fazia o ruivo não hesitar em se preparar para cortar. Utilizando a lamina de filetar dada pelo mestre, o ninja segurava um lado da peça com uma mão, enquanto a outra portava a faca e deslizava a mesma com toda a lamina sendo passada na região da barriga do peixe. — Pare... olhe bem o que você acabou de fazer. Olhe essas ranhuras na carne, onde está a perfeição do seu corte? Como os anciões vao comer essa carne mal cortada, Benimaru? — O olhar decepcionado do mestre dizia tudo. O peixe? Foi para o lixo e outra peça foi colocada na frente do Genin. Tentativa após tentativa, aquela era uma batalha contra suas próprias forças e o tempo também era seu inimigo. Uma bala de caramelo foi mordida para saciar suas necessidades e ao mesmo tempo trazer calmaria para o treinamento. Benimaru estava longe de aprender as técnicas de Raika, e parecia que não teria tempo o suficiente para honrar o privilegio que teve.

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— Desta vez cortou fino demais... agora foi muito grosso, pequeno, grande, ranhuras na pele, não, muito profundo o corte. — Tentativa, uma atrás da outra. Raika apontava todos os erros que impediam Benimaru de alcançar a perfeição do corte de suas laminas. A penúltima peça de peixe que poderia ser utilizada durante o treinamento estava na frente do Genin, mas dessa vez sua mão foi segurada pela força franzina do mestre Raika. — Lembre-se garoto. Não se trata apenas da nossa ferramenta, das nossas mãos, se trata principalmente do motivo que colocamos em cada movimento, se trata dos nossos sentimentos e do que queremos passar naquilo que oferecemos. A perfeição que buscamos está na junção da técnica do cozinheiro, dos sentimentos que colocamos ao cozinhar e principalmente nas ferramentas que utilizamos conosco. O cozinheiro perfeito precisa ter a técnica perfeita, os sentimentos perfeitos para a cozinha, e os instrumentos perfeitos para elevar o nível do que deseja servir. Você tem duas coisas, a ferramenta e a técnica... mas o motivo? Sua cabeça e seu coração precisa estar centrado no que você deseja. Vejo uma divisão dentro de você... consigo sentir essa fome que habita seu peito e ao mesmo tempo carrega consigo um dilema tão intenso. Tao jovem, mas com tantas responsabilidades em sua vida. Eu e você somos parecidos, Benimaru. Mas acredite, deve deixar de lado aquilo que está de prendendo. Por que desejar apenas ser um? Quando pode unir suas duas forças para se tornar a perfeição da técnica, do motivo e da ferramenta? Existem diversos caminhos para alcançar a perfeição. Vamos, tente mais uma vez. Mas lembre-se de quem você é. — Um discurso digno para um mestre. Raika sentia o dilema que Benimaru vivia. Metade ninja, metade cozinheiro, receptáculo de uma gula intensa. Raika-sama era um shinobi, um cozinheiro que nasceu da divisão destas duas carreiras, assim como Benimaru. Não conseguia responder seu mestre. Algo dentro de si borbulhava como agua fervente. — O velho está certo, Benimaru. Somos a união perfeita para a humanidade. Pela primeira vez deixarei que sua fome seja saciada... domine essa técnica antes que eu assuma o controle. — Enkai surgia, estava quieto o tempo todo. Sabia que Raika o observava, de alguma maneira havia sido detectado. A fome que habitava os sentimentos de Benimaru desaparecia e seus olhos ardiam com um avermelhado ainda mais profundo. Antes que pudesse continuar, devorava uma bala de caramelo que saciava seus vícios. A faca deslizava com leveza, com precisão, o corte era realizado... a perfeição se aproximava.

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Havia mais do que o necessário para que o garoto continuar. Sua fome por doce estava saciada, havia se libertado de algumas amarras e o Espirito da Gula o permitia continuar sem nenhum receio. Na faca, misturava técnicas de cozinha com a precisão aprendida na academia para o controle das laminas de arremesso, chegando a um nível de precisão do corte daquele peixe que nunca imaginou que poderia chegar. A lamina não tremia, não desviava nem um milímetro do que Benimaru desejava. Raika observava com atenção quando o seu aluno finalmente despertava todo o seu potencial, tinha firmeza nos punhos, precisão no corte, depositava os sentimentos corretos para executar a ação e não falhava em nenhum aspecto. Limpo, a fatia do peixe deslizava pelo lamina e repousava na tabua. — Chegou a hora garoto, siga tudo o que irei te falar. Agora iremos preparar todo o jantar dos anciões, nosso destino como cozinheiro, seu treinamento e sua missão dependem disso. — Raika colocava pressão sobre o ruivo de proposito, para fazê-lo trabalhar com tudo de si. Acostumado com o ritmo acelerado da cozinha, aquilo não parecia ser um problema. O passo a passo era ditado pelo mestre enquanto seu aluno executava tudo com perfeição, demonstrando como as horas de treinamentos, broncas e palavras de motivação entraram em sua mente. A receita estava pronta, um banquete preparado com o Atum dos Céus. Havia um preparado com sua barriga, a parte mais nobre e cheia de sabor, preparados com suas ovas, e até mesmo uma leve sopa com as aparas do corte. Acompanhados de Gohan e diversas outras receitas que ambos trabalhavam juntos para fazer. Os anciões chegavam na área de serviço particular da Cozinha de Ouro, e Raika os servia. — Isso está divino! É o esperado do grande Raika-sama! — Aplaudiam após provar da comida. Mas o mestre recusava os elogios. — Não, meu caros. Eu não cozinhei hoje. Tudo o que estao provando foi preparado por meu aprendiz, Benimaru. Um ninja cozinheiro. Benimaru, venha se apresentar! — Raika chamava seu aluno, que sem jeito saia da cozinha, fingindo não estar mordendo uma bala de caramelo. — Obrigado pelos elogios, senhores. Foi um prazer cozinhar para todos vocês. — Reverenciava os anciões em forma de respeito. A missão estava completa, Raika havia honrado sua fama como cozinheiro e agora Mestre. Benimaru havia ajudado seu professor e conquistado um nível de autoconfiança e reconhecimento que não esperava ter tão cedo. A missão, a aula, tudo corroborou para que a dúvida de ser ou não um shinobi sumisse. Benimaru é um shinobi, um cozinheiro, a fusão perfeita dos dois. O dia ainda não estava terminado, teria que limpar a cozinha e voltar para descansar. Aquele era o primeiro degrau dos ensinamentos de Raika.

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