Mefistófeles
メフィストフェレス

I

Me chame de Pequeno Raio de Sol, me chame de Mefistófeles. Os céus tempestuosos e ferozes não costumeiros daquelas terras arrasavam violentamente os campos e ruas pacíficas da região. O viajante de origem da Névoa já se encontrava abrigado dentro de uma taverna, apreciando um sake que o aquecia em prevenção a um resfriado proveniente da fria chuva que o homem havia presenciado a poucos minutos atrás enquanto estava em busca de um teto.

Que tipo de doce você tem por aí? Uma pergunta estranha vindo de um homem adulto e com cicatrizes de guerras estampadas em seu semblante. – Ei, eu só preciso de açúcar, qual é? Não me fitaria desse jeito se eu lhe pedisse tabaco ou ainda mais bebida. – O homem baixo, peludo e rechonchudo tirou debaixo do balcão três ou quatro unidades de torrões de açúcar e os despejou na frente de Äs. Ele levou os olhos àqueles cubos e poucos segundos depois ao bartender, suas sobrancelhas se cursaram juntamente de seu cenho, demonstrando o quão insatisfeito estava com isso, mas o homem que listrada uma de suas canecas simplesmente deu de ombro com o quanto o andarilho estava indignado. – Ah seu cachorro, só não vou reclamar porque estou desesperado.

Após terminar o primeiro de seus torrões, uma mão leve e suave tocou-lhe os ombros. Anasui virou o pescoço levemente enquanto levava mais um daquele doce à boca de maneira cômica e trágica. Seus olhos foram de encontro aos azuis claros daquele ser, eles brilhavam, porém não eram dotados de luz, a cada segundo fitando-os parecia uma eternidade olhando diretamente para o abismo, mas ao mesmo tempo era ligeiramente reconfortante.

O homem - se é que podia denominá-lo dessa maneira - sentou-se a seu lado e pediu uma bebida com pouco teor alcoólico para o bartender. Levou uma de suas mãos ao interior de sua bolsa ao lado do quadril e dali retirou alguns mitarashis dango enrolados de maneira delicada o suficiente para conservá-los e então os entregou a Äs. – Não coma comida feita para cavalo, amigo. – Ele disse com uma voz suave que encantava os ouvidos do nascido da lótus. Anasui agradeceu desconfiado, mas seu desejo - ou melhor, vício - já o consumia de maneira deliberada, não podendo se dar ao luxo de recusar aquelas guloseimas de ótima aparência.

– Quem é você, afinal? Dotado de tamanha beleza e presença divina? - O desconhecido sorriu perante a pergunta de Anasui. – Eu sou um homem que alcançou o que tanto almejava, mas que viu tudo sendo tirado de si por algo que não poderia controlar. Mas respondendo de maneira exata a sua pergunta, me chamo Shüra, o Hachidaime Kazekage. – Anasui ficou boquiaberto por um momento, já tinha escutado histórias sobre esse garoto, mas não sabia muito sobre o mesmo. – E o que o grande Kazekage faz tão longe de casa em uma taverna velha repleta de vagabundos? – O Hachidaime, agora desertor de Sunagakure e dado como desaparecido, virou todo o conteúdo de sua taça em um único gole. – Os deuses parecem ter me amaldiçoado por ter alcançado o mesmo nível que o deles. Por algum motivo que desconheço, aos poucos estou perdendo os movimentos de meu corpo, eu nadei pelo mundo todo em busca de alguma cura, mas não tive sorte.

Anasui se demonstrava completamente preso às histórias e explicações que aquela bela criatura contava a ele, a cada momento fica cada vez mais perplexo em como alguém com tão pouca idade teria tanta bagagem, conquistas e derrotas. – Você chegou perto do mais do Sol e então suas belas asas de ceras foram derretidas, levando-o ao único lugar em que alguém em queda poderia ir. O abismo. – Shüra deu uma pequena gargalhada, nada muito alto para evitar chamar a atenção dos que ali estavam, não gostaria de ser reconhecido, não no estado em que estava. – Não tive minhas asas derretidas e nem arrancadas de mim, meu caro. Eu toquei nas estrelas e vi a gloriosa luz de mil sóis, agora cegado por tal elegância que escolha eu tenho se não.. buscar.. a escuridão?

As horas foram se passando, tudo em segundo plano mudava. A tempestade furiosa havia passado, os clientes já não eram os mesmos do início, o barman já se preocupava em anunciar a última rodada assim como também em erguer as cadeiras que não eram usadas. Mas em primeiro plano, os dois se mantinham imóveis naquele balcão de madeira velha e suja. – Mas eu descobri uma forma de ser eterno, uma forma de viver para sempre! Meu corpo fraqueja, mas minha mente e meu espírito ainda queimam com grande vigor. Eu só precisava encontrar alguém que fosse digno para carregar minha alma, minhas memórias e meu poder junto de si pela eternidade! – Um calafrio percorreu a espinha de Anasui, pressentia algo que não sabia exatamente o que era, mas com toda certeza seria algo grande.

Os últimos clientes se retiraram e o barman se prontificava a fechar seu estabelecimento, indo de encontro posteriormente aos últimos dois remanescentes no balcão, fazendo assim um pedido para que ambos se retirassem do local. Äs demonstrou um pouco de preocupação e quando buscou se levantar, a mão de Shüra pesou sobre seus ombros, impedindo-o de continuar seu movimento. Um barulho da carne sendo rasgada então preencheu todo o ambiente e, ao desviar o olhar, o nascido da lótus logo pôde ver uma corrente saindo da lombar do homem com quem conversava perfurando o peito do dono do local. – E eu encontrei! Você, Äs Anasui, o filho perdido de Van Hohenheim, meu irmão direto e o único Uzumaki puro de sangue, o último de nós! Você irá encontrar outros que possuem parte da nossa linhagem, mas eles não são puros e nem possuem o nosso sangue, nosso sangue real destinado ao divino! Você será quem irá carregar minha alma, minha vontade, minhas memórias e meu poder em si e então alcançará a glória eterna! – Anasui mal pôde contestar toda aquela história, era muito para processar e no instante que buscou dizer algo, sua mente se apagou.

Seus olhos estavam pesados e seu corpo estava totalmente repleto de dor, ao momento que conseguiu se levantar minimamente, seu irmão já não estava mais lá, somente o corpo do homem que havia o servido anteriormente já sem vida. Sua mão queimava como se estivesse em brasa e ao buscar olhar o que aconteceu, seus olhos foram de encontro a um símbolo gravado que anteriormente não existia.

Da marca, uma luz foi emitida e então uma nova onda de calor tomou seu corpo. A voz de Shüra surgiu, de seu interior. – Você não consegue ver...Porque as pessoas que carregam a luz estão dentro da escuridão profunda.

Considerações: