— Acho que não deu certo. — Ele tentava aparentar indiferença, mas claramente se divertia com o meu fracasso. Eu já imaginava que treinar com aquele idiota seria completamente irritante, mas era impossível aprender as técnicas que eu gostaria se não tivesse alguém para me acompanhar no aprendizado. E, claro, eu também não conhecia outra pessoa que fosse me ajudar em um treino.

— Não enche, porra. — Novamente, me concentrei nas informações que havia lido no pergaminho e tentei realizar a técnica outra vez. O treino já estava levando tempo demais e aquele não era o único jutsu que eu gostaria de aprender no dia.

Primeiramente, reuni uma pequena quantidade de chakra ao passo que busquei manter minha mente relaxada. Com os olhos abertos encarei fixamente meu alvo, mentalizei suas sinapses e expandi meu chakra no intuito de criar uma perturbação em seu sistema nervoso. Era apenas disso que se tratava uma ilusão, afinal: mexer com a mente do meu oponente como eu bem entendesse. Mas técnicas avançadas exigiam muito mais esforço que o normal, e novamente eu havia falhado.

— Ainda bem que eu não tenho nenhum compromisso hoje. — Ele deixou escapar uma leve risada, mas naquele momento eu já não me sentia incomodado com suas provocações. O que me irritava agora era meu próprio fracasso. — Na real quero te perguntar um negócio. Por que você começou com essa palhaçada de virar ninja do nada?

Eu ignorei a sua pergunta não somente para focar no treino, mas também para me esquivar da resposta, não queria falar a respeito do meu passado agora. Desenrolei o pergaminho do jutsu e repassei suas instruções. Eu precisava tentar algo diferente se quisesse ter algum tipo de resultado, nada do que eu já havia tentado se mostrava minimamente útil.

Mais uma vez acalmei meus pensamentos e reuni minhas mãos à frente do busto. Flexionei um pouco os joelhos, uma gota de suor escorreu do meu rosto. Dessa vez, à medida que tentava expandir minhas energias para alcançar a mente de Ichiro, foquei também nos efeitos que eu gostaria de causar com a ilusão que tentava aprender.

Ele claramente veria minha expressão de cansaço se não tivesse sido atingido pela ilusão. Aos poucos, sua visão se tornou embaçada e ele não era mais capaz de identificar o ambiente ao seu redor. Sem que pudesse se dar conta, sentia seu corpo preso em uma espécie de areia movediça, revelando estar completamente preso naquele ambiente criado por mim.

— Você tá melhorando mesmo, eu admito. — Ele dissipou a ilusão com extrema facilidade, mas isso não diminuía meu mérito por ter aprendido a técnica que eu queria. — Tem outro jutsu que você tá afim de aprender?

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Li atentamente as instruções no pergaminho da última técnica que treinaria naquela tarde. Sua descrição era, a princípio, um pouco confusa. O jutsu funcionava de uma forma que eu já era mais familiarizado, mas sua execução era diferente de todas as técnicas que eu já tinha treinado. Ichiro identificou a confusão em meus olhos, eu guardei o pergaminho e tentei imaginar o que havia acabado de ler.

— Leve o tempo que precisar. — Ele se distanciou um pouco em passos lentos, se virou para mim e, provavelmente para demonstrar seu desinteresse, encostou com o ombro na parede enquanto cruzava os braços. Era como se ele esperasse ficar ali por horas enquanto me assistia falhar diversas vezes em concluir o treinamento.  

Mas isso já não importava agora. Juntei os palmos à frente do corpo, flexionei os joelhos mais uma vez. Estava ofegante pelo cansaço, com cautela controlei minha respiração e mantive minha energia estável. Reuni uma certa quantidade de chakra e foquei meus olhos em Ichiro, que deixava um leve sorriso escapar de seus lábios. Ignorei o fato, buscava apenas expandir minha energia para criar uma espécie de vínculo com sua mente, para então criar uma perturbação. Ao menos nisso eu já estava ficando profissional, não sentia mais tanta dificuldade em alcançar seu sistema nervoso através do meu chakra.

O brilho nos olhos de Ichiro sumia ao passo que meu treinamento se aproximava do fim. Para a sua surpresa — e também para a minha — eu havia acertado a execução da última técnica na primeira tentativa. Em questão de instantes, uma estrutura semelhante a um tronco de madeira surgia sob os pés de Ichiro e tomava posse de seu corpo, limitando completamente seus movimentos. Imerso dentro da ilusão que eu tinha acabado de criar, levou alguns segundos até que ele percebesse a minha presença no tronco da árvore um pouco acima de onde ele mesmo estava. Segurei uma kunai contra seu pescoço, apenas como uma forma de brincar um pouco com a situação.  

— Tudo bem, você me pegou agora. — O desconforto no rosto de Ichiro era visível, provavelmente nem ele esperava que eu fosse executar uma técnica tão diferente do convencional. Dissipei a ilusão na mesma velocidade que a fiz surgir, e assim concluía meus treinos daquele dia.

— Relaxa, da próxima vez eu chamo outra pessoa. — Disse para Ichiro, como uma forma de confortá-lo depois do tempo que ele havia perdido comigo em algo que não iria necessariamente ajudá-lo de alguma maneira.

— Que outra pessoa, otário? — Ele se aproximou e apoiou seu cotovelo sobre meu ombro, em risadas, concluiu. — Eu sou o único amigo que você tem.

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