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Um raro otimismo desabrocharia nos corações dos nativos da Areia com a chegada da primavera. Mesmo com os acontecimentos sangrentos vividos ainda frescos na memória do povo, era difícil não se encantar com a bela florescência que brotaria em meio ao famoso oceano granuloso do País do Vento.
 
– Bravo, mãe natureza. Brava. – A garota exaltaria o espetáculo diante de si, dando palminhas com as mãos enluvadas. Apreciava a paisagem com visão privilegiada dos telhados de estuque. Desde que iniciara sua jornada no mundo shinobi, os tetos argilosos seriam seu porto seguro, onde a ninja de fios cor-de-rosa podia apreciar raros momentos de ócio.

Sua serenidade, porém, fora interrompida quando um gralhar conhecido fora escutado pela Nara. O tilintar que anunciava um novo trabalho a caminho.

– Não tenho um dia de paz nessa vila. – Resmungou, com sua típica ranzinzes fingida. – Ok...Vamos ver o que tenho pra hoje.

Cuidadosa, a garota retirou o pergaminho carregado pela ave de plumagem ébano que pousara em seu braço direito. Com este em mãos, o desenrolaria delicadamente. As sobrancelhas róseas se uniriam, concentradas na mensagem que lhe fora enviada.

– Kuroi Minura... O senhor é um fanfarrão, hein? –  A garota concluiria, sacudindo o rosto em desaprovação as palavras ásperas do emissário. Ao inteirar-se de sua incumbência, descobriu que deveria dar cabo de uma situação envolvendo um animal enfurecido. Poxa mãezinha, não era pra ficar irritada de verdade. Pensaria, silenciosamente arrependida com seu elogio a principiada primaveril, estando convencida de que este fora mal interpretado pela divindade terrestre.

Dos ditos de seu contratante grosseiro, a garota fora convencida por uma única afirmação cuspida através de tinta por ele.

–  É... infelizmente, sou treinada pra isso. – Assim, sem poder protestar, a Genin poderia ser visto saltando por entre os telhados de Sunagakure seguindo a leste, em direção a localidade indicada.

Ao perambular pela área, seus olhos se agraciaram com a visão da encantadora concentração de rosas-do-deserto de seu destino. Aqui, estou e as rosas... A garota observaria, com as irises chocolates tornando-se atentas. Só falta a fera. Sua mente se adiantaria, buscando o paradeiro de seu rival antecipadamente anunciado.

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Uma brisa suave bagunçaria as madeixas naturalmente ruborizadas da kunoichi que caminhava pelo deserto, uma terna benção da climática mais amena daquela época do ano. Não avistaria nada além do campo árido decorado com o modesto tapete florido. O único ruído captado por seus tímpanos era o do vento, enfatizando sua solidão momentânea. Seus passos seriam interrompidos pela própria garota, intrigada pela calmaria que presenciava.

A pacatez da situação não penduraria por muitos minutos. O Órix, como se soubesse de alguma maneira da dificuldade da Nara em lidar com o tédio, não deixaria a sua colega de cena esperando por muito mais tempo para darem início ao seu encontro. Como esperado de um protagonista, adentraria triunfantemente o palco árido. Uma beleza afrontosa marcada pelo porte imponente do bovídeo, principalmente comparado a estatura da pequena Genin, e como esperado, dos seus imensos chifres negros que coroavam sua majestade.

– Ele é... lindo. – Kuromi admitiu, encantada.

Porém, diferente da adversidade que a sunense previra, o animal ignorou-a por completo. Manteve-se distante, a pelo menos quarenta metros da ninja. O antílope se mostraria claramente mais interessado em suprir sua fome, deliciando-se com as rosas do deserto como um prato requintado.

O segundo fato que alimentava a estranheza da garota era encontrar um animal, conhecido por viver em bando, sozinho. Ainda mais durante a primavera, onde o rapazinho deveria estar batalhando com outro chifrudo para competir pela afeição de uma fêmea, assim perpetuando sua espécie e movimentando o ciclo da vida, etc e tals.

Pensaria, enquanto isto, a destra alcançaria sua bolsa de armas, revelando o pergaminho que a intimara até ali. Mantendo-o naquela mão, a garota tamborilaria os diminutos dedos da canhota nas suas bochechas, inquieta.  Pela... urgência presente nas palavras do senhor Kuroi, imaginava lidar com uma conjuntura diferente. A garota semicerraria os orbes chocolates, dominados de suspeita. Miraria com cautela as flores que outrora admirara, alternando sua vigia ao mamífero cornífero diante de si.   – Algo está errado...Por que eu deveria estar aqui?

Sem pistas, a desconfiada menina arriscaria um palpite, porém mantendo a prudência. Kuromi encurtaria certa distância entre ela e o antílope, visando perceber se o comportamento do animal se alteraria com sua aproximação.

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Uma a uma, eram as pisadas vagarosas efetuadas pela kunoichi de Sunagakure. Seus olhos chocolate mantinham a guarda solene sob a posição do antílope diante de si, dominados pela expectativa de sua reação. Os sentidos afiados do animal notariam a movimentação da ninja, fazendo a garota congelar no último posto em que seus pés haviam pousado. Kuromi morderia o seu lábio inferior, suprindo qualquer som de surpresa que quisera escapar da sua boca. Órix retribuiria sua observadora, encarando-a de volta. Em suas pequenas irises negras, uma melancolia intensa se revelaria, apertando o coração da garota. Analisando de maneira minuciosa a face do bovídeo, a Nara poderia notar um ferimento próximo ao focinho do cornífero.

Está ferido... Pobrezinho.  A garota lamentaria, enquanto o mamífero, findando o contato visual, retornaria a apreciar sua exótica refeição.

Sem que houvesse tempo para ponderar diante de suas investigações, a Nara seria interrompida pela presença imprevista de um trio de garotos. Os novos participantes da cena que se desenrolava se aproximavam, dominados pela exaltação. Aparentemente, o primeiro garoto reivindicava o direito de punir o pobre antílope por um ataque que o animal provocara contra um quarto infante, que se ausentava da situação. No entanto, a dona de fios cor-de-rosa poderia escutar o segundo garoto dizer que o vitimado não seria tão inocente, justificando o ataque do antílope. – Claro! O Shimizu jogou uma pedra no bicho!

O terceiro garoto, porém parecia ver a razão na violência, apoiado as intenções violentas do primeiro garoto e junto dele, intimidando o segundo, o fracote, a concordar com o ataque ao Órix. Esse é o Isquerinho, o pior tipo. A garota refletiria, debochada. O sorriso cínico, porém, desapareceria do seu rosto. As irises cacau vislumbrariam um brilho metálico característico da infame adaga de ferro nas mãos do vingador mirim, que anunciava valentemente. – Eu peguei uma kunai com meu pai, vou esfolar esse bicho!

A garota fechou o punho da canhota, levando-o a boca e limpando a garganta na tentativa de chamar a atenção dos meninos. – Olá Senhores, é admirável a lealdade de vocês ao Shimizu-kun. – A Kuromi diria serena, salpicando simpatia em suas palavras.  – Mas, essa situação já está sendo tratado por uma profissional especializada. – Ela diria, girando o corpo para direita. A unha do indicador bateria contra a ampulheta desenhada no aço, costurada a bandana amarrada em seu braço. – Vou pedir que me entregue esta kunai, rapazinho? – A menina requisitaria, estendendo a mão esquerda em direção ao garoto armado. Ela sorriria, firme.  – Não queremos que mais ninguém se machuque, certo?

A Nara correria os orbes pelo ambiente, esperaria que suas palavras fossem suficientes para acalmar os ânimos do trio-confusão e prevenir que algum estrago viesse daquela kunai em mãos infantis. Tentaria resolver a situação de maneira pacifica, visando a segurança das crianças e do animal incompreendido, a seus olhos. Espero sinceramente não ter que recorrer a medidas...sombrias.

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A doçura das feições inerentes da Genin, maquiavam com perfeição a tormenta que acometia seu interior.  A palma aberta se mantinha estendida, aguardando pela decisão do menininho de cabelos caramelo. Quando o viu hesitar, por um segundo, a ansiedade tempestuara ao máximo em seu ser, fazendo-a suplicar a uma força maior para que a ajudasse. Eu nunca te pedia nada, Kami-sama. Ela claramente mentia, mas detinha nos seus pensamentos um genuíno desespero para que aquele risco corrido pelas crianças e o Órix, fosse detido por seu intento. Por favor... Faça eles se convencerem!

Apesar da ponderação, os pequenos seriam persuadidos por suas palavras, assim, a kunoichi receberia em suas mãos a adaga de ferro do líder dos menores.

– ISSO, SIM! Eu vou acabar com aquele chifrudo! – A garota explodiria de alegria, os seus fios róseos dançariam no ar, enquanto ela saltitaria em euforia junto ao trio. Seu alívio seria tão intenso, que a Kuromi mal notaria que concordara com a atribuição dada a ela como a definitiva algoz do antílope. Alguns minutos depois, a Nara cairia em si. Espera...EU?! ACABAR! COM ELE?!

Ela riria de nervoso. Guardando o pergaminho que empunhava na destra em sua bolsa de armas, e com esta livre, abraçaria a kunai ganha junto com a canhota. Encarando seu próprio reflexo na lâmina.

– É... Claro, eu. – Kuromi declararia, pausando para limpar a garganta mais uma vez. Ela retomaria o discurso, com uma determinação caricata. Uma tentativa da própria de se recompor. – Uma kunoichi da Areia, irei... findar a vil besta desértica que aterroriza nossa vila. – Em sua mente, ela torceria para que pelo menos diante da percepção infantil, sua encenação soasse verídica. A graciosa menina endireitaria a postura, se colocando em posição de batalha, apertando a adaga de ferro em seus dedos. – E como a ninja poderosa que sou, usarei minha técnica...Especial para aniquilá-lo. – Ela articularia uma saída da enrascada que se encontrava.

De seu modesto inventário a tiracolo, a Nara sacaria uma Kemuridama. – Arte ninja...Jutsu... Distração Fumacenta! Após o anuncio, Kuromi a dispararia contra o chão. Ao elevar da cortina de fumaça do item, a garota utilizando de sua velocidade máxima, correria até o antílope, enquanto gesticularia os braços para que ele se afastasse dali.

– Corre, daqui! Agora! – A Genin gritaria, voltando as írises chocolate para aonde estavam os meninos, para se certificar de que estes perderiam ela e o antílope de vista, graças ao vapor púrpura. Preocupada com seu bem-estar, a kunoichi seguiria o cornífero.

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Meninos, por favor, me perdoem... A garota de fios cor-de-rosa rogaria em seu íntimo. Mesmo que a desajeitada manobra tivesse tido intenções altruístas, sentia-se constrangida pelo seu ato de ludibriar os pequeninos que lhe viram como aquela que delegaria a sua justiça.

Seus pensamentos, porém, eram inebriados pela adrenalina que corria em suas veias durante o assalto que efetuava. Seu alvo era o antílope que tentara a todo custo salvar.

Ao ver o majestoso quadrúpede perder a velocidade, a garota levantaria as mãos amistosa, com as palmas abertas, na tentativa de se aproximar do mamífero de chifres. – Calma garoto, calma. – Ela diria. Atenta ao líquido carmim que pingava na areia, oriundo do animal, a garota institivamente rasgaria um pedaço de seda da calda de seu vestido, com a intenção de estancar algum ferimento no Órix.

Se lhe fosse permitido tocá-lo, os grandes olhos castanhos, se arregalariam em pânico, conforme a kunoichi perceberia que o ferimento facial que identificara outrora, não era a única chaga que castigava o pobre bovídeo. Pelo modo que mancava, e o lamuriar do cornífero, a Genin reconheceria que sua vitalidade estaria mais debilitada do que imaginara, alimentando o seu desespero. Ah, não, não, não, não, NÃO!

A menina não possuía conhecimentos médicos para dar os cuidados que o animal necessitava, além de estar ciente que o trio não estaria muito distante dali. Lhe ocorria também que não obteria qualquer apoio do gabinete, mesmo se requisitasse, visto que o próprio a havia enviado para que ela solucionasse aquela tribulação de uma vez.

O brilho metálico da kunai que empunhava chamaria sua atenção, e momentaneamente, a arma pareceria pesar mais em suas mãos.  

Kuromi sabia exatamente o que deveria fazer.

As lagrimas inundariam as írises chocolates, escondidas pela franja rósea da menina, que mantinha a cabeça baixa. Como pétalas de flor que ocultam o orvalho. Em seu coração, a garota batalhava contra o desgosto, reunindo coragem para realizar a tarefa terrível que lhe restava. Acariciando os pelos da face malhada do antílope, Kuromi retomaria a atenção a ele, mirando nos olhos negros do moribundo, com sincero pesar. – Eu queria muito poder te oferecer t-tratamento... – Um suspiro longo seria feito, regado de soluços, enquanto se ouvia a voz aguda e falha da trêmula menina. – Mas, a única coisa que eu posso lhe d-dar...é alivio para o seu sofrimento.

Diante do animal vulnerável, a Nara giraria a kunai entre os dedos. Ela então pararia subitamente, segurando-a com força. Em um movimento rápido, a lâmina voaria no ar, de cima para baixo, onde a kunoichi enfiaria a adaga de ferro na jugular do antílope, em sentido ao seu crânio.

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O brasido solar incidiria sobre o palanque desértico, como holofote para o ato final entre o antílope e a kunoichi de Sunagakure. De dentes trincados, Kuromi assistiria o arrastado sucumbir do pobre Órix, resultante do golpe efetuado por suas mãos. Quando o último sopro de vida fluísse do animal, a garota se colocaria de joelhos, atordoada, observando o caído em silencio. Seu sentimental ainda tentaria vascular em suas sinapses, alguma outra alternativa que pudesse ter sido tomada, sem sucesso. Seu racional se mantinha firme, refutando cada hipótese emotiva com propriedade. Sua razão lhe permitiria ao menos, se comover diante do quadrupede, que pelejara tanto pela sobrevivência.

A incógnita em si seria interrompida, quando a pequena trupe finalmente se juntara a garota e o decadente. A inocência presente nas gratas palavras do menor destes, somado ao contentamento dele e do maior dos meninos, amenizariam sua tensão. Eles a reconheciam como a heroína que encerrara os dias de seu malfeitor. – Só fiz o que fui treinada para fazer. – Admitira, sorrindo embaraçada com a ironia. Apesar de ter zombado daquelas mesmas palavras a princípio, estas se alinharam aos seus instintos, apesar da relutância inicial. Os cílios rosados fariam piscadelas continuas, confusos com o sentimento agridoce que a acometia.

– Zelar e Ceifar são decisões postas nas mãos do shinobi, dia após dia. – a sunense articularia, embora respondesse mais as próprias interrogativas do que as falas da pequena gangue. – Nem sempre destinadas a quem merece. – Kuromi desabafaria ao fim, revelando as próprias írises chocolate marejadas apenas ao garotinho de cabelos castanhos, que espelhava em suas feições, a mesma lástima sentida por ela com perecer do bovídeo. – Aposto que o Shimizu-kun vai ficar feliz de ouvir as...boas novas. – Pondo-se de pé, não pronunciaria a positividade do ocorrido com firmeza, mas o trataria desta forma, visto que este era enxergado assim pelos meninos. – Por que não vão contar a ele? – Ela sugeriria, com ternura.

Ansiando por estar sozinha, a menina Nara se mobilizaria para dar ao animal um sepultamento digno, o mínimo que poderia oferecer em respeito à sua insistência por remanescer vivo. E indiretamente, por se tornar a ela um valioso lembrete da dualidade do universo que a Genin pertencia.

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