Levantei-me aquela manhã dotado de um entusiasmo que fugia em muito do habitual. Já estava decidido; essa era a última vez que o capacho aqui se sujeitaria a esse tipo de tarefa imbecil. Hora de começar a virar gente.

O sol mal havia nascido quando disparei porta à fora, ainda que levasse comigo o mesmo semblante carrancudo e desinteressado de sempre. Mãos nos bolsos, cabelos arrumados e as mesmas vestes surradas de sempre. A única diferença, de fato, era o fulgor interno que não transparecia em nada. Naquele dia, eu estava o próprio Raymond Holt.

Diferente da rotina costumeira, nesse caso em específico eu já carregava comigo todas as devidas instruções para realizar a missão, e, segundo o indicado, meu compromisso me levaria para além dos portões da aldeia, numa campina que margeava os limites de Konoha.

Ainda segundo as informações, a árdua tarefa do dia era apagar o fogo no cu de dois caipiras intransigentes que ameaçavam-se recorrentemente em decorrência do misterioso sumiço de algumas cabeças de gado. A disputa entre as famílias vizinhas persistira por décadas, muito em virtude dos limites não respeitados entre os dois proprietários. Agora, então, a situação agravara-se ao ponto de resolverem a situação na base da peixeira.

INFOS:

Missão
Nome: Bois don't cry
Recompensa: 35.000 RY. 4 XP
Descrição: O genin fora convocado pelo responsável pelo recebimento dos fornecedores agropecuários de Konoha para resolver os conflitos entre dois grandes proprietários de terra nos arredores da aldeia.

O pior de tudo era que essa rinha de caboclo estava começando a refletir no mercado da vila e, consequentemente, na mesa dos cidadãos de Konoha. Era de suma importância que esse impasse entre os dois latifundiários, quaisquer que fosse, tivesse um fim.

Era a primeira vez que, de fato, realizava uma missão nas adjacências da aldeia. De galho em galho, naquela típica saltitância shinobi que estamos tão acostumados a ver, atravessei o primeiro bosque que antecedia os portões, deparando-me com a bela paisagem das planícies verdejantes que se expandiam por quilômetros. A partir de então, prossegui pelos segmentos de terra que estendiam meio a natureza. Não demorou para que a fauna local começasse a povoar o cenário. Tampouco o princípio de tumulto ao fundo.

- Oshe, bafo de bunda! Pois eu te digo que não peguei foi nada dessa tuas vaca magra! – Disse o sujeito da esquerda. Um sujeito magricelo, de cabelos castanhos e barba mal feita. – O único bandido aqui é você, vice? Venha cá que vou te furar todinho!

- Vara pau caba da peste do inferno. Pois venha cá que tu vai ver se eu não vou enfiar esse tridente no teu rabo! – Respondia o da direita. Gordo, calvo e com um bigode preto espantosamente escorrido. – VAGABUNDO? VAGABUNDO É TEU PAI, DESGRAÇA! VENHA!

INFOS:

Esbravejou o roliço, iniciando uma investida lenta e atrapalhada na direção do rival. O magricelo não arredou pé, muito pelo contrário. Com o tridente rural em suas mãos, respondera prontamente as ameaças do vizinho, partindo em sua direção. As duas esposas e inúmeros empregados de ambos os sítios apenas assistiam impotentes aquela cena, aguardando a iminente colisão.

Convenhamos que eu nem era tão bom assim nos arremessos, mas dado os últimos acontecimentos, eu havia me descoberto um excelente lançador de armas peculiares. Projetando o embate, algumas mangas podres haviam sido previamente recolhidas da relva e devidamente preparadas para serem afundadas em fuças alheias. E assim foi feito. Duas robustas e molengas mangas roxas explodiram no rosto de ambos os proprietários antes que pudessem concluir as investidas.

- Bora parar com essa putaria, hm? – Caminhei em sua direção, displicente como sempre. Alguns dos empregados dos senhores tomaram a frente como forma de contenção. – Essa rinha de corno tá fodendo a paciência de gente grande. E se vocês querem sab...

Fui abruptamente interrompido pelas passadas abafadas de uma manada furiosa de bovinos que desciam a colina dos currais em nossa direção. Aparentemente, àquele momento, não existia qualquer distinção entres os pertencentes a X ou Y. Entendi foi nada.

- Corre que os bois tão puto! – Berrei para os demais. Homens e mulheres largaram suas armas e buscaram abrigo no interior dos estábulos mais próximos.

INFOS:

- Mas o que significa isso, saco de ossos? Você soltou todo meu gado! Isso não vai ficar assim! – Ladrou o bigodudo, retomando a briga em meio a um caos de terra, bois e poeira.

- Eu não fiz nada, saco de banha! Não tá vendo que o meu gado também tá descontrolado?! Você é cego ou o quê?! – Sim. Apenas os dois idiotas permaneciam discutindo enquanto um exército chifrudo ameaçava pisoteá-los até a morte.

Ignorei a existência de ambos e direcionei-me numa sequência de saltos até o teto de um dos estábulos, protegendo-me e analisando a caótica situação com um pouco mais de afinco. O mistério da revolta dos gados pareceu desvendar-se por si só quando avistei dois pequenos mascarados prostrados no topo de uma das planícies. Era hora da ação.

Saltei deliberadamente do teto do estábulo e pousei sentado sobre o dorso de um dos bovinos enfurecidos. Iniciava-se então o rodeio. Agarrei ambos os chifres do animal e lutei contra sua rebeldia para tentar submetê-lo ao meu domínio. Em dado momento, o animal pareceu responder à tentativa. Direcionei aquele enorme touro negro na direção da tal planície onde situavam-se as duas figuras e engatei a marcha. Avançamos fervorosamente por entre os demais animais descontrolados, tomando distância do alvoroço.

- WOAAAAH! CORRE, MANIM! – Berrou um dos sujeitos ao perceber a investida absurda do touro montado em sua direção. Com pernas curtas e desajeitadas, não demorou para que os alcançássemos. Saltei do touro ao cobrir a distância necessária para alcança-los e agarrei ambos os mascarados pelas ancas, um em cada braço e então saltei para o topo de uma das árvores, evitando o choque do touro cujo qual eu não possuía mais qualquer influência.

- Dá isso aqui, pivete. – Arranquei do pescoço de um deles uma espécie de dispositivo de madeira semelhante a um apito e soprei com força, supondo que acalmaria a boiada. E assim sucedeu-se.

- N-n-nos desculpe, senhor. Nós achávamos que soltando os bois, pouco a pouco, nossas famílias não teriam mais motivos para brigar. – Justificou o primeiro menino logo após a remoção da máscara. Era ligeiramente semelhante ao proprietário magricelo. Seu filho, talvez. – E-eles nem deixam a gente brincar juntos. Nós somos amigos, pô!

Concluiu o segundo, rechonchudo como o outro proprietário. Poucos minuto depois, ao baixar da poeira, os demais presentes no furdunço se retiraram dos estábulos. Caminhei em sua direção e entreguei a tutela dos dois garotos aos seus pais, explicando-lhes a situação. Não havia nenhuma garantia de que aquelas duas famílias tornassem-se amigas, mas a origem daquele impasse estava esclarecida.

INFOS: