Frio. Estava muito frio e minhas mãos cobertas por luvas se esfregavam uma nas outra em uma frustrada tentativa de me aquecer. Conseguia sentir cada detalhe da minha respiração pesada, com o ar frio entrando e o ar quente saindo, este segundo, sendo visível por uma pequena fumaça branca no ar que saia da minha boca. Enrolava o cachecol mais uma vez em volta do pescoço e ajeitava minha postura em cima do prédio que estava sentado. Ao meu lado, um binóculo, uma bolsa com um pouco de suprimento junto dos meus equipamentos de batalha e um rádio para emergências em uma frequência para que possa ser contato a qualquer momento.

A noite me envolvia, assim como o vento gélido trazido pelas montanhas de Kumogakure. A luta contra o cansaço e o sono eram constantes, as olheiras nos meus olhos são muito marcadas e profundas, mas curiosamente, eram esses tipos de momento de calmaria que eu melhorava e podia respirar mais aliviado no silêncio da noite. O cantil de água toca nos meus lábios quase congelados e bebo a água para matar minha sede. Então, olho mais uma vez para o motivo de eu estar ali, a razão de eu suportar ficar nessas condições. Era a residência de Kimi Fujii, a qual, quando posso, vigio e protejo como um cão de guarda atento para qualquer ameaça ou perigo.

Mesmo se passando tanto tempo da nossa última conversa, eu ainda lembro como se fosse ontem, cada sensação e sentimento. Depois da morte de Tanya, passei a vir para esse ponto de observação estratégico, tirando das minhas horas de sono para proteger a minha dama e as pessoas em volta em total segredo, já que não podia deixar o maníaco chegar perto dela ou associa-la a mim, além disso, Kimi me mataria se soubesse que estou me sacrificando tanto no frio da madrugada, ficando nesse estado precário sem se importar comigo mesmo. Às vezes, tenho visão da garota que guardo com tanto zelo. As coisas parecem estar difíceis, o jardim não está tão bem cuidado como antes, os funcionários diminuíram consideravelmente e ela sempre está cada vez mais cansada, porém, parece constantemente desenhar e pintar algo com concentração. Kimi, no final de sua tarefa, sempre pausa com objetivo de olhar para a janela com uma expressão melancólica e refletindo sobre algo antes de desaparecer da minha visão. Fico imaginando, se ela ainda pensa em mim, se ainda acredita em mim mesmo depois desse tempo todo sem nos vermos. São nesses momentos que a provação é mais difícil, pois vê-la assim, traz uma vontade quase incontrolável de abraça-la e conforta-la, assim como fez comigo.



Todavia, a maldita guerra ainda estava acontecendo, ataques a viajantes, bases, suprimentos, mortos e mais mortos por todos os lados, parece que tudo vai desmoronar a qualquer momento e ainda não consegui pegar o Bison. Fico no gabinente o dia todo ou em em tarefas complicadas, recebendo pressão politica de todos os lados para fazer algo, o estresse e ansiedade parecem estar no pico. Murata voltava cada vez mais ferido de volta em casa, quase não conseguimos nos encontrar. Meu tempo para treinar Tadashi está bem curto, isso porque ele praticamente vive na minha casa como meu protegido, mas nunca desisto, promessa é promessa. Minha tia... É a minha tia, vivendo por fora como sempre, ou em missão ou vagabundeando em bares por aí. Parece que cada vez estou mais distante do mundo, como se estivesse me isolando aos poucos, perdendo minha sensibilidade. A guerra me consome, sempre que saio em missão, sangue é derramado, morte e o cheiro disso tudo passa a ser familiar. Dou o meu melhor para resolver e manter as coisas, mas seria mentira se eu dissesse que está fácil. A verdade, é que se não fosse pela minha determinação, pelos meus ideais e pelas pessoas por quem luto, não me manteria de pé. Eu tenho que acabar com essa guerra... Eu preciso.

Enquanto isso, fico no meu posto de vigilante, resolvo alguns assuntos na vila, anoto um pequeno diário para extravasar meus sentimentos quando minhas mãos não estão quase congelando, algo que não posso fazer e agora, mesmo sendo capaz disso, odeio fazer pois me faz parecer fraco. Aproveito o ponto para ajudar em algo, anteontem mesmo, peguei uns ladrões que tentavam furtar uma loja no meio da madrugada e impedi um espaçamento contra uma mulher.

- Aqui é Nuvem-1... Senhor Nanadaime Raikage está na escuta? Câmbio – O áudio emitido do rádio chega até o meu ouvido. Uma voz masculina me solicita, por minha vez, pego o aparelho e aperto o dispositivo.

- Raikage aqui... Prossiga Nuvem-1, câmbio – Digo depois de respirar fundo.

- Temos uma missão urgente e poucos ninjas disponíveis a essa hora... Um ninja de alta patente roubou um pergaminho com planos estratégicos de Kumo... Não sabemos sua motivação ou plano, mas foi informado que estava indo para o noroeste... O senhor está disponível para a missão? É de alta periculosidade, rank S mais especificamente... Entendido? Câmbio – O agente me explica e sem hesitação, respondo.

- Copiado... Estarei a caminho imediatamente... Assim que precisar, pedirei mais informações, câmbio desligo – Encerro a transmissão com um clique e guardo na bolsa que carregava. Como já estava pronto para qualquer coisa. Me levanto e me despeço a distância, olhando para o horizonte e enfim, indo embora para cumprir a tarefa.

[...]

Caminho pela noite silenciosa entre as montanhas de Kumogakure, estando completamente sozinho. Um olhar cansado me acompanhava e passos arrastados também. Esfrego o rosto e paro rapidamente para descansar, o desgaste físico era grande, mas o mental se mostrava pior, a verdade, é que eu não estava em condições de aceitar uma missão naquela hora e missões de nível S não são agradáveis. Mas sempre vinha uma frase na minha cabeça: “Se não eu... Quem?”.

Já tinha a descrição do meu alvo, um traidor da nação que por algum motivo queria trocar sua pátria por um punhado de dinheiro, mesmo que no processo sacrifique pessoas inocentes e seus antigos camaradas. Não conseguia entender, como uma pessoa poderia fazer tal escolha, porém, agora aquele que antes era aliado, havia se tornado inimigo e uma mira fora colocada em suas costas.

Eu devo ser uma pessoa louca, passando pelas montanhas a noite e correndo o risco de cair a qualquer momento. Mas não conseguia me importar com isso e o trabalho precisava ser feito. Em um ponto, passo a descer ao pé da montanha, com minhas próprias mãos e pés apoiados em pedras que poderiam cair comigo ali causar uma morte dolorosa e nem mesmo poderiam achar meu corpo, mas essa é a vida de um ninja.

Já estava caminhando por horas, já deviam ser cerca de quatro horas da manhã, logo iria amanhecer e viraria a noite que a essa altura, virava uma companheira não muito confiável, mas sempre presente. Ali, na minha localização atual, encontrava restos de um pequeno acampamento improvisado. O cheiro da comida feita e o odor da recente queima do fogo adentrava pelas minhas narinas. Vasculho rapidamente o local procurando pistas ou algo que indicasse meu alvo, porém, apenas uma shuriken abandonada é vista.

Já era o suficiente e mais a frente, alguns galhos estranhamente quebrados, assim como algumas pegadas com fortes indícios de tentativa de mascarar o rastro. Inteligência não parecia a especialidade desse ninja. Minha viagem parecia estar perto de acabar com a aparente aproximação do meu alvo.

O tempo passava mais um pouco e conseguia avistar um indivíduo descendo algumas rochas até uma trilha com um pergaminho em mãos. A descrição batia com as informações, era hora de captura-lo e se tivesse resistência, inevitavelmente eliminar o traidor. O sigo um pouco pelas sombras e percebo que ele se aproximava de dois mascarados no meio da trilha. Cerro os dentes, já presumindo o que era aquilo e sua pretensão. Como não era possível ver mais, saia daquele local e subia em um ponto mais alto, em uma árvore perto, me posicionando em um galho firme e passando a analisar tudo.

Era um posto de controle, mias precisamente, um acampamento de mascarados, da mesma descrição dos capangas de Bison. O traidor parece ser recebido com uma certa suspeita dos homens, mas entra com uma certa facilidade, parece que ele vem dialogando com eles a um tempo. Assim, o mesmo segue até o acampamento mais atrás, fora da trilha.

Respiro fundo e contato o rádio. A estática estava alta e nunca conseguiria contatar a vila dessa distancia, precisava encontrar a frequência de um posto de controle de Kumo e requisitar apoio, afinal, os planos não mudaram, mas foram acrescentados, iriamos destruir essa base, capturar o traidor e as informações e se possível, tomar posse de seus equipamentos e suprimentos. Após um tempo, consigo contatar um posto de controle proximo e requisito um ataque em breve.

Com tudo pronto, começo a minha infiltração descendo da arvore e fazendo o mais básico, enfiando-me na terra com meu jutsu “Doton: Moguragakure no Jutsu”. A partir daí, só comecei a andar para frente, sentindo os inimigos por cima através dos campos magnéticos que o jutsu permitia sentir e surpreendentemente eram bastante pontos, cerca de vinte indivíduos contando com o atual nukenin que caminhava lentamente para algum lugar. Sigo-o sem visão plena e quando percebo a pausa na movimentação do alvo, sigo para uma localidade sem inimigo e coloco meu corpo para fora.

Saio dentro de uma tenda cheia de caixas, analisando mais de perto seu conteúdo, percebo que se trata de vários suprimentos para os mascarados, consistindo basicamente em alimentos que duram bastante como enlatados e rações militares. Uma parte do objetivo fora localizado, mas antes de mexer com isso, deveria deter controle do posto. Com o braço, saio da tenda lentamente, levantando o pano e conferindo os cantos. Existiam diversas lamparinas e não fogueiras, possivelmente para não atrair atenção a custo do frio. Os soldados, em suma maioria descansavam, deitados dentro das tendas de alojamento, volta da luz ou estavam de guarda para proteger o local.

Meus olhos varriam tudo, procurando e analisando, contando precisamente cada inimigo, seu tipo de arma e suas posições, tentando decorar os postos de guarda e deduzir as prováveis rotas de patrulha. Tudo muito bem organizado, apesar de alguns erros humanos e seria neles que me aproveitaria. Vejo entre as frestas de uma das barrancas, na maior dela, a roupa do meu alvo.

Me movo furtivamente, pelas sombras, mesmo que eu não fosse especialista nisso, dava para quebrar um galho com minha destreza atual. Era difícil me locomover e não podia matar ou imobilizar ninguém, pois a proximidade deles era muito alta e se um sumisse, com certeza seria rapidamente notado e anda de bom viria se o acampamento entrasse em alerta. Chego onde queria, escutando a conversa por fora.

- E aí? Eu falei que pegaria os planos e eles estão na mão, meio grandes, mas nada que uma boa leitura não resolva... E então, a recompensa por tudo isso que eu fiz? – Pergunta o meu alvo, impaciente.

- Vou dar metade e depois que analisarmos a veracidade dos arquivos coletados, pagaremos o restante e seu transporte para fora do país do relâmpago em segurança – De outro lado, o que parecia ser o comandante, se mostrava bem calmo e tranquilo.

- Você não entendeu... Eu conheço Kumo e eles vão atrás de mim como uma águia faminta atrás de sua presa, tenho que sair daqui rápido... Devem estar no meu cangote a essa altura – Sua voz se eleva aumentando sua imposição que logo é cortado pela contra parte da conversa.

- Se acalme... Não podemos fazer nada sem permissão superior e você deve entender isso... Alias, não quer nossa fúria – Ameaça, pegando o pergaminho que eu queria.

- Hmpf! – O nukenin reclama e se vira para sair dali.

Percebo uma chance e ajo de uma vez. Pulo para dentro da tenda em um ataque supressa bem em cima do comandante que lia os arquivos posicionando a mão no seu rosto e eletrocutando-o com uma manipulação de raiton e utilizando a outra mão, seguro o pergaminho dos planos. Frito seu rosto e o nukenin se surpreende, se virando até mim no reflexo e disparando uma potente bola de fogo na minha direção.

Viro o comandante dos mascarados, que por sinal, ainda estava vivo, na direção do ataque flamejante, usando-o como escudo. As chamas eram tão poderosas que carbonizam completamente o corpo que não passava de um cadáver nesse momento, chegando até mesmo a chamuscar minhas roupas e pele. Toda a tenda estava incendiada, mas o combate estava começando.

- O que?! – São suas ultimas palavras antes de arremessar o corpo com toda minha força em cima do alvo e sacando a Kumo-Ha logo em seguida avanço com um movimento de perfuração reta com intenção de atravessar o corpo e acerta-lo. É isso que acontece, mas o comprimento da lâmina não é suficiente para atravessar completamente o corpo humano. Em reação, o nukenin tenta empurrar de volta, com uma força consideravelmente maior que aminha. Então, uso mais uma vez uma manipulação com a construção especial da minha espada, atirando um raio preciso no peito do meu inimigo através do corpo.

Escuto seu grito de dor e sua queda ao chão, jogando o corpo para o lado e se rastejando para fora da tenda em chamas. Caminho calmamente até ele, balançando a espada para limpar o sangue com o balanço.

- Maldito! Eu vou te fazer pag- - De repente, sua voz trava e seus olhos se enchem de temor ao me ver – N-Nanadaime?! – Diz quase engasgando com suas palavras, parecendo que iria desfalecer ali mesmo. Porém, o mesmo se levanta e começa a correr para longe. – Inimigo! Inimigo! É o Relâmpago Celestial! – Os mascarados que obviamente já estavam em alerta se viram até mim, com todos os diversos tipos de armas. A noite estava longe de acabar por mais que o amanhecer estivesse perto.

- Matem ele! – Um deles grita e uma saraivada de flechas é disparada em minha direção. Começo a correr atrás do meu alvo, pois a missão não havia terminado. Sinto o vento gerado pelos projeteis passar ao meu lado, quase perfurando-me e rasgando minhas roupas.

Dois homens aparecem na minha frente em uma tentativa de impedir meu avanço portando katanas curtas. Eles iriam atacar ao mesmo tempo, porém, desvio rolando para o lado e levanto cortando a lateral do esquerdo, levando-me e usando as costas do mesmo como plataforma de passagem, transpassando por cima e cortando seu aliado. Só nessa ação, percebo que estavam me cercando, cerca de oito ninjas de uma vez e seria impossível de revidar no corpo-a-corpo. Junto minhas mãos em selos quase instantâneos e então grito – Raiton: Amigumo - Bato no chão, gerando uma onda de eletricidade por todo o lugar, eletrocutando os inimigos em área. Uma flecha atinge meu ombro por conta da parada e mais acertaria se não corresse.

O cansaço cobrava seu preço, igual naquela noite chuvosa. Não desisto e continuo perseguindo meu objetivo, este que vendo que não iria escapar, finalmente engaja combate comigo, lançando mais uma bola de fogo potente, na qual defendo, com muita dor, espalhando raios roxos pelo meu corpo com o “Raiton: Shiden”. Me aproximo e uma luta corporal se inicia. Meus aspectos físicos não são bons e depende da arma para causar algum dano, já ele, era mias forte nesse ponto, porém, seu temor de estar lutando contra o Raikage o atrapalhava. A Kumo-há e a kunai dele se chocavam violentamente diversas vezes em um combate brutal. Parecia que iria vencer, mas sou atingindo com uma flecha na panturrilha e que me faz perder a estrutura do corpo e cair. O nukenin sobe em cima de mim e tenta enfiar a kunai no meu pescoço, mas impeço, forçando para cima.

Um poderoso raio, junto do amanhecer do dia chegam no acampamento. Com uma manipulação elétrica, atrapalho seu movimento e consigo forças para pegar a minha espada novamente e cortar o pescoço do meu inimigo, eliminando-o. O reforço de Kumo que havia pedido chega e lutava bravamente com os inimigos, acabando com a maioria deles. Um aliado meu, estende a mão para ajudar o Raikage todo coberto de sangue

- Obrigado... – Agradeço ao shinobi de kumo que me ajudará a levantar - Relatório – E digo de forma curta e grossa para outro ninja que havia comandado o grupo que chegara.

- O acampamento está sob controle... O restante dos inimigos foram abatidos ou fugiram... Quais são as próximas ordens? – Ele fala, se mostrando aposto e em posição de sentido.

- Apaguem o incêndio, investiguem tudo e levem o máximo de suprimentos para a vila – Ordeno, sentindo meus machucados arderem com os projeteis presos na minha carne, mas mesmo assim, pego e guardo minha espada na bainha.

- E suas feridas...? – Pergunta o ninja.

- Preciso de um Iryo e depois voltarei para a vila – Termino minhas ordens e logo sou atendido por um ninja médico que tinha ali.

Aquela missão havia acabado, mas a guerra não, ainda estava longe de acabar infelizmente, mas eu vou continuar seguindo em frente.

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