Me retirei mais cedo do gabinete hoje, as coisas estavam bem mais calmas que o normal, então, consegui terminar o trabalho sem me destruir no processo ou sentir culpa de que poderia fazer falta para a vila. Ainda assim, enquanto andava para o local, lembrava da última noite que estive junto com Kimi e aquele beijo. Não podia negar, eu me encontrava pensativo e nervoso, sabia o que queria dizer, mas tinha medo de admitir. Balanço minha cabeça para esquecer, como podia o Raikage se preocupar com essas coisas.

Vou seguindo com as mãos dentro do bolso do casaco. Fazia frio e o ar quente que expirava pela boca se condensava em um fumo branco. Passos lentos e largos, se aproximando do local combinado enquanto olhava de um canto ao outro. Como eu era reconhecido em cada canto que passasse, tentava, muitas vezes em vão, passar desapercebido pelas pessoas e evitar um acúmulo de uma multidão querendo falar comigo.

Acabei chegando muito cedo e por isso, apenas me sento em um banquinho isolado para descansar e esperar. O motivo de estar ali era simples, Kimi Fujii, havia me mandado uma carta, me convidando para um festival que aconteceria hoje a noite, então, após as preparações, aqui me encontrava. Mas nem sozinho e afastado eu tinha paz, duas jovens ninjas se aproximaram rapidamente de mim após me reconhecerem, pareciam surpresas de uma hora para a outra.

- Oh! É o Nanadaime-sama! Que honra encontra-lo aqui! - Elas falam praticamente juntas, como se fossem gêmeas.

- Uau! Você é tão mais legal de perto! Sempre quis te encontrar pessoalmente... Você pode assinar minha bainha? - A outra, sua amiga se aproxima de mim, tirando da cintura uma bainha ainda com a espada guardada junto de uma caneta.

- Não vejo problema - Digo de forma fria, sem me importar muito, mas as expressões dela ficam ainda mais animadas e ansiosas por algum motivo. Pego e faço uma rápida assinatura, devolvendo o objeto.

- Muito obrigada relâmpago celestial... - Agradece. Então, as duas se olham, um pouco nervosas dessa vez e segunda volta a falar comigo - E-Eu queria perguntar... - Tosse um pouco - Se você estaria disponível algum dia desses para... -[/b] De repente, ela para de falar, olhando para algo além de mim - Eh... Putz! Eu lembrei de algo que tenho que fazer agora! F-Foi muito bom te conhecer pessoalmente Raikage-sama! - Fala rapidamente, como se tivesse algo espantando-a.

- E-Ei! O que está fazendo, você não iria perguntar? - Questiona confusa a primeira, mas é arrastada pela amiga envergonhada e apressada - A gente se vê por ai - A outra se despede sendo puxada e as duas saem de perto tão rápido quanto apareceram. Então, quase imediatamente sinto dois braços me envolvendo por trás, com uma voz familiar.

- Boa noite Fuyuki, vejo que chegou cedo, sinto muito deixa-lo esperando... - Pergunta com uma voz doce e leve em meu ouvido. Era impossível não reconhecer essa voz.

- Huh? Kimi? Fique tranquila... Eu acabei de chegar também - Tranquilizo-a com a mesma serenidade na voz.

- Que bom... Eu tive uma certa dificuldade para escolher uma vestimenta apropriada para a ocasião, mas acredito que consegui decidir a certa em tempo hábil... Como estou? - Pergunta, ansiosa com a resposta, nem parece que ela sempre pergunta isso sempre que muda de estilo.

- Deslumbrante - Digo honestamente. Ela estava vestindo uma yutaka azul com detalhes brancos e um obi vermelho escuro.

- Aw, não precisa tanto... Espera... Que roupa é essa Fuyuki? - Kimi começa a me circular lentamente, olhando cada detalhe da minha vestimenta.

- Tem algo errado? - Questiono confuso com tal situação. Já minha roupa que havia comprado recentemente com ajuda do meu amigo Kaito.

- ...Não acredito que errado é a palavra correta, pois fora do comum me parece mais apropriado... Quando você começou a usar esse tipo de roupa? - Kimi me interroga, com uma face séria que por um segundo, me deixa um pouco preocupado.

- Foi uma indicação especial... Ficou ruim? - Indago depois de um breve silêncio.

- De maneira alguma, ficou incrível, você está muito estiloso - Ela me elogia e eu acabo ficando devendo uma ao Kaito por essa ajuda. - Como está o Raikage-sama nesta linda noite? - A moça pergunta graciosamente.

- Muito melhor agora... Vamos? - Respondo e ela assente com a cabeça. Então, começamos a andar lado a lado naquele festival apenas começava.

[...]

Olhando o que poderíamos fazer enquanto andávamos, observo um grande e fofinho cachorro marrom de pelúcia, prêmio de um jogo de arco e flecha. Lembro de alguns conselhos de Kaito, que apesar de não levar muito a sério, poderia funcionar e só de pensar na reação de Kimi, me anima para fazer.

- Eu gostaria de jogar - Peço curto e direto, pegando o dinheiro para pagar o preço da entrada, porém, sou interrompido pelo dono do estabelecimento.

- Desculpe Relâmpago Celestial, eu te respeito muito, mas as regras não permitem ninjas se não a gente quebra... Isso vale para qualquer jogo de habilidade física ou de arremesso, é senso comum para todos - Explica, bloqueando minha entrada na cara dura e sem nenhum pudor.

- Entendo... É uma pena... - Falo com um tom de voz frio, como se não me importasse verdadeiramente com aquilo, mas minha voz parece ter uma ponta de frustração olhando uma última vez para o possível prêmio e deveria pensar em outro plano. Mas então, Kimi toma a minha frente.

- Irei encarregar-me disso Fuyuki... Com licença senhor, eu solicito permissão para participar de tal jogo e sou uma civil - Ela diz educadamente e formalmente, mas extremamente confiante de sua escolha.

- Agora nós estamos conversando... Vai fundo princesa, os equipamentos estão na bancada, só escolher uma modalidade - Responde ironicamente, sem colocar expectativa alguma nela enquanto eu me encontrava genuinamente curioso.

Kimi se aproxima, pegando o arco japonês e as duas flechas que se encontravam ali, movendo-se para a área de tiro logo em seguida. Ali, se posiciona no local designado, encarando o tronco de madeira pintado com alvo circular colorido. Ela respira fundo e ajeita sua postura, pondo-se de lado para o alvo e colocando a flecha no arco sem puxar a corda ainda. Estica os braços que seguravam a arma para o alto e então, a abaixa lentamente, tensionado a linha para trás junto do movimento vertical feito pelos braços.

O movimento dela chega a ser gracioso, sem pressa ou agitação, demonstrando um foco incrível. Era como uma espécie de ritual, ensinada para os mais habilidosos arqueiros de altas classes da sociedade, sendo geralmente mais usado em apresentações e esporte do que em batalhas.

Um silêncio abrupto toma conta do recinto e a garota expira lentamente o ar pela boca, aliviando a tensão da linha e liberando o projétil em alta velocidade na direção ao alvo. Em um piscar de olhos, a flecha atinge precisamente o exato centro do alvo pintado. Fico sem palavras, foi um tiro preciso e quase perfeito, impecavelmente executado, lembra até mesmo da minha mãe.

Sem interrupção, Kimi engatilha a próxima flecha e realiza o mesmo processo, sem pressa nenhuma ou desconcentração, levando o tempo que for necessário para um tiro. A graciosidade e leveza do movimento me chamavam muita a atenção, seu corpo tensionando e contraído os músculos pouco desenvolvidos, mas consistentes de Kimi, eram atraentes e sensuais, com a pose de tiro lateral ressaltando suas belas curvas que capturavam meu olhar brevemente.

Era simplesmente uma vista apaixonante de várias formas possíveis, a beleza do corpo feminino de Kimi se movimentando em diversos ângulos. Seus olhos transmitindo uma determinação e calmaria dignas de um guerreiro treinado, a aparência e o jeito de uma fina dama e um sentimento nostálgico de meu treinamento na infância, tudo era como um imã.

Outro tiro certeiro, do lado do primeiro, mais ainda na pintura do centro. Por fim, ela coloca a arma de volta no balcão e parece estar com uma expressão muito convencida e orgulhosa olhando para mim e o lojista.

- Eu não sabia que podia usar um arco, ainda mais tão bem assim... É incrível - Digo, já que em momento nenhum pensei que uma delicada moça como Kimi conseguiria usar uma arma assim.

- Agradeço imensamente o elogio... Mas é que um dos benefícios de ser herdeira, onde que seus pais intentam que você aprenda todo tipo de atividade... Pintura, música, dança, logística, etiqueta, poesia, botânica e também algumas artes de passadas pela família, como arquearia, pois meu bisavô foi um grande ninja usuário de arco... - Kimi explica a origem da sua habilidade com o arco e diversas outras, mas deixa um mistério no ar.

- Então, é capaz de você estar escondendo um ninjutsu rank S na manga... - Pressuponho, obviamente brincando, mas com um tom sério.

- Talvez... Imagine uma situação hipotética onde quando você estiver com problemas, cujo momento seja de total desesperança... Eu apareça repentinamente e evapore o inimigo, salvando o pobre príncipe em perigo - Brinca comigo - Enfim, aqui o que você desejava - Ela entrega a grande pelúcia de cachorro para mim.

- Ah... Heh... Hmm... Bom... Obrigado - Fico sem jeito, já que eu queria era ganhar o prêmio para ela e acabou acontecendo o contrário. Sem saber o que fazer só agradeço e pego o brinquedo, mas a loira percebe a situação e apenas ri.

- Não precisa sentir vergonha... Agora você pode entregar para minha pessoa e nós podemos fingir que nada acontecera - A Fujii sugere formalmente, dando uns passos para trás e aguardando uma resposta minha.

- Hmmm... Está bem... Aqui, para você - Falo um tanto tímido e entregando a pelúcia para ela como se fosse a primeira, desviando um pouco o olhar pela vergonha e tentando manter um sorriso sem graça, dando tudo de mim nessa pequena ação.

- Nossa! Mas que lindo! Agradeço Fuyuki, você é um amor de pessoa - Ela pega o "presente" e me dá um caloroso abraço como agradecimento, pulando e me puxando para baixo por conta da diferença de alturas. Mas, seus olhos se desviam para algo perto de nós, se revelando uma barraca que vendia uns docinhos dangos muito saborosos e que já havia comido algumas vezes na infância. Porém, os olhos de Kimi parecia brilhar ao observar aquilo, no mesmo momento, eu já sabia o que fazer.

[...]

Passamos mais um tempo andando de um lado para o outro, para cima e para baixo. A loira comia alegremente os lanches que eu comprei nas barracas, maioria deles, ela nunca havia comido ou experimentando esses tipos de comidas tão "simples", mas ainda assim, tão saborosas.

Nas nem tudo eram flores, um grande problema na nossa circulação era que as pessoas constantemente me reconheciam e queriam falar qualquer tipo de coisa comigo. Eu conseguia entender, para muitos, eu era um grande ídolo e herói, mas a aquela altura já era muito cansativo, pois não conseguia dar cinco passos ou terminar qualquer assunto com Kimi.

- Oh! Olhe, uma cabine fotográfica... Fuyuki, nós nunca tiramos uma foto juntos, não podemos perder a oportunidade - Exclama a jovem apontando para o estabelecimento. Sem ter objeções, apenas a sigo em um ritmo mais lento.

- N-Nanadaime! M-Mas que surpresa agradável - Assim que me vê, o fotógrafo fica nervoso, transformando-se na pessoa mais educada do mundo - Por favor, se posicionem - Pede o mesmo com a cabeça enfiada naquela máquina gigante.

Obedecendo, nós nos enquadramos na paisagem. Kimi se assenta na cadeira com suas mãos no colo e eu me posiciono ao seu lado, encarando seriamente a lente da câmera enquanto ela o faz com um sorriso no rosto. Depois, um grande flash da máquina que quase cega-me a foto estava concluída.

- Feito, vai demorar um pouco para a foto ser concluída, mas é só vir buscar depois - Avisa o fotógrafo, indo ao trabalho.

- Muito obrigada senhor - Agradece Kimi enquanto eu deixava um dinheiro para pagar.

Na saída, acabamos escutando conversas que nos dão informações úteis e alarmam principalmente a loira que me acompanhava naquela noite sobre o principal evento.

- Rápido, a gente tem que se apressar se não vamos perder o evento principal, deve faltar apenas alguns minutos - Kimi alerta começando a me puxar pela manga para segui-la, porém, quanto mais andávamos, mais cheio ficava, assim como as interrupções se mostravam mais frequentes. Estava óbvio que não iriamos conseguir acompanhar a queima de fogos a tempo. Olho em volta, observando o terreno, até ter uma ideia que a surpreenderia.

- Hmm... Eu sei de um lugar - Falo puxando-a para um canto mais afastado e levantando-a com toda a força que eu tinha, segurando a jovem nos meus braços finos.

- Huh? Hã? O-O que? O que está fazendo? - Pergunta confusa quase perdendo o equilíbrio e se segurando firmemente em mim, com seu rosto gradualmente ficando ruborizado.

- Confie em mim - Digo, mesmo com o tanto de peso extra, corro com toda a velocidade que poderia usufruir naquele momento para um ponto específico da região.

[...]

- Isso foi... Uau... Eu nunca circulei em uma velocidade tão alta - Kimi diz, sentando-se em um velho banquinho abandonado que tinha por ali.

- Foi um pouco cansativo... - Rebato, descansando um pouco e com a respiração levemente descontrolada.

- Se recomponha, aposto que isso não é nada para o Raikage - A jovem mais uma vez brinca, mas se levanta e caminha do meu lado - Já começará, fique atento - Alerta, sentando delicadamente no chão e eu, também me sento ao seu lado, esperando o momento marcado.

Então, quando eu menos esperava, um feixe subiu para o seu e outros vieram em seguida, explodindo no alto. Meus olhos varriam o céus. Era tão bonito e brilhante as partículas e explosões nos ares colorindo o céu noturno recheado de estrelas, uma paisagem lindíssima que poderia admirar por horas, porém olho para o lado repentinamente vendo Kimi encarando os fogos.

- WoW! Que lindo! - A jovem comenta do meu lado e instintivamente desvio o meu foco do foco do evento principal para ela. Seus olhos pareciam brilhar ao observar os fogos estourando em diversas imagens, expressando um rosto apaixonado e sublime. De repente, meus olhos grudam nela e não sinto vontade de parar, pois de uma hora para a outra, seu rosto se transformou em algo mais bonito, atraente e intenso que os fogos de artifício ou as estrelas no alto.

Meu coração batia rápido em contraste com o mundo ao redor que parecia lento. Um calor dentro do peito e um sentimento de felicidade. A sensação que tinha era em grande parte indescritível, mas algo que sabia, era que já havia sentido isso antes e finalmente encontrara uma espécie conforto e segurança ao lado de Kimi, algo raro para mim e que havia perdido a muito tempo.

Nossas mãos se tocam levemente e acidentalmente, mas se repelem um pouco pelo movimento repentino. Mas então, elas voltam a se aproximar, entrelaçando-se lentamente, com os dedos um do outro preenchendo o espaço vazio no meio deles. Eu conseguia sentir o calor dela passando para minha mão fria.


Kimi deita sua cabeça no meu ombro, deixando o peso recair sobre ele, mexendo levemente para se acomodar. Não falamos nada observando o fim dos fogos juntos, um ao lado do outro. Apesar das minhas preocupações, dos problemas ordinários da carreira ninja e da vila, tudo parecia estar indo bem ultimamente. Não existe período completamente tranquilo na vida de um Kage, mas esse, era de longe um dos que mais se aproximava. Talvez, no futuro, não tão distante, eu finalmente possa voltar a sorrir novamente.

Pelo menos... Era isso que eu achava... Acho que é isso que significa "A calmaria antes da tempestade".

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