I




　Não poderia afirmar com certeza que nunca antes havia se apaixonado, mas podia orgulhar-se de nunca ter passado por qualquer constrangimento ou humilhação em prol do amor. Saito reconhecia que o sentimento que nutria pela aldeia e por seus conterrâneos facilmente se caracterizaria como amor em sua forma mais bruta e fraterna. Mas ainda assim, desconhecia por completo os fundamentos por trás do amor romântico pelo qual tantos sofriam. Naquela tarde em questão. Depois de procrastinar pela parte da manhã inteira após retornar de sua última missão, o jovem de cabelos negros se via completamente esparramado sobre seu sofá.

Como se fossem uma dupla de vagabundos, Saito e Metatron, seu fiel companheiro, curtiam sua tarde calorosa na mal iluminada residência. Pela janela entreaberta, um feixe de raio de sol tímido se esgueirava e de maneira esforçada tentava clarear os ânimos por ali. Saito por mais que fosse o responsável maior pela aldeia enquanto os shinobis que de fato seriam estavam se dedicando em suas funções no destacamento que partiu com rumo ao País dos Rios, não poderia fazer nada em caso de escassez de missões. Para o seu azar, a situação mudaria drasticamente com o surgimento de não apenas uma.

II




　À porta fez-se audíveis três batidas singelas e antes que se dispusesse a levantar e a arrastar seu corpo até a entrada para descobrir quem era, ouviu passar pelo pequeno espaço abaixo da mesma um papel dobrado ao meio. Sabia do que se tratava e por mais tediosos que estivesse sendo seu dia, daria muito para continuar ali deitado. Relutante e sem nenhum incentivo por parte do comparsa que continuava deitado sobre o criado mudo, Saito guiou seus passos até o pedaço de papel. Estava de pé diante do mesmo, encarando-o do alto enquanto ponderava sobre mil e uma formas de ignorar aquilo. Não se contentou com nenhuma.

　　Se agachou abruptamente como se simplesmente deixasse o corpo despencar. Revirou os olhos e tateou com a esquerda o solo, apoiando-se com a destra no mesmo. Com o pedaço de papel em mãos o abriu e leu a descrição das duas missões que havia recebido. Claramente uma mais fácil enquanto a outra iria despender mais tempo e atenção de sua parte. Ciente disso, o jovem rapaz levantou-se e inspirou fundo, soltando lentamente o ar preso em seus pulmões. Buscou forças e ânimo onde não existia e recobrando sua vontade do fogo, partiu em busca de preparar-se.

III




　O tempo que teve de despender para se arrumar não foi nem um terço do que demorou para chegar até a residência na mulher que julgava estar sendo assediada. De qualquer forma, Saito viu-se após quase uma hora de caminhada, diante de uma das maiores mansões da aldeia. Era de se imaginar que uma reclamação e pedido de missão como aquela não se tornasse uma missão de alta prioridade atoa. Aquilo era de se arrancar os cabelos, fato, mas ainda assim era uma tarefa a ser realizada por alguém capacitado e sendo Saito o único na vila naquele momento, tinha de ser ele.

　　O rapaz tocou a campainha do grande portão que soou por quase meio minuto. Eram realmente exagerados. Em instantes alguém foi até lá para o acompanhar e o guiar até o encontro com a moça que solicitou o serviço.

　　— Com licença. Me chamo Saito. Vim aqui resolver o problema com o seu sujeito apaixonado — Disse o garoto a moça, que nem considerou assim tão bela.

　　Por obra do acaso, sentiu o forte cheiro de carne podre e antes que a mulher pudesse lhe receber devidamente, avançou na direção da janela do recinto em que estava e viu na entrada um sujeito deixar algo parecido com um animal morto. Para o azar de Saito, o tal sujeito pareceu o avistar e começou a correr floresta a dentro.

IV




　Sem perder um segundo que fosse, Saito saltou pela abertura e avançou por entre os galhos das arvores em volta da mansão, tendo como rumo a figura misteriosa. Não tinha a menor intenção de retornar a casa que deixou a pouco e em sua mente martelava o fato de existir uma segunda missão o aguardando, a qual realmente merecia sua atenção tendo em mente que tinha ligação direta com a saúde de uma criança. Com sua velocidade avançada não tardou em se aproximar do homem que continuava a fugir. Em um movimento rápido e que esbanjava velocidade, tomou impulso em um dos galhos e com o cotovelo direito em um movimento circular de seu tronco derrubou o criminoso no chão.

　　— Ouça. Não sei qual o seu problema, mas a mulher está incomodada e a familia tem influencia demais na aldeia para deixar isso passar — Esbravejou o espadachim enquanto gesticulava irritado contra o homem derrubado em sua frente.

　　— Mas eu a amo e quer... — Tentou se pronunciar o suspeito, impedido pela fala de Saito.

　　— Eu to tentando te ajudar. Aquela mulher não vai se apaixonar por você desse jeito! Se resolver continuar com isso eu vou ter que te jogar na prisão. Se me prometer ficar longe eu te deixo ir.

　　O sujeito assentiu com a cabeça e foi liberado. A partir dali, Saito poderia se focar no que importava.

V




　Com um plano já traçado em mente, Saito sabia o que tinha de fazer. Seu alvo precisava em um primeiro momento ser localizado, não muito diferente de um punhado de missões do mesmo cunho que já vinha realizando a certo tempo. Todavia, naquele caso em especifico sua atenção teria de ser redobrada. Uma vida estava diretamente ligada ao sucesso daquela tarefa imposta ao chunin e por ouvir certos boatos era levado a crer que seu nome vinha sendo cotado para uma graduação fora das linhas padronizadas sem a necessidade de testes ou mesmo da presença da atual sombra do fogo.

Ainda assim, seu pensamento estava unicamente focado no que poderia e iria fazer para encontrar o médico responsável pela saúde daquela garotinha. Traçou como seu destino o vilarejo vizinho onde o sujeito fora enviado em missão e de onde ainda não havia retornado. Era obvio que o primeiro lugar para procurar não seria diferente e despendendo de toda sua capacidade física para manter sua velocidade elevada não tardou para chegar no lugar. As construções eram decadentes e havia um claro desleixo tanto por parte dos moradores quanto por parte da pessoa que havia se responsabilizado por guia-los. De todo modo, iria iniciar sua busca.

VI




　Um morador encontrava-se esgueirado na parede lateral de uma taverna e por ser a pessoa mais próxima, Saito considerou começar interrogando a figura. O sujeito não parecia ter noção de nada que não fosse a hora que o estabelecimento seria aberto ou o valor de cada uma das bebidas de teor alcoólico disponíveis no mesmo, ainda assim, era uma opção válida.

　　— Ei — Disse ao se aproximar — Preciso de algumas informações. Quanto custaria pra me informar acerca de um médico forasteiro por essas bandas?

　　O sujeito o encarou enquanto cantarolava uma música completamente desconhecida para o shinobi.

　　— Escuta aqui Brok, eu to sabendo o que ta acontecendo ta legal? Eu sei que é pra eu ficar de boca fechada e não falar nada desse engomadinho ai agora mete o pé que hoje eu só quero beber — O sujeito estava claramente bêbado, mas por acaso soltava informações que Saito julgou como imprescindíveis.

　　— Fala pra mim onde colocaram o engomadinho, não podemos confiar em ninguém — Disse o rapaz, tentando não estragar a situação.

　　— Olha Brok eu já te liberei, filho! Já te liberei! — Enquanto cambaleava entre as falas o sujeito gesticulava — Se quiser falar sobre essa história vai pro deposito e fica de guarda praquele esclerosado! Mete o pé.

　　Era o suficiente. Saito saltou e procurou o lugar mais alto nas redondezas a fim de ter visão de onde ficaria esse tal deposito.

VII




　Nem por um momento passou por sua mente o pensamento de que seria fácil encontrar e extrair o médico que fora até ali buscar. Já havia conseguido informações acerca do paradeiro do mesmo com um bêbado aleatório que encontrou na primeira esquina em que parou e agora restava localizar o dito deposito. Do alto de um dos postes ali dispostos, avistou um casebre de fundo, logo após uma residência aparentemente abandonada. Para Saito, aquele seria o lugar. Entre avanços e corridas o jovem rapaz se dispôs diante do lugar, olhou por uma janela e avistou um sujeito encapuzado amarrado a uma cadeira.

　　Saito assumiu que seria o médico que vinha procurando e aguardou até que seus malfeitores desaparecessem dali. Após um punhado de horas oculto por um amontoado de lixo desleixadamente jogado ao lado da casa, viu três sujeitos deixarem o deposito e o médico. De maneira astuta, Saito adentrou o lugar, desamarrou o médico e o ajudou a levantar.

　　— Tudo bem, doutor. Sou um enviado da Folha para resgata-lo — Sua frase foi um alivio para o sujeito que não conteve a emoção.

　　Agora, com seu alvo seguro, Saito buscou retornar a aldeia sem alertar os malfeitores do bom médico.

VIII




　Os dois juntos seguiam para a aldeia e durante o percurso se dedicaram ao dialogo.

　　— Se sente melhor? — Indagou Saito.

　　— Ainda não me recuperei completamente, mas só de estar livre já me sinto melhor — Respondeu o médico, levando a destra até a nuca como se uma dor o incomodasse.

　　— Eu estava pensando no que levou aqueles homens a sequestrarem o senhor — Sua intenção era induzir o homem a falar sem que precisasse lhe perguntar diretamente.

　　— Aquele vilarejo é controlado por um homem que não se importa com o bem estar de seus aldeões, apenas com os impostos. Como ele cobra um valor muito alto as pessoas não tem mais condição de se mudar para outra aldeia. Eles não tem médicos e por isso fui enviado para ajudar, mas quando viram o que eu podia fazer pra trata-los, se desesperaram e me sequestraram para que eu nãos os deixasse novamente e pudesse cuidar deles como o líder não faz — Explicou o médico, Saito sentiu o pesar em suas palavras.

　　No fim, aquele ato havia sido unicamente de desespero por parte da população. Ultrajante. Saito ponderou acerca de retornar futuramente e acometer contra os sujeitos o mal encarnado. Mas não antes de junto do médico passarem pela casa da garotinha e entregarem o anel, concluindo assim sua missão.