Depois do banho, se sentia fresca e descansada. Seu corpo dava os primeiros sinais de desgaste mental com uma pulsação ruim em suas têmporas. Sypha deitava em sua cama, entrelaçando os dedos na altura da barriga expirando profundamente com seus olhos fechados. Descansava como um defunto, ”como eu faço para ir naquele local denovo?” pensava deixando sua mente divagar em suas próprias profundezas.

No meio da noite ela acordava, pois sentia uma pressão ruim no estômago que resultava em um alto desconforto. Corria para o banheiro vomitando tudo que tinha em sua barriga. Com seu devido tempo passado e um bochecho de água, a kunoichi seguia para a cozinha para comer algo e se hidratar. ”Eu preciso passar naquela praça novamente, mas ainda deve estar muito perigoso. Devo esperar a poeira baixar.”

Olhava para o pequeno calendário que ficava no balcão e percebia que era de madrugada de sábado para domingo. Arqueava as sobrancelhas dando mais um gole de água:

— Hoje é aquela festa de sempre, melhor ir me arrumar.

Comentava consigo mesma sentindo sua garganta melhor. Se arrumava colocando uma calça preta com rasgos nas coxas e joelhos, uma camisa de fenda baixa junto de uma jaqueta de couro dando um ar meio me respeite e meio estou para festejar até amanhecer e, por fim, escondia sua bolsa de armas em baixo de sua camisa. Se olhava no espelho arrumando seu cabelo, principalmente sua franja e partia para os subúrbios de Iwagakure saindo pela janela de seu quarto que deixava destrancado.

Considerações:

Saltava pelos prédios e paredes sem muita dificuldade, se tinha algo que agradecia ao seu tempo na academia era a movimentação que aprendera a ponto de ser algo tão simples quanto caminhar. Dos prédios com diversos andares passava a percorrer por pequenas casas que se encontravam nas margens da vila da pedra. Sypha sabia muito bem para onde queria ir, ao fundo de sua visão notava algumas luzes escapando de uma fenda na terra que a guiava até o local enquanto tirava uma conclusão. ”estão cada vez mais descuidados, vai ver o local já foi queimado e pretender ir para outro cantos”.

Parava em um telhado próximo a entrada da festa, a “Fendida”. Haviam algumas pessoas fazendo fila para um beco com uma luz azulada, a entrada era barrada por um conhecido da garota. A jovem saltou caindo no chão próximo ao guarda com um sorriso amigável na boca:

— Vergil, quanto tempo — encostou no ombro dele.

— Fazem dois dias que a gente se viu Sypha — o guarda cruzava os braços e fechava a cara deixando aparecer uma tatuagem em seu pescoço.

— E dois dias já são mais que muito tempo sem uma festa, não? Nos vemos por ai, seu lindo.

Passava por ele sem muitos problemas furando a fila que se acumulava. Caia em um pequeno corredor que uma vez chegando ao seu fim dava espaço para um grande salão com musica alta e bebidas, sua dor de cabeça passava, pois estava em seu habitat natural. ”Lar, doce lar” pensava enquanto se enfiava no mar de gente dançante.

Considerações:

O som entrava em seus ouvidos e acalmava sua mente. Sypha entrava em uma espécie de transe ali sentindo o momento e se curtindo, as luzes coloridas corriam por sua cara, corpos passavam pelos seus braços formando aquela massa humana de tantas vivências que encontrou naquele lugar um acalento do mundo. Quando notava que estava próxima do bar, a jovem se aproximava apoiando os antebraços no balcão estendendo o braço:

— Me vê aí o que tiver de alcoólico, recomendação da casa — o barman rapidamente fazia um drink com folhas de hortelã, entregava a moça e partia para outro canto do balcão com o intuito de atender outras pessoas. A ninja se virava ficando apoiada de costas dando uns bons goles no seu drink enquanto olhava para todas aquelas pessoas que dançavam na pista de dança.

O lugar tinha uma iluminação baixa, mas para os olhos acostumados de uma festeira, aquela era a iluminação perfeita. Sypha reconhecia quem de fato era frequentador daquele ambiente para os viajantes de primeira viagem e até mesmo outros casos como o dessa noite. Notava ao menos dois seres que a olhava com certa avidez que era desconcertante, era um olhar estranho que não parecia trazer uma paquera por trás, algo mais sanguinolento. Balançava a cabeça acompanhando a música, sua franja acompanhava a ritmo, a kunoichi tentava demonstrar falta de atenção.

