Era possível ouvir aqueles passos pesados correndo desde antes de sua entrada brusca no primeiro andar do interior do edifício do gabinete da Sombra; cada nível de escada que ele subia, mais alto e ensurdecedor se tornava aquele ruído que acabava com a calma e paz interior do Pulcro - que desejava profundamente dar um fim a vida do pobre coitado responsável por todo esse barulho. Por fim eles cessaram ao finalmente chegar à porta de acesso ao escritório particular de Shüra, porém a respiração pesada e ofegante tomava o protagonismo do que antes era dos pés do estranho. — Entre! — A ordem viria antes mesmo de um pedido de permissão.

Repleto de suor pelo rosto e demonstrando um cansaço monstruoso, o shinobi de rosto completamente esquecível e indigno até mesmo de descrevermos aqui, adentrou aquele grande e magnífico salão, maravilhado com tudo que tinha ali, contentou-se em simplesmente realizar sua tarefa e entregar nas mãos do Hachidaime um relatório do líder do quartel-general de Sunagakure. Foi dispensado da presença de Shüra com um simples gesto de mão.

Sozinho, a Sombra leu cuidadosamente cada palavra daquele documento, transparecendo sua preocupação com os ocorridos e como isso poderia vir a influenciar negativamente sua imagem com os moradores da Areia, porém o fato de encontrarem símbolos e selos desconhecidos era ainda mais um pedido especial pela atenção do mesmo.

A chegada do Pulcro já era esperada no local, o próprio líder do QG o aguardava ansiosamente, afinal não é sempre que o Kage se dispõe a fazer parte de uma investigação junto de seus subalternos.

Shüra era um garoto ainda, entretanto tinha tanta experiência em campo que quase ninguém o via como uma criança, mas sim como um adulto e principalmente como um líder - temido por muitos, mas ainda respeitado por outros.

Buscou realizar uma vistoria na área juntamente de alguns shinobis enquanto recebia uma enxurrada de informações sobre possibilidades do que teria ocorrido, um desperdício de tempo e até mesmo de concentração para a Sombra.

Não havia rastros, sangues e nem mesmo traços de resistência e/ou lutas, apenas alguns hieróglifos desconhecidos e misteriosos junto de alguns outros selos de possível compreensão individual, entretanto o emaranhado de tantos símbolos distintos e únicos juntos não fazia nenhum sentido sequer.

Enquanto o Kazekage analisava friamente todo o lugar, ele conseguiu escutar novamente os passos rápidos e pesados daquele ninja que outrora esteve em sua sala. Assim como da outra vez, o rapaz parecia tenso e severamente cansado com toda essa correria talvez até mesmo desnecessária. — Kazekage-sama! Tivemos mais sumiços, agora na região oeste da vila!

O caso se tornava cada vez mais instigante, apesar de preocupado, era quase impossível para Shüra conter a excitação de finalmente ter algo novo e curioso na palma de suas mãos, algo totalmente diferente das papeladas rotineiras da vida de Sombra.

Uma última olhada geral bastaria para que o hábil shinobi memorizasse aqueles símbolos e selos que com certeza lhe seriam úteis em algum momento desta missão.

A corrida para até o oeste no vilarejo foi rápida, buscavam chegar o quanto antes para tentar encontrar algo diferente do cenário anterior, porém, para a infelicidade de todos os shinobis dispostos nesta missão, não encontraram absolutamente nada de diferente.

Novamente somente símbolos.

