Secava o suor da testa sentindo o aroma dos produtos de limpeza impregnados na prótese metálica. Observava o chão de madeira com um brilho digno, satisfazendo-me pelo orgulho do trabalho bem feito. — Tudo certo por aqui, mãe. Não precisa se preocupar com a casa por hoje. — Mencionava ao me levantar, jogando os utensílios de limpeza num canto para organizar mais tarde.

Estava na porta quando escutei o som das batidas pela janela da cozinha. Abrir ela poderia ser um erro, deixando aquele corvo entrar com o pergaminho para uma missão naquela manhã. — Sério? Outras crianças perdidas no labirinto?! — Resmungava ao ver o conteúdo. Suspirava, imaginando que dessa vez acabaria dando uns bons cascudos nos fedelhos, até ver que teria um companheiro para a tarefa. Seria Kagar novamente?

Com os equipamentos devidamente organizados, partia rumo aos portões da vila, imaginando que meu parceiro não demoraria muito para aparecer. Confessava estar contente, imaginando que seria a oportunidade perfeita para botar o corpo para aquecer, ao mesmo tempo em que ajudava na organização das coisas pelo vilarejo, até que… — Não acredito que me colocaram com você. — Visualizava o cabeça de fósforo ao longe, esperando para dar início à sua missão. — Shira deve ter seus motivos para nos colocar juntos sempre… Bem, vamos partindo? O lugar não é tão longe assim. — Comentava, olhando para o deserto e imaginando os desafios que estava guardando para nós.

Histórico:

A interação seria, naturalmente, caótica após minha aproximação. Nada me atingia de fato, exceto pelo comentário incisivo quanto ao meu tamanho, que não tinha nenhum problema para um garoto de minha idade! — Me chame de baixinho de novo para ver se não te quebro a cara! — Resmungava, mesmo imaginando que ele viria para cima mesmo, caso fosse provocado. Observava os outros shinobis e cidadãos, preocupados com o embate de egos e se questionando se não deveriam intervir.

Após as breves farpas, cuspidas pelo cabeça de birimba, devidamente retrucadas por mim quanto à menção de minha estatura, sentia que estávamos prontos para seguir dali. — Vê se não me atrasa muito. Já resgatei esses pivetes antes, e dessa vez eles precisam aprender uma lição. — Diria, referente à tarefa do labirinto. Sobre isso, sabia que Uraki iria concordar com toda a certeza, desejando que os moleques fossem disciplinados na marra.

Partiria dali sem muitas delongas. Viagens pelo deserto eram exaustivas, e não gostaria de pegar o sol do meio-dia fora do vilarejo. Com um pano cobrindo minha face, evitando o consumo passivo de areia e poeira, tentaria seguir para o local onde me recordava de já ter ido duas vezes. O tal “labirinto” nada mais era do que uma formação geográfica natural criada após anos e anos em formações rochosas, por decorrência de acúmulo de água nas areias compactas do deserto. As paredes de arenito eram belas, e guardavam dentro de si perigosas criaturas do deserto. Se tivessem sorte, talvez fôssemos capazes de salvar os pivetes da boca de um lagarto, mas talvez algumas mordidas não fossem de todo mal.

Histórico:

Imaginava que a essa hora, já estaríamos caminhando pelo deserto, atrás das crianças que poderiam estar passando por apuros agora. Ao invés disso, estava vendo um loiro voador não identificado saltando e vindo direto contra mim. Três socos eram desferidos, e tive tempo o bastante para vê-los chegando com tudo, permitindo que eu pudesse reagir a tempo. Exatamente por isso, esperaria que os golpes me atingissem, apenas recuando um pouco o corpo para amortecer o golpe antes de cair de costas no chão.

Levantava-me com uma expressão mais fria e sombria, diferentemente de tudo o que havia expressado até então. Notava a multidão ao redor tentando conter os ânimos, aparentemente prontos para agir em caso de um combate de grandes proporções. Bateria em minhas roupas, retirando a areia, olhando para o outro Chunin como se atravessasse sua alma. — É sobre esses atrasos que me referia. Já acabou? — Não demonstraria intenção de revidar, apesar de ainda emanar hostilidade no tom de voz. — Se quiser continuar, façamos quando as crianças estiverem seguras. Ou seu planejamento de ficar forte é para subjugar os outros, ao invés de salvá-los? — Daria as costas para ele, ainda que isso pudesse significar um golpe, partindo para longe antes que houvesse chances para resposta.