”Droga, eu preciso me mandar daqui logo” pensava a garota virando seu drink e deixando o copo no balcão. Seguia para o banheiro onde aguardava um grupo de meninas sair para ir junto delas. Se escondia entre as outras garotas que pareciam não se importar e até mesmo queria ajudar a jovem depois de contar uma leve mentira — sabe, tem um ex meu me perseguindo. Tem como me ajudar a sair daqui?

Com cautela e sem pressa a garota saia do clube, olhava para trás focada para ver se ainda estava sendo seguida. Esbarra em Vergil que não movia um passo sequer, o homem era uma rocha de fato.

— Desculpa Vergil, tem umas pessoas não muito boas hoje. Estranho até mesmo para esse local — ainda olhava para o local de onde saiu.

— Toda noite é assim e você ama isso — ele trocava o peso de uma perna para a outra e continuava parado, aquela fila do começo já era inexistente. O local estava deserto — vai embora mais cedo, geralmente você é uma das últimas.

— Para tudo tem…— ela via o mesmo homem saindo. Ela logo entrou em um beco ao lado de Vergil, jogando uma ilusão de ambiente criando uma parede falsa fechando aquela entrada.

A dupla de homens rodeava o local como se soubesse a localização da garota, pois ficaram encarando a parede falsa da kunoichi. Vergil entrava em ação vendo tudo aquilo:

— Circulando, já saíram da festa. Agora metam o pé daqui — alguns minutos se passaram até o homem falar com a parede — pode sair Sypha, eles já estão bem longe daqui. Mais longe do que consigo sentir.

— Como assim sentir Vergil? — questionava a Kunoichi.

Considerações:

O guarda costas careca suspirava como se estivesse pronto para fazer algo que não devia — sabe o porquê de eu ter conseguido esse emprego? Eu consigo sentir o chakra das pessoas, todos tem isso. Eu sirvo como um catálogo de chakra para meus contratantes — ele voltava a tomar seu posto guardando a entrada da festa — vai sair daí ou vai me deixar falando com uma parede?

A kunoichi logo saia da sua parede ilusória, fazia um movimento com a mão desfazendo aquela técnica — você tem esse poder e mesmo assim eu precisei te ajudar a achar esse emprego. Isso é incrível, então aqueles cara foram mesmo embora?

— Sim, até onde eu consigo sentir, sim. Hoje você vai voltar comigo, eu conseguirei sentir se eles estiverem te seguindo, já marquei o chakra deles.

”Para um civil ele tem coisas demais e não pensa como uma pessoa comum. Interessante, escolhi ele por puro acaso e agora essa caixa de surpresas” pensava a menina enquanto encarava Vergil — okay, eu fico se você me ensinar como fazer isso. A sua dívida comigo será paga, mas ainda poderei entrar nas festas que você estiver barrando. Fechado?


Sypha partiu para a casa do seu mais novo guarda-costas pela noite. Ela retirava seus sapatos antes de entrar e sentava sobre o tatame esperando o homem aparecer. O cheiro de chá começava a tomar a casa, ele vinha com uma xícara cheia de um líquido verde cheio de folhas maceradas. A garota instintivamente sentia o aroma, sentia a ponta de seu nariz retorcer, afastava a xícara com as mãos:

— Eu não vou beber isso, que cheiro horrível.

— Essa habilidade que eu tenho é como se fosse um sexto sentido — se sentava a frente da garota — antes de eu vir para aqui nessa vila eu conheci umas pessoas onde a maioria delas tinha essa capacidade de sentir chakra. Eles me ensinaram que todos possuem a capacidade de sentir isso, mas que com o passar do tempo essa janela diminui. Quanto anos você tem, 20?

Sypha rapidamente olhava para Vergil com uma intenção assassina retrucando imediatamente — você não sabe que é uma má educação falar a idade de outras pessoas — dava uma pausa ainda segurando aquele copo com o chá fedido — eu tenho 18, isso é bom?

O homem retorcia os lábios — nesse grupo eles desenvolveram essa habilidade no começo da adolescência, que é uns 12 ou 13 anos. Eu descobri isso com 35, então a idade é só um auxílio mesmo, se tiver que ter isso terá. Beba logo isso ai, beba de uma vez só.

Sypha tomava todo aquele chá fedido.

