Mais um dia, mais um trabalho em minha conturbada vida de Genin. Qual o trabalho da vez, você pergunta? Bom, aparentemente a equipe de corrida da vila estava sem seu ajudante nesse dia e precisaram requisitar, por mais surreal que isso soe, um ninja para cobrir o buraco.

(Sério, isso deve ser uma piada…)

(Não faz absolutamente nenhum sentido que eu seja convocado pra esse tipo de trabalho…)

(Esse lance de ninja tá me deixando triste, cadê toda a ação e perigo?...)

Já estava na minha caminhada até o ginásio enquanto pensava sobre isso, de modo que não muito depois eu já me encontrava de frente para o local. Era surpreendentemente grande, fiquei surpreso de nunca ter me deparado com aquele prédio antes, mas era compreensível, aquela era uma área da cidade que eu ainda não havia explorado o suficiente.

(Bom… Hora da labuta.)

Caminhei então até a entrada e abri a porta lentamente, deparando-me com um ginásio surpreendentemente bem cuidado e uma grande área para a plateia se acomodar, alguns dos lugares estavam ocupados, não por torcedores, mas por alguns atletas que pareciam já terem sido liberados de seus treinos.

No centro da quadra vários garotos se posicionavam em volta de um homem já adulto, portando também roupas de atleta, somente muito mais charmosas do que a dos garotos.

(esse olhar convencido, essa postura de superioridade… Esse deve ser o treinador do time. Acho que é com ele que eu preciso falar.)

caminhei então até o agrupamento de pessoas no centro da quadra e parei ao lado deles, aparentemente o treinador estava discursando sobre algo.

É por isso que essa disputa vai ser tão importante. Não podemos deixar a vitória escapar por nada, então, vamos treinar ainda mais pesado essa semana… Hm?

O homem me notou parado ao lado e enfim se dirigiu a mim:

Ah, eu não te vi aí. Você deve ser o ninja que enviaram pra substituir o Kakemurui.

O homem tinha um carisma impressionante, seu tom de voz, o sorriso confiante em seu rosto, e toda sua linguagem corporal em geral exalavam a sensação de que aquele era um homem na qual se deveria depender. Claro que isso não significava nada para mim, mas ainda assim, era algo difícil de não se notar.

Você vai ter que suar bastante, provavelmente. Hahaha! Desculpe por isso, mas por favor, coloque algo mais confortável, as roupas do Kakemurui estão no armário 15B lá no vestiário. Está destrancado então não se preocupe.

Sim, senhor. Com licença….

Então, me virei e me dirigi aos vestiários.

Uma pequena escadaria me levou a um andar no subsolo onde dois corredores dividiam o ambiente entre os vestiários masculino e feminino.Obviamente, entrei no vestiário masculino e procurei pelo armário 15B.

O ambiente era dividido em várias fileiras de armários, e o armário onde estavam as roupas ficavam na última fileira à esquerda.

(Certo, é esse daqui, espero que elas combinem comigo, talvez eu até leve elas pra casa haha!)

Mas então, antes que eu de fato abrisse o armário, uma agitação repentina no vestiário me chamou a atenção. Da fileira onde estava não tinha visão para a porta, mas parecia que várias pessoas haviam entrado no local. Uma delas estava muito brava, e o restante tentava acalmá-la.

Isso é completamente fudido, cara! Vocês viram o que ele fez com o Takaya?! Eu não vou deixar isso assim!

Ryuji-San, por favor… Você sabe o que pode acontecer se fizer alguma coisa com ele!

Me solta! o que vocês são? Covardes?

Vão deixar ele tratar todo mundo como quer só por causa dos títulos dele?

Não é isso, mas nós dependemos dele, temos que pensar no time!

O Takaya faz parte do time PORRA! Sai da minha frente!

Ryuji, não!