Na viagem pelo deserto, permaneceria em silêncio, eliminando todo tom de brincadeiras e bom humor costumeiros. Designaria nossa viagem até a entrada do labirinto de arenito, onde as crianças haviam se perdido na última vez. — Chegamos. — Mencionaria, apontando para a entrada. Como ele seria capaz de ver, o lugar era pouco iluminado, além de produzir uma corrente de ar forte, que se intensificava pelo estreitamento das rochas. — Fique atrás. Sei um pouco do caminho, mas precisamos manter o caminho de volta marcado. — Produzindo uma estaca de madeira de meu punho, estocaria no chão para fazer uma marcação, seguindo adiante e fazendo a cada dezenas de metros andados, para demarcar o caminho.

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O fato é que já estive ali mais vezes do que gostaria de contar. Num passado distante, havia sido palco de um passeio junto a meu velho pai ao realizar uma simples missão pela vila, apenas coisas administrativas. Na época, lembro-me de ter ficado encantado com a estrutura do lugar, com as marcações nas pedras como se tivesse sido feita por magia. — Se as crianças que estão aí são as que penso que são, elas fazem isso as vezes. — Comentava, estocando as estacas no chão na medida em que íamos avançando, fazendo a escuridão ser ainda mais presente.

Preocupado com a falta de visibilidade, precisando nos guiar apenas pela penumbra que a luz da manhã conseguia exercer através dos reflexos nas paredes, prosseguia, tentando escutar sons que haviam ali por dentro. — É como um teste de coragem, uma prova. Se conseguem enfrentar o labirinto, estão “prontos” para fazer parte do grupinho deles. — Olhava para uma grande parede com um enorme buraco no meio, onde meu antigo parceiro havia aberto caminho para facilitar no último resgate. — O problema é que nem todos conseguem, e existem animais selvagens aqui dentro. Então atenção.

Não duraria tanto tempo até que uma figura esguia surgisse por entre as rochas, sibilando com uma língua bifurcada até que se mostrasse ser uma enorme serpente do deserto. Seus dentes pontiagudos já estavam expostos, quando esticava o braço e fazia dezenas de galhos surgirem, em altíssima velocidade, perfurando todo o corpo do animal, sem sequer dá-la tempo de processar o motivo ou a razão pela qual perdeu a vida. — Se ela não os encontrou, devemos estar pertos. — Mencionava, caminhando mais algumas dezenas de metros, até que os sons das crianças perdidas se faziam presentes numa clareira no centro do labirinto, muito mais longe de onde eu havia ido até então.

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O medo que se instalou nos jovens estudantes talvez fosse o bastante para que nunca mais se atrevessem entrar no labirinto de novo. Antes de partir, acabava tentando selar o lugar com um pouco de manipulação das rochas, permitindo apenas que as criaturas usufruíssem do espaço que lhes era de direito. Preparando um grande cesto de madeira, moldado por raízes retorcidas, a utilizaria para carregar aquelas crianças de volta, ainda mantendo o mesmo silêncio sepulcral no retorno.

Já era hora do almoço, praticamente, quando chegamos em Sunagakure. Com os pivetes devidamente entregues, secaria o suor da testa, pegando o pergaminho para ler a próxima tarefa. — Antes de seguirmos para esse violinista, quero deixar as coisas bem claras. — Guardava o pergaminho, retornando minha atenção para o meu parceiro de equipe. — Da próxima vez que tocar em mim, ou pior, atrapalhar no andamento de minha missão, o resultado será diferente. Reciclando as palavras do Sombra: não serei tão condescendente numa próxima vez. — Imaginava que ele fosse vir de peito inflado para cima de mim, o que me faria erguer os dedos de uma das mãos, simbolizando o selo do Carneiro com apenas uma das mãos, acompanhado de um sinal negativo com a cabeça. — Estamos do mesmo lado aqui. Guarde esses esforços para onde será realmente necessário. — Buscaria colocar juízo em sua cabeça, antes que uma tragédia fosse acontecer.

Em caso das coisas se tranquilizarem numa trégua, ainda que sem a necessidade de um aperto de mão para selar isso, Gwyn seguiria para a localização indicada no pergaminho, onde um violinista estaria perturbando a paz dos vizinhos com sua “melodia”. — Podemos parar por perto para comer e ver se a música é tão ruim assim. Então podemos agir. — Mencionava. A tarefa era bem livre quanto à forma no qual cumpriremos ela, imaginando que não teríamos problema em fazer qualquer uma das coisas. O importante seria passar a mensagem, pois se apenas o instrumento fosse quebrado, com toda a certeza surgiria outro para tomar seu lugar.

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Ao menos havíamos chegado num ponto de estabilidade naquele dia. Uraki era um ser instável, como um barril de pólvora, e precisava ser carregado de maneira cautelosa. O papel de líder de uma equipe nunca havia me servido bem, mas teria que bastar por hora. — Guiozas, por favor. — Solicitava para o atendente do restaurante, ouvindo ao longe o som agudo e desordenado do violino, que se arranhava em busca de uma nota decente.

