Cutucava um dos ouvidos como se estivesse querendo tirar todo aquele lero lero de minha cabeça. O Kazekage era um sujeito impassível e opressor, e o conflito de egos havia gerado faíscas. Descia as mesmas escadarias e passava pelos mesmos corredores por onde passei para chegar até o suntuoso salão da Sombra do Vento. O garoto de cabelo espetado me acompanhava, sendo minha dupla para a missão que ocorreria dentro das próximas semanas.

Mantinha-me em silêncio pelo caminho, ainda reflexivo sobre aquele tipo de missão e tentando interpretar o que havia escutado nas entrelinhas. Quando enfim saíssemos da grande construção, olharia para cima, em direção da janela do líder da vila. — Ele ainda está nos observando. — Quebrava o silêncio, indicando com a cabeça para que o outro Chunin também entendesse de onde eu estava me referindo. — Sinceramente, achei que ele ia te jogar uma pedra quando chegou. O clima lá estava não estava dos melhores. — Mencionava, relembrando do momento no qual confrontei o Shinigami Branco quando o mesmo deixou claro sua facilidade em executar qualquer um que era oposto aos seus ideais. Seguíamos mais alguns metros para longe da construção, imaginando que tipo de diálogos estavam sendo feitos naquela sala em que estávamos anteriormente, bem como dos rostos que lá estavam e sobre o que estariam fazendo por ali.

Não muito depois, ergueria o braço em direção do Chunin, com a mão fechada em um punho, em sinal de cumprimento. — Me chamo Gwyn, como deve ter escutado. — Tentava iniciar com o pé direito, afinal não saberia o nível da missão que seríamos encarregados, o que poderia exigir uma certa intimidade e colaboração dos participantes. — Já fez alguma missão de Rank B antes? Acredito que teremos alguns obstáculos no caminho. — Comentava, imaginando que tipo de habilidades do loiro tinha. Seria importante conhecer melhor suas habilidades para coordenar com as minhas, afinal se era para salvar um prisioneiro de um comboio… Imaginava que teríamos que lidar com grandes perigos.

Escutaria o que ele também teria para dizer, imaginando se seria um bom momento para seguir para o campo de treinamento, concedendo uma oportunidade para observar na prática as verdadeiras habilidades de minha dupla, bem como de apresentar as minhas. Mas a cabeça estava cheia demais, e precisaria de um tempo para abstrair novamente… Realmente, talvez um pouco de treino não fizesse tão mal.

É… Já vi que esse time será algo difícil de lidar. Meu punho ficava erguido ao vento, observando o garoto de cabelo espetado resmungar sobre eu me achar demais por um simples cumprimento. Recolhia a mão, já cerrando minhas sobrancelhas em tom de raiva. — E você tá se achando demais, cabelo de mamona! — Replicava, vendo ele continuar a caminhar com seu jeito descolado de ser. Ao menos, ele dizia seu nome.

Gwyn seguia caminhando, dessa vez com uma expressão mais fechada, insatisfeito com o primeiro contato com seu “colega” de missão. A menção sobre sua dificuldade na execução de duas missões Rank B me gerava certa surpresa. Para alguém que aparentava gostar de se gabar e de também enaltecer suas qualidades ninjas, mencionar a dificuldade e ainda indicar os ferimentos que a missão gerou era impressionante. — E o que exatamente encontrou nessas missões? Alguns nukenins? — Até o momento, não tive nenhuma experiência numa batalha de verdade, apenas treinamentos e competições controladas, como no exame Chunin, então era interessante ouvir de primeira mão alguém que estava próximo de meu nível. Com seu relato, tentaria me ver no mesmo lugar, imaginando que tipo de coisas eu faria numa situação de vida ou morte. Estava treinando jutsus atrás de jutsus, criando até mesmo alguns extremamente poderosos, para me preparar para um momento como este… Mas seria o bastante?

A menção sobre uma fraqueza dele me fazia olhá-lo de lado, com uma das sobrancelhas erguidas. — Enjoo? Tipo com barcos e tal? — Não expressava vontade de rir, apesar de poder fazê-lo simplesmente para implicar com o garoto. — Bem, a missão deve ser apenas parar o comboio e interceptá-lo. Com sorte, não precisaremos entrar nele. — Mencionava, tentando fazê-lo deixar de lado essa ideia de ficar enjoado em uma missão. — E com minha especialidade em contenção e aprisionamento, duvido que teremos problema nessa missão. Minha preocupação é se ela deveria ser mesmo cumprida ou não… — Mencionava um devaneio meu, mas dispersava. — Bem, e o que sabe fazer? Pode ajudar na montagem de um plano efetivo. — Esperava não receber uma resposta violenta em troca, sentindo que estava pisando em ovos em contato com aquele garoto.

Até que ele não era tão insuportável assim, pensava. Sua explicação mais detalhada sobre sua fraqueza parecia doer em seu âmago, como se estivesse abrindo um curativo para deixar exposto a uma pessoa nova seu grande ferimento, sua grande fraqueza. Não que eu imaginasse chegar um dia no qual eu precisasse lutar do lado contrário ao dele, muito menos imaginar que eu conseguiria utilizar essa informação a meu favor… Mas era bom saber suas limitações se fosse necessário fazer um plano completo. Seu jeito bruto o inibia da ideia de realizar um planejamento, me permitindo apenas torcer para que ele fosse bom em ouvir as estratégias que eu fosse elaborar…

Tampava o rosto no instante em que a cortina de areia surgia, como um dia típico em Sunagakure. Imaginava o que meus pais tinham na cabeça quando resolveram largar um lugar de clima agradável como Konohagakure para vir para cá… Mas confesso que aprendi a ver a beleza na vastidão do País do Vento. — É um porre quando nossa fraqueza fica exposta. Os meus não são muito difíceis de deduzir. — Erguia meu braço metálico, expondo o brilho do aço sob a luz do sol quente, buscando fazer as falanges mexerem ao meu comando. — Fiquei semanas sem minhas próteses após o exame Genin. Ter que se virar com um braço e uma perna é um porre, mas te faz aprender a se virar. Depois disso, aprendi a fazer jutsus com uma mão, por exemplo. — A lição que eu queria passar era que ele também precisava usar sua fraqueza a seu favor. Se o mesmo acabava sofrendo em condições como aquelas, talvez seria uma boa ideia treinar se expondo à fraqueza, se fortalecendo a tal ponto que, em condições normais, acabaria sendo extremamente mais forte.

Afastava os pensamentos com o comentário seguinte, confirmando que ele era mais do estilo de agir do que o contrário. — Vou levar isso como um elogio. — Mencionava com uma risada de canto de boca, da mesma maneira que ele, olhando para cima em seguida como se tentasse processar todo aquele quebra-cabeça em minha mente. — Bem, conte comigo na missão. Vamos acabar com tudo rápido, pode ver. Vai deixar as missões de Rank B parecendo fáceis. — Mencionava na medida em que me afastava, erguendo a mão em sinal de despedida. Havia muito para se refletir, muito para planejar, e muitas variáveis naquela operação toda. Havia toda uma questão ética e moral para lidar, além da questão da execução do plano. Bem… Isso seria problema para o Gwyn do futuro.