Entretanto, agora era como se um estalo na mente da Sombra tivesse acordado memórias adormecidas de tempos em que ele gostaria de voltar para talvez rever seus finados amigos. Estes selos eram muito similares aos que Treze usava em sua técnica característica, claro que havia algumas mudanças e não havia nenhum refinamento neles, porém estava claro do que se tratava agora. — Estes selos são referentes a jutsus de espaço-tempo, mais especificamente teletransporte através dos mesmos… Apesar de dominar ambas as áreas (Fuinjutsu e Jikukan Ninjutsu), a junção de ambos não é minha especialidade para que eu pudesse seguir através dos mesmos…

Somente olhar para aquele amontoado de símbolos estava embaralhando a mente do Pulcro e o jovem sabia que estava perdendo seu tempo. Decidiu sair daquele local e se dirigir ao QG juntamente dos outros shinobis, porém ao virar as costas e se afastar um pouco o rapaz sentiu como se braços gélidos o abraçasse carinhosamente enquanto uma voz feminina velha e calma sussurrava em seu ouvido como se isso exigisse um grande esforço de sua parte. — Meu campeão… venha até mim. — A Sombra parou e então seus olhos pareciam querer saltar pelas suas órbitas logo após sentir um frio percorrer toda a sua espinha.

Dentro de uma das casas que uma família de cinco pessoas havia simplesmente desaparecido junto de uma porção de outras daquela área, Shüra sentia alguém ou algo o chamando, seu ser respondia de maneira inconsciente aquele chamado enquanto caminhava rumo ao interior da residência.

Ele já havia vasculhado a mesma junto dos demais, porém desta vez havia a sensação de uma terrível aura sombria ter dominado aquele local. Os demais shinobis estranhados com o curioso destino da jovem Sombra e sua recusa em responder as perguntas realizadas por eles em seu devaneio, decidiam o seguir para o interior daquela pequena casa. Quando entraram na mesma, se depararam com o Kazekage olhando fixamente de maneira intrigada para uma pequena fissura na parede. — Enfim um rastro. — Ele levou uma de suas mãos até a tal fenda e então viu uma pequena chama púrpura de chakra emergir da mesma, puxando-o para seu interior e o teletransportando para seja lá onde fosse a saída daquele buraco de minhoca.

A náusea era uma característica causada por este tipo de viagem, algo que o Shinigami Branco já havia se deparado em outros momentos, o que o possibilitou de se dar ao luxo de manter as aparências ao momento que alcançou o limite onde a fenda estava ligada por um outro selo idêntico.

O novo horizonte ao alcance de sua vista se perdia em meio a escuridão que mal era iluminada por pequenos arranjos de tochas - que já possuíam pouco óleo para queimar - pendurados nas paredes que à primeira vista pareciam de rochas maciças. O Kazekage não era tolo e muito menos ingênuo, sabia que se encontrava dentro de uma caverna, ou melhor, de uma masmorra.

O pouco vento que conseguia entrar naquele interior era completamente gelado, ainda mais gelado que o toque que havia sentido anteriormente em Sunagakure, e esse era o sinal claro de que não estava mais nos limites de sua vila, quiçá até mesmo estaria longe do deserto dos domínios do grandioso deserto do País do Vento.

O teto era relativamente alto e isso o incomodava ligeiramente, dando-lhe uma sensação de claustrofobia, o que seria aceitável vide que estaria acostumado a passar a maior parte de seus dias à mercê dos céus.

Seguiu pelo caminho à sua frente, sempre alerta ao seu redor, todo cuidado no campo inimigo era pouco e não poderia dar brechas ao azar. Pouco mais de cem passos foram necessários para ele chegar até uma porta rudimentar e que muito provavelmente já deveria estar ali a pelo menos dois séculos. Ele cessou seus passos e para sua felicidade conseguiu ouvir ruídos gerados por conversas e cânticos em uma língua há muito tempo perdida na história da humanidade.

Levou a mão até o cabo de sua espada, porém se deteve a fim de evitar gerar o barulho cintilante do aço raspando na bainha. Ali continuaria por alguns segundos a mais, buscando identificar algo útil sobre o que acontecia do outro lado daquela porta.

Movido pelo êxtase do desconhecido, era difícil para o pulcro manter a calma e simplesmente aguardar do outro lado daquela porta enquanto buscava escutar algo.

Alguns poucos minutos se passaram, entretanto nada de realmente útil havia sido pronunciado do outro lado, pelo menos nada que o Hachidaime pudesse decifrar de um monte de palavras sem nexos em primeiro momento.

