風邪

Minha agonia para com a missão Anbu que deveria realizar só aumenta mais a cada dia, por que nada ainda tinha sido me enviado? Precisava controlar minha paciência para não cair na ansiedade e perder o foco. Nesta manhã tinha recebido outra missão para realizar, servir de guarda-costas, era definitivamente um dos tipos de missão que mais me incomodava, geralmente não tinham um real valor para com a vila, apenas um serviço particular que favorecia apenas uma pessoa, certo, uma habitante de Suna e eu honraria minha terra natal ajudando qualquer que precisasse... Mas... Diante de minhas habilidades, realmente fazia sentido me enviar para algo assim?

Estava aborrecido, mas como um bom ninja ia de encontro à Shizune, a viúva cujo maior preocupação no momento era visitar o túmulo de seu marido, por que afinal de contas tinham enterrado ele tão distante da vila? Outra questão que simplesmente me aborrecia, felizmente, metade de meu resto estava tampado por faixas, o que evita um pouco de perceberem a minha falta de interesse naquela missão em especifico. Minha espada era de Suna, e eu devia agir como tal, vendo a mulher próxima a entrada do vilarejo, ajustei minha postura e levantei a cabeça, tentando não transparecer muito em meu olhar a minha opinião sobre essa empreitada.

風邪

- Shikatsu Noira, farei sua proteção. - A mulher estava pálida, quase transparente ao se virar para mim, por um segundo pensei ter feito algo de errado, até perceber o braço levantando devagar e apontando para meu pescoço... Onde Nagini costumeiramente repousava. Não pode ser.

- Aaaaaaaaahhh - O grito agudo e repentino me fez levar as mãos para meus ouvidos afim de abafar um pouco o ruído. Antes que pudesse fazer qualquer outra coisa a mulher desmontou no chão. Ótimo, agora teria que lidar com isso, como poderia fazê-lo? Os superiores estavam me testando de alguma forma? Sabiam da fobia da mulher e mandavam justamente à mim para escoltá-la? Só podia ser algum tipo de piada...

Me agachei ao lado da médica enquanto Nagini me encarava sem entender muito bem o que tinha acontecido. Podia ser algum tipo de teste, talvez quisessem ver se eu estava disposto a deixar alguém importante para mim para concluir uma missão... Fazia sentido? Me parecia a única explicação plausível, mesmo que imbecil. Removi gentilmente a serpente de meu pescoço, ela sabia se virar e eu não morreria se ficasse longe por algumas horas, era a única alternativa, não podia viajar com Nagini enfiada dentro de minhas roupas durante todo o trajeto.

- Vá para casa, logo eu volto. - Assistia a cobra rastejar para longe, enquanto minha irritação corria para perto.

風邪

Aos poucos a médica abria seus olhos podendo encarar a minha heterocromia olhando-a.

Ti-tinha, uma co-cobra em em vo-você. - Gaguejava. As veias de minha testa saltavam enquanto tentava manter a minha paciência.

- Era uma amiga, já a mandei embora. Vamos? - Todo cavalheirismo desaparecia comigo dando às costas e andando rumo à sair da vila. Pelo som pude perceber que ela não se movimentava e quando olhei para trás constatei que estava ainda sentada com um olhar espantado.

- Você vai continuar aí? - Minhas palavras pareciam a trazer de volta a realidade dessa vez, balançando seus cabelos e se levantando devagar a mulher vinha em minha direção para que pudéssemos finalmente começar a viagem.

- Você tem uma cobra de estimação? Como assim!?

- Não é de estimação. -

- Mas ela estava enrolada em seu pescoço.

- É uma amiga.

- É um bicho asqueroso e nojento, eca!

Cocei minha cabeça e fechei meu olhos por um segundo parando os meus passos, tentando buscar dentro de minha alma a paciência necessária para lidar com a situação. Ao menos, a mulher parecia entender o meu desgosto com suas ofensas à Nagini e tentava se retratar.

- Me desculpe...

風邪

- Qual o nome dela? - Apenas alguns passos depois do pedido de desculpas, a mulher apertava um pouco mais o passo para chegar mais próxima de mim e fazia outra questão, parecia estar determinada a alguma amizade, ou talvez apenas carente demais para ficar quieta.

- Nagini -

Já tínhamos andado boa parte do percurso e agora era o momento em que as coisas começavam a ficar sinistras, me perguntava por que tinha enterrado o marido tão distante assim da vila, apesar de minha curiosidade, preferia ficar quieto, visto que nos últimos minutos a mulher tinha se calado e aparentemente desistido de suas tentativas de fazer amizade, eu não queria despertar nela isso outra vez.

Continuávamos o caminho ainda quietos, achava muito pouco provável que alguém nos atacasse, mas precisava me manter atento, afinal, era também um tanto quanto estranha a mulher solicitar apoio para uma visita ao túmulo de seu marido. Ainda mais para esse nível de missão. De repente conseguia escutar ao longe o som de passos, correndo, vindo em nossa direção, uma emboscada?

- Para trás. - Levantei meu braço impedindo que Shizune desse mais algum passo e coloquei a mão direita no cabo da espada preparado para atacar seja lá quem estivesse para aparecer naquele beco escuro.

風邪

Apreensão tomava conta enquanto os passos começavam a ficar mais fortes, estávamos em uma espécie de ruínas e eu sequer tinha percebido quando entravamos em um beco, era o lugar perfeito para nos emboscarem, não conseguiria defender as costas da mulher. Isso era problemático, a falta de comunicação tinha me deixado perdido e isso era um grande erro, o desfeito da mulher com Nagini tinha me incomodado o suficiente para tratá-la com desdém por todo o caminho, um erro.

Os passos estavam mais próximo e então quando estava prestes a puxar a espada, eles apareciam, três crianças, pareciam estar apenas brincando ou qualquer coisa do tipo.

- Devem ser do vilarejo próximo daqui... -

- Tsc... - Resmunguei abaixando o meu braço. Já era hora, não podia continuar por mais tempo apenas seguindo o caminho que a mulher apontava, fosse ela uma médica de Suna ou não, tivesse ela medo de serpentes ou não, eu tinha que questioná-la sobre a razão real de todo esse mistério em torno da morte de seu marido e o motivo de precisar de um guarda-costas apenas para visitar o túmulo, já tinha escutado sobre missões em que solicitavam rank C, mas se mostravam em rank maior com mercadores mesquinhos tentando pagar menos, mas por que alguém pagaria para a vila uma de Rank A, se não existia um perigo real?

- Certo, Por que exatamente você precisa de escolta?

風邪

Um olhar diferente surgiu no rosto da médica, um assunto que a incomodava estava prestes a surgir.

- Tudo bem se não quiser falar, mas posso saber com o que estarei lidando se disser.

- Tudo.. Tudo bem. - A mulher levou as mãos até os seios e retirou de seu decote uma pequena carteira, a falta de iluminação ali dificulta ao certo em saber o que estava por vir. Logo, retirou uma foto e levantou mostrando-a para mim, três pessoas estavam ali, ela e mais duas, amtes que eu pudesse perguntar quem elas eram, recebia a minha resposta.

- Este é meu marido... Bom, era... Ao lado está Hiroshi, ele era nosso amigo de longa data, até que ele começou a se envolver com coisas erradas, meu marido e eu éramos deste pequeno vilarejo, aqui perto, então meu marido foi enterrado aqui, o grande problema é que Hiroshi jurou que tiraria a minha vida. -

Surpreendentemente a história me deixava ainda mais intrigado sobre tudo que essa mulher havia passado.

- E o que você fez para que ele jurasse isso? - Já não era de minha conta, mas não resisti em me perguntar por curiosidade.

- Nós o entregamos para Suna. -

風邪

Voltamos a caminhar, fazia sentido que Shizune escolhesse fazer suas orações para o falecido pelo periodo da noite, estava com medo de encontrar o velho amigo, talvez sequer fosse medo, parecia mais um sentimento de angústia, como se não quisesse encarar o passado, conseguia entender, não era uma situação fácil olhar nos olhos de quem havia ceifado a vida de uma pessoa importante para você... Mesmo que eu desconhecesse isso.

O restante do trajeto a mulher fazia quase completamente calada, aos poucos chegavamos no pequeno vilarejo onde ela morava antes de buscar refúgio em Suna, um lugar simples e pouco populoso, algo terrível o tal homem devia ter feito para escolher matar seus amigos, sem contar que todo o vilarejo sequer devia saber da história real, quem sabe ela mesma não fosse vista como a assassina ali.

Podia ouvir alguns pequenos soluços, ela parecia se esforçar para não chorar, tentar parecer um pouco forte diante da minha presença, um completo desconhecido.

- Faz quanto tempo que não vem aqui? - Os papeis pareciam invertidos agora, eu não era uma pessoa ruim para menosprezar a mulher para o resto da vida apenas por um pequeno distrato com Nagini, e sua situação era triste, precisava de algum consolo.

- Dois anos...

風邪

Era incrível como o tempo passava rápido, enquanto uns se esqueciam das coisas, outros guardavam até os dias atuais as cicatrizes... Levei a mão ao meu rosto ao lembrar vagamente do dia que consegui as feridas que me marcavam para sempre, mas logo a memória se desfez e voltei meu foco para a missão.

Agora eu já sabia a aparência do homem que tinha ameaçado Shizune e com toda certeza faria um interrogatório depois para concluir sobre a denuncia feita à Suna e por que ele nunca tinha sido punido pelos crimes, seja lá quais fossem, mas agora não era momento para fazer a pobre mulher relembrar desses assuntos, então me abstive e continuei quieto acompanhando.

Algumas centenas de metros caminhados e finalmente conseguia ver um pequeno cemitério, os olhos da médica se enchiam de lágrimas, eu conseguia dizer sem sequer ver seu rosto. Andei pelas lápides olhando os nomes dos mortos ali, a vida era frágil e num segundo tudo podia acabar, não existiam lugares mais melancólicos no mundo que cemitérios.

A segui até que ela se direcionasse especificamente para uma lápide, onde conseguia identificar o nome escrito "Kadeki Inari".

- Vou te deixar sozinha, mas estarei por perto, vigiando, não se preocupe. -

風邪

Infelizmente naquele pequeno cemitério não haviam criptas, ou qualquer outro lugar onde eu pudesse ficar no alto e ter uma boa visão de todo o lugar, teria que me contentar em ficar apenas à alguns metros dela, felizmente podia contar com minha audição para identificar caso alguém resolvesse aparecer, mesmo que as chances fossem minimas de que o assassino do marido aparecesse, como shinobi, precisava estar preparado.

à cerca de dez metros, encostado em uma árvore ficava em silêncio com meus olhos fechados e de cabeça baixa, conseguia ouvir os sussurros da reza que Shizune fazia, mas tentava não prender minha atenção ali, afim de dar privacidade suficiente para a mulher e respeitar todo o seu luto, anos tinham se passado desde que ela vira o falecido, devem ter sido tempos dificeis e na missão dizia que ela era uma médica importante para Suna... Isso me fazia ter ainda mais raiva do assassino certamente o faria pagar, mas não tinha como fazê-lo em meio a missão atual. Traria a justiça mesmo que fosse em silêncio para aquela pobre mulher.

Abria apenas o meu olho bom para verificar se ela ainda estava ali, mesmo que pudesse escutá-la e fechava outra vez continuando minha pseudo-meditação enquanto aguardava.

風邪

As palavras paravam, o choro e soluço paravam alguns minutos depois, só então resolvi me aproximar de Shizune, e com a mulher ainda agachada sobre o túmulo de seu amado, toquei em seu ombro com minha mão direita enquanto encarava a lápide cravada ao chão.

- Você parece uma boa pessoa, ajudou muitos em Suna. - Os olhos amendoados me encararam, esperando a continuação de minhas palavras, que eram ditas de forma fria e cheias de certeza. - Eu vou garantir que essa história não termine assim, para que você possa descansar, vocês dois. - Com lágrimas escorrendo do rosto ela se levantava e me abraçava, com força, chorando ainda mais, sem vergonha alguma de demonstrar a sua emoção. Por um instante ficava de braços abertos sem saber ao certo como reagir, mas eu também era humano, apenas retribuí e a deixei chorar em meu manto.

- Me desculpe... - Shizune falava por ter perdido a compostura, dessa vez mais que outrora, era uma mulher forte e realmente merecia ser vingada, talvez não houvessem provas o suficiente para que o assassino fosse caçado ou talvez algum poder politico o tivesse protegido, mas não conseguiria protegê-lo de mim.

Encarava a pequena vila por cima dos ombros da mulher enquanto ela caminhava para sair do cemitério.

風邪

Era madrugada, mesmo que não tivesse como ver as horas exatamente, o conhecimento astrologico era algo inerente à vida de um shinobi, saber ver o tempo olhando para o céu estrelado e escuro era de grande utilidade me diversos aspectos, então eu sabia que muito tempo tinha se passado desde que saímos da vila da areia.

A situação ainda não estava resolvida, minha missão envolvia em também voltar para a vila em segurança e em um horário tão tenebroso era sempre possível sofrer ataques de bandidos e se guiar apenas com a luz da lua era uma tarefa complicada, ainda estávamos dentro do pequeno vilarejo, com alguma iluminação, mesmo que pouco, porém, logo entraríamos em estradas completamente desertas e ausentes de luz, onde precisaria manter minha atenção para todos os sons ao nosso redor, tanto por conta de bandidos quanto por animais que pudessem atacar.

- Você é sozinho? - A voz de Shizune já não me irritava mais, era incrível ver o que um curto período podia fazer para que as pessoas se aproximassem, apesar do péssimo inicio, uma pequena amizade podia surgir disso tudo.

[color=purple[ - Somos apenas eu e Nagini. - [/color]

- Ela deve ser muito importante para você... - Falava com um sorriso simpático no rosto.

風邪

O caminho de volta ainda era longo e horas seriam gastas na caminhada, algumas conversas aleatórias surgiam, Shizune resolvera me contar sobre toda sua história de vida enquanto eu iluminava o caminho com um ninjutsu simples, desde o motivo para querer se tornar médica que surgia de seus pais, até quando conheceu aquele que se tornaria o grande amor de sua vida, infelizmente o dia de sua morte também, como conseguiu escapar por muito pouco e se esconder dentro da carroça de um mercador que ia até Suna. Contou sobre já ter visitado a vila outras vezes e sobre situações complicadas com ninjas extremamente feridos que eram levados para lá. Não conseguia evitar de rir quando ela mencionava a confusão no hospital alguns dias atrás quando um shinobi e um assassino se enfrentaram no corredor, obviamente fui questionado sobre o motivo de ter rido, mas evitei de confessar que eu era um dos que lutavam no corredor, nunca fui muito de me vangloriar sobre meus feitos, afinal.

A volta era tranquila, todo o trajeto percorrido sem esbarrar com bandidos ou animais selvagens sedentos por carne humana na madrugada, à nossa frente estava a grande vila da areia, nossos caminhos seriam separados, mas em breve voltaríamos a nos encontrar, disso tinha certeza.