A agitação se tornou ainda mais intensa, pelos sons, parecia que uns aos outros se empurravam e alguns grunhidos de esforço escapavam dos participantes daquela bagunça. Se eu tivesse que adivinhar, diria que estavam tentando segurar esse tal de Ryuji.

O som foi se tornando mais e mais distante até que os estudantes pareciam ter deixado o vestiário e o subsolo.

(Isso foi interessante, o tipo de coisa que eu amaria meter meu nariz… O que será que estava acontecendo aqui?)

(Melhor eu me apressar e me vestir pra descobrir mais.)

Tratavam-se de uma regata cinza e uma calça de ginástica vermelha, ambos eram um pouco grandes pra mim, mas ao invés de perder muito tempo me lamentando pela falta de estilo com que teria que conviver, me apressei até o andar superior novamente.

Quando cheguei lá, me deparei com um clima completamente diferente do que quando havia chegado, todos estavam com uma feição preocupada e muitos perambulavam de um lado para o outro. No geral, os sussurros ecoavam pela quadra. No centro disso tudo, o treinador do time estava com a mão no rosto, visivelmente atordoado, uma grande marca vermelha também estava presente em sua face.

(O que diabos aconteceu nesse meio tempo que fui embora?)

Me aproximei do treinador, me esgueirando por entre a pequena multidão que havia se formado a sua volta e perguntei:

Com licença, senhor… Estou pronto, posso ajudar?

O treinador virou o olhar bruscamente em minha direção. Na sua face pude ver a mais intensa ira, poderia jurar que ele estava prestes a gritar comigo como se não houvesse amanhã. Contudo, ele parecia ter achado que era outra pessoa, pois uma vez que seu olhar repousou sobre mim, ele rapidamente retomou sua postura e tentou falar o mais educadamente possível, apesar de ainda estar visivelmente irritado.

Ah sim, você… Tem um jeito perfeito de você me ajudar. Preciso que volte no vestiário e abra o armário 72E. Aqui está a chave.

O treinador tirou do bolso uma pequena chave prateada e a entregou na minha mão.

Preciso que pegue absolutamente tudo que está lá dentro e jogue na lixeira nos fundos. Não precisamos mais daquilo.

Aquilo era estranho, nos armários deveriam ficar os pertences pessoais dos atletas, mas não fui contratado para pensar, somente faria o que ele me dissera pra fazer e esperaria encontrar com aquele grupo novamente, adoraria encontrar uma bagunça.

Me dirigi mais uma vez até o vestiário pensando comigo mesmo:

(As coisas não estavam assim quando desci, será que aquelas pessoas do vestiário tem algo a ver com isso? )

Quando cheguei no vestiário, me dirigi até o armário indicado. Ele parecia diferente de todos os outros, não que sua estrutura fosse especial, mas enquanto todos eram perfeitamente limpos, esse possuía a pintura de uma caveira estampada em sua superfície.

(Hehe… O dono desse armário tem bom gosto, não é que nem esses outros idiotas que não se preocupam em ser diferentes…)

Abri o armário com a chave e comecei a esvaziar seu conteúdo.

(Só é uma pena que eu esteja me livrando das coisas desse cara.)

Quando já tinha pego tudo, subi mais uma vez e cruzei o ginásio em direção a porta dos fundos. O treinador me deu uma olhada rápida, e por um segundo pareceu dar um sorriso para a minha imagem se livrando daquelas coisas.

Quando abri a porta, deparei-me com um beco cheio de lixeiras e entulho, destoando completamente do ambiente limpo e arrumado em que me encontrava antes.

Uma grande lixeira se encontrava a apenas alguns metros para a direita, era bem grande então provavelmente era a essa que o treinador se referia.

Chegando nela, a abri com um pouco de dificuldade, pois segurava os pertences do atleta com as duas mãos e não era tão forte assim. Agora, equilibrando todos na mão esquerda, estava pronto para despeja-los de uma vez.

(Bom… Até mais…)

Espera!

Ouvi uma voz familiar dizer um pouco mais na frente do beco.

Espera!… Não joga isso fora.

Meu braço parou a meio caminho de arremessar um par de tênis na lixeira e meu olhar se voltou para a direção da voz. Sentando em posição fetal, um pouco mais a frente no beco estava um garoto, parecia ter mais ou menos minha idade, mas seu estilo era completamente diferente do meu.

Ele usava roupas extravagantes, seu cabelo era loiro artificial e sua postura quando se levantou era a mais despreocupada possível. Tudo nele gritava “Punk”, algo que me chamou a atenção positivamente em um primeiro momento.

Pois não?

O garoto veio andando até mim apressadamente e quando chegou perto o suficiente tirou o par de chuteiras da minha mão. Apesar de sua postura despreocupada, seu olhar revelava um gigantesco pesar ao olhar para aquele calçado.

Ele… Ele mandou você jogar minhas coisas fora né? Haha… Aquele desgraçado… Bom…

A voz do garoto assumiu um tom choroso.

*sob* Acho que faz sentido no fim das contas…

Pela primeira vez notei que havia algo naquelas chuteira. Elas estavam repletas de rabiscos… Não… Eram autógrafos.

(“Mikami”, “Naoto”, “Kisashi”, “Takaya”... )

Esse último nome me chamou a atenção e enfim me fez relembrar de onde eu havia escutado aquela voz: Esse era o garoto que entrou furioso no vestiário aquela hora.

(O que será que aconteceu aqui?)

O garoto limpou do rosto algumas lágrimas que se formavam e falou com o olhar agressivo.

Eu não tava chorando. Entendeu? Você não viu nada, mané!

Dei um passo para trás e disse:

Tudo bem, eu não estava te julgando.

Hm? Ei, qual é a dessa atitude? Assim parece que você tá com pena de mim.

De todo jeito, eu não preciso disso, tá bom?

Ai meu deus, o que eu tô fazendo? Tô discutindo com um cara que eu nem conheço, acho que realmente cheguei no fundo do poço.

(Fundo do poço? Acho que eu entendo uma coisa ou duas sobre isso.)

O que aconteceu?

Hm? Ah qualé, cara. Você não vai querer saber disso.

Não o respondi, somente continuei o encarando, esperando por uma resposta. Uma vez que percebeu, ele continuou.

Entendi… Você realmente quer saber? Bom, aquele babaca que tá lá dentro é o nosso treinador, o Kamoshida.

Ele é tipo, um grande nome da corrida, por isso todo mundo idolatra ele como um Deus e nunca questiona o que ele faz.

Mas não é só isso, ele trata os alunos dele como escravos! E com isso eu quero dizer que ele força as pessoas a fazer coisas que não querem e até pune eles fisicamente…

Ele humilha as pessoas e isso já tava me deixando puto… Mas hoje ele estava ainda pior que o normal e realmente machucou esse meu amigo, o Takaya.

Eu fiquei TÃO PUTO!!! Eu não consegui só ignorar dessa vez…

Droga, eu acabei dando um soco na cara daquele desgraçado com tudo que eu tinha…

“Um soco na cara de um renomado esportista”? Eu simplesmente amei escutar aquilo, tanto que não pude segurar uma pequena risada de escapar de mim.

Você tá achando engraçado, né? Bom, não vou mentir, foi bem satisfatório na hora, mas…

Como eu disse, ele é um esportista bem conceituado…

Agora não só eu fui expulso do time, ele também prometeu que vai sujar meu nome no mundo da corrida… Meu futuro… E meus sonhos… Acabaram…

Não vou mentir que até agora eu estava achando aquela história bastante divertida, mas ao ouvir a última frase daquele garoto… Foi como se um raio me atingisse do nada, um calafrio percorreu todo meu corpo e eu senti algo que não sentia a muito tempo, algo de fato havia tocado meu coração.

