As noites de sono de Shüra foram atormentadas pela sua intrínseca curiosidade, ele tinha a gana de desvendar os mistérios que rondavam os túneis e as possibilidades de uso do mesmo, além de claro querer descobrir o que exatamente teria ocorrido com Hector, já que em sua missão anterior o mesmo teve seus olhos retirados, boca costurada e ouvidos estourados, porém uma máscara fora posta em seu rosto e então o soltaram dentro daquele lugar. Se já não bastasse os mistérios envolvendo as missões dadas por Robin, o rapaz agora teria que buscar desvendar esta situação mais recente.

A transição para o dia foi feita, o sol então distribuía seus primeiros raios de luz que gradativamente passavam a iluminar o deserto e consequentemente Suna. De tal forma, o pequeno e simplório quarto que Shüra repousava fora invadido pela luz, porém o mesmo já estava completamente acordado, afinal passou a noite em claro já que sua mente não o deixou repousar.

A mulher de meia idade que era responsável pela vigia de Shüra e também por seu treinamento bateu suavemente na porta do cômodo, esperando a autorização do rapaz para que pudesse entrar. Entre. Ela então se conteve em apenas abrir a mesma e se manter ali, com somente metade de seu corpo para dentro. Você tem visita. Ela suspirou, dando a entender que estava desapontada. O que foi, sensei? O que te aflige? Ela então adentrou completamente o quarto e então se sentou ao lado de Shüra na cama. Carmila não é uma boa companhia, Shüra. Ela é uma mulher egocêntrica e que faz tudo para seu próprio bem… Quando se envolveu com ela? O rapaz sentia firmeza na voz e nas palavras de Unohana, entretanto ele já havia tido essa impressão sobre a mulher em questão, porém isso não lhe importava neste exato momento. Sabia que não poderia explicar exatamente como foi seu primeiro encontro com a bela mulher de cabelos prateados como os seus, por isso era mais que óbvio que deveria se esquivar. Então eu e ela somos mais parecidos do que eu pensava. A conheci por acaso em um dia qualquer, nada de importante. Irei vê-la, temos uma missão provavelmente. Ele se levantou e saiu da cama, deixando sua mestra sentada sozinha, porém antes que ela o pudesse o perder de vista, ela fez o coração de Shüra congelar por um momento ao ouvir suas últimas palavras. Ela é a irmã mais velha de Lenore. Carmila já a fez sofrer muito. Pense bem no que irá fazer.

Shüra estava frente a frente com a sua mais nova “amiga”, porém agora se sentia extremamente culpado e sujo. Ele não só estava cooperando com a misteriosa irmã má de Lenore, como também a beijou uma ou duas vezes, traindo totalmente a confiança da moça pela qual está apaixonado. Isso não importa, Lenore não fala comigo a semanas, ela sequer se importa se volto vivo ou morto de minhas missões. Apagando esses pensamentos de sua mente, o rapaz então questionou a presença de Carmila. Bom dia para você, meu amor. Por cima do ombro e Shüra, a mulher pôde avisar Unohana os observando de longe e por conta disso envolveu o pescoço de Shüra entre seus delicados braços e o beijou romanticamente, fazendo com que a vigia do Shinigami se enfureceu internamente, indo de volta ao seu quarto. Mal sabiam os três que Lenore observava tudo pela fresta de uma janela no andar de cima, sabendo assim do envolvimento de Shüra e Carmila. Shinigami, nos mandaram investigar os túneis, precisamos partir logo antes que isso se torne um problema maior. O tokujo consentiu e então ambos partiram lado a lado.

Lado a lado, Carmila e Shüra pararam próximo a uma pequena praça próxima ao centro da vila, onde o Shinigami estendeu as duas plantas recolhidas na missão anterior e então ele fez uma pequena apresentação e explicação sobre. Após alguns minutos de estudo e discussões, ambos então estavam com todos os aspectos da missão acertados, dessa maneira decidiram então a ir até a academia ninja, o local onde Shüra havia encontrado um dos acessos para o nível subterrâneo.

Apesar de tudo realizaram uma caminhada tranquila até o local, sem levar muitas suspeitas salvo que ambos estavam um na companhia do outro, um caso relativamente raro levando em consideração a fama e a idade de Carmila em relação a do Shinigami. Os olhos de todos te perseguem, Shüra. Você tem um diferencial que atrai a todos. Ele gargalhou de maneira graciosa ao ouvir as palavras de sua companheira. Sim, o meu diferencial aqui é você. Está mais que óbvio o que as pessoas pensam de nós. Curiosa com o que o rapaz havia dito, ela então levou uma de suas mãos as prateadas mechas encaracoladas do tokujo, indagando em seguida sobre o que exatamente os outros pensam deles. Em resposta ele apenas sorriu. Não importa. Chegamos até o local, a entrada fica nos fundos do terreno do edifício. Carmila pôde sentir a esquiva e negação por parte do garoto, algo que ela enxergava como uma vantagem em seus planos para com ele.

