Existia um motivo para o Yamanaka estar ali.

Enquanto missões cotidianas poderiam ser traçadas em um paralelo comum, onde qualquer pessoa poderia ser escalada para sua realização, existiam algumas que tinham detalhes mais obscuros. Os detalhes públicos? Pássaros mortos. Nada além do comum, requisitando apenas uma investigação simples para encontrar o que havia feito aquilo.

Todavia, um membro daquele celeiro de ninjas havia sido escolhido a dedo para realizar a tarefa de identificar o transgressor. Na cena no crime, várias aves haviam sido mortas e deixadas no chão como se aquilo fosse um cenário comum, como se as fezes e o sangue pudessem compartilhar o mesmo espaço sem ocupar ninguém. Não haviam marcas de mordidas, ou similares: todas tinham seu pescoço torcido e então morrido pela quebra dos ossos do pescoço.

Uma cena em que Yama estava naturalizado pelos seus atos desde criança. Havia afirmado isso em uma entrevista com superiores, inclusive, quando foi se estabelecer em Suna e traçar seu perfil psicológico.

—— Acha que pode encontrar o responsável? —— Questionou o intendente do local, chamando a atenção do loiro que estava agachado ao lado de um animal sem vida. Com o sorriso plástico, a resposta aproximou-se com tranquilidade. —— Claro. Mas eu quero apostar algo. —— Orquestrou, puxando uma feição de estranheza do comandante.

—— Aposta? —— Questionou, mas não diretamente negando a proposta do menino.

—— Se eu achar o responsável, posso quebrar o pescoço de uma de suas aves; se eu não achar, pedirei para que a Kazekage coloque em minha conta a compra, treino e manutenção das substituições das três aves que morreram. —— Uma troca que parecia justa, apesar de bizarra pelo ganho. Ter o valor das despesas aliviados poderia cobrir um aumento significativo dos salários por alguns meses, e o homem não parecia exatamente ligar se era um adolescente propondo isso.

—— Hehe, fechado! —— Estendeu a mão e agarrou a do menino assim que ele foi estender a dele, levantando e abaixando com força naquele cumprimento. Então o contrato estava selado, e a partir daquele momento aquilo era um jogo com uma aposta alta.

Não poderia perder tempo ali se quisesse colocar as mãos em uma das aves e sentir novamente aquilo que sentia quando era menor, agora tão proibido pela sua condição. Se fosse pego fazendo-o, também sofreria consequências, e não gostaria de ter sua liberdade limitada mais do que aquele ponto.

Primeiramente foi em direção aos papéis para consultar as entradas das pessoas nos últimos dias. Abriu as folhas no chão e consultou-as diante de si. Procurava padrões de visita, alguém que tivesse uma repetição para conseguir averiguar o ambiente sem levantar suspeitas.

E alguns nomes foram se apresentando: Ukipara Konbe, Matamo Pirikito, e Ajinomoto Nosaku. Eles haviam começado a se apresentar naquele local com mais frequência na última semana, de maneira completamente irregular com os outros visitantes que geralmente mandavam mensagens. Desta forma, Naka se aproximou do atendente que sempre ficava a disposição para receber os pedidos e iniciou seu questionário.

—— Eu cheguei a três... —— Interrompeu a fala ao ouvir um berro de susto do homem, olhando para ele de maneira confusa e então continuando enquanto ele colocava a mão no peito. —— ...nomes que têm frequência irregular. Algum desses três visitou as aves? —— Indicou, mostrando os indícios que tinha em mãos.

Limpando o suor, o atendente apontou com o dedo para Ajinomoto Nosaku. O loiro apenas agradeceu, deixando o lugar sem mais questionamentos. Foi para o registro policial, requisitando o endereço do morador específico, e, com alguma demora, direcionou-se até a casa do indivíduo. Era um padrão simples, até espaçoso, de casa. Tinha um quintal nos fundos, com algumas roupas visíveis no varal através da janela que atravessava o cômodo principal.

—— Ajinomoto-san! —— Bateu duas vezes contra a porta, evitando aparecer como uma ameaça e levantando a voz sem gritar. Alguns segundos se passaram e nenhuma resposta veio. Talvez ele precisasse tomar medidas drásticas.

Deu a volta pela casa, procurando alguma entrada alternativa. No que fez isso, encontrou uma roupa secando com um tom róseo bem familiar. As memórias das roupas que tinha veio em seguida, sendo várias manchadas com sangue e ficando daquela forma mesmo depois de uma limpeza forte. Suas mãos tocaram no algodão enquanto a porta dos fundos abria, e os olhares se encontraram naquele momento. O vento seco atravessou o campo, levantando um pouco de poeira.

—— Como foi? —— Questionou, procurando a interação magna entre ambos naquele sentimento compartilhado dentro de um vácuo de outras sensações.

—— Foi divertido. Geralmente não me pegam quando eu... ——

—— Eu admiro seu trabalho, mas não foi meticuloso. Por que não tentou incriminar ninguém? —— Interrompeu, puxando uma kunai da bolsa.

—— Porque ninguém nunca... —— Parecia alcançar algo dentro de casa, olhando atentamente para aquele irmão enquanto seu braço se mexia atrás da parede. —— Ninguém nunca conseguia... ——

—— Eu ganhei. Sua pena não vai ser alta se não reagir e vou falar ao seu favor. —— Declarou, erguendo os lábios para ganhar a confiança. O homem parecia entender aquilo como um sinal positivo, erguendo as mãos abertas para cima enquanto se aproximava para ser preso.

Não demorou muito tempo para que ele fosse executado - não por matar pássaros, mas pelas pessoas enterradas em seu quintal. E Naka? Ele pôde matar mais um pássaro antes que a cena do crime fosse limpa, engrandecendo mais uma vez seu âmago com a sensação de uma vida esvaindo através de suas mãos.