Talvez isso fosse pelo fato de que, na situação em que ele se encontrava, ele era como eu. Seu futuro fora roubado, tudo aquilo que deveria ser seu por direito havia acabado de ser tirado por pessoas que tinham mais poder do que ele. Mais uma vítima do sistema. Eu já não ria mais, mas sentia a mesma sensação em que senti quando Hanzo invadiu minha casa e me convidou a mudar de vida, meu espírito rebelde despertou por completo depois de tanto tempo.

Não só isso… Ele fez o mesmo com as pessoas que estavam junto comigo. Eu me joguei numa pilha de merda e arrastei todo mundo que contava comigo junto.

Acho que no fim eu mereço isso, né? Todos os nomes nesses tênis… Marcam as pessoas que eu decepcionei. Não sou digno de usa-los.

E então ele os arremessou enfim dentro da lixeira.

Bom, acabei falando mais do que eu deveria. Boa sorte aí, maninho.

E então o garoto loiro se virou e começou a andar para longe de mim. Eu permaneci quieto por alguns segundos, não pensando, mas contemplando a imagem daquele jovem cuja vida havia sido roubada, cujo espírito rebelde eu podia sentir queimando dentro de si.

Qual o seu nome?

O garoto parou e virou o rosto em minha direção.

Hm? Meu nome é Ryuji… Ryuji Ken…

(Ryuji Ken, Hm? Parabéns Ryuji, você conseguiu roubar minha atenção, vamos ver se eu estava certo sobre você.)

Ryuji-kun, gostaria de… ensinar ao Kamoshida uma lição?

Ensinar uma lição? Como assim?

Eu estou aqui como um shinobi da vila da nuvem, meu dever é ajudar ele na ausência do seu assistente.

Mas se esse cara realmente está abusando fisicamente dos alunos, eu tenho certeza que seria de interesse do povo descreditar ele.

Wow! Então você tá falando de causar um escândalo? Isso iria tipo… Acabar com a carreira dele ou coisa assim…

Sim, bom… Eu entendo se você referir deix-

Pode contar comigo!

Aquilo foi uma surpresa bastante agradável para mim.

(Ryuji-kun, você com certeza não me desapontou.)

E então? Qual vai ser o plano?

Bom, eu tenho uma ideia, só um segundo. Tem caneta e papel aí?

Deve ter no meio das minhas coisas que você pegou.

Vasculhei os pertences de Ryuji até encontrar um pedaço de papel e caneta e escrevi a seguinte mensagem:

“ Meu nome é Chinoike Chouki, Genin da  vila. Recebi a missão de ajudar o treinador da equipe de corrida no ginásio da região sul. Chegando aqui, recebi uma denúncia de que o treinador, Kamoshida, abusa fisicamente de seus alunos, precisamos que tragam um shinobi até aqui disfarçado como membro da equipe. Se vierem para o treino, pegarão o treinador em flagrante cometendo tais atos. Por favor, venham logo ou perderemos essa oportunidade.“

Então, concentrando meu chakra nos pés, escalei o prédio e uma vez que estava lá em cima, esperei que alguma ave mensageira passasse pelo local, interceptando-a e entregando-lhe a mensagem.

Leve isso até o prédio central da vila, conto com você.

E então a ave abriu suas aves e alçou vôo. Quando desci mais uma vez do prédio, encontrei Ryuji me observando com o olhar admirado.

Cara isso foi completamente irado!

Eu sabia que vocês conseguiam fazer umas parada meio doida assim mas nunca vi de perto.

Mas deixando isso de lado um pouco… Qual o plano?

Bati um pouco as roupas para tirar a poeira e sujeira que havia se acumulado com minha subida e descida do prédio e retomei o foco ao Ryuji.

Você conhece alguém que faltou o treino hoje?

Hm? Bom… Deixa eu pensar… Tem o Yuuma, parece que ele ficou bem mal desde a última “punição” do desgraçado do Kamoshida.