Seguindo sua memória fresca da missão não oficial realizada no dia anterior, Shüra encontrou facilmente a grande rocha que cobria o buraco da entrada e então a moveu para o lado com facilidade, revelando assim a escada de acesso. Primeiro as damas. Ele estendeu sua mão e Carmila aceitou o cortejo do rapaz, apoiando suavemente uma de suas mãos na do tokujo e então descendo as escadas com certa dificuldade por conta do vestido. Poucos segundos após Shüra iniciou sua descida, movendo a pedra de volta ao lugar original e assim escondendo a entrada. A mulher e o jovem pegaram cada um respectivamente uma tocha que traziam consigo, com a ponta banhada em gordura como combustível eles as acenderam. É hora de procurarmos respostas.

A escuridão original do local fora completamente substituída pela luz das chamas a partir do ponto focal das tochas. Conforme andavam pelos túneis, era possível encontrar algumas outras tochas apagadas penduradas pelas paredes, de tal forma eles passaram a acendê-las conforme sua caminhada.

Decididos a permanecerem juntos durante toda a investigação do local, bastava a Shüra e Carmila confiarem cegamente um no outro e torcerem para que respostas fossem descobertas. Tomando a frente, o Shinigami buscava manter algum tipo de liderança entre ambos. A mulher o observava durante o tempo todo, parecia não estar muito ligada nas buscas e sim em como o rapaz agia e pensava, sempre buscando questionar algo simplesmente para ver qual era a maneira de raciocínio do garoto. Você faz muitas perguntas, Carmila. Apesar de gostar de conversar com sua companheira, Shüra buscava se manter alerta a tudo ao redor, seu foco aqui era totalmente em descobrir algo que fosse útil.

Ambos não tinham exatamente certeza do que estavam procurando, sabiam que deviam estar ali atrás de algo, mas o que era esse algo ainda não tinham a resposta. Após alguns minutos caminhando reto e virando algumas vezes que achavam que deveria virar, eles pararam frente a um portal de rochas que dava acesso a um corredor curto completamente sem iluminação que em cerca de cinco metros realizava uma curva de ângulo reto para a direita, sendo impossível saber onde o mesmo daria se não entrando ali. O tokujo ainda na frente cruzou o portal que quase instantâneamente se selou com algum tipo de fuinjutsu, impedindo que Shüra voltasse e que Carmila avançasse por ele. Os túneis possuíam algum sistema de defesa e isso certamente dificultaria as buscas. Irei seguir em frente, caso eu não retorne em aproximadamente em três horas horas, tente sair novamente à superfície. Ela aceitou a proposta do belo rapaz e se pôs a esperar. O Shinigami Branco levou um de seus cigarros aos lábios e então o tragou, seguindo em frente e entrando na curva do corredor.

O desconhecido estava logo à frente e Shüra sabia que não era possível retornar, necessitava ir até o fim disto. Ao realizar a curva ao fim do corredor por onde veio, o rapaz foi capaz de ver que agora o infinito corredor finalmente havia chegado ao seu fim, dando acesso a uma área grande parecida com a de uma caverna de proporções enormes. Ao contrário do local anterior, esse era muito bem iluminado por tochas já acesas anteriormente. No centro da “dungeon” havia uma espécie de grande parede com alguns símbolos e marcações jamais vistas pelo rapaz, parecia até mesmo estar escrito em um idioma distinto. O único caminho possível para Shüra era seguir por uma escadaria em espiral gigantesca que tinha como ponto final a grande parede do centro, não havia saída desta grande sala se não pelo ponto onde havia entrado.

Sem opções, o ninja de Sunagakure desceu degrau por degrau cuidadosamente, estava em um local desconhecido e sabia que não devia cometer erros ou ser inconsequente, afinal não tinha noção nenhuma sobre possíveis riscos que o local poderia apresentar para ele.

Ao fim das escadarias, o Shinigami passou a escutar algumas vozes e sussurros que aumentavam gradativamente conforme se aproximava da grande parede de aproximadamente vinte metros de altura. Os barulhos se misturavam e era impossível identificar o que cada uma realmente significa. Porém o que chamou a atenção do rapaz foram os símbolos e letras começarem a brilharem fortemente enquanto a distância entre Shüra e a grande massa diminuia. Com medo, o rapaz levou uma de suas mãos até a parede e a encostou contra a mesma. Por consequência de tal ato, o rapaz passou a absorver um chakra totalmente desconhecido e então tudo à sua volta desapareceu e logo em seguida ele desmaiou.

Após alguns segundos Shüra retomou sua consciência, mas era como se tivesse em um grande vazio negro infinito. Onde estou? O Shinigami olhava para todos os lados, mas nada via. Subitamente uma silhueta totalmente branca e brilhante - parecendo ser feito de pura luz - apareceu no horizonte, se aproximando cada vez mais do rapaz. Quem é você? Onde estou? Nenhuma resposta foi recebida a suas indagações, o que fez com que o rapaz se assustasse por alguns instantes. A sinistra pessoa brilhante parou a poucos centímetros do belo jovem e então apoiou ambas as mãos na cabeça do tokujo. Me chamo Hector, se está vendo isso significa que me acharam e me mataram, por tanto selei parte do meu chakra e memórias aqui embaixo. Preciso que pare o que está por vir. Shüra sentiu um choque leve em seu cérebro e logo perdeu a consciência novamente, entretanto agora a recuperou quase instantaneamente, mas era como se houvesse se tornado outra pessoa.

Basicamente o sunense estava vendo as memórias de Hector pela visão deste, uma técnica do falecido onde ele armazenava parte de sua consciência, chakra e memórias em algo e assim podia as transmitir para alguém.

Hector estava em uma sala isolada dentro do gabinete, conversava com dois conselheiros da Kazekage sentados à sua frente em uma mesa redonda. A sala era completamente escura e estava mais do que óbvio que aquilo se tratava de uma reunião secreta entre os três. Estamos sob pressão deles, precisamos decidir o que fazer quanto aquele assunto. O outro ancião aparentava estar apreensivo sobre esse assunto em questão. Nós não podemos fazer isso, é impossível! Pense nas consequências. Hector observava sem falar nada, porém o assunto o incomodava igualmente, suas mãos tremiam e seu coração palpitava fortemente. Consequências? Você sabia delas desde o primeiro momento que decidiu fazer parte disso. Querem desistir a essa altura? O primeiro olhou para Hector e seu companheiro, como desde o primeiro momento o mais novo se manteve quieto, porém o segundo conselheiro insistiu em seus questionamentos. Não podemos confiar nele, você sabe disto! Vamos reportar a Kazekage e acabar com tudo isso, se insistir em continuar nisso eu terei que denunciar você. Não falarei mais deste assunto. Esse segundo então levantou-se e se dirigiu até a porta, entretanto uma quarta pessoa escondida nas sombras se levantou e gradativamente se revelou. Se tratava de um homem grande de pele morena e cabelos negros compridos, vestimentas parecida com uma de caça e extremamente atlético. Ele se pôs a frente da porta, impedindo que o conselheiro continuasse seu caminho. Antes que o velho pudesse questionar, o mesmo realizou um rápido e forte golpe com a parte de trás da mão, estourando assim a cabeça do velho como se o mesmo fosse um inseto qualquer. Não disse nenhuma palavra e então voltou a se esconder nas sombras. Hector, espero que possamos contar com você. Temos que dar continuidade na melhora da estrutura dos túneis para que Zaraki possa ter acesso facilmente. Hector afirmou, porém havia ficado evidente que não concordava com nada daquilo. Ele tentou olhar na direção do homem, mas a única coisa que conseguiu ver foram os olhos em meio a escuridão. A visão se escureceu.

Shüra então despertou de sua perda de consciência com Carmila segurando-o em seus braços, seus olhos se encontraram e Shüra sentiu-se seguro pela primeira vez na presença da mulher. Que bom que acordou, por um momento achei que estivesse morto. Aos poucos - e com auxílio da mulher - o Shinigami se levantou e então se manteve sentado, se recuperando aos poucos. Quando olhou ao redor, viu que estava em uma sala pequena de cerca de uma área de cinco metros, as grandes escadarias e também a parede colossal havia sumido. Ele se deu conta que tudo aquilo se tratava de uma ilusão, havia provavelmente entrado em um genjutsu de Hector que o gatilho fora atravessar o portal anterior, dessa maneira teve as visões deixadas pelo homem. Uma maneira de redenção, Hector? Respeito isso.

O belo jovem então contou à sua parceira o que viu por meio das memórias do traidor, tentando lembrar de cada detalhe que havia visto. Então Zaraki está envolvido com isso… O homem que estava nas sombras provavelmente era Uvogin, um dos soldados em que Kenpachi mais confia. Ele tem uma força sobre humana, certamente será um grande problema se toparmos com ele. Ela parou por um instante enquanto pensava. Pelas descrições do velho, se trata do ancião que nos mandou nesta missão, este velho decrépito está planejando o que? Vá descansar, em três dias iremos atrás dele. Esteja preparado.