A areia vai te proteger.
Já era tarde da noite e a claridade da lua adentrava pelas janelas da sala, iluminando o cômodo com sua luz prateada, eu estava sentado em uma poltrona observando o fogo queimar na lareira como gostava de fazer em dias frios como aquele. -
Acordado até tarde de novo, Kain? - A voz do meu pai vinda de trás me fez olhar em sua direção com um largo sorriso no rosto. -
Sim! Estava te esperando! - Disse animado me levantando e correndo em sua direção para abraça-lo. -
Opa, aconteceu algo de bom hoje? - Questionou com um leve sorriso que mesclava a felicidade com cansaço.
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Sim, hoje foi meu primeiro treino prático na academia! - Disse entusiasmado. -
Ooh, então venha vamos nos sentar perto do fogo e me conte em detalhes. - E assim o fizemos, corri até próximo a lareira e me sentei no local de sempre, mantendo as pernas cruzadas. -
Hoje não tivemos as aulas teóricas chatas, o sensei nos levou para um treino pratico de combate. - Meu pai se sentou na poltrona onde eu estava anteriormente, lugar que era seu, e abriu um sorriso. -
Hahaha, você realmente gosta disso, não é? - Seu sorriso cansado aquecia mais do que as próprias chamas da ladeira.
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Sim, sim! As aulas são legais, mas chatas. - Cruzei os braços ao mesmo tempo em que búfala. -
Mas poder finalmente colocar a teoria em prática foi incrível! Eu consegui sentir meu coração palpitar! - Meus olhos brilhavam de emoção. -
Guahaha! A pratica pode ser divertida, mas não esqueça de aprender a teoria certinho. - Seu tom mais sério em meio a uma postura mais relaxada deixava claro que ele não estava me repreendendo exatamente, mas me alertando. -
Sim, sim, eu sei! - Concordei com a cabeça.
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Mas… - O brilho em meu rosto desapareceu por um momento, dando lugar a uma semblante melancólico. -
O que foi? - Questionou meu pai, um pouco preocupado. -
Eles não eram bons o suficiente. Nenhum deles foi capaz de passar por ela, pela areia. - Meu pai logo percebeu do que se tratava e suspirou um pouco mais aliviado e sem jeito. -
Hahaha, então foi isso. - Ele parecia aliviado, mas não deveria! Era algo sério, muito sério! -
Mas, mas, eu pensei que… - Encolhi os ombros, triste e desanimado.
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Escute bem Kain, nossa linhagem, a kekkei genkai do magnetismo é uma benção, mas também foi a maldição para alguns. - Meu pai se levantou de sua poltrona e caminhou em minha direção, abaixou-se e colocou as mãos em meus ombros. -
A areia de ferro é a nossa benção, Kain, não deixe que se torne uma maldição como aconteceu com alguns de nossos ancestrais. Chegará o dia em que ela ira te proteger por vontade própria, e lhe mantera seguro de todos que tentarem te fazer algum mal. - Suas mãos ficaram mais firmes. -
E eu não quero que nada de ruim te aconteça.> - Seus olhos serenos ficaram afiados, eu podia sentir sua determinação e seriedade.
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E-eu sei, mas… - Eu sabia, sabia que meu pai queria meu bem e que ele sabia que a areia me manteria seguro, porém eu queria mais, apenas deixar que a areia fizesse tudo não era o bastante, isso não fazia eu me sentir vivo, era quase como se… Como se a areia estivesse viva e não eu. -
Eu quero me sentir vivo, eu quero que alguém possa me sentir, assim como eu li nos livros, como eu vi os outros alunos da academia fazendo, eu quero sentir aquela emoção que eles estavam sentindo! - Eu deixei sair aquele sentimento que carregava comigo a tanto tempo, meu pai continuou me encarando nos olhos como se olhasse para o fundo da minha alma e após alguns segundos em completo silêncio se levantou.
Eu não sabia o que esperar, o que dizer, só queria que ele me dissesse algo, nem que fosse para me repreender e, após um período em silêncio ele finalmente disse algo. -
Eu te entendo, então talvez você possa achar que a areia seja uma maldição que te impede de sentir essas emoções, não é? Talvez até acredite que é ela que tem vontade e não você, que não passa de um fantoche de areia negra. - Meu pai também carregava consigo um manto negro de areia de ferro, cobrindo e guardando suas costas como uma armadura viva que se movia quase como se tivesse vida própria. -
Mas você está errado meu filho, você só está sendo arrogante pensando dessa forma. - Arregalei os olhos, surpreso com sua resposta fria e direta, eu arrogante? O que ele queria dizer com isso?
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Arrogante? O que você quer dizer com isso? - Questionei sem entender. -
Você diz que as lutas da academia não te fazem sentir vivo? Por quê? Por que eles não são bons o bastante para te acompanhar? Para superar a defesa da areia? - Ainda de costas a única coisa que observava eram suas costas que pareciam mais altas e largas do que de costume e, ele estava certo… Lá no fundo eu sabia, eu estava apenas sendo arrogante, esse pensamento… Eu…
Enquanto me perdia em meus pensamentos, mais rápido do que pode perceber uma lança de areia negra se formou do sobretudo de meu pai e atravessou a sala com ferocidade, cortando minha bochecha esquerda de raspão. -
Hum?! - Tombei um pouco para trás, me apoiando sobre minhas mãos. -
O-O que, você… - Senti meu coração acelerar, com uma mão trêmula toquei na minha bochecha e… Era quente, quente e vermelho. -
Meu sangue… - Aquele era o vermelho do meu próprio sangue, um rubro que eu não via a muito tempo, na verdade sequer conseguia me lembrar quando foi a ultima vez que o tinha visto.
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Você entende agora? Você apenas não encontrou um oponente que possa lhe superar, mas essas pessoas existem no mundo, muitas delas, não deixe que esse pensamento arrogante de invencibilidade lhe entorpecer. - Meu pai virou em minha direção novamente e caminhou em minha direção, dobrou um dos joelhos e se colocou na minha linha de visão. -
Eu sei que você quer se sentir vivo, eu também já passei por isso, já amaldiçoei, meu poder e tentei fugir do meu passado, mas eu estava errado, a areia não era minha maldição, era minha benção. - Ele esfregou o polegar de sua mão em minha bochecha, secando o sangue e colocou um curativo em cima. -
Você só é mais habilidoso que a média e isso não é motivo para se odiar e também não é motivo para se gabar. Acredite em mim, um dia você vai encontrar não um, mas muitos adversários que vão lhe fazer sentir a verdadeira emoção da batalha.Diante todas aquelas palavras e informações eu exitei, mas então um fogo se acendeu em meu peito. -
Sério? Você está falando sério? Eu realmente vou ser capaz de encontrar alguém que me faça sentir essa emoção? - Exclamei, revigorado por uma nova vontade. -
Sim, claro, a areias vai lhe ajudar a filtrar, ela vai te proteger dos fracos que não merecem atenção, mas diante um inimigo realmente poderoso você não poderá depender apenas dela, por isso você precisa assumir o controle dessas emoções e controlar seu poder. - Meu pai se levantou e voltou a caminhar. -
Continue trilhando seu caminho como um shinobi e você encontrará o que busca, Kain, mas não deixe que a arrogância lhe consuma, pois isso sim será sua maldição. - Em meio a um aceno ele se despediu. -
Agora eu vou descansar um pouco e sugiro que faça o mesmo, se não nem sua areia lhe protegerá de sua mãe, guahahaha! - Em meio a uma gargalhada ele se distanciou e encontrou para seu quarto.
Permaneci sentado ali por mais alguns minutos, apenas olhando para o fogo e sentindo o ferimento em meu rosto. -
Então esse sentimento realmente existe, não era um delírio, e se eu continuar trilhando esse caminho poderei sentir isso ainda mais intensamente? Mal posso esperar. - E em meio aos meus os meus próprios devaneios dormi ali mesmo próximo ao fogo.
Palavras: 1318