Ouça a minha história. Essa… pode ser a última chance.
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- Eu… não quero ir - A  garota disse, olhando para a imensidão do campo à frente dos dois.
- Eu sei… - Ele respondeu, parado logo ao lado dela, também olhando para o cenário

Menos de uma hora atrás os dois haviam recebido uma notícia que mudaria suas vidas para sempre, literalmente. Tanto quanto Squall quanto Rinoa foram adotados, e dentro de poucas horas, estariam deixado aquele orfanato, para sempre. A garota colocou as mãos atrás de suas costas, e levantou a ponta de seu pé, que tocou o chão e a deixou balançar a perna em um formato de arco, costume que ela tinha quando estava com medo ou triste. Mais um dos detalhes que apenas Squall conhecia nela. Alguns momentos de silêncio se seguiram, até que ele o quebrou.

- Me desculpe - Ele disse, com o olhar baixo, irritado com a situação. A menina parou todo e qualquer movimento quando ouviu aquilo, e chegou um pouco mais perto dele, colocando sua mão sobre seu ombro.
- Squall… por favor, não se culpe. Você não pode fazer nada, nós não temos como evitar… por mais que eu quisesse - Ela disse, se afastando um pouco novamente, levantando o rosto e observando as flores balançando ao vento.

A menina esteve ali desde que conseguia se lembrar, pois seus pais foram vítimas das guerras ninjas. Mas, mesmo sem eles, ela se considerava feliz, pois tinha amigos que considerava sua família.

- Você lembra da primeira vez que conversamos?- Ela questionou, virando o rosto um pouco na direção do rapaz, que acenou positivamente antes de responder.
- Eu não conversava com ninguém, e todo mundo costumava ficar longe de mim. Mas você não, mesmo quando eu mandei você embora tantas vezes - Ele respondeu com um leve sorriso, lembrando da situação.
- Dezesseis vezes - Ela respondeu, rindo - Mas… eu não queria me afastar. Decidi que seríamos amigos, e ia me assegurar de que você concordasse. Você era o mais difícil de lidar aqui dentro. Nem mesmo Seifer tinha um temperamento difícil como o seu. Ninguém conseguia conversar com você, ou sequer ser seu amigo. Até hoje me pergunto como eu consegui.
“Eu não era difícil…………. Ok... talvez um pouco” - Pensou.
- Squall… o garoto quieto. Você nunca falou mais do que dez palavras em uma frase para ninguém aqui além de mim, pelo que me lembro - Ela virou-se para ele, sabendo como ele iria reagir àquelas palavras.
- Tanto - Ele começou
- Faz - Ela terminou, conhecendo a reação típica do rapaz toda vez que um assunto pessoal sobre ele surgia. Ela caiu em uma pequena gargalhada momentaneamente, feliz por saber que conhecia ele tão bem.

Ele permaneceu quieto e inexpressivo, como sempre, mas por dentro, estava feliz. Sabia que, por mais que não admitisse, ela o conhecia como ninguém, e isso o deixava feliz. A maneira com que ela forçou a aproximação com ele, e fez o rapaz aceitar isso aos poucos, sem notar, lhe trazia uma alegria descomunal. Mas, com tudo que aconteceu em sua vida, e por ter crescido sozinho, era o tipo de pessoa que nunca demonstrava isso. Não que não quisesse, mas não sabia. E por isso, guardava isso no fundo de seu coração, mascarado atrás de seu típico comportamento frio, objetivo e quieto. “Squall é uma pessoa que não é nada amigável, difícil de lidar, gosta de estar sempre sozinho e fala muito pouco” é como gostava que as pessoas o vissem, assim não veriam esse lado emotivo dele, que ele tanto temia. Mas, aquela garota parecia ser diferente. Conseguiu enxergar nele o que ninguém mais havia conseguido. Hilário como a vida apresenta pessoas que podem ser tão diferentes e tão parecidas ao mesmo tempo. O rapaz manteve seu olhar no distante horizonte, refletindo em silêncio sobre tudo aquilo. Seu estranho e quieto jeito parecia afastar à todos, menos ela. Talvez ele não fosse tão solitário e distante enquanto pensava, no fim das contas.

Um breve silêncio se estabeleceu novamente, enquanto o rapaz se virou para a garota, olhando para seu rosto.
“Deve ser assim que alguém se sente quando olha para o rosto de um anjo” - Pensou, embora inexpressivo por fora.

-Posso contar uma história? - Ela perguntou, olhando para ele, que acenou concordando - Eu tive um sonho. Nós prometemos que nos encontraríamos para ver estrelas cadentes no céu. Então eu me preparei e sai para ir, mas eu não consegui encontrar você em lugar nenhum. Eu corri por muitos lugares, procurei, mas nada. Eu me desesperei, e quando percebi que não aguentava mais correr, eu… comecei a gritar seu nome e chamar por você. Então eu acordei, e estava chorando. Eu… sinto muito, só precisava falar isso, não precisa dizer nada.
- Rinoa - Ele falou, puxando-a suavemente pelo braço, para poder encará-la nos olhos - Está tudo bem, você não tem que se preocupar com isso. Foi um sonho. Mesmo que a gente viva longe por um tempo, eu vou te encontrar. Confie em mim - Ele pontuou, olhando-a firmemente nos olhos, seguro do que estava falando. A garota deixou uma lágrima escorrer por seu olho direito, feliz pelas palavras que ouviu.
- Você está certo - Ela respondeu, sorrindo.
- Então… eu estarei aqui - Ele respondeu, olhando para o lado, na direção do campo.
-... porquê? - Ela perguntou, confusa.
- O motivo de você não ter me encontrado, é porque não fizemos a promessa ainda. Então, eu vou estar esperando por você. Se você vier aqui, vai me encontrar. Eu prometo.

A única reação que a menina de cabelos pretos conseguiu esboçar foi jogar seu corpo contra o do rapaz, apertando-lhe com um abraço caloroso, de onde ela tanto queria tirar forças de novo.

- Obrigada… Squall. É uma promessa então  - Ela disse, enterrada nos braços de seu amigo.

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E aquele abraço foi o último que demos. Foi a forma que encontramos de dizer adeus. Foi quando minha história começou. E agora… bem, olha onde estamos. Se as coisas não saírem como o planejado, apenas quero que saiba que esses foram os melhores dias da minha vida.

Continua...

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