Cansado de simplesmente aguardar ali, a Sombra rapidamente sacou sua espada e abriu a porta no mesmo instante. Seu olhar frio e sem vida anunciava sua intenção hostil para com todos os possíveis presentes naquele local, entretanto eles não encontraram ninguém para depositar sua sede de sangue por acabarem com a paz dentro de Sunagakure. Aquela ala da masmorra estava completamente obscura com exceção de uma entrada no topo daquela caverna onde uma pequena quantidade de luz invadia o local e iluminava uma rústica vitrola que tocava aqueles cânticos outrora mencionados em looping no alto de uma escadaria de pedra.

Do topo onde havia aquela entrada, um punhado de flocos de neve davam um ar ainda mais melancólico, singular e solitário para aquela cena. Tudo aquilo parecia ser algo encenado e até mesmo premeditado ou uma grande coincidência difícil de se acreditar.

Shüra estava em um local completamente desconhecido e sozinho sem nenhuma pista sequer. Sentado em alguns degraus abaixo do topo de onde elas davam, ele visava todo aquele interior enquanto aquela maldita música continuava repetidamente. — Boethiah… Boethiah… Boethiah…

Já não havia muito ali a fazer, não havia a presença de uma alma sequer para que o Pulcro pudesse torturar até ela suplicar pela sua vida e então dar com as línguas nos dentes, o que entristecia a Sombra que rigidamente buscava alguém para açoitar pelo inconveniente que assolava a população de sua vila. Uma lástima.

Decidido, retornou pela mesma porta em que veio, entretanto havia algum tipo de “feitiço” que simplesmente distorceu a realidade daquele corredor que outrora seguiu em linha reta, o bifurcando em três, fazendo-o com que se deparasse com um dilema difícil para que pudesse tentar regressar até sua terra natal.

Os três eram simplesmente idênticos, onde aquelas mesmas tochas ainda mais enfraquecidas que antes lutavam contra o tempo para se manter acesas, mal iluminando uma porção de um ou dois metros onde a escuridão do seu horizonte parecia não ter um fim.

Para a infelicidade do Kazekage, ele não era possuidor de nenhuma técnica que o pudesse auxiliar neste dilema, entretanto para sua sorte aquela voz que outrora o chamava nas vielas de Sunagakure parecia o guiar novamente para o caminho mais à esquerda. — Venha até mim, meu guerreiro. — Aquela voz gelada e putrefata o aguardava nas sombras que assolavam aquele local, o direcionado novamente para um selo que emanava de uma fenda a pouco mais de cem passos de onde estava anteriormente.

O pulcro tocou aquela curiosa fonte de chakra púrpura e novamente se viu sendo teletransportando.

Assolado pela escuridão devastadora que dominava aquele caminho escolhido para ser traçado, a Sombra por algum motivo não hesitou em nenhum momento seguir por ele e felizmente aquela voz feminina o guiou de volta para casa assim como o guiou para aquela masmorra.

Os shinobis que anteriormente estavam com o Pulcro ficaram perplexos com o sumiço e a volta repentina do mesmo ao local, não tinham noção do ocorrido e apenas atiravam perguntas ao vento sobre todas as possibilidades. Ignorados por enquanto, Shüra buscava analisar aquela fenda repleta de selos que agora parecia sem vestígios de poder, talvez tenha se esgotado com os dois teletransportes o que provaria ser uma técnica realizada por alguém sem um bom domínio da mesma.

A voz que parecia assombrar seu espírito era desconhecida, trazia consigo uma sensação de poder somada a de morte e isso despertava o interesse em descobrir do que aquilo se tratava.

Em uma ordem única e branda, o Hachidaime Kazekage ordenou para que todos os presentes se dirigissem até o quartel-general da vila junto de si, lá ele explicaria o acontecimento e também o que viu naquela gruta que havia sido levado. Não havia sequer uma pista concreta da localização exata daquele local, sabia apenas que da abertura presente no topo da caverna havia a entrada de uma quantidade considerável de neve.