Até mesmo a comida descia mal com tal melodia - se é que poderia ser chamado de uma. — Disso temos que concordar. Acho que preferiria ouvir o som de crianças agonizando do que isso. — Ainda mais se fossem aqueles pivetes do labirinto, pensava. Pagando a refeição consumida, me dirigiria com meu parceiro até o local, visualizando uma casa de dois andares, onde uma janela aberta dava passagem para o som horrível propagar pelo quarteirão. — Façamos o seguinte. Baterei na porta e vou conversar com o sujeito, tentando botar um pouco de juízo na cabeça dele. Enquanto isso, você poderia lidar com o violino da forma que bem entender. — O tom de sugestão indicaria que não era uma ordem, sendo passível de uma outra sugestão, caso fosse feita. — Apenas cuidado para caso haja alguém no quarto quando você subir. — O alertava, ainda que não fosse de fato necessário.

Se o plano seguisse por essa linha, deixaria que Uraki se posicionasse, antes de bater na porta algumas vezes. O som do violino abafava os toques, me obrigando a exercer mais força. Com alguns gritos, pedindo para que os residentes aparecessem, enfim o som cessava, gerando um alívio instantâneo nos ouvidos, que eram capazes de ouvir o som da vida novamente. Com um aceno de cabeça, indicaria para que Uraki começasse a agir, visto que o quarto poderia agora estar vazio.

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Observava Uraki subindo depressa, me questionando se não havia ido rápido demais para lidar com o violino. Bem… Se ele se desse mal, eu apenas precisaria dizer que não fazia ideia quem o sujeito era. Olhava para a porta com certa tranquilidade, olhando em seguida para as redondezas, notando os vizinhos que haviam denunciado observando pelas frestas de suas janelas. Suspirava, imaginando que tudo isso poderia ter sido facilmente resolvido com uma conversa entre vizinhos… Mas deveria haver algum motivo pelo qual houve tamanha dificuldade.

Quando a porta abriu, precisei olhar bastante para cima para encarar o musicista nos olhos, entendendo imediatamente o motivo pelo qual nenhum outro se prontificou a pedí-lo para parar. O homem possuía mais de dois metros, sem sombra de dúvidas, sendo mais largo do que a porta entreaberta. Um espesso bigode cobria seus lábios, além de possuir diversas tatuagens nos musculosos braços. — O que foi? — O grave em sua voz parecia ser capaz de vibrar o chão, me fazendo engolir um seco.

Ajeitava a compostura, não acreditando que haveria nenhum empecilho numa simples conversa. — Não quero tomar muito seu tempo. Apenas vim avisar que sua música é horrível. — O encarava como se ele não fosse capaz de me esmagar com um único pé. O homem abria mais a porta, expressando uma face mais hostil, precisando passar de lado pela entrada para se colocar mais perto de mim, do lado de fora. — O que foi que disse?! — Seu tom de voz se elevava, indicando que não seria uma tarefa tão simples assim. Meu único reflexo foi olhar para cima, torcendo para que Uraki finalizasse com sua parte logo.

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Não demorava para o cabeça de fósforo aparecer do meu lado, provavelmente tendo lidado rapidamente com o pequeno problema. O homem o olhava de cima a baixo, como se não fosse maior do que a formiga mais nervosa do formigueiro, retomando a atenção para mim. — E o que você tem haver com isso? — Ele diria, impondo sua presença sobre nós. Colocava a mão na frente para Uraki não avançar, esperando que pudéssemos lidar com aquilo da melhor maneira possível.

Pigarreava, tentando encontrar palavras. Não era muito bom com elas por sempre ser muito direto, mas esse era o meu charme. — Pessoal andou reclamando, e viemos aqui. E realmente, estavam certos. — Ele começava a olhar em volta, como se buscasse os culpados daquele vexame. Coincidência ou não, todas as casas fechavam suas cortinas e apagavam suas luzes, tornando praticamente um bairro fantasma. — Para um músico, você é um excelente torturador. Vê se faz algumas aulas, assim ninguém sofre e ninguém tem problemas. — Já estava praticamente de saída, visto que independentemente de sua reação, o violino já tinha ido para as alturas, mas acabava escutando algo que me freava.

Aquilo era um soluçar? O homem, que tinha três vezes o meu tamanho e cinco vezes o meu peso, parecia segurar um choro na garganta. Seu nariz inflaram e seus olhos ficaram marejados, demonstrando a sua vontade de cair em lágrimas. — I-Isso não foi legal! M-mas vou procurar o-outra coisa… — Ele falava, cabisbaixo, recuando para o interior de sua casa escura. Olhava para Uraki, incrédulo sobre o que eu havia acabado de ver, até que começava a gargalhar. — HAHAHAHA, essa foi boa! Achei que um sujeito desse tamanho fosse dar mais trabalho. — Comentaria com ele, saindo dali fazendo alguns comentários ácidos sobre o gigante chorão.

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