Tendo isso em mente, ele não veio hoje.

Ótimo, tem alguma foto dele?

Hmmm… Acho que eu tenho uma foto com o time todo em algum lugar no meio das minhas tralhas, ele deve estar lá. Mas pra que tudo isso, cara?

Você vai ver, vamos pegar o Kamoshida de jeito.

Vasculhei as coisas de Ryuji por um tempo até encontrar a referida foto e a mostrei para ele.

E então? Qual desses é ele?

O garoto apontou para um jovem branco de cabelos castanhos e olhar inocente no canto direito da foto.

Analisei bem o rosto e o corpo do jovem, tentando mentalizar cada medida e sua aparência em geral.

Ótimo, acho que isso vai ser suficiente. Henge no Jutsu!

Uma fumaça branca tomava conta dos meus arredores, impossibilitando que Ryuji me visse. Quando a fumaça baixou, o jovem se deparou com a imagem de seu amigo Yuuma na sua frente.

E então, o que achou? Igualzinho né?

Cara! Q-Que que é isso? Você é tipo um bruxo ou algo assim?

Hahahaha! Isso não é nada demais, eu adoraria ver mais dessa sua expressão de surpresa com mais alguns truques mas não temos mais tempo a perder.

Vamos ao plano, eu vou entrar lá disfarçado e você entra depois de mim. Nossa meta vai ser aborrecer o Kamoshida até fazer ele bater na gente ou algo assim.

Isso não deve ser muito difícil… Aquele desgraçado usa a gente como saco de pancadas, basicamente.

Mas o que isso tem a ver com sua escalada de mais cedo?

Eu enviei uma carta pra o quartel general. A palavra de um Genin não é suficiente, principalmente de um genin como eu.

Um genin como você? O que quer dizer?

Hm? Bom, não é nada, depois conversamos.

De todo jeito, eles devem mandar um superior disfarçado pra cá em alguns momentos. Só precisamos fazer com que ele pegue o Kamoshida batendo na gente.

Hmmm… Não sei se eu gosto muito da ideia de ser feito de saco de pancadas, mas se for pra derrubar aquele desgraçado…

Tô dentro!

O olhar de Ryuji era a pura imagem de tudo que eu acreditava. Quando o vi pela primeira vez sentado naquele canto do beco, imaginei que ele era completamente diferente de mim, mas pelo contrário, nós éramos iguais: duas almas cuja esperança fora roubada por esse mundo cruel. Mas nós não desistiríamos tão facilmente.

Eu vou primeiro e vou tentar confrontar ele, com certeza isso vai deixar ele bastante irritado.

Depois disso você aparece e faz o mesmo, isso vai ser a cereja do bolo pra deixar ele completamente puto.

Hahahahaha! Cara! Eu realmente gostei de você. Pode contar comigo, maninho!

Então, abri a porta do fundos e adentrei o ginásio pronto para gritar o nome de Kamoshida. Antes disso, capturei de relance Ryuji fazer um joinha com a mão para mim.

Afinal, éramos parceiros nesse crime, e a rebeldia queimava dentro de nós.

Considerações:

Kamoshida!

A imagem de Yuuma explodiu na porta, fazendo todos os olhares do ginásio se voltarem para mim.

Hmm? Yuuma? Pensei que não fosse vir hoje. Qual o significado dessa gritaria.

Você sabe bem, o motivo de eu ter me machucado em primeiro lugar foi você.

Kamoshida abaixou o olhar por um momento, uma risada baixinha podia ser ouvida vinda dele. Quando seu olhar se levantou, um sorriso cheio de malícia estava estampado em seu rosto. Não era como o meu, de certa forma era o completo oposto. Eu me divertia fazendo o que fazia, e não ligava se a sociedade considerava minhas ações corretas ou não. Mas ele era diferente, podia-se ver que ele realmente se achava no direito de fazer o que fazia por se considerar superior aos outros.

Eu não sou a razão de você ter se machucado, Yuuma. O motivo de você ter se machucado é que você é péssimo.

Você não entende? O jeito com que eu levo meu treino é o que faz de mim um campeão, e já que estamos tentando jogar verdades na cara um do outro...

É também a única esperança que um fracassado como você tem de se tornar alguém no mundo da corrida!

Esses adultos de merda realmente me davam nos nervos. Nossa, eu adoraria desfazer meu Henge e humilhar aquele desgraçado com meu Ketsuryugan. Mas isso seria um prazer apenas momentâneo, eu queria estragar a vida dele, só isso me faria sentir verdadeiramente bem, isso sim seria um golpe certeiro no sistema.

O único fracassado que eu vejo aqui é você... Kamoshida.

É mesmo?

Kamoshida, mudou seu sorriso, era visivelmente falso, mas dava para ver que ele tentava mimificar um sorriso verdadeiro. Então, veio caminhando lentamente em minha direção até parar na minha frente e repousou a mão sobre minha cabeça.

Então o que isso faz de você, Yuuma-san... Um lixo completo.

Em seguida, a única coisa que pude sentir antes de ser atordoado sem ar foi seu punho indo de encontro com meu estômago.

(O filho da puta é forte!)

Não conseguindo me conter, cai de costas no chão. Sussuros assustados tomavam conta da quadra enquanto Kamoshida me encarava por cima com ar de superioridade. Com ambos os punhos cerrados em sinal de hostilidade ele disse.

Se quiser ter o direito de pisar nessa quadra de novo, comece a dar voltas nela e só pare quando nosso treino terminar.

Nesse momento a porta explodiu mais uma vez, e do lado de fora se encontrava Ryuji, encarando Kamoshida com o olhar raivoso.

Kamoshida, seu desgraçado. As coisas não vão mais ficar assim!

O que diabos está acontecendo hoje? Yuuma, vocês estão juntos?

Não vá me dizer que ele te influenciou a fazer esse teatrinho... Não consegue ver? Você está tentando seguir os passos do Ryuji mas...

O Ryuji se tornou um fracassado sem futuro e sem carreira. É isso que você quer?

(Esse cara é horrível, do tipo muito pior que eu.)

Você é o fracassado, Kamoshida. Um adulto que precisa ficar exercendo superioridade sobre um bando de jovens.

Não sou mais seu aluno, não preciso me preocupar de jogar tudo nessa sua cara nojenta.

Eu não preciso escutar isso do idiota que jogou o futuro dos companheiros fora pra dar uma de valentão. Yuuma, algum motivo pra você ainda não ter começado a correr?

Me levantei devagar, ainda sentindo uma forte dor no estômago e comecei a trotar em volta do ginásio. Sabia que cansaria logo, afinal eu não tinha muita constituição.

(Cheguem logo, idiotas. Não vou aguentar tanto assim.)

O resto da turma, parem de moleza! Podem continuar de onde paramos!

E você Ryuji, tem razão, você não é mais meu aluno. Então não preciso sequer me preocupar com sua integridade física.

Saia do meu ginásio ou vai se arrepender.

Não vai rolar, Kamoshida... Já deu a hora de alguém te confrontar!

Pois bem...

Estava já muito cansado e ofegante para conseguir prestar atenção nas coisas ao meu redor, mas não importava o momento em que eu olhasse, Ryuji estava sendo torturado de algum jeito diferente.

(Parece que eu fudi completamente com Ryuji... Nhe, ele é atleta, vai ficar bem... Mas talvez eu pudesse ter pensado em algo menos auto destrutivo.)

Mais e mais tempo se passou e Ryuji continuava sendo torturado. Em um dado momento, eu não conseguia mais permanecer em pé depois de correr por tanto tempo.

(Esse Yuuma deve ser uma máquina... Eu sou só... Um garoto indefeso... Não dá mais...)

E então meu corpo colapsou no próximo passo, me fazendo cair de barriga no chão. Virando o rosto lentamente em direção a Kamoshida com as poucas forças que ainda tinha. Nesse momento me deparei com a cena de Ryuji deitado no chão, completamente esgotado assim como eu. Aqueles idiotas não viriam, e aquilo já tinha ido longe demais

(Shinobis incompetentes... Já que vai ser assim... Eu nunca realmente tentei controlar a mente de ninguém com isso então tinha medo que ele conseguisse escapar de meu controle e acabasse me denunciando...)

(Mas vamos lá!)

Ei! Kamoshida!

Quando o treinador voltou seu olhar para mim, deparou-se com meus olhos vermelhos o encarando fixamente.

Controlando sua mente, primeiramente o fiz parar de agredir Ryuji e anunciar para toda a equipe.

P-pessoal!... Estão... Dispensados...

Aquela era minha primeira vez fazendo algo assim então era difícil ter um controle 100% natural. Estava me concentrando com tudo que tinha, mas ainda assim, estava lutando para manter a técnica.

Ryuji... Os seus amigos cuja carreira eu tentei destruir, eles serão boas testemunhas dos meus comportamentos abusivos.

Estarei indo para minha sala escrever uma confissão.

An? O que é isso o nada?!

Com dificuldade, me levantei do chão e comecei a seguir Kamoshida até seu escritório enquanto os alunos começavam a se dispersar. Ryuji parecia muito debilitado para nos acompanhar, de modo que permaneceu deitado no chão.

Em sua sala, fiz ele escrever uma confissão com sua assinatura e me entregar. Depois que a peguei em minhas mãos, o fiz me entregar a chave e saí do local local, trancando-o antes de desativar o jutsu.

Quando enfim a técnica se dissipou, pude ouvi-lo bater na porta várias e várias vezes.

Ei! O que é isso?! O que você fez?! Me deixa sair, pirralho!

Mal conseguindo me manter em pé de cansaço, caí de joelhos ao mesmo tempo que o Henge se desfez, fazendo-me voltar a minha forma original.

(Finalmente... Esse filho da puta... Vai ter o que... Merece...)

Nesse momento, uma mão se extendeu em minha frente. Com surpresa, olhei para cima e me deparei com um Ryuji completamente machucado e cheio de hematomas, mas ainda assim, com um sorriso no rosto.

Eu não sei o que diabos aconteceu... Mas tenho certeza de que você conseguiu.

Hahaha! Ryuji, você tá parecendo uma colcha de retalho, todo remendado.

Ei! Eu levei uma pelo time... Na verdade... Várias... Que tal um pouco de respeito?

Peguei na mão de Ryuji e a usei para me ajudar a levantar. Logo em seguida, lhe mostrei o pedaço de papel com a escrita de Kamoshida.

Wow! Uma confissão? Agora sim a gente pode acabar com ele! Comigo e meus amigos de testemunha ele não vai ter pra onde correr.

Hehe... Vamos logo entregar isso no prédio central e ir embora, depois disso eu vou precisar dormir por sei lá... Alguns anos.

Pode crer parceiro, e eu vou precisar visitar um hospital com toda certeza, acho que não tem um centímetro do meu corpo que não esteja doendo.

A passos lentos, mas ao mesmo tempo o mais rápidos que conseguíamos em nosso estado, saímos do ginásio e começamos a caminhar em direção ao prédio central da vila, onde eu entregaria meu relatório juntamente com a confissão de Kamoshida.

Ei. Obrigado pela ajuda hoje cara... Você não precisava ter feito nada disso. Mas mesmo assim você me ajudou.

Está tudo bem... Só me prometa que nunca vai deixar nenhum desses caras ditar como sua vida deverá ser, okay?

Não precisa falar duas vezes mano. Eu ainda quero pagar pela ajuda que você me deu hoje. Espero que possamos continuar nos ajudando.

Temos um trato?

temos um trato.