— Então é você que vai me ajudar? — Disse o médico. Um homem alto, de aparência madura e uma feição muito, muito simpática.

— Sim, — respondeu Haru.

— É um prazer, Haru. Bom, eu preciso que busque mais dessas flores aqui pra mim. Elas nascem ao redor da vila. — Ele apontou para um vaso cheio de flores azuis que havia sobre a sua mesa, logo puxou uma e a ofereceu à garota. — Está vendo?

Dessa vez, Haru não respondeu com palavras, apenas fez que sim com a cabeça. Os pequeninos dedos pálidos seguraram a flor, trazendo-a para perto. Ela observou as pétalas e o caule, e sentiu o doce aroma refrescante que era exalado.

— Infelizmente não poderei acompanhar. Tenho muitos pacientes para cuidar aqui no hospital, — ele comentou. — Então, posso contar com você?

O médico pegou uma cesta de palha e a colocou sobre a mesa.

— Sim, — de novo, respondeu Haru, em seguida apanhando a cesta e se levantando para sair.

— Tome cuidado com essa cobra, garotinha, — advertiu o médico junto a uma curta risada.

Haru parou diante da porta. Os olhos fitavam a maçaneta do escritório. A serpente ergueu a cabeça e lançou seus olhos amarelados para o médico.

— Shiro não é venenoso, — disse Haru sem olhar para trás, segundos antes de girar a maçaneta e sair.

Considerações:

Haru seguiu até as margens da vila, chegando às extremidades dos muros. Os olhos violeta permaneceram atentos durante todo o trajeto.

Colado aos muros havia um vasto jardim, um leito azul de flores. Eram pequenas e delicadas, e balançavam com a brisa que batia no muro. A paisagem encheu a vista de Haru, obrigando uma pausa para admirá-la.

A mão pálida da garota pairou sobre uma das flores. Os dedos esguios sentiam a maciez das pétalas miúdas, em um toque leve e gracioso.

O silvo da serpente também entrou em contemplação, estava aquietado, sibilando no ritmo em que as flores dobravam-se ao vento.

— Como pode flores tão belas viverem sob a névoa tão impiedosa? — Questinou Haru, observando a beleza azulada que refletia no seu olhar.

A garota respirou fundo, trazendo para si o aroma fresco das incontáveis flores. Contudo, o pólen picante lhe deu vontade de espirrar. Um breve atchim quebrou o clima solene.

— Vamos colher algumas, Shiro, — disse Haru, coçando o narizinho avermelhado. — Perdoe-me por isso, mas é necessário, — desculpou-se não com a serpente, mas com a própria natureza.

Haru sentiu um aperto no coração enquanto colhia alguns ramos. Foi dó de tirar a vida de algo tão belo. Ela encheu a cesta, tentando se conformar com o pensamento de que aquilo serviria para salvar vidas. Felizmente, ainda havia restado vários exemplares sobre a terra. Então guardou as flores azuis na memória.

Com passos apressados, ela voltou ao hospital, onde se encontraria com o médico para entregar a cesta cheia de flores.

Considerações: