O primeiro estrangeiro do turno matinal veio com um ar sofisticado, acompanhado do sol nascente que sequer passava pelas muralhas da vila. Suas roupas tinham elegância encrustada, e dois homens seguiam adiante dele como seguranças - provavelmente eram.

—— Bom di- —— Tentou cumprimentar como mandava a tradição, usando do que havia aprendido nos livros para se conectar com pessoas com mais facilidade.

—— Anda, moleque, não sabe quem eu sou? —— Cruzou os braços, impaciente.

—— Senhor, eu preciso do... —— Tentou intervir com calma, transparecendo manso e submisso para o exaltado homem "importante".

—— Hoje em dia é tudo assim, só os despreparados atendem o público. —— Enfuriou-se, como se aquilo fosse uma calúnia. —— Que ultraje! —— Ofendido estava.

—— Senhor, eu preciso que você se acalme e me entregue... —— A postura calma se mantinha por esforço mental de calcular aquele movimento.

—— Me acalmar?! —— Irritou-se mais, batendo com o dedo em cima da mesa de inspeção. —— Eu quero falar com seu superior! ——

—— Claro. —— Sorriu, levantando-se levemente para enganá-lo e apenas ajeitar-se na cadeira. —— Quando me entregar os documentos poderá falar com ele. —— Apontou para um ponto distante, localizado em uma área central. —— A Kazekage estará aberta para quaisquer negócios assim que tiver um horário disponível. —— O desarme foi tão grande que o metido se aquietou.

Antes mesmo que ele pudesse continuar.

—— Dos outros dois também, ou poderão esperar fora da vila. —— Sorriu, segurando o carimbo em sua mão direita enquanto apoiava o queixo com a esquerda.

Os três vistos foram aceitos, no final.

Não deve ter passado uma hora do caso mais relevante, e outro chegou com sua dose de problemas e peculiaridades. O vento agarrava os grãos de areia e empurrava-os pela passagem.

—— Próximo! —— Chamou, observando um casal que chegava com uma criança de colo. —— Documentos, por gentileza. —— Sorriu. Um momento de silêncio circulou ao redor daquele grupo, onde somente o vento se manifestou com alguma voz. —— Os documentos... —— Virou levemente de lado a cabeça, como quem procurava algum ponto de vista diferente para entender a dificuldade do casal.

—— Nós estamos vindo de Kumo, a situação de guerra é muito perturbadora para uma criança. —— Tentou se explicar, abraçando sua esposa de lado e envolvendo sua criança com a mão direita. —— Não tivemos como trazer documentos de lá, saímos o mais rápido possível... —— Tentou se colocar de maneira submissa, como alguém que precisava de cuidados e estava perdido no mundo.

—— Entendi. Só um instante. —— Começou a anotar algumas coisas em um tipo de ficha, dando esperanças para que o trio pudesse recomeçar sua vida pelo seu sorriso inerente e sempre prestativo, marcado como um produto produzido em massa. Assinou, e então carimbou a folha, levantando-se com a prancheta em mãos. —— Por gentileza, por aqui. —— Saiu de dentro do espaço, seguindo na direção de uma casa auxiliar aos fundos do controle imigratório. Abriu a porta e entregou o papel para um outro atendente.

—— Muito obrigado! —— Provavelmente seriam extraditados, mas sem saber disso, os dois agradeceram eloquentemente o Yamanaka, que apenas respondeu sem perder a compostura.

—— Disponham! —— Acenou, voltando para seu assento.

As pessoas em imigração tinham inúmeras razões para vir para Suna, e algumas delas eram preocupantes, outras nem tanto: moradia depois da guerra, estabelecer-se em um lugar melhor, fugir da justiça de outros países, emprego em alguma área, fazer negócios. A cada dois minutos um caso novo era avaliado pelo Yamanaka, e o próximo era chamado. Os tempos eram muito rápidos. Não havia tempo para refletir, e provavelmente ele era a pessoa perfeita para o caso.

Quando emoções são tiradas da equação e um tratamento dinâmico é realizado, as coisas fluem naturalmente. Entretanto, não era de bom gosto para o perturbado deixar com que tudo andasse sem aplicar sua vontade excessiva por jogos entrar no plano. Lançou uma moeda, e ela pousou em cara.

O homem diante de si não estava entendendo o que tinha acontecido. Aparentemente, havia um impasse por uma questão burocrática em seus documentos estarem desatualizados. O loiro, no entanto, resolveu resolver aquilo daquela forma - afinal, quem diria que ele estava errado?

—— Boa estadia em Suna. —— Carimbou o documento, e entregou para o senhor de bigode. Ele poderia ser alguém disfarçado, alguém com que praticaria um ato criminoso terrível nos próximos dias, ou até mesmo ser quem dizia ser: para o Yamanaka não importava, já que ali ele tinha a palavra final.

Ao menos que alguém fizesse uma denúncia.

Era quase fim do turno, e em cerca de dez minutos Naka teria seu descanso daquela missão exaustiva. Apesar de algumas pausas, o trabalho de um shinobi não era algo grato muitas vezes. E claro, trabalhar como alguém que admitia a entrada de pessoas dentro de uma organização militar não era nada simples.

Aquele homem com trajes longos e um sorriso no rosto chamou a atenção do menino rapidamente. Correspondido, o homem se aproximou puxou um documento, depositando-o na mesa para conferência.

—— Não faça nenhum movimento brusco, eu tenho uma bomba. —— Declarou.

O Yamanaka pausou por um instante, com a situação nova sendo apresentada; entretanto, não foi o suficiente para que ele não mantivesse seu trabalho.

—— Aprove e eu executo a explosão longe de você, afinal, você é mais um entre os vários que não tem culpa. —— A mão do garoto, deslizou pelo carimbo de aceitação, e então ficou firme nele.

—— Está expirado. —— Indicou, sem tirar os olhos daquilo.

—— O quê? —— Questionou, confuso.

—— Está expirado. —— Focou os olhos no terrorista, virando o documento para ele. —— Infelizmente não posso permitir sua entrada. —— Empurrou o documento para frente, tirando a atenção de si. Enquanto o foco do homem ia para outra direção, sacou uma kunai e fincou no olho dele, jogando seu corpo para frente e usando do peso dele para forçá-lo a cair e prender ambos os braços com os joelhos.

—— AAAAAAH! —— Berrou pela dor, tentando escapar da prisão enquanto as pessoas ao redor se aproximavam. Não demorou para que uma equipe da muralha se aproximasse e segurasse ele no lugar.

—— Ameaça de terrorismo com explosão. —— Indicou, sujo de sangue, saindo dali enquanto os jounin agarravam e imobilizavam o indivíduo com chakra.

Yama limpou sua kunai, ouvindo ao fundo o alarme do relógio despertar. —— Acho que é hora de partir. —— Sorriu novamente, pegando o casaco que estava no encosto da cadeira e partindo dali.