De todas as missões que Haru fez até agora, esta certamente foi a que mais afagou seu coraçãozinho distante.

Passos de sandália levaram a garota pelos frios corredores da Névoa. Como de costume, ela contava com a proteção de sua capa branca a fim de amenizar o impacto do clima tão inclemente. Dessa vez, no entanto, Shiro não estava enrolado por volta do pescoço; estava em volta do fino braço de Haru. Felizmente, a cobra albina era pequena e leve.

— Acho que é aqui, — disse Haru, parando à frente de uma casa.

Um toque do dedo pálido e o soar da campainha quebrou o silêncio. Shiro rastejou para debaixo do manto de Haru, a fim de não causar uma má impressão a quem fosse atender. Alguns segundo se passaram e a porta foi aberta. Um senhor velhinho, típico de histórias de contos de fadas, apareceu, coçando a barba branca enquanto encarava a pequena menina.

— Olá, garotinha, em que posso ajudar? — Disse o senhor. A voz era rouca e grave, porém falhava.

— Vim para cumprir a missão, — respondeu Haru, erguendo o pergaminho da missão.

— Oh, que maravilha! — Completou ele, entusiasmado. — Vamos, entre.

O senhor terminou de abrir a porta e se retirou do caminho, apresentando a passagem para Haru. Ela então ofereceu um doce sorriso em troca de toda aquela simpatia, abaixando a cabeça em sinal de respeito antes de adentrar a casa.

Considerações:

Haru observou o interior da casa. Era simples, porém muito, muito aconchegante. Os móveis de época, velhos, mas bem preservados. Havia muitos objetos de decoração e, principalmente, fotografias emolduradas nas paredes e porta-retratos sobre as estantes.

— Diga-me, qual o seu nome? — Perguntou o senhor.

— Haru, — respondeu ela.

— Que belo nome! É tão jovem, tão pequena, tão frágil... — Comentava ele, caminhando a passos lentos até a escada. — Você desperta o sentimento de querer protegê-la, como a minha esposa. Seus olhos me lembram os dela... Enfim, espere um momento, tudo bem?

Um breve acenar com a cabeça foi a resposta da garota. Ela então aguardou o senhor, enquanto ele subia as escadas.

Alguns minutos se passaram, enquanto os olhos violeta de Haru observavam, curiosos, as belas fotografias. A maioria eram fotos de um casal, provavelmente o senhor e sua esposa quando mais jovens. E, apesar delas não terem cor, a menina observou que havia uma similaridade entre o seu olhar e o daquela mulher. Uma similaridade que despertou certa vergonha e corou as bochechinhas pálidas de seu rosto.

— Voltei, Haru, peço perdão pela demora, — disse o senhor, descendo as escadas. Ele carregava um embrulho. — Esta aqui era a espada de minha esposa. Peço que a enterre frente a cerejeira onde tivemos nosso primeiro encontro. Um símbolo da nossa relação.

— Está bem. Onde fica essa cerejeira? — Perguntou ela, recebendo o embrulho.

— Siga ao sul dos portões. Você achará um penhasco pequeno, e ela estará lá. É a única que sobreviveu ao clima hostil da Névoa.

Outra vez, Haru fez que sim com a cabeça e já foi se retirando.

— Obrigado, Haru, — Disse ele, abrindo a porta para a pequena.

Mais um sorriso doce da menina foi oferecido ao senhor. Então, sem mais delongas, ela se retirou. Usou do seu chakra para energizar o corpo, saltando para os telhados e indo o mais rápido possível para a direção indicada: o sul dos portões.


Algum tempo depois, Haru encontrou a cerejeira. Era realmente a única do local, impressionantemente bela e pomposa. As pétalas enchiam a vista dos olhos violeta. Mal poderia acreditar naquela árvore em pleno frio. Shiro escorregou pelo colarinho, silvando alegremente perante a cerejeira.

— Bom, é aqui, — disse Haru, aproximando-se das raízes da árvore.

Ela repousou o embrulho ao lado, sobre a grama, e com sua katana começou a cavar. Minutos se passaram naquele trabalho braçal que, nitidamente, não era o feitio da garotinha. Mas, enfim, ela conseguiu retirar terra o suficiente para depositar o embrulho. Com cuidado, ela o deixou descansar debaixo da cerejeira.

Considerações: