Fiz o mesmo caminho que já estava acostumada a fazer há um ano. Diferente da primeira vez que passei por ali, entretanto, várias pessoas me reconheciam e acenavam, me desejando um bom dia e, às vezes, me presenteando com alguma fruta ou pãozinho. Também me paravam para fazer perguntas, como questionar como eu estava, meus avós, ou para simplesmente para falar sobre o tempo.

Eu não me sentia uma estranha. Não mais.

Toda essa procissão, juntamente com a minha velocidade preguiçosa, sempre fazia com que eu quase me atrasasse para chegar até a residência onde Miyazaki estava detido — eu não gostava de me referir como a casa dele, afinal, ele não podia deixá-la. E a caminhada não era a única coisa que se repetia, dia após dia; o shinobi que o acompanhava antes de mim sempre me lançava um olhar feio ao me ver, e deixava seu posto sem sequer se despedir, apenas me jogando um pergaminho, onde tinha anotado os pontos altos de sua missão. Geralmente, eram coisas como horário de refeições, sono, vitórias no shogi.

Miyazaki sempre estava no mesmo lugar. Como eu o acompanhava durante a manhã e parte da noite, ele me aguardava na área externa, fumando seu cachimbo. A fumaça adocicada me fazia ter vontade de fumar e, inconscientemente, eu levava as mãos até os bolsos, onde maço de cigarro.

Como de praxe, o velho dizia: — Não ouse acender essa porcaria perto de mim! — E eu, lamentando, soltava o maço, mesmo que a vontade de fumar secasse minha garganta.

— Bom dia, velhote. Tenho notícias. — Comentei, me aproximando dele e permanecendo em pé ao seu lado.



*** edição permitida pelo takanuxo!

O velho não falou nada. Sabia que ele apenas esperava que eu prosseguisse. Ele era muito chato nesses pontos; sua única fonte de diversão era me torturar com treinos exaustivos. — Irei me graduar em uma patente mais alta. Não irei mais ser enviada para tomar conta de você. — Expliquei. Não sei exatamente o que eu esperava; o velho era um puto imprevisível, mas, eu certamente não estava que ele se levantasse e me desse as costas.

Fiquei ali parada, observando-o. Quando notou que eu não o seguia, virou apenas a cabeça. — Eu conheci sua mãe. — Comentou, como se suas poucas palavras não fossem sido capaz de revirar meu mundo ao avesso. Corri em sua direção, sentindo meu coração bater forte contra o peito. — COMO ASSIM? — Não me importei em berrar.

—  Shhh. Foi há muitos anos. Assim como você, quando era mais nova ela também ficou responsável por mim. A diferença é que ela voltou anos mais tarde e me entregou algo. Na época não entendi, mas, assim que você me contou sua história, tudo fez sentido. — Miyazaki tinha ido até um dos vários armários que existiam em sua casa e, enquanto procurava por alguma coisa, eu sentia que minha cabeça iria explodir.

Eu queria que ele me contasse tudo. Como ela era, se era forte, o cheiro dos seus cabelos e suas manias. Como eu era muito jovem quando ela faleceu, não me recordava, então, sugava a informação de todos que a conheceram. — Acho que isso, na verdade, é seu. — Ele me entregou uma caixa cuidadosamente embalada por um pano fino. Não dava para saber o que tinha ali dentro, mas, por seu peso e barulho, certamente não estava vazia.

— Sei que você quer saber tudo sobre ela. Venha, vou lhe contar o que lembro enquanto jogamos shogi. Será a última vez que jogaremos, não? Por um longo tempo apenas, eu espero. Não ouse esquecer este velho que lhe ensinou tanto. — Apesar de estar com muita curiosidade a respeito da caixa, a deixei de lado durante o tempo que passei com Miyazaki. Ele parecia satisfeito por eu estar subindo de patente, porém, era nítido que se preocupava com a próxima pessoa que viria tomar conta dele. Ele era forte, mas também velho; não conseguiria infernizar a vida de seus guardas para sempre.

— Ah, velhote. Essa, definitivamente, não será a última vez que jogaremos.