風邪

A lua chamava meu nome e meus passos lentos rumo à lugar algum eram guiados pela mais pura aleatoriedade neste momento, passava minha mão pelo corpo frio de Nagini enquanto andava pelo deserto, minha falta de rumo não era sem razão, há dias pensava sobre como Suna estava cada vez mais decadente, nunca tinha visto essa vila prosperar, mas ultimamente as coisas pareciam piores, como eu poderia resolver isso? Segurei firme a Katana que meu Sensei havia me presenteado, a única coisa que eu parecia ser bom era em lutar, como ajudaria Suna a ser grandiosa apenas assim?

Meus pensamentos cintilavam entre o país do vento e do ferro, os ensinamentos de meu sensei poderiam realmente me fazer melhorar a terra dourada deste vilarejo?
" Para atingir o ápice do bushido, você precisa conseguir sozinho." As palavras cintilavam em minha mente.

Agora, afastado da vila, observava quase no fim do horizonte as construções em meio ao deserto e começava ali o meu treinamento. Tinha visto o Sensei realizar o Iaido com perfeição e me dado uma curta instrução sobre como fazer, o dominio completo da espada, o verdadeiro caminho do samurai, buscava em minha memória os movimentos que senhor Tokuso me mostrava, fechei meus olhos, segurei a bainha com a mão esquerda e a direita no cabo, a espada precisava ser uma extensão de meu corpo.

Um golpe, dois golpes, três, seis, quinze, vinte. Nada parecia mudar, meus golpes tinham a mesma velocidade sempre, eram rápidos, mas estavam longe de ser como os de Hashira Tokuso.

Trinta, cinquenta, cento e vinte, duzentos. O cansaço me dominava, em exaustão jamais conseguiria executar uma habilidade tão peculiar e incrível. Joguei meu corpo para trás, deitando-me na areia fina enquanto Nagini surgia do chão e buscava descanso em meu peito.

Estiquei minha mão direita para cima, as marcas do treinamento eram evidentes e refletiam com a luz da lua, desci vagarosamente até o meus rosto, onde encostei as costas de minha mão na testa, bagunçava um pouco minha franja e ficava de olhos abertos por pouco tempo encarando o brilho lunar.

Quando meus olhos se fechavam comecei a ouvir algo distante.. Era.. Uma música? Tão bela que poderia me fazer dormir ali mesmo, mas escolhi outra opção, continuar acordado para prestigiar aquela obra que me fez abrir os olhos outra vez. Fiquei deitado por mais alguns minutos até finalmente me levantar e buscar sorrateiramente pela origem daquele som.

Alguns metros depois me deparava com uma caverna em um pequeno canyon, entrei devagar e ao fundo vi uma jovem que dançava graciosamente enquanto cantarolava sua música. Poucos passos meus eram necessários, até que a garota parasse de dançar e olhasse diretamente para mim.

- Quem é você!?

- Um shinobi, me desculpe atrapalhar a sua...

- Para um shinobi você é bastante barulhento.

A conversa seria curta e logo eu sairia dali, se não fosse a reação da garota ao ver Nagini, extasiada a figura feminina pareceu ter perdido uns 10 anos de maturidade e correu para se aproximar. Devia ser habitante de Suna para se sentir tão confortável ao ver minha bandana da vila.

Nagini parecia ter gostado da garota, uma das raríssimas vezes em que ela aceitou ser segurada por outra pessoa.

- Estava treinando?

- Você tem sentidos muito aguçados para uma civil. - Rebati ao notar que ela percebera que à pouco eu estava repleto de suor e ainda um pouco ofegante.

- Estou treinando uma habilidade que meu sensei me passou.

- Me mostre.

Algo na voz da garota era familiar, como se a tivesse conhecido em outras vidas, me sentia próximo a ela de uma forma estranha, dei de ombros e fomos juntos para fora da caverna, onde mostrei a minha falha tentativa de replicar o iaido, ela aplaudia a minha performance e na mesma hora me vinha em minha que uma leiga realmente me acharia extremamente habilidoso com uma espada, mas para minha surpresa, o improvável, inesperado, acontecia.

- Te falta graça, você é selvagem demais, já te falaram isso? Meus pais eram formidáveis espadachins, aprendi muito com eles, posso te ensinar uma coisa ou outra... Claro, isso se você quiser aprender. - Se aproximou saltitante de mim. - O segredo está na respiração.

Olhei para Nagini nos braços da estranha e pude ver nos olhos da serpente a confirmação " não custa tentar ", eu não tinha nada a perder e ao menos alguém estava gostando da presença de outra pessoa naquela noite densa.

Para minha surpresa ela começava a me ensinar a dançar, os mesmos passos que eu tinha visto antes, agora ela mostrava e apesar de relutante comecei a minha aula, a velocidade que os pés eram trocados, os movimentos complexos, que apesar de não ter dificuldade em realizar, era difícil conseguir com tanta graciosidade quanto aquela garota, seus passos eram o mais profundo silencio, até mesmo os grãos de areia pareciam concordar em emitir o minimo de som possível ao passos daquela dança. O tempo passava cada vez mais depressa, mas a hora parecia infinita e de alguma forma meu corpo não se cansava, era quase como se começasse a aprender a me mover apenas com o balanço do vento enquanto a jovem me instruía a controlar a respiração e deixá-la seguir os movimentos de meu corpo, tudo extremamente coordenado, uma harmonia incomum.

Depois de conseguir aprender aquela dança, a sensei da vez me sugeria repetir tudo segurando a espada, nesse momento a surpresa era ainda maior, todos aqueles passos eram movimentos de luta e agora tudo parecia fluir com muito mais facilidade.

- Eu te disse que a respiração era a chave, preciso ir agora, bom treino, Shinobi. - Falava se ajoelhando para deixar Nagini na areia. Me curvei para aquela imagem misteriosa enquanto ela se afastava até sumir pelo horizonte.

Ainda me restava uma coisa para fazer, depois desse encontro surreal, tinha certa confiança no aprendizado que acabava de receber. A espada embanhada presa em minha cintura, coloquei-me em prontidão, fechei meus olhos e respirei, puxei o ar devagar e o soltei da mesma forma, sentia a minha respiração escorregar pelo meu rosto, como se fossem sombras rastejando pela minha pele, abri meus olhos simultaneamente e então agi.

Um golpe limpo, rápido, numa velocidade tão estrondosa que me surpreendia, meu corpo todo tremia em uma adrenalina nunca antes sentida por mim, olhei para a espada em minhas mãos e em seguida encarei o horizonte como se tentasse ainda enxergar aquela moça, ela era realmente real? Tudo aquilo tinha mesmo acontecido? Olhei para Nagini enrolada na areia como se tentasse perguntar para ela se tudo tinha sido real, mas a serpente estava em sono profundo.

---