Considerações:

A garota sentia aquele liquido bater em seu estômago de forma pesada — tem certeza que é pra ser assim mesmo? — questionava a garota colocando a mão sobre o estômago de forma quase instintiva. Aquele retrogosto amargo do chá começava a fazer efeito deixando com que o gosto em sua boca começasse a sumir, o som a sua volta ficava mais abafado e sua vista ficou turva.

— Você vai perder o sentidos e vai ter que liberá-los novamente com chakra — o homem falava em alto e bom tom, fazia gestos e mímicas para ajudar em sua fala e da Sypha entender o que era pra fazer.

Se afastava ainda sentada ficando de costas para uma parede, naquele simples momento que devia ser performado com facilidade ficou um peso. Sypha sentia nada, mas não sentir nada era um bloqueio enorme. Fechava os olhos já que não conseguia ver mais nada com precisão. ”Por que eu to bebendo bebida estranha, eu podia ter simplesmente dito não. Essa habilidade vai me ajudar bastante se eu estiver sendo perseguida, desde quando estou sendo perseguida?” sem muito o que fazer e esperando aquela mistura de ervas fazer efeito.

Sentava na posição de lótus, tentava com todas suas forças, mas não sabia se estava certa, pois nenhum dos seus 5 sentidos funcionava. Começava a concentrar o chakra em seus corpo o fazendo dançar por todas suas extremidades.

Considerações:

Sypha sempre teve um excelente controle de seu chakra, tanto que isso ajuda a ninja a deixar suas ilusões ainda mais irresistíveis. O chakra dançava pelo seu corpo, sem a sensação de espaço que seu ser tomava fazia com que a garota expandisse o seu chakra mais que o necessário. Ela focava tanto em sentir seu próprio corpo que seu chakra mudava parcialmente para um modo sensorial.

Sentia uma pressão sobre seu corpo, não sabia exatamente onde e por isso recuava com seu chakra. Começava a reimaginar seu corpo, principalmente suas mãos. Movia elas sem sentir nada, focava boa parte de seu chakra a circular pela área, dado seu devido momento ela tentava se ajeitar. Sentia algo na ponta de seus dedos, era uma palha que logo a levava a concluir ”o tatame, estou sentindo algo”.

Começava a tatear o chão até encontrar a pequena mesa de centro, continuava sentindo as coisas com suas mãos. Voltava a cruzar seus dedos e a tatear seu próprio corpo tendo o foco principal em sua face e pescoço. Por um momento ela sentiu seu chakra mudar, aquela flutuação não saia de sua mente. ”eu recuperei o tato, preciso focar naquela flutuação. Só pode ser isso”. Abria a boca na tentativa de falar, nada acontecia, sequer conseguia saber se de fato estava falando ou não, pois sua audição não captava som algum.

Considerações:

Uma vez sentindo sua face novamente, Sypha começava a mover sua boca abrindo e fechando enquanto tocava seu queixo. Começava a focar seus chakra nessa região do rosto, agora Sypha buscava aquele mesmo momento que aconteceu a alguns minutos atrás onde seu chakra parecia mudar de modo. Expandia seu chakra fazendo ele correr para sua boca a ponta do nariz, desse ponto o chakra começaria a expandir com um enfoque na região a sua volta.

Com sua mão livre ela tocava a mesa a sua frente, nada e com persistência a kunoichi continuava a expandir seu chakra até conseguir “ver” algo que nunca tinha visto antes. Era uma massa estranha que lembrava muito Id antes dela tocar ele. Uma massa disforme e sem identidade, mantinha seu chakra pairando nessa parte. Movia seu corpo ainda sob os efeitos do chá, tropeçava caindo no braço de Vergil que a segurava firmemente. Aquele contato e susto da queda fazia seu chakra descontrolar e passar por seu corpo todo como uma explosão reativando todos seus sentidos.

Olhava a sua volta desnorteada, se recompunha e comentava com o careca — eu “vi” uma coisa, uma massa disforme. Não sei explicar direito — ela fazia um sinal de aspas quando dizia a palavra vi. Estava claramente confusa com o acontecimento e sobre como seu chakra mudava para aquele modo.

