Finalmente as coisas na Vila estavam se acalmando, uma espécie de calmaria antes da tempestade. E eu sabia que tinha que aproveitar isso antes de estourar uma nova bomba. — “Nada melhor que um dia em familia depois de tanto caos. Só eu, meu pai e... Yukio…” — Era visível a decepção em meu rosto ao lembrar que meu irmão iria junto. — “Por que ele tem que vir? Ele nem sabe se divertir, é só missão isso, dinheiro aquilo, nem mesmo me chamar pra comer alguma coisa ele faz, preferia que Irvin fosse junto, ele sim ia se divertir.”

Com o TDAH agindo, minha mentei voou para o outro lado, lembrava-me de todas as coisas que teria para comer lá, desde batatas fritas comuns até sorvete. “Bom, eu posso compensar isso. Enquanto ele estiver sem se divertir eu estarei comendo aquelas mega batatas com molho de carne moída e muito queijo cheddar. E depois eu vou pegar aquela taça gigante de sorvete de baunilha cheio de calda de chocolate, farelo de amendoim e waffer... será que ele gosta de sorvete? Acho que nunca perguntei, mas, pelo menos, o nosso pai vai adorar. E eu ainda posso pedir aquela garrafa de saquê caríssima que ele gosta, acho que...”. Por um momento investiguei meu bolso atrás de minha carteira e apertei até que eu pudesse sentir o volume dentro dela. "Sim, eu tenho dinheiro, vai ser o melhor encontro de familia desde sempre. É só uma pena a mamãe não ir, mas alguém tem que ficar na padaria hoje, pelo menos até fechar, talvez ela passe lá depois.

— Pronto, Yukio! Vamos! - Quase como uma criança, corri em direção a sala onde os dois ja estavam. — Pai! — O abracei, fazia muito tempo que eu não o abraçava de verdade, fazia muito tempo que eu nem sequer conversava com ele ou com a mamãe. — Pai, o Yukio tava questionando suas habilidades em boliche, acho que você tem que massacrar ele! — Virei para Yukio e mostrei a língua em uma provocação infantil. — A menos que ele saiba fazer melhor, o que eu duvido muito por que ele não sai pra se divertir! — Continuei o provocando enquanto seguíamos caminho até o boliche que não era muito longe dali.

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Eu estava empolgado com a provocação de meu irmão. "EU? PERDER PRA ELE? Dinheiro fácil." Claramente, topava o desafio enquanto saíamos de casa. Vou acabar com ele, e o Papai também, ele nunca perderia pro Yukio, ele jogava desde que era jovem. Nosso pai tentou se intervir, mas rapidamente falei antes.

— E o Pai não entra na aposta, ele é nosso convidado essa noite. — Sorri e mostrei a língua para ele.

Ja estavamos chegando quando eu consegui ver as luzes esverdeadas que marcavam o letreiro do local. Um péssimo local pra levar a família, pelo menos em aparência, mas resolvi não falar nada sobre isso. Yukio dava algumas desculpas pelo local não ser o que o nosso pai ia, mas na minha opinião, o que importava era a intenção e foram poucas as vezes que eu via Yukio tentar ser legal. Me preocupava se ele tinha algum problema em relação a isso. Tal como eu tenho em falar demais.

— Olha esse lugar! — Sobre falar demais... — Eu acho que a gente pode comer de tudo aqui, andei investigando e parece que o Bacon daqui é a melhor coisa que existe. Sabiam que eles ja chegaram a ser o número 1 em Takoyaki de Kumo? Provavelmente do mundo!!! — Meus olhos brilhavam conforme nos aproximamos da mesa que um dos funcionários indicou para nós como sendo a nossa reserva. Minha mente estava confusa entre desgostar da aparência e gostar do cardápio.

— Eu não saio de casa sem armas, Yukio. Eu tenho poucas coisas pra me defender. — Expliquei, enquanto nosso pai lançava um olhar para mim, como se ele soubesse de algo que eu não sabia. — Mas que bom que você virou um médico, um dia você vai ser o melhor da vila! — Eu sempre tentava ser positivo sobre essas coisas. — Me diz uma coisa Yukio. Qual vai ser sua bola da sorte? — Observava uma azul com detalhes de um dragão em cores escuras, eu ja tinha a minha da sorte em mente, mas queria que ele fizesse a primeira jogada. O encarei com animação enquanto esperava que ele tomasse uma atitude e fosse escolher uma bola para ele.

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Pista 7, o lugar onde iriamos travar nossa brilhante batalha mortal, mas... sem mortes, eu não ia matar meu próprio irmão com um bola de boliche, embora eu tenha certeza de que ele faria sem pensar duas vezes. Imediatamente, ao chegar próximo a pista, ja pedi algumas coisas para comermos, e quando digo algumas coisas eu quero dizer muita batata frita, takoyaki e lámem, todos em uma porção tripla, mas que eu acabaria por comer 70% sozinho ja que meu pai não era dos mais famintos e Yukio não sabe apreciar o lado bom da vida.

— Bom, nosso pai vai primeiro. — Eu sabia que quem jogava por ultimo abria uma enorme vantagem em observação e se tem algo que eu era bom era em observar as coisas e em não ser burro para cair nos jogos mentais de Yukio. Eu não seria desestabili- "Batata" — Pensei enquanto ja colocava sal e começava a comer, afinal, não era algo comum aqui e eu estava doido para comer.

Tão concentrado no jogo, eu não consegui me aproveitar da vantagem que eu tinha, e só pararia de comer quando ja fosse minha vez. Meu pensamento ja me ofendia por não ter prestado atenção no que, posteriormente, eu descobriria que era um fracasso. Peguei a bola escolhida e criei uma trajetória em minha mente usando as informações que eu tinha ali. Com a sorte de principiante, acertei quase todos os pinos logo na primeira tacada, restando apenas 1 que eu derrubaria logo em seguida.

A ansiedade pela primeira jogada me fez ir atrás da jogada perfeita, esquecendo-me de tudo que eu havia calculado ali, me dando um resultado não tão bom no final, e deixando meu pai abrir um enorme placar entre nós.

— Aaaahhhh eu perdi! — Falei. Como se ja esperasse uma vitória contra meu irmão. — Pelo menos eu não vou pagar. - Sorri maliciosamente. Infelizmente, meu irmão tinha contatos, ele sempre se saia bem por algum motivo. Ao passar pela saída, o garoto ja se despedia.

— Vai lá, eu vou curtir com o papai um pouco mais. — Avisei. Assim que o garoto sumiu, virei para meu pai novamente. - Vamos tomar um pouco de sakê? — Ja o puxando para uma barraquinha de rua mais próxima para encerrar nossa aventura.

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