— Boa, essas ervas forçam seus sentidos a se fecharem para que você passe a sentir o mundo a sua volta sobre uma nova perspectiva. Agora que sentiu na pele como é isso basta praticar para entrar nesse momento quando estiver lúcida e sem ser sobre o efeito dessas ervas — ele oferecia água para a garota que rapidamente tomava tudo na tentativa de limpar o paladar daquele gosto amargo — agora eu vou me mover pela casa e fazer minhas coisas. Tente entrar nesse modo por conta própria e sinta meu chakra.

Sypha acenava com a cabeça, fechava os olhos e começava a se concentrar.

Considerações:

Sypha não movia um músculo sequer,  fazia o selo do bode com ambas mãos para ajudar a concentrar e modular seu chakra. Seu chakra sempre teve um bom controle, mas para alcançar aquele estado que sentiu precisaria fazer algo que seu chakra não estava acostumado. ”Descontrole, quem diria que teria problemas com isso. Piada de mal gosto” pensava descontente consigo mesma. Cada vez mais ela focava na própria mente e em seu auto controle sobre o seu chakra, acumulava tudo na região de sua barriga até formar uma espécie de bola maciça e azulada de chakra puro.

Abria os olhos assim que sentisse ser o momento certo, expandia seu chakra. Aquela onda corria de seu corpo para o resto da sala, algumas folhas ornamentais do cômodo se moviam com essa onda, mas a menina não sentia nada como sentiu naquele momento. Estalava a língua em descontentamento dizendo em alto e bom som:

— Droga.

”O que eu estava fazendo quando eu senti aquilo, aquilo que eu senti é chakra, eu tenho certeza disso” uma crença boba e luz de esperança surgia em seu coração. Voltava a acumular chakra dentro de seu corpo e distribuía ele de forma constante para os seus cinco sentidos. ”Dos cinco sentidos para sentir aquilo, fazer exatamente como fiz antes”.

Considerações:

Seus sentidos ficavam cada vez mais sensíveis a estímulos externos junto de um crescendo som que simplesmente estalava, silêncio vinha e crescia. Sentia sua mente em diferente nível, expandia seu chakra acumulado em seu corpo. ”Encontrei, entendi como funciona, mas não entendi como usar isso em uma luta. Provavelmente deve ser algo tático e de inteligência” ponderava a garota ainda imovel com seu sentido aflorado.

Entendia o esquema do apartamento em que se encontrava, ”um local simples como sala, banheiro, cozinha e o que parecia ser um quarto” sorria levemente tentando manter a concentração ainda alta:

— Você — o estado em que se encontrava era quebrado perdendo a localização do chakra que acreditava ser de seu amigo — droga, eu perdi, mas você está na cozinha. Eu acho que essa parte mais retangular é a cozinha — se levantava descontente seguindo para onde sentiu o chakra pela última vez. Chegava até a entrada do novo cômodo se encostando no batente da porta com a lateral de seu braço — o que eu senti foi chakra, não foi? Uma massa disforme e estranha, mas chegar nesse ponto é muito complexo, fui falar uma palavra e já perdi a concentração — ela arqueava as sobrancelhas parecendo ter ligado dois pontos — é por isso que você fica praticamente imovel a noite toda?

Considerações:

— Com o tempo você vai começar a notar as diferenças de chakra, são únicas a cada pessoa. Tem pessoas do grupo que me ensinou essa habilidade que até mesmo conseguiam sentir distúrbios nesse chakra que podem significar uma variedade de coisas. A precisão e dedução disso depende apenas de você e da prática — Vergil terminava de falar, parava por um segundo e depois voltava a fazer sua comida — acabei de fazer minha varredura e não senti eles pelos arredores, mas tome cuidado ao ir para casa. Você não sentiu o chakra deles ainda, mas eles tinham tanto quanto você ou até mais — fazia um sinal com a mão se despedindo da garota, finaliza — minha divida com você está paga Sypha Belnades.

A garota prontamente se dirigia à saída da casa um pouco feliz com essa sua nova habilidade recém descoberta. ”Ainda preciso desenvolvê-la devidamente, me sinto como uma bebe indefesa usando isso pensava enquanto saltava por casa e prédios até chegar em sua casa, mal notava que já estava amanhecendo. O céu tomava seus tons rosados que com o progredir de sua caminhada começava a ficar com cores mais quentes puxadas para o laranja.

”Esse sentido meu deixou exausta, preciso de um banho bem quente para me acalmar” uma dor leve em sua cabeça surgia, Sypha logo corrigia seu pensamento ”um banho gelado, gelado para meu Id